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A INDÚSTRIA BOLSONARISTA DE TRENDING TOPICS NO TWITTER: A QUE SE DEVE A EFICIENTE ESTRATÉGIA PRÓ-GOVERNO NAS REDES SOCIAIS?

Nícolas Alcântara Rocha (UFRGS)Mathias Schwertner Holz (UFRGS)

RESUMO

Esta pesquisa se propõe a investigar a ação de atores pró governo Bolsonaro via redes sociais na defesa de políticas e narrativas no debate público. O objetivo geral é contribuir para a discussão acerca das mudanças na esfera pública, ou seja, sobre a transformações no contexto difuso onde se dão as relações de intercâmbio comunicativo na sociedade contemporânea. Desde 2018 é notável a dominância de atores pró Bolsonaro nas redes sociais em relação aos seus adversários políticos. Com foco no Twitter, este trabalho lança mão da análise de redes para explicar de forma sistemática a expertise de lideranças ligadas ao governo federal, considerando a eficiência destes atores em promover a propagação de ideias por meio dessa importante plataforma de comunicação da internet. Analisando a propagação de narrativas favoráveis às propostas e ideias da presidência de Bolsonaro na plataforma, possibilitou-se entender melhor os mecanismos utilizados na promoção da estratégia digital pró-governo.

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa se propõe a investigar a ação de atores ligados a coalizão do governo de Jair Bolsonaro via redes sociais na defesa de políticas e narrativas trazidas pelo governo ao debate público. O objetivo geral é contribuir para a discussão acerca das mudanças na esfera pública e as implicações disso para a democracia, ou seja, sobre a transformações no contexto difuso onde se dão as relações de intercâmbio comunicativo na sociedade contemporânea e acerca da influência dessas mudanças nas relações democráticas, em termos de democratização e desdemocratização. Desde 2018 é notável uma relativa dominância de atores pró Bolsonaro nas redes sociais em relação aos seus adversários políticos. Com foco no Twitter (https://twitter.com/home), este trabalho lança mão da análise de redes e a produção de grafos por meio do aplicativo Netlytic como método escolhido para tentar explicar de forma sistemática a expertise de lideranças ligadas ao governo federal, considerando a eficiência destes atores em promover a propagação e reforço de ideias por meio dessa importante plataforma de comunicação social da internet e a capacidade de perpetuar a dominância de páginas favoráveis às suas ideias no topo da disputa pelo uso dessa rede social.

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O artigo tem como objetivo geral contribuir para uma discussão à respeito do potencial das Tecnologias de Informação -TICs - de ser variável que explica mudanças nas dinâmicas de democratização e/desdemocratização. Como objetivos específicos o presente artigo busca entender como se dá uma dominância dos atores pró governo do topo das sugestões que a plataforma faz aos usuários novos; para então: (a) analisar quais os mecanismos que potencializam uma dominância de atores pró governo no uso de plataformas digitais; e por fim discutir os efeito de (b) uma presença quase que constante de narrativas pró-governo nos Trending Topics, que são os assuntos mais comentados do Twitter.

Considerando a eficiência destes atores em promover a propagação de ideias por meio do Twitter, trabalhe-se com a hipótese que a plataforma de comunicação social da internet foi utilizada de forma estratégica pelos partidários do governo para desenvolver uma predominância de ideias e crenças ligadas aos atores pró-Bolsonaro nessa rede social. O artigo busca analisar o uso estratégico dos atores pró governo de conhecimento acerca dos algoritmos existentes na plataforma, o que possibilitou o desenvolvimento de importante vantagem sobre os adversários políticos nesses aspectos.

Para auxiliar a confirmar parte da hipótese de que a estratégia de atores ligados ao governo Bolsonaro se mostram mais eficientes do que atores importantes de outras partes do espectro político, documenta-se no presente trabalho a experiência de criação de uma conta nova no Twitter como evidência para a importância de se verificar as causas da afirmação do tópico (a).

Como resultado deste artigo, produziu-se uma discussão à respeito das consequências não só do alto número de seguidores ativos das lideranças políticas ligadas ao governo, mas principalmente se produziu inferências acerca da intensa atividade de perfis de apoiadores do governo, que opinam, reproduzem e ajudam a propagar as narrativas pró-governo. Entre essas consequências, é tema de discussão: como a estratégia de produção de um alto número de interações entre usuários pró-governo pode estar possibilitando a sistemática perpetuação de uma relativa dominância desses grupos nessa plataforma de comunicação? E como ocorrem essas interações?.

Um importante aspecto da afirmada dominância é o posicionamento das referidas páginas ligadas ao neoconservadorismo e ao governo Bolsonaro no topo das sugestões que a plataforma faz aos usuários novos. Relata-se aqui a experiência de se criar um perfil novo no Twitter, sem vinculação ou permissão de acesso a dados de nenhuma conta de e-mail. No ato da criação do perfil a plataforma pergunta quais os temas de maior interesse. Selecionando “política” e prosseguindo na criação do perfil, a plataforma apresenta então uma lista de sugestões de perfis para o usuário “seguir” - que é a interação da plataforma que alimenta a linha do tempo (timeline), ou seja, a página inicial dos usuários do Twitter. Constata-se então, nessa lista, uma dominância de perfis pró Bolsonaro, como pode ser observado nas Imagens 1, 2, 3, 4 e 5 a seguir:

Imagem 1 - Ato de criação de perfil no Twitter - Passo 1

Fonte: Captura de tela realizada pelo autor. (05/04/2019).

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Imagem 2 - Ato de criação de perfil no Twitter - Passo 2

Fonte: Captura de tela realizada pelo autor. (05/04/2019).

Imagem 3 - Ato de criação de perfil no Twitter - Passo 3

Fonte: Captura de tela feita pelo autor. (05/04/2019).

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Imagem 4 - Ato de criação de perfil no Twitter - Passo 4

Fonte: Captura de tela feita pelo autor. (05/04/2019).

Imagem 5 - Ato de criação de perfil no Twitter - Passo 5

Fonte: Captura de tela feita pelo autor. (05/04/2019).

Entre os dezenove primeiros perfis sugeridos no dia cinco de abril de 2019, constavam dez partidários do governo incluindo o próprio presidente, seu vice, três dos seus filhos - um Senador, outro Deputado Federal e outro Vereador, três Ministros de Estado, e por fim um Deputado Federal e uma Deputada Estadual, ambos do partido governista; e não se observa nenhum ator político da oposição nestas primeiras sugestões.

A provável resposta para a pergunta: “o que explica essa dominância dos atores pró-governo entre as sugestões que a plataforma do Twitter faz aos usuários novos?” é de que isso deve acontecer em função da grande atividade dos perfis pró Bolsonaro que utilizam estrategicamente a lógica dos algoritmos da plataforma, assim alcançando o destaque pretendido. Por algoritmos entende-se o conjunto de regras e procedimentos lógicos hermeticamente definidos que levam à solução de um problema em um número finito de etapas.

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Explorando os algoritmos das redes sociais como a estratégia prioritária utilizada desde as eleições, os atores ligados ao presidente Jair Bolsonaro utilizam essas redes da internet como uma forma eficiente e menos custosa de propagar e principalmente de reforçar suas ideias sobre como devem ser as políticas públicas no Brasil após a eleição de 2018.

Foi constatado numa primeira etapa exploratória do presente artigo mais um aspecto que sugeriu a existência de uma estratégia eficiente dos atores ligados ao governo Bolsonaro na utilização da referida rede social: trata-se do tópico (b), ou seja, a presença quase que constante de hashtags nos TTs do Twitter no Brasil. Constata-se como padrão estratégico a elaboração de campanhas com configuração artificial (RECUERO & ARAÚJO, 2012), impulsionadas com o intuito de fazer a defesa do atual governo nos Trending Topics do Twitter a nível nacional, ou seja, os assuntos mais comentados na plataforma no país.

CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS

O desenho metodológico adotado parte de uma perspectiva qualitativa e nesse sentido foi seguido o seguinte percurso metodológico: revisão bibliográfica para situar o trabalho na discussão acerca do conceito de esfera pública, principalmente naqueles estudos que versam sobre o papel das redes sociais nas dinâmicas das relações que acontecem na esfera pública. E lançou-se mão da análise de redes e a produção de grafos por meio do uso de aplicativos para tentar explicar de forma sistemática a expertise de atores pró-governo. Ou seja, para entender como os atores ligados ao governo Bolsonaro estão utilizando as redes sociais como o Twitter para fazer política que repercute na esfera pública.

Para situar este estudo dentro discussão acerca do conceito de esfera pública e do debate sobre o papel das redes sociais nas dinâmicas da esfera pública foi essencial a leitura dos trabalhos da pesquisadora brasileira Raquel Recuero (2014, 2016; RECUERO & ARAÚJO 2012) e do pesquisador português Tiago Lima Quintanilha (2018). Este último trouxe uma crítica ao autor BENKLER (2006) que foi essencial para o presente trabalho, pois referendou a reflexão final deste artigo:

Benkler (2006) apesar de falar já (sic) de uma Era caracterizada pela sobrecarga informativa e pelos perigos resultantes da incapacidade de assimilar o fluxo de produção e disseminação informativas – Ninguém ouve quando todos falam! –, não conseguiu prever imediatamente os efeitos da desregulação desse hiper-fluxo informativo, tendo por isso uma visão sobretudo otimista e celebratória da formulação de uma esfera pública em rede.

O discurso político e sua circulação são fundamentais para a democracia. As várias teorias sobre decisão de voto mostram que a circulação de informações sobre os candidatos é fundamental para a escolha do eleitor. (RECUERO, 2016). Por este ângulo, por exemplo, insere-se o seminal trabalho de Anthony Downs em Uma Teoria Econômica da Democracia, onde desenvolve o Teorema do Eleitor Mediano e outras contribuições que compreendem o arcabouço da Teoria da Escolha Racional (DOWNS, 1957), por exemplo, discutem que esta é uma escolha racional, baseada em argumentação e retórica, de fundamentação econômica.

Já as chamadas “teorias sociais” (como o trabalho de LAZARSFIELD, BERELSON & GUADET, 1948 apud RECUERO, 2016) apontam para a decisão de voto baseada em um contexto social, com influências provenientes dos meios de comunicação e dos conteúdos da mídia, que atuariam diretamente na opinião pública. As teorias psicológicas (como o trabalho de CAMPBELL, CONVERSE, MILLER e STOCKES, 1960 apud RECUERO, 2016), por outro lado, apontam para outros fatores decisórios mais individuais, como a herança partidária familiar ou o envolvimento com vieses políticos na socialização. Mesmo nestes casos, os eleitores são diretamente influenciados pelo que é dito dos candidatos, pelas percepções de suas conexões sociais e mesmo, pela percepção de uma impressão geral sobre o candidato construída pela “opinião pública”. (RECUERO, 2016)

Recuero associa em seus trabalhos o conceito de “opinião pública” ao conceito de “esfera pública”. A autora trata as mídias sociais como um espaço análogo àquele da “esfera pública” de HABERMAS (1991), onde as ideias são debatidas, reproduzidas e refutadas, constituindo aí o que se chama de “opinião pública” (RECUERO, 2016). A partir disso, a autora desenvolve diversas análises ao longo desta década onde utiliza métodos de análise de rede e de conteúdo para discutir essas questões em ambientes do cyberespaço como a plataforma do Twitter.

Nesse sentido, este trabalho visa se somar a essa produção e se inspira nos métodos utilizados pela supracitada autora para tentar os replicar de forma adaptada às questões levantadas na atual pesquisa, ou seja, para tentar analisar as explicações sobre a relativa dominância dos atores pró Bolsonaro na plataforma do Twitter, para tentar compreender quais as estratégias e recursos que explicam essa tendência previamente observada na introdução.

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Uma importante constatação é a de que por não ter obtido pleno acesso ao mesmo software utilizado pela supracitada autora, o NODEXL, este trabalho fez uso de um aplicativo que disponibiliza apenas parte de seus recursos na versão gratuita, isso significa que os grafos produzidos pelo aplicativo Netlytic para este trabalho são de caráter amostral, pois dizem respeito aos últimos 1000 postagens realizadas no Twitter sobre algum assunto, notadamente as hashtags, ou que fazem menção à página de algum usuário e não compreendem a totalidade dos tweets - comentários - realizados na plataforma, isso significa que os grafos produzidos na presente pesquisa são como fotos que capturam o comportamento da rede social em um determinado período do tempo.

Outro ponto abordado no presente artigo são os Trending Topics. De acordo com Recuero, Amaral & Monteiro (2012), são chamados de Trending Topics os dez tópicos mais frequentes em determinado espaço de tempo, agrupados por país, ou do mundo todo, mostrando os cinco assuntos mais debatidos no Twitter. Ultimamente é cada vez mais comum a existência de Trending Topics acerca de celebridades. Entretanto, esse tipo de TT não é criado a partir do fato de milhares de usuários estarem falando sobre o mesmo assunto, de modo orgânico. Sendo assim, é conceituado pelas autoras como artificial, visto que são tópicos criados por um pequeno grupo de indivíduos, que se organizam de forma a acionar seus vínculos sociais para criar quantidades enormes de tweets, de modo a driblar os mecanismos de detecção de spam do Twitter. As hashtags do Twitter se tornam Trending Topics quando a quantidade de usuários que as usam aumenta de forma acelerada num curto espaço de tempo (RECUERO, AMARAL e MONTEIRO, 2012).

Para testar a hipótese de que existe uma relativa dominância dos atores pró Bolsonaro na plataforma também em relação à produção artificial de Trending Topics (RECUERO & ARAÚJO, 2012) a nível nacional no Twitter, foi escolhido como procedimento: classificar, contabilizar e então comparar a quantidade de hashtags que se tornaram TTs no Brasil que caracterizaram postura favorável ou crítica ao governo.

Por meio do sítio Get Day Trends (https://getdaytrends.com/brazil/) que disponibiliza os 50 Trending Topics do Twitter de um país durante determinada hora de um dia que se pode selecionar, analisou-se 15 dias do mês de Julho de 2019, a partir do dia 1º até o dia 15º dia, escolhendo sempre o horário das 19 horas do horário de Brasília (no referido sítio: 22:00 UTC), para se verificar se havia realmente essa presença quase que constante de hashtags Pró Governo nos Trending Topics da Plataforma. O resultado desse procedimento confirmou a hipótese.

ANÁLISE DO USO DO TWITTER PELOS ATORES POLÍTICOS PRÓ GOVERNO E CRÍTICOS AO GOVERNO

Ao longo dos primeiros 15 dias do mês de Julho de 2019 foram coletadas as Hashtags que foram propagadas por atores Pró Governo ou Críticos do mesmo no sentido de atingir artificialmente os Trending Topics conforme conceituou Recuero (2012).

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Gráfico 1 - Campanhas artificiais pró ou críticas ao governo em meio as 50 hashtags mais relevantes nos Trending Topics do Twitter dentro do período compreendido entre as 19:00 e 19:59 horas de 1º a 15 de julho de 2019 no Brasil.

Fonte: elaboração a partir do sítio (https://getdaytrends.com/brazil/).

Além de demonstrar a presença quase constante de hashtags pró governo nos TTs do Twitter a nível de Brasil, os números de tweets por hashtags evidenciam a superioridade numérica

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Em seu trabalho que define a diferença entre Trend Topics - assuntos mais comentado - do tipo orgânico e artificial no Twitter, Recuero (2012) utiliza o recurso da aplicação do NODEXL para obtenção dos seguintes grafos na Figura 1 e na Figura 2:

Fonte: RECUERO (2012)

Acerca dos grafos acima a autora destaca que os trend topics artificiais à direita, que são aqueles que ocorrem por meio de uma massiva campanha de usuários que são próximos, no sentido de que possuem as mesmas preferências e que seguem uns aos outros, possuem a particularidade de configurar um cluster, ou seja, aquela concentração de nós do grafo à direita.

Noutro contributo deste referido trabalho, Recuero (2012) analisa como as vezes dois grupos na rede, que aparentam proximidade por configurarem um cluster nos grafos, podem interagir e contribuir para o sucesso das hashtags presentes nos seus tweets elevando as chances de permanecerem nos assuntos mais comentados, ou seja, nos trend topics:

Fonte: RECUERO (2012)

A partir de análises de possibilitadas pelo aplicativo Netlytic pode-se constatar forte semelhança entre a Figura 1, que é um Grafo que demonstra a interação proposital para obter popularidade na rede entre dois grupos de fãs de músicos brasileiros com mecanismos acionados por atores da coalizão presidencial atual, como pode-se constatar no Grafo presente na Figura 4:

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Figura 4 - Rede de interações com o Twitter de Eduardo Bolsonaro no dia 07 de julho de 2019.

Fonte: elaboração própria via aplicativo NETLYTIC.

Foi a partir deste grafo acima que esta pesquisa se deparou com a confirmação de uma semelhança estrutural das redes de menções em torno do deputado Eduardo Bolsonaro com as redes de criação de Trending Topics artificiais conceituadas no trabalho de Recuero (2012), a análise evidencia como os grupos mais ligados à rede do presidente - cluster de menor porte entre os outros dois clusters - e os mais próximos de seu filho Eduardo - abaixo e à esquerda - bem como os mais próximos de filho Carlos - acima e a direita - interagem, somando repercussão, produzindo alto número de interações.

Essa constatação corrobora com a hipótese (a) do presente artigo, ou seja, a ação dos atores ligados ao governo Bolsonaro possuem uma expertise acerca da lógica de funcionamento dos algoritimos das redes sociais, e utilizam estrategicamente as plataformas digitais de comunicação com o Twitter para criar uma dominância em relação aos seus adversários políticos.

Esse alto número de interações entre clusters que fazem a sistemática defesa das concepções dos membros do atual governo também produz o efeito constatado na literatura no sentido de aumentar a polarização política reforçando as ideias, argumentos e estratégias próprias de um núcleo cada vez mais fechado dentro do espectro político.

Observamos que os casos específicos não se constituem em notícias largamente espalhadas, mas em cascatas relativamente pequenas. Vimos também que essas cascatas são constituídas fortemente por conjuntos de atores bastante engajados, ou ativistas políticos, que utilizam a citações de líderes de opinião e veículos midiáticos para auxiliar possivelmente na conquista de credibilidade dessas notícias e seus possíveis espalhamentos. Esses nós acabam por citar determinados influenciadores ou nós mais populares. Na média, há poucas pontes, o que explica a dificuldade dessas notícias saírem de seu próprio núcleo ativista. As características de homofilia presentes nos clusters ideológicos das conversações analisadas podem reforçar a polarização e relacionar esses clusters a ações de filtragem ideológica, de modo a reforçar posições partidárias. (RECUERO & GRUZD, 2019).

É nesse sentido que o presente artigo adere a ideia de que esses efeitos possuem graves consequências no sentido da desdemocratização. A literatura aponta para a necessidade de se observar que, mesmo com a circulação de informações em forma de cascatas de ideias, fake news, e informações destorcidas dentro de grupos em que há homofilia, ou seja, homogeneidade de pensamento, pode-se aumentar a clusterização da rede pela ação das câmaras de eco, aumentando também o extremismo e as crenças políticas, o que contribui para constituir uma esfera pública parcial, com falsa percepção de consenso. Esse detalhe é particularmente complicador para as democracias em momentos eleitorais. (RECUERO & GRUZD, 2019).

Vivemos neste meio deste ano de 2019 um contexto de extrema polarização em consequência de escândalos políticos de ministros de Estado ao mesmo tempo em que o governo em seu primeiro ano de mandato está se movimentando no sentido de promover reformas estruturantes na Constituição Federal. Fica evidente que as redes sociais como o Twitter são utilizadas como câmaras de eco, ou seja, potencializadores e mobilizadores de ideias que terão impacto duradouro da Brasileira.

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CONCLUSÃO

Analisando a propagação de narrativas favoráveis às propostas, ideias e crenças de atores ligados a coalizão da presidência da República na plataforma, possibilitou-se entender melhor os mecanismos utilizados na promoção da estratégia digital pró governo. Por meio de intensa atividade de perfis que opinam, reproduzem e ajudam a propagar essas narrativas, é notável uma vantagem comparativa em relação aos atores que divulgam narrativas críticas às propostas e medidas governamentais advindas do executivo federal. Um importante aspecto dessa dominância é o posicionamento de perfis ligados ao governo no topo das sugestões que a plataforma faz aos usuários novos. Pois se constatou uma considerável preponderância numérica dessas sugestões de perfis ligados ao governo em relação à perfis com postura crítica e até mesmo outros de postura neutra em relação ao governo.

Afinal, o que espera um novo usuário do Twitter em busca de participação política ou em busca de acesso a informação? São pautas todos os dias nessas plataformas defesas de tese de como devem ser distribuídos recursos, como devem ser desenhadas as políticas públicas. Em plataformas como o Twitter ocorre a divulgação de informações que influenciam no aprendizado orientado à política e, no limite, no que concerne à crenças profundas sobre política como: Quais são os papéis e as configurações: de gênero, da família, do setor privado, do Estado, das religiões e dos costumes.na sociedade? Quais são os valores morais, bem como os direitos e deveres mais importantes?

O movimento de acessar a rede mundial de computadores sugere um passo em direção à democratização e à consecução de direitos, como o de acesso à informação. Quando este novo usuário adere à plataforma digital, ao invés de ter seu acesso à informação ampliado, de forma qualitativa, configurando um fato de viés democratizante, na verdade é direcionado, sim, para ter acesso à enormes quantidades de informações. Todavia, existe uma a grave complicação acerca deste acesso à informação, pois como foi constatado neste estudo, ele pode ocorrer na forma de uma enxurrada de ideias, crenças e produções propagadas predominantemente por perfis que realizam defesa sistemática pró-governo e muitos deles ligados diretamente à situação governamental. Somado ao fato desse acesso inicial à plataforma ocorrer com direcionamento bastante restrito às vozes críticas ao executivo federal, e por conta do atual quadro de dominância do uso estratégico dos algoritmos por parte dos partidários do governo Bolsonaro, se torna nítido o potencial de que esse acesso pode oferecer uma experiência viciada no sentido de aderência à ideia de desdemocratização. Além de ser notável a circulação de conteúdos de forma direcionada no sentido da forte polarização e, no limite, potencialmente desdemocratizantes nessas cascatas de informação.

Os resultados obtidos despertaram a necessidade de se pensar em futuros estudos sobre o tema. Por exemplo na forma de se pesquisar sobre essa potencialidade desdemocratizante em termos qualitativos, ou seja, quais as bases ideacionais que estão por trás dos discursos propagados na rede com esse viés identificado no presente artigo. Também sugere-se a realização de pesquisas que busquem comparar as características do uso das TICs por atores ligados ao governo Bolsonaro com a atuação de outros grupos políticos em outros países do mundo, que tenham características similares quanto ao uso das redes sociais e possivelmente também quanto à aderência a ideologias semelhantes.

A fim de entender essa similaridade, bem como investigar as diferenças entre esses grupos e os ambientes políticos em que estão inseridos em termos de debate público, de arranjo institucional e quanto aos aspectos ideacionais outra ideia possível para desenvolver estudos diante dessas mudanças na esfera pública, é, pensar e debater em que medida as ferramentas da web estão respeitando as regras estabelecidas pelo Estado Democrático de Direito e se estão influenciando as regras do jogo político de forma justa. Quer dizer: internet para democratizar ou desdemocratizar? Eis a questão que está em levantada.

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REFERÊNCIAS

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DOWNS, A. Uma teoria econômica da democracia. São Paulo: Edusp, 1957.

HABERMAS, J. The Structural Transformation of the Public Sphere: An Inquiry into a Category of Bourgeois Society. Studies in Contemporary German Social Thought. MIT Press, 1991.

QUINTANILHA, T, L. Um contributo para o debate sobre a redefinição da esfera pública em rede a partir da participação pública dos portugueses no ciberespaço. Comunicação e Sociedade vol.34 Braga dez. 2018.

RECUERO, Raquel; AMARAL, A. ; MONTEIRO, C. F. . Fandoms, Trending Topics and Social Capital in Twitter. Selected Papers of Internet Research, v. 1, p. 1-24, 2012.

RECUERO, R.; ARAÚJO, R, M. On the rise of Artificial Trending Topics in Twitter. In: 23 ACM Hypertext and Social Media (Hypertext 2012), 2012, Milwaukee. Proceedings of Hypertext 2012.

RECUERO, R. Contribuições da Análise de Redes Sociais para o Estudo das Redes Sociais na Internet: O caso da hashtag #Tamojuntodilma e #CalabocaDilma. - Revista Fronteiras (Online), v. 16, p. 1, 2014.

. O twitter como esfera pública: como foram descritos os candidatos durante os debates presidenciais do 2º turno de 2014? Rev. bras. linguist. apl. vol.16 no.1 Belo Horizonte Jan./Mar. 2016.

RECUERO, R.; GRUZD, A. Cascatas de Fake News Políticas: um estudo de caso no Twitter Surges of Political “Fake News”: A case study on Twitter. Galáxia (São Paulo) no.41 São Paulo May/Aug. 2019 Epub May 23, 2019