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8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)
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8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)
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A MINA DE OURO
As palavras me morreram na boca. A portada sala de visitas se abriu e Lady Carmichael
envolta num roup!o sur"iu no vest#bulo.$i%ou os olhos em Andre& e se al"um dia '( vi
um olhar de terror absoluto carre"ado de culpa
)oi o dela. *eu rosto nem parecia humano de t!oapavorado +ue estava. ,-s a m!o na "ar"anta.Andre& se adiantou para ela com
e%pansividade in)antil. Ol( m!e/ Ent!o tamb0m andou
doente1 ,u%a vida +ue pena +ue me d(.Ela recuou arre"alando os olhos. A# de repente
com o "rito lancinante de uma almapenada caiu de costas pela porta aberta.Corri e me debrucei sobre ela e depois
23 sinal para *ettle se apro%imar.
N!o di"a nada pedi. Leve4odiscretamente l( para cima e voltea+ui. Lady Carmichael est( morta.
COLE56O A7A89A C9RI*8IE
http:;;"roups4beta."oo"le.com;"roup;di"italsource
8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)
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A7A89A C9RI*8IE
A MINA DE OURO
!o
EDI8ORANO?A
$RON8EIRA
8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)
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8#tulo do ori"inal in"l@s:8he 7olden all and Other *tories
B F G HF by Christie Copyri"hts 8rust
CapaRol) 7unther raun
8radu>!oMilton ,ersson
Revis!oA. 8avares
Direitos ad+uiridos com e%clusividade para o rasil pelaEDI8ORA NO?A $RON8EIRA *.A.
Rua Maria An"0lica GJ 4 La"oa 4 CE,. .FG 4 8el.: JG4JEndere>o 8ele"r(2co 4 NEO$RON8
Rio de Kaneiro 4 RK
,roibida a e%porta>!o para ,ortu"al e pa#sesa)ricanos de l#n"ua portu"uesa
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NDICE
A Mina de OuroO Mist0rio de Lord Listerdale
A Mo>a do 8remA ravura de Ed&ard Robinson
Kane ,rocura Empre"oUm Domin"o $rut#)eroA Esmeralda do Ra'(
O Canto do CisneO C!o da Morte
A Ci"anaO Lampi!o
O Estranho Caso de *ir Andre& Carmichael
O Chamado das Asas$lor de Ma"nliaN!o $osse o Cachorro
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A MINA DE OURO
7eor"e Dundas estava parado em plena City1pensando.
De todos os lados simples )uncion(rios e "ente empenhada em
"anhar dinheiro sur"iam e passavam como avassaladora mar0. Mas
7eor"e impecavelmente vestido as cal>as muito bem )risadas nem
prestava aten>!o. * procurava encontrar uma )orma de sair da+uela
situa>!o.
N!o era para menos. Entre ele e o tio rico Ephraim Leadbetter
da 2rma Leadbetter 7illin"P tinha4se travado o +ue as classes
in)eriores chamam de Qbate4boca. A bem da verdade di"a4se +ue o
bate4boca havia partido +uase +ue e%clusivamente de Mr. Leadbetter.
As palavras 'orravam de seus l(bios numa torrente incontida de
revolta e indi"na>!o e o )ato de no )undo se resumirem tamb0m
+uase +ue e%clusivamente em repeti>Ses nem parecia perturb(4lo.
Limitar4se a di3er uma coisa apenas uma ve3 de modo bem claro e
conciso n!o 2"urava entre os lemas de Mr. Leadbetter.
A causa era bem simples: o estouvamento e a irrespon4
sabilidade criminosa de um rapa3 +ue tendo de trabalhar para
"anhar a vida se ausenta do empre"o no meio da semana sem se
di"nar a pedir licen>a. Mr. Leadbetter depois de di3er tudo o +ue lhe
veio T cabe>a e boa parte '( pela se"unda ve3 parou para tomar
)-le"o e per"untar o +ue 7eor"e pretendia com a+uilo.
7eor"e respondeu simplesmente +ue tinha sentido vontade de
tirar um dia de )ol"a. Umas )0rias para ser mais e%ato.
E o +ue +uis saber Mr. Leadbetter vinham a ser as tardes de
s(bado e os domin"os1 *em )alar na )esta do Esp#rito *anto h( pouco
tempo e no )eriado banc(rio de a"osto +ue n!o tardaria a che"ar1
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1ona onde se concentra o maior movimento 2nanceiro e banc(rio de Londres.
7eor"e )risou +ue n!o "ostava de tardes de s(bados nem de
domin"os ou )eriados banc(rios. Vueria ter um dia de verdade
+uando )osse poss#vel encontrar al"um lu"ar ainda n!o invadido por
metade da popula>!o londrina.
Mr. Leadbetter declarou ent!o +ue havia )eito todo o poss#vel
pelo 2lho de sua 2nada irm! nin"u0m poderia di3er +ue n!o lhe
tivesse dado uma oportunidade. Mas evidentemente de nada
adiantava. Assim para o )uturo 7eor"e disporia de cinco dias de
verdade por semana al0m do s(bado e do domin"o para )a3er o +ue
bem entendesse.
Rapa3 voc@ teve nas m!os uma mina de ouro
acrescentou num to+ue 2nal de retrica e n!o soube aproveitar.
7eor"e retrucou +ue na sua opini!o era 'ustamente isso +ue
tinha )eito e Mr. Leadbetter trocando a retrica pela clera ordenou
+ue se retirasse.
Eis pois 7eor"e... perdido em co"ita>Ses. O tio voltaria atr(s
ou n!o1 *entiria no #ntimo al"um a)eto pelo sobrinho ou apenas uma
indi)eren>a brutal1
Nesse momento e%ato ouviu uma vo3 a mais inesperada de
todas.
Ol(/
,arado no meio42o a seu lado estava um carro esporte
vermelho de cap- +uilom0trico tra3endo ao volante a+uele 2no e
popular ornamento da nossa melhor sociedade Mary Montresor
se"undo a descri>!o dos 'ornais +ue lhe publicavam a )oto"ra2a pelo
menos uma ve3 por semanaP. E sorria de um modo irresist#vel para
7eor"e.
Nunca ima"inei +ue um homem pudesse lembrar tanto uma
ilha disse. Vuer dar uma volta1
Nada me a"radaria mais respondeu 7eor"e sem hesitar
saltando para o assento vi3inho.
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Avan>aram lentamente por+ue o tr()e"o n!o permitia outra
coisa.
Cansei disto a+ui declarou Mary Montresor. ?im s para
ver como era. ?ou voltar para Londres.
N!o se atrevendo a corri"ir4lhe a imprecis!o topo"r(2ca
7eor"e respondeu +ue lhe parecia uma tima id0ia. $oram indo Ts
ve3es deva"ar outras com sWbitos acessos de velocidade +uando
Mary Montresor encontrava oportunidade de ultrapassar al"u0m.
7eor"e teve impress!o de +ue era meio otimista nesse sentido mas
consolou4se com a id0ia de +ue nin"u0m morre mais +ue uma ve3.
Achou melhor por0m n!o pu%ar conversa. ,re)eria +ue a sua bela
motorista concentrasse a aten>!o no +ue estava )a3endo.
$oi ela +uem recome>ou a )alar primeiro escolhendo o
momento em +ue descreviam uma curva alucinada em torno de 9yde
,arX Corner.
?oc@ n!o +uer casar comi"o1 per"untou com a maior
naturalidade.
7eor"e en"oliu em seco rea>!o +ue talve3 se pudesse atribuir
a um -nibus enorme +ue parecia disposto a esma"(4los. Or"ulhou4se
da prontid!o de sua resposta:
Adoraria disse com a maior )acilidade.
,ois olhe retrucou Mary Montresor va"amente.
Vual+uer dia destes talve3 voc@ case.
Entraram na reta sem acidentes e no mesmo instante 7eor"e
avistou novas manchetes reprodu3idas com desta+ue T entrada da
esta>!o de metr- de 9yde ,arX Corner. Espremidas entre 7RA?E
*I8UA56O ,OL8ICA e CORONEL LE?ADO AO* 8RIUNAI* numa se lia
MO5A DA *OCIEDADE CA*A COM DUVUE e na outra O DUVUE DE
ED7E9ILL E MI** MON8RE*OR.
Vue histria 0 essa de Du+ue de Ed"ehill1 in+uiriu 7eor"e
com 2rme3a.
Entre mim e o in"o1 Ns noivamos.
Mas ent!o... o +ue voc@ disse a"orinha mesmo...
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Ah aquilo retrucou Mary Montresor. *abe o +ue 0 ainda
n!o resolvi com +uem vou casar realmente.
Ent!o por +ue noivou com ele1
$oi s pra ver se eu conse"uia. 8odo mundo vivia di3endo
+ue seria tremendamente di)#cil e n!o )oi nem um pouco/
Vue a3ar para... o in"o disse 7eor"e vencendo o
constran"imento de chamar um du+ue aut@ntico pelo apelido.
N!o ve'o por +u@ disse Mary Montresor. ?ai ser at0 bom
para ele... embora eu duvide +ue haja al"uma coisa +ue possa ser
boa para o in"o.
7eor"e )e3 outra descoberta novamente com o au%#lio de um
carta3 colocado de maneira estrat0"ica.
Mas claro ho'e 0 dia de corridas em Ascot. Como se e%plica
+ue voc@ n!o tenha ido1
Mary Montresor deu um suspiro.
Estava precisando de umas )0rias disse em tom de
+uei%ume.
,ois eu tamb0m e%clamou 7eor"e encantado. E s
conse"ui +ue meu tio me botasse no olho da rua para passar )ome.
Vuer di3er ent!o +ue se ns casarmos as minhas vinte mil
libras anuais talve3 venham a calhar1
N!o h( +ue ne"ar +ue nos proporcionariam certos con)ortos
dom0sticos admitiu 7eor"e.
,or )alar nisso lembrou Mary vamos dar uma volta a#
pelo interior para ver se se encontra uma casa +ue d@ para a "ente
morar.
,arecia um plano simples e maravilhoso. Atravessaram ,utney
rid"e che"aram T variante de Yin"ston e com um suspiro de
satis)a>!o Mary apertou o p0 no acelerador. N!o demorou muito
estavam no campo. Meia hora depois com uma e%clama>!o sWbita
ela )e3 um "esto dram(tico e apontou com a m!o.
Diante de ambos no alto de um morro via4se uma dessas casas
+ue os corretores de imveis costumam descrever raramente com
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'uste3aP como Quma 'ia rara. *uponhamos +ue ao menos uma ve3 a
descri>!o da maioria das casas de campo tenha4se tornado de )ato
uma realidade e se )ar( uma id0ia da tal casa.
Mary parou na )rente de um port!o branco.
?amos dei%ar o carro a+ui e entrar para dar uma olhada. Z a
nossa casa/
Decididamente 0 a nossa casa concordou 7eor"e. Mas
pelo 'eito tem "ente morando nela.
Mary descartou a hiptese com um aceno de m!o. *ubiram
'untos o caminho sinuoso +ue dava acesso T casa. ?ista de perto
dava impress!o de ser ainda mais convidativa.
?amos espiar pelas 'anelas prop-s Mary.
7eor"e mostrou relut[ncia.
?oc@ n!o acha +ue essa "ente...
N!o +uero nem pensar neles. A casa 0 nossa. Est!o morando
a+ui apenas por uma esp0cie de casualidade. Al0m do mais o dia
est( uma bele3a e com certe3a sa#ram. E se al"u0m nos surpreender
em \a"rante eu di"o... eu di"o... +ue 'ul"uei +ue )osse a casa de
Mrs.... de Mrs. ,ardonsten"er e pe>o mil desculpas pelo e+u#voco.
em nesse caso ent!o creio +ue n!o h( problema
ponderou 7eor"e.
Olharam pelas 'anelas. A casa estava muito bem mobiliada.
8inham acabado de che"ar ao estWdio +uando escutaram passos
sobre o cascalho atr(s deles. ?iraram4se e deram de cara com o mais
irrepreens#vel dos mordomos.
Ah/e%clamou Mary recorrendo ao seu sorriso mais
cativante. Mrs. ,ardonsten"er est(1 Eu estava olhando para ver se
ela n!o estava no estWdio.
Mrs. ,ardonsten"er est( sim senhora disse o mordomo.
Vueiram ter a bondade de me acompanhar.
$i3eram a Wnica coisa cab#vel: acompanharam o mordomo.
7eor"e come>ou a calcular a mar"em de possibilidades para uma
coincid@ncia dessas. E che"ou T conclus!o de +ue com um nome
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como ,ardonsten"er tinha +ue ser no m#nimo de uma para vinte mil.
Dei%e por minha conta cochichou sua companheira.
8udo vai sair bem.
7eor"e 2cou simplesmente encantado com a id0ia de dei%ar a
situa>!o por conta dela. A seu ver o momento re+ueria o m(%imo
tato )eminino.
$oram condu3idos a uma sala de visitas. Mal o mordomo se
retirou a porta tornou a se abrir e uma mulher "randalhona e corada
de cabelos o%i"enados entrou com ar de e%pectativa.
Mary Montresor esbo>ou um movimento em sua dire>!o mas
lo"o estacou num "esto de surpresa bem simulado.
Mais/ e%clamou. N!o 0 a Amy/ Vue coisa mais curiosa/
Muito curiosa mesmo disse uma vo3 implac(vel.
Um su'eito enorme com cara de buldo"ue e uma carranca
sinistra tinha entrado por tr(s de Mrs. ,ardonsten"er. 7eor"e achou
+ue 'amais havia visto um brutamontes t!o desa"rad(vel assim. O
homem )echou a porta e 2cou de costas para ela.
Muito curiosa mesmo repetiu escarninho. Mas tenho a
impress!o de +ue '( entendemos aonde voc@s +uerem che"ar/ De
repente tirou do bolso o +ue parecia ser um revlver descomunal.
M!os ao alto. M!os ao alto eu disse. Reviste os dois ella.
7eor"e ao ler romances policiais sempre se sentira curioso
para saber +ual era a sensa>!o de ser revistado. A"ora sabia. ella
ali(s Mrs. ,.P deu4se por satis)eita. Nem ele nem Mary tra3iam armas
mort#)eras escondidas em seu poder.
*e 'ul"am muito espertinhos n!o 01 rosnou o homem.
?irem a+ui deste 'eito bancando os inocentes. Mas desta ve3 se
en"anaram... e se en"anaram )eio. ,ra )alar a verdade duvido muito
+ue seus ami"os e parentes tornem a v@4los al"um dia. Ah/ em +ue
voc@ "ostaria n!o 01 disse +uando 7eor"e )e3 um movimento.
Mas pode desistir. Eu lhe daria um tiro na mesma hora.
8enha cuidado 7eor"e balbuciou Mary.
Eu terei disse 7eor"e convicto. E muito.
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A"ora caminhem ordenou o homem. Abra a porta
ella. E voc@s dois mantenham as m!os ao alto. ,rimeiro a mo>a...
isso mesmo. Eu vou atr(s. Atravessem o sa"u!o. *ubam a escada...
Obedeceram. Vue mais podiam )a3er1 Mary subiu a escada de
m!os ao alto. 7eor"e se"uiu4a. E atr(s de ambos de revlver em
punho ia o imenso bandido.
Mary che"ou ao topo dos de"raus e dobrou para o lado. No
mesmo instante sem o menor aviso 7eor"e des)echou um coice
violento +ue atin"iu o su'eito bem na boca do est-ma"o )a3endo4o
rolar escada abai%o. Com a rapide3 de um raio 7eor"e se virou e
saltou em cima dele calcando4lhe o 'oelho no peito. Com a m!o
direita livre apanhou o revlver +ue na +ueda o outro tinha dei%ado
cair.
ella deu um "rito e sumiu por uma porta coberta por
reposteiro. Mary desceu a escada correndo o rosto branco )eito
papel.
7eor"e voc@ o matou1/
O homem continuava deitado absolutamente imvel. 7eor"e
curvou4se para ele.
Acho +ue n!o respondeu pesaroso. Mas n!o h( dWvida
de +ue acertei em cheio no bruto.
7ra>as a Deus.
Ela estava +uase sem )-le"o.
Vue coice mais bem aplicado comentou 7eor"e com
perdo(vel vaidade. E depois +uerem di3er +ue a "ente n!o aprende
nada com os burros. Ei +ue 0 isto1
Mary o pu%ava pelo bra>o.
?amos embora implorou aos "ritos. ?amos embora de
uma ve3.
*e ao menos houvesse al"uma coisa para amarrar este cara
disse 7eor"e absorto em seus prprios planos. *er( +ue n!o
daria pra voc@ achar um peda>o de corda ou cord!o por a#1
N!o d( n!o respondeu Mary. E ande de uma ve3 por
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)avor... por )avor... estou morta de medo.
N!o precisa ter medo disse 7eor"e com arro"[ncia virial.
Eu estou a+ui.
7eor"e +uerido eu lhe pe>o... )a>a isto por mim. N!o +uero
me envolver nessa histria. ,or )avor vamos embora.
A maneira intensa com +ue sussurrou as palavras Q)a>a isto por
mim abalou a resolu>!o de 7eor"e. Dei%ou4se levar para )ora da
casa e pelo caminho abai%o Ts pressas at0 o lu"ar onde tinha 2cado
o carro.
Diri'a voc@ pediu Mary +uase sem vo3. Acho +ue n!o
posso.
7eor"e tomou conta do volante.
Mas ns dev#amos levar esse ne"cio at0 o 2m a2rmou.
*abe l( +ue pati)arias a+uele su'eito mal4encarado anda tramando. *e
voc@ n!o +uiser eu n!o dou parte T pol#cia... mas vou averi"uar por
conta prpria. 8enho +ue dar um 'eito de descobrir a 2cha deles ah
isso eu tenho.
N!o 7eor"e n!o +uero +ue voc@ )a>a isso.
O +u@1 A "ente se mete numa aventura sensacional +ue
nem esta e voc@ me pede pra desistir1 Nunca na vida.
N!o pensei +ue voc@ )osse t!o san"uin(rio disse Mary
toda chorosa.
N!o sou san"uin(rio. N!o )ui eu +uem come>ou. A petul[ncia
incr#vel desse cara... nos amea>ar com um revlver da+uele tamanho.
,or )alar nisso... como se e%plica +ue o revlver n!o tenha disparado
+uando chutei o su'eito pela escada abai%o1
,arou o carro e tirou o revlver do compartimento lateral onde o
tinha colocado. Depois de e%amin(4lo soltou um assobio.
Ora '( se viu/ Este tro>o n!o est( carre"ado. *e eu soubesse
+ue... N!o completou a )rase com o pensamento distante. Mary
+ue coisa mais es+uisita.
Eu sei. Z por isso +ue estou lhe pedindo pra desistir dessa
histria.
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Kamais protestou 7eor"e com 2rme3a.
Mary dei%ou escapar um suspiro de resi"na>!o.
Estou vendo disse +ue vou ter +ue lhe contar tudo. E o
pior 0 +ue n!o tenho a m#nima id0ia de como voc@ vai rea"ir.
Me contar1... O +u@1
Olhe o ne"cio 0 o se"uinte. $e3 uma pausa. Eu acho
+ue ho'e em dia as mulheres deviam se unir... e insistir em saber
al"uma coisa sobre os homens +ue 2cam conhecendo.
E da#1 per"untou 7eor"e completamente con)uso.
E a coisa mais importante para uma mulher 0 saber como um
homem se comporta numa situa>!o de emer"@ncia... se ele tem
presen>a de esp#rito... cora"em... inteli"@ncia viva. Isso 0 o tipo da
coisa +ue a "ente i"nora praticamente por completo... at0 +ue '( 0
tarde demais. A "ente pode estar casada anos a 2o antes +ue se
apresente uma situa>!o de emer"@ncia. E a Wnica coisa +ue se sabe a
respeito de um homem 0 se ele dan>a bem e se 0 bom pra conse"uir
t(%i em noite de chuva.
Duas +ualidades muito Wteis )risou 7eor"e.
Z mas o +ue a "ente +uer saber 0 se ele 0 homem mesmo.
Os hori3ontes sem 2m onde os homens s!o homens citou
7eor"e distra#do.
E%atamente. Mas isso de hori3ontes sem 2m na In"laterra
n!o e%iste. ,ortanto tem +ue se criar arti2cialmente uma situa>!o.
$oi o +ue eu 23.
Vuer di3er +ue...
Isso mesmo. Acontece +ue a+uela casa na realidade 0
minha. Ns )omos l( de propsito... e n!o por acaso. E o homem...
a+uele homem +ue voc@ por pouco n!o matou...
*im.
Z o Rube ]allace... o artista de cinema +ue sempre )a3 papel
de pu"ilista voc@ sabe. *impatic#ssimo a prpria delicade3a
personi2cada. Eu o contratei bem como a ella +ue 0 casada com
ele. ,or isso 2+uei morta de medo +ue voc@ o tivesse matado. L"ico
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+ue o revlver n!o estava carre"ado. Z desses +ue s!o usados no
teatro. Oh 7eor"e voc@ n!o se 3an"a comi"o1
$ui eu o primeiro em +uem voc@... aplicou esse teste1
Oh n!o. Ao todo... dei%e eu ver... '( houve nove e meio.
Vuem )oi o meio1 per"untou 7eor"e curioso.
O in"o respondeu Mary )riamente.
E nenhum deles se lembrou de escoicear )eito mula1
Nenhum. Al"uns tentaram bancar o macho outros lo"o
entre"aram os pontos mas todos sem e%ce>!o consentiram em ser
levados escada acima e se dei%aram amarrar e amorda>ar. Depois
naturalmente eu sempre dava um 'eito de a)rou%ar os ns +ue me
prendiam... tal e +ual nos romances... soltava meus parceiros e a
"ente )u"ia... encontrando a casa va3ia.
E nin"u0m pensou no tru+ue do coice ou +ual+uer coisa
parecida1
N!o.
Nesse caso disse 7eor"e ma"n[nimo voc@ est(
perdoada.
Obri"ada 7eor"e a"radeceu Mary submissa.
Em suma continuou ele o Wnico problema +ue nos resta
0 o se"uinte: aonde vamos a"ora1 N!o tenho bem certe3a se 0 no
Lambeth ,alace ou do Doctor^s Commons +ue nem sei direito onde
2ca.
Do +ue 0 +ue voc@ est( )alando1
Da licen>a. Na minha opini!o precisamos tirar lo"o uma
licen>a especial. ?oc@ tem a mania de noivar com um homem e em
se"uida pedir pra outro casar com voc@.
Eu n!o lhe pedi pra casar comi"o/
,ediu sim. Em 9yde ,arX Corner. N!o 0 o tipo do lu"ar +ue
eu escolheria pra pedir al"u0m em casamento mas "ostos n!o se
discutem.
N!o 23 nada disso. Apenas per"untei por brincadeira se
voc@ n!o "ostaria de casar comi"o. N!o )oi a s0rio.
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*e eu +uisesse me dar ao trabalho de consultar um
advo"ado tenho certe3a de +ue ele diria +ue o +ue voc@ )e3 )oi uma
aut@ntica proposta de casamento. Ali(s voc@ sabe +ue +uer casar
comi"o.
N!o +uero n!o.
Nem depois de nove )racassos e meio1 Ima"ine a sensa>!o
de se"uran>a +ue teria passando a vida inteira ao lado de um
homem capa3 de salv(4la de +ual+uer situa>!o peri"osa.
Mary pareceu li"eiramente abalada por esse ar"umento
decisivo. ,or0m respondeu com 2rme3a:
Eu s me casaria com o homem +ue me implorasse de
'oelhos.
7eor"e virou4se para ela. Era maravilhosa. Mas 7eor"e tinha
outras caracter#sticas da mula al0m do coice. E com i"ual 2rme3a
retrucou:
Vuem se a'oelha diante de mulher se rebai%a. Isso eu n!o
)a>o.
Vue pena disse Mary com ador(vel triste3a.
Rumaram de volta a Londres. 7eor"e ia s0rio e calado. O rosto
de Mary estava oculto pela aba do chap0u. Ao cru3arem por 9yde
,arX Corner ela per"untou bai%inho:
?oc@ n!o se a'oelharia diante de mim1
N!o respondeu 7eor"e inabal(vel.
*entia4se o prprio super4homem. Ela o admirava pela 2rme3a
de atitude. In)eli3mente por0m 7eor"e descon2ava de +ue ela
tamb0m tivesse tend@ncias de mula. De repente parou o carro.
Com licen>a disse.
*altou do carro )oi rapidamente at0 uma carrocinha de )rutas
+ue tinham passado e voltou t!o depressa +ue o "uarda +ue '( se
apro%imava para reclamar contra o estacionamento n!o teve nem
tempo de che"ar perto.
7eor"e saiu diri"indo e atirou de leve uma ma>! no colo de
Mary.
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Coma mais )rutas disse. Isso tamb0m 0 simblico.
*imblico1
Z. No come>o )oi Eva +uem deu a ma>! a Ad!o. 9o'e em dia
0 Ad!o +ue d( pra Eva. Entendeu1
Entendi respondeu Mary meio em dWvida.
,ra onde voc@ +uer ir1 per"untou 7eor"e todo )ormal.
,ra casa por )avor.
Ele tomou o rumo de 7rosvenor *+uare. Estava com a
2sionomia absolutamente impass#vel. *altou do carro e deu a volta
para a'ud(4la a descer. Ela )e3 um Wltimo apelo.
7eor"e +uerido... voc@ n!o se a'oelharia1 Nem para me
a"radar1
Nunca disse 7eor"e.
$oi ent!o +ue aconteceu. Ele escorre"ou tentou recuperar o
e+uil#brio e )alhou. $icou de 'oelhos na lama diante dela. Mary deu
um "rito de ale"ria e bateu palmas.
7eor"e +uerido/ A"ora eu caso com voc@. ,ode ir correndo
ao Lambeth ,alace para combinar tudo com o Arcebispo de
Canterbury.
$oi sem +uerer protestou 7eor"e )urioso. $oi essa po...
)oi essa casca de banana disse contendo a tempo o palavr!o.
N!o interessa e%clamou Mary. O +ue vale 0 +ue
aconteceu. Vuando ns bri"armos e voc@ me lan>ar em rosto +ue )ui
eu +ue pedi pra voc@ casar comi"o eu posso responder +ue voc@
teve +ue se a'oelhar diante de mim antes +ue aceitasse. E tudo por
causa dessa porcaria de casca de banana/ Era porcaria de casca de
banana +ue voc@ ia di3er n!o era1
Mais ou menos respondeu 7eor"e.
_s cinco e meia da+uela tarde Mr. Leadbetter )oi in)ormado de
+ue o seu sobrinho estava na sala de espera e dese'ava )alar4lhe.
?eio me pedir desculpas pensou Mr. Leadbetter. 8enho
+ue admitir +ue )ui um pouco duro com o rapa3 mas )oi s para o
8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)
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bem dele.
E deu ordem para +ue o 23essem entrar.
7eor"e che"ou todo eu)rico.
,reciso ter uma palavrinha com o senhor titio disse.
9o'e de manh! o senhor cometeu uma "rande in'usti>a comi"o. Eu
"ostaria de saber se na minha idade o senhor depois de haver sido
posto no olho da rua pelos prprios parentes seria capa3 de entre Ts
on3e e +uin3e e Ts cinco e meia conse"uir uma renda de vinte mil
libras por ano. ,or+ue )oi isso o +ue eu 23/
?oc@ est( doido rapa3.
Doido n!o rico/ ?ou me casar com uma "r!42na mo>a rica e
bonita/ Vue al0m do mais vai dar o )ora num du+ue s por minha
causa.
?oc@ casando por interesse1 Nunca o 'ul"uei capa3 disso.
Com toda a ra3!o. Eu nunca me atreveria a pedi4la em
casamento se ela n!o tivesse... pro cWmulo da sorte... )eito antes o
pedido. Depois +uis di3er +ue n!o mas eu a obri"uei a mudar de
id0ia. E sabe titio como )oi +ue conse"ui tudo isso1 Com dois pences
muito bem "astos e o bom senso de saber aproveitar uma mina de
ouro.
,or +ue os dois pences? per"untou Mr. Leadbetter
interessado no aspecto 2nanceiro da +uest!o.
,ara comprar uma banana... numa corrocinha de rua. Nem
todos se lembrariam da+uela banana. Onde se tira licen>a para
casar1 Z no Doctor^s Commons ou no Lambeth ,alace1
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O MI*8ZRIO DE LORD LI*8ERDALE
Mrs. *t. ?incent estava )a3endo as contas. De ve3 em +uando
suspirava e passava a m!o pela testa dolorida. Nunca tinha "ostado
de aritm0tica. Mas por des"ra>a de uns tempos para c( sua vida
parecia se resumir inteiramente num Wnico tipo de opera>!o: a soma
incessante de pe+uenos itens indispens(veis de despesa +ue
per)a3iam um total +ue 'amais dei%ava de surpreend@4la e alarm(4la.
N!o era poss#vel +ue )osse tanto! Re)e3 todos os c(lculos. 9avia
cometido um erro insi"ni2cante na coluna dospences, mas +uanto ao
resto estava tudo certo.
Mrs. *t. ?incent suspirou de novo. A essa altura a dor de cabe>a
'( era +uase insuport(vel. Levantou os olhos +uando a porta se abriu
e a 2lha arbara entrou na sala. Uma "arota muito bonita arbara
*t. ?incent tinha herdado da m!e os tra>os delicados e o )ormato
ma"n#2co da cabe>a mas os olhos eram escuros em ve3 de a3uis e a
boca tamb0m era di)erente uma boca amuada e vermelha n!o
destitu#da de atrativos.
Ah mam!e/ e%clamou. Ainda Ts voltas com essas
contas chat#ssimas1 Ko"ue tudo no )o"o.
8emos +ue saber em +ue p0 estamos disse Mrs. *t.
?incent meio inse"ura.
A "arota encolheu os ombros.
Na mesma ora retrucou )riamente. Na maior penWria.
*em um tost!o como de costume.
Mrs. *t. ?incent suspirou.
Eu "ostaria... come>ou mas lo"o parou.
,reciso encontrar al"uma coisa pra )a3er disse arbara
8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)
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com vo3 resoluta. E encontrar lo"o. A2nal tirei a+uele curso de
ta+ui"ra2a e datilo"ra2a. Como +uase um milh!o de outras mo>as
por sinal/ Q8em e%peri@ncia1 QN!o mas... QAh/ Obri"ado passe
bem. Ns lhe avisaremos. Coisa +ue nunca )a3em/ ,reciso encontrar
outro tipo de empre"o +ual+uer... se'a l( +ual )or.
,or en+uanto n!o +uerida suplicou a m!e. Espere mais
um pouco.
arbara )oi at0 a 'anela e 2cou olhando para )ora distra#da sem
en%er"ar a 2leira de casas encardidas do lado oposto.
_s ve3es disse hesitante me arrependo de ter ido com
a prima Amy pro E"ito no inverno passado. *im eu sei +ue me
diverti... e +ue deve ter sido o Wnico divertimento +ue '( tive ou terei
em toda a minha vida. Aproveitei muito... aproveitei ao m(%imo. Mas
me dei%ou abalad#ssima. Vuero di3er... voltar pra isto.
E )e3 um "esto lar"o +ue abarcava toda a sala. Mrs. *t. ?incent
acompanhou4o com os olhos e estremeceu. A sala era t#pica das
pe>as mobiliadas de alu"uel barato. Uma aspidistra1 empoeirada
mveis de mau "osto papel de parede espalha)atoso com partes
desbotadas. Certos ind#cios mostravam +ue a personalidade dos
in+uilinos tinha lutado com a da propriet(ria: um ou dois ob'etos de
porcelana de boa +ualidade mas t!o rachados e colados +ue o seu
valor vend(vel era nulo um bordado cobrindo o encosto do so)( e
um retrato pintado a a+uarela de uma mo>a vestida T moda de vinte
anos atr(s +ue ainda dava para ver +ue se tratava de Mrs. *t.
?incent.
N!o teria import[ncia continuou arbara se a "ente
nunca tivesse morado noutro lu"ar. Mas +uando me lembro de
Ansteys...
Interrompeu a )rase para n!o se entre"ar a reminisc@ncias
sobre a+uela casa amada com tanto carinho +ue durante s0culos
pertencera T )am#lia *t. ?incent e a"ora se achava em m!os
estranhas.
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1,lanta de ori"em asi(tica +ue d( uma \or lil(s muito usada como ornamentocaseiro na In"laterra.
*e ao menos papai... n!o houvesse especulado... e )eito
empr0stimos...
Minha cara atalhou Mrs. *t. ?incent. *eu pai nunca )oiem +ual+uer sentido do termo um ne"ociante.
Disse isso de modo cate"rico sem se lamentar. arbara se
apro%imou e deu4lhe um bei'o meio va"o en+uanto murmurava:
,obre m!e3inha. ,rometo +ue n!o vou me +uei%ar mais.
Mrs. *t. ?incent pe"ou a caneta de novo e curvou4se sobre a
escrivaninha. arbara voltou T 'anela. N!o demorou muito disse:
Mam!e. 9o'e de manh! recebi uma carta do... do Kim
Masterton. Ele +uer vir me visitar.
Mrs. *t. ?incent lar"ou a caneta e er"ueu vivamente os olhos.
A+ui1 e%clamou.
Vuem sabe a senhora +ueria +ue )-ssemos convid(4lo para
'antar no Rit31 ironi3ou arbara.
A m!e )e3 uma cara de desa"rado. Olhou de novo em torno com
pro)unda avers!o.
*im tem ra3!o concordou arbara. Z um lu"ar
e%ecr(vel. Decad@ncia aristocr(tica/ Vuem ouve 0 capa3 de lo"o
ima"inar uma casinha branca no campo toda en)eitada de chit!o
velho de boa padrona"em vasos com rosas servi>o de ch( de certa
+ualidade +ue a "ente mesma pode lavar. Nos romances 0 assim. Na
vida real com um 2lho come>ando a trabalhar no car"o mais
insi"ni2cante de um escritrio si"ni2ca Londres. *enhorias
des"renhadas crian>as su'as pelas escadas pei%es meio duvidosos
no ca)0 da manh!... e por a# a )ora.
*e ao menos... principiou Mrs. *t. ?incent. Olhe para
)alar a verdade '( est( me dando medo de +ue n!o possamos se+uer
conservar esta sala por muito mais tempo.
Vue horror/ Ent!o 2caremos com uma pe>a Wnica... para a
senhora e pra mim e%clamou arbara. E um arm(rio servindo de
biombo para o Rupert. E +uando o Kim vier me visitar terei de receb@4
8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)
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lo na+uela sala horrenda l( embai%o cheia de solteironas
bisbilhoteiras )a3endo tric- pelos cantos olhando para a "ente e
tossindo com a+uele tipo pavoroso de acessos de tosse +ue elas t@m/
9ouve uma pausa.
arbara )alou por 2m Mrs. *t. ?incent. ,or +ue voc@
n!o... +uero di3er... voc@ n!o "ostaria de...1
,arou avermelhando um pouco.
N!o precisa ser delicada mam!e disse arbara. 9o'e
em dia nin"u0m mais 0. ,or +ue n!o caso com o Kim1 Era isso +ue a
senhora ia me per"untar n!o 01 Olhe eu casaria no mesmo instante
+ue ele me pedisse. Mas estou com muito medo de +ue isso n!o v(
acontecer.
Ah arbara meu bem/
Ora uma coisa 0 ele me ver por l( com a prima Amy
)re+`entando como se di3 nos romances ("ua com a>WcarP os salSes
da melhor sociedade onde ele se interessou mesmo por mim e outra
0 ele vir c( e me encontrar nisto aqui! Depois ele 0 uma criatura
en"ra>ada sabe1 8odo cheio de manias e id0ias anti+uadas. Eu... eu
at0 "osto +ue ele se'a assim. Me )a3 lembrar Ansteys e o lu"are'o...
tudo com cem anos de atraso mas t!o... t!o... ah/ sei l(... t!o
per)umado. Como al)a3ema/
Riu meio +ue enver"onhada do prprio entusiasmo. Mrs. *t.
?incent resolveu )alar com sinceridade sem rodeios.
Eu "ostaria de +ue voc@ casasse com o Kim Masterton
disse. Ele pertence ao nosso meio. 8amb0m tem muito dinheiro
mas isso pra mim n!o )a3 "rande di)eren>a.
,ois pra mim )a3 retrucou arbara. K( ando )arta de ser
pobre.
Mas arbara n!o v( me di3er +ue 0 s por....
* por causa disso1 N!o. Mas eu acho +ue )a3 mesmo.
Eu... ah mam!e/ ser( +ue a senhora n!o v +ue )a31
Mrs.. *t. ?incent teve uma e%press!o de pro)unda triste3a.
Vuem dera +ue ele pudesse encontrar voc@ num ambiente
8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)
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mais ade+uado minha 2lha suspirou melanclica.
,aci@ncia retrucou arbara. Vue adianta se preocupar1
Z melhor a "ente se es)or>ar para encarar tudo com otimismo.
Desculpe o ata+ue de rabu"ice. Cora"em meu an'o.
Curvou4se para a m!e bei'ou4lhe a testa de leve e saiu. Mrs. *t.
?incent desistindo por completo dos c(lculos 2nanceiros sentou4se
no inc-modo so)(. *eus pensamentos "iravam em c#rculos )eito
es+uilos numa 'aula.
,odem di3er o +ue +uiserem mas as apar@ncias realmente
contribuem para um homem perder o interesse. *e ainda )osse
depois... +uando estivessem noivos v( l(. Ent!o ele '( saberia como
ela 0 mei"a e +uerida. Mas a 'uventude tem uma tal )acilidade de se
adaptar ao ambiente em +ue vive... O Rupert por e%emplo n!o 0
mais o mesmo. N!o +ue eu +ueira +ue meus 2lhos se'am esnobes. De
'eito nenhum. Mas morreria de des"osto se o Rupert inventasse de
casar com a+uela mo>a horrenda da tabacaria. Admito +ue ela possa
ser inclusive muito simp(tica. Mas n!o pertence ao nosso meio. Ah
como tudo 0 di)#cil. Coitada da abs. *e ao menos eu pudesse )a3er
al"uma coisa... se'a l( o +ue )osse. Mas com +ue dinheiro1 ?endemos
tudo para a'udar o Rupert. Na verdade n!o vamos nem poder manter
mais isto a+ui.
,ara se distrair Mrs. *t. ?incent pe"ou o Morning Post e
come>ou a dar uma olhada nos anWncios da primeira p("ina. A
maioria '( conhecia de cor. ,essoas T cata de dinheiro pessoas +ue
dispunham de capital e estavam ansiosas para trans)orm(4lo em
notas promissrias pessoas +ue +ueriam comprar dentes sabe l( por
+u@P ou +ue +ueriam vender peles e vestidos e tinham id0ias muito
otimistas a respeito do pre>o.
De repente um anWncio chamou4lhe a aten>!o. Leu e releu as
palavras impressas: Q* para pessoas de 2no trato ,e+uena casa
em ]estminster muito bem mobiliada o)erece4se a +uem se
pronti2car a cuid(4la como merece. Alu"uel irrisrio. 8ratar
diretamente com o propriet(rio.
8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)
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Um anWncio per)eitamente comum. K( tinha encontrado v(rios
id@nticos... bem mais ou menos id@nticos. A novidade era o alu"uel:
irrisrio
Mas como estava irre+uieta e ansiosa para se ver livre de seus
pensamentos p-s lo"o o chap0u e pe"ou um -nibus +ue a dei%asse
mais perto do endere>o mencionado no anWncio.
Resultou +ue era de uma imobili(ria +ue nada tinha de nova
nem de movimentada um lu"ar meio caindo aos peda>os
anti+uado. Mostrou o anWncio com certa timide3 e pediu maiores
detalhes.
O velho de cabelos brancos +ue a estava atendendo co>ou o
+uei%o pensativo.
,er)eitamente. *im per)eitamente minha senhora. O
endere>o dessa casa 0 Cheviot ,lace n. . Vuer uma autori3a>!o
para ir v@4la1
,rimeiro eu "ostaria de saber +uanto 0 o alu"uel disse
Mrs. *t. ?incent.
Ah/ O alu"uel. O montante e%ato ainda n!o )oi estipulado
mas posso lhe "arantir +ue 0 absolutamente irrisrio.
*im mas a no>!o de irrisrio pode ser muito el(stica
ar"umentou Mrs. *t. ?incent.
O velho se permitiu uma risadinha.
8em ra3!o isso 0 um tru+ue velho... um tru+ue velho. Mas
lhe dou minha palavra de +ue desta ve3 0 di)erente. Dois ou tr@s
"uin0us por semana talve3 no m(%imo.
Mrs. *t. ?incent resolveu pedir a autori3a>!o. N!o na4
turalmente +ue houvesse +ual+uer possibilidade de +ue viesse a
alu"ar a casa. Mas tinha curiosidade de v-la. A2nal de contas devia
apresentar al"uma desvanta"em muito "rande para ser o)erecida a
tal pre>o.
?ibrou por0m ao olhar a )achada do n. de Cheviot ,lace. A
casa era uma 'ia. Estilo Rainha Ana e em per)eito estado de
conserva>!o/ Um mordomo atendeu T porta. 8inha cabelo "risalho
8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)
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um pouco de su#>as e a calma pausada de um arcebispo. De um
arcebispo muito simp(tico na opini!o de Mrs. *t. ?incent.
Recebeu o papel da autori3a>!o com ar ben0volo.
,ois n!o minha senhora tenha a bondade de entrar. A casa
est( pronta para ser ocupada.
$oi na )rente abrindo portas indicando as depend@ncias.
A sala de visitas o estWdio branco um banheiro social neste
canto minha senhora
Era per)eita um sonho. Mveis todos de 0poca cada pe>a
com sinais de uso mas enverni3ados com o maior carinho. Os tapetes
do soalho eram de cores bonitas e discretas anti"as. Em todos os
+uartos havia vasos com \ores rec0m4colhidas. Os )undos da casa
davam para o 7reen ,arX. O lu"ar parecia impre"nado de um
per)ume do passado.
Os olhos de Mrs. *t. ?incent se encheram de l("rimas por mais
+ue lutasse para cont@4las. Ansteys tamb0m tinha sido assim
Ansteys...
$icou ima"inando se o mordomo havia notado a sua emo>!o. *e
havia era bem educado demais para demonstrar. Ela "ostava desses
velhos criados a "ente se sentia se"uro com eles T vontade. Como
se )ossem ami"os.
Vue casa mais linda murmurou. Lind#ssima. Vue bom
+ue vim v@4la.
Z s para a senhora1
N!o tamb0m tenho um 2lho e uma 2lha. Mas receio +ue...
N!o terminou a )rase. A id0ia de perder a+uela casa lhe era
insuport(vel inconceb#vel.
*entiu instintivamente +ue o mordomo tinha compreendido.
N!o olhou para ela ao declarar de um modo desinteressado
impessoal:
Ao +ue me consta minha senhora o propriet(rio e%i"e
acima de tudo in+uilinos ade+uados. O alu"uel para ele n!o tem
import[ncia. Ele s +uer +ue a casa se'a ocupada por al"u0m +ue
8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)
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realmente "oste e tenha carinho por ela.
Eu teria disse Mrs. *t. ?incent em vo3 bai%a.
?irou4se para ir embora.
Obri"ada por ter4me mostrado tudo a"radeceu
cortesmente.
N!o tem de +u@ minha senhora.
$icou parado T porta todo correto e emperti"ado en+uanto ela
se a)astava pela rua a)ora pensando consi"o mesma:
Ele notou. *entiu pena de mim. 8amb0m 0 do meu tempo.
em +ue ele "ostaria de +ue eu a alu"asse... em ve3 de um
parlamentar trabalhista ou um )abricante de botSes/ A nossa classe
pode estar morrendo mas permanece unida.
8erminou resolvendo n!o voltar T imobili(ria. ,ara +u@1 O
alu"uel estava ao seu alcance mas como pa"ar a criada"em1 Uma
casa da+uelas precisaria de empre"ados.
Na manh! se"uinte encontrou uma carta na bande'a. Era da
imobili(ria. O)erecia4lhe a loca>!o do n. de Cheviot ,lace durante
seis meses por dois "uin0us semanais e continuava: Q*upomos +ue
a senhora tenha levado em considera>!o o )ato de +ue os
empre"ados permanecer!o em seus car"os Ts custas do senhorio
n!o1 Z uma o)erta realmente e%cepcional.
*e era. $icou t!o espantada +ue leu a carta em vo3 alta. *e"uiu4
se um tiroteio de per"untas e ela descreveu a visita do dia anterior.
M!e3inha dissimulada/ e%clamou arbara. Z realmente
t!o bonita assim1
Rupert pi"arreou e come>ou um interro"atrio 'udicial.
A# tem coisa. *e +uer saber a minha opini!o acho muito
suspeito. ,ositivamente suspeito.
Vue nem este ovo a+ui disse arbara torcendo o nari3.
Ui/ ,ra +ue tanta descon2an>a1 Isso 0 bem de voc@ Rupert com essa
mania de ver mist0rios por toda parte. *!o esses horrendos romances
policiais +ue voc@ vive lendo.
O alu"uel 0 uma piada disse Rupert. Vuando se trabalha
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na City acrescentou com ares de import[ncia a "ente 2ca
sabendo de tudo +uanto 0 esp0cie de es+uisitices. Eu di"o pra voc@s
+ue a# tem coisa.
oba"em retrucou arbara. A casa pertence a um
homem de muito dinheiro +ue "osta dela e +uer +ue se'a habitada
por "ente decente en+uanto ele estiver ausente. Z mais ou menos
isso. ,rovavelmente n!o precisa de dinheiro.
Vual era mesmo o endere>o1 per"untou Rupert T m!e.
Cheviot ,lace .
Epa/ Recuou a cadeira da mesa. N!o estou di3endo1
Vue sensacional/ $oi l( +ue Lord Listerdale desapareceu.
8em certe3a1 per"untou Mrs. *t. ?incent em dWvida.
Absoluta. Ele possui uma por>!o de outras casas espalhadas
por Londres mas 0 nessa +ue ele morava. Uma noite ele saiu
di3endo +ue ia ao clube e nunca mais )oi visto. ,ensaram +ue tivesse
se mandado pra )rica Oriental ou coisa +ue o valha mas nin"u0m
soube e%plicar por +u@. ,odem estar certas ele )oi assassinado
na+uela casa. A senhora di3 +ue as pe>as s!o todas revestidas de
madeira1
Z respondeu Mrs. *t.?incent +uase sem vo3. Mas...
Rupert n!o lhe deu tempo de continuar. Come>ou a )alar com
enorme entusiasmo.
Est!o vendo1 Claro +ue deve haver al"um nicho secreto. O
corpo 2cou escondido l( onde na certa permanece at0 ho'e. 8alve3
)osse embalsamado antes.
Rupert meu bem n!o di"a asneiras atalhou a m!e.
Dei%e de boba"em disse arbara. ?oc@ anda indo
demais ao cinema com a+uela loura o%i"enada.
Rupert se levantou todo di"no com o m(%imo de di"nidade
+ue o corpo desen"on>ado e a )ase cr#tica da adolesc@ncia permitem
e pronunciou um derradeiro ultimato:
,e"ue essa casa m!e. Eu esclarecerei o mist0rio. A senhora
vai ver.
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E saiu Ts pressas com medo de che"ar tarde ao escritrio.
As duas mulheres se entreolharam.
*er( +ue d( mam!e1 murmurou arbara com a vo3
tr@mula. Ah/ *e a "ente pudesse.
Os criados lembrou Mrs. *t. ?incent pat0tica t@m +ue
comer, n!o se es+ue>a. O +ue eu +uero di3er 0 +ue l"ico +ue
nin"u0m vai +uerer +ue n!o comam... mas h( esse inconveniente.
Vuando a "ente est( so3inha... 0 muito )(cil se privar de certas
coisas.
$e3 um olhar comovente para arbara +ue concordou com a
cabe>a.
,recisamos re\etir bem disse a m!e.
Mas na realidade '( tinha tomado a decis!o. 9avia visto o brilho
nos olhos da 2lha. E pensou: QO Kim Masterton tem +ue encontr(4la
num ambiente ade+uado. Esta oportunidade... 0 uma oportunidade
Wnica. N!o posso perd@4la.
*entou4se T escrivaninha e escreveu T imobili(ria aceitando a
o)erta.
II
Vuentin de onde vieram esses l#rios1 *inceramente eu n!o
posso comprar \ores caras.
De Yin"^s Cheviot patroa. Z um anti"o costume da casa.
O mordomo se retirou. Mrs. *t. ?incent deu um suspiro de al#vio.Vue )aria sem Vuentin1 Ele tornava tudo t!o fcil. ,ensou consi"o
mesma: QIsto est( bom demais para durar. Da+ui a pouco eu sei +ue
vou acordar e descobrir +ue )oi s um sonho. *ou t!o feli a+ui... '( se
passaram dois meses como um rel[mpa"o.
E de )ato a vida tinha sido surpreendentemente a"rad(vel.
Vuentin o mordomo havia4se revelado como o autocrata de Cheviot
,lace n. .
Dei%e tudo por minha conta dissera respeitosamente. A
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senhora ver( +ue 0 a melhor maneira.
8odas as semanas apresentava4lhe as contas da casa com
totais assombrosamente bai%os. 9avia apenas duas outras criadas: a
co3inheira e a arrumadeira ambas simp(ticas e e2cientes mas o
respons(vel pela per)eita or"ani3a>!o era Vuentin. De ve3 em +uando
apareciam na mesa pratos de carne de ca>a e de aves dom0sticas
causando preocupa>!o a Mrs. *t. ?incent. Vuentin tran+`ili3ava4a.
?inham de Yin"^s Cheviot a resid@ncia de campo de Lord Listerdale
ou de seu s#tio em orXshire.
Z um anti"o costume da casa patroa.
No #ntimo Mrs. *t. ?incent duvidava de +ue Lord Listerdale se
n!o estivesse ausente concordaria com essas palavras. *entia4se
inclinada a descon2ar de +ue Vuentin andasse usurpando a
autoridade do amo. Era bvio +ue se tinha tomado de amores por
eles e +ue na sua opini!o n!o e%istia nada +ue )osse bom demais
para os tr@s.
Com a curiosidade despertada pela in)orma>!o de Rupert Mrs.
*t. ?incent tentou )a3er uma re)er@ncia a Lord Listerdale +uando
tornou a procurar os corretores imobili(rios. O velho de cabelos
brancos respondeu na mesma hora.
*im Lord Listerdale estava na )rica Oriental '( )a3ia um ano e
meio.
Nosso cliente 0 um homem bastante e%c@ntrico
acrescentou com lar"o sorriso. *aiu de Londres de uma )orma
e%tremamente inslita n!o sei se a senhora se lembra. N!o avisou
nin"u0m. Os 'ornais 23eram "rande escarc0u em torno do assunto.
Inclusive a *cotland ard che"ou a e)etuar sindic[ncias. Ainda bem
+ue che"aram not#cias do prprio Lord Listerdale l( da )rica
Oriental. Ele nomeou um primo o Coronel Car)a% como seu
procurador. Z +uem se encarre"a atualmente de todos os ne"cios de
Lord Listerdale. *im receio +ue se'a bastante e%c@ntrico. *empre "os4
tou muito de desbravar terras desconhecidas... 0 +uase certo +ue
levar( anos para re"ressar T In"laterra embora este'a 2cando velho.
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N!o 0 poss#vel +ue se'a t!o velho assim disse Mrs. *t.
?incent lembrando4se de repente de uma cara impass#vel e barbuda
meio parecida com a de um nave"ante da era das descobertas
mar#timas +ue tinha visto certa ve3 numa revista.
K( est( bem maduro a2rmou o velho de cabelos brancos.
8em cin+`enta e tr@s anos se"undo o Debrett.
Mrs. *t. ?incent repetiu essa conversa para Rupert no intuito de
repreender o rapa3.
Rupert por0m n!o se dei%ou impressionar.
,ra mim isso est( 2cando cada ve3 mais suspeito declarou.
Vuem 0 esse tal de Coronel Car)a%1 ?ai ver +ue ele herda o t#tulo
se acontecer al"uma coisa com o Listerdale. A carta +ue veio da
)rica Oriental provavelmente )oi )alsi2cada. Da+ui a tr@s anos ou
se'a l( o tempo +ue )or necess(rio esse tal de Car)a% pode ale"ar
+ue o outro morreu e se apossa do t#tulo. E nesse meio tempo
assume o controle de todos os bens. Muito suspeito a meu ver.
Condescendeu ma"n[nimo em aprovar a casa. Nos momentos
de )ol"a mostrava4se inclinado a bater de leve no )orro de madeira e
tirar medidas complicadas para a poss#vel locali3a>!o de uma c[mera
secreta mas aos poucos )oi perdendo interesse pelo mist0rio de Lord
Listerdale. 8amb0m 2cou menos entusiasmado em rela>!o T 2lha do
dono da tabacaria. Z o ambiente in\ui.
,ara arbara a casa trou%e "rande satis)a>!o. Kim Masterton
tinha voltado T In"laterra e )a3ia4lhe visitas )re+`entes. Ele e Mrs. *t.
?incent se deram maravilhosamente bem e um dia ele disse a
arbara uma coisa +ue a surpreendeu.
Esta casa 0 o cen(rio per)eito para a sua m!e sabe1
,ara mame!
Z. $oi )eita sob medida pra ela/ $a3 parte disto a+ui de uma
maneira e%traordin(ria. *abe esta casa tem +ual+uer coisa de
estranho de incr#vel de sobrenatural.
N!o comece a bancar o Rupert implorou arbara. Ele
est( convencido de +ue o malvado Coronel Car)a% assassinou Lord
8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)
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Listerdale e escondeu o cad(ver debai%o do soalho.
Masterton riu.
Eu admiro o esp#rito detetivesco do Rupert. Mas n!o )oi isso +ue
+uis di3er. 9( +ual+uer coisa no ar no ambiente +ue n!o d( para
entender direito.
K( estavam h( tr@s meses em Cheviot ,lace +uando arbara
sur"iu diante da m!e com o rosto radiante.
O Kim e eu... noivamos. *im... ontem T noite. Ah mam!e/ At0
parece +ue estou vivendo um conto de )adas.
Ah minha +uerida/ Vue bom... como tico contente.
M!e e 2lha se abra>aram.
*abe +ue o Kim est( +uase t!o apai%onado pela senhora
+uanto por mim1 disse arbara por 2m com uma risada travessa.
Mrs. *t. ?incent corou de um modo *impatic#ssimo.
Est( sim insistiu a mo>a. A senhora pensou +ue esta
casa seria um cen(rio per)eito para mim e durante esse tempo todo
ela de )ato serviu de cen(rio para a senhora. O Rupert e eu n!o
2camos muito bem a+ui ao passo +ue a senhora sim.
N!o di"a boba"ens +uerida.
oba"em coisa nenhuma. Isto a+ui tem um ar de castelo
medieval onde a senhora 0 a princesa encantada e o Vuentin 0... 0...
ah/... o ma"o beni"no.
Mrs. *t. ?incent riu e concordou com a Wltima compara>!o.
Rupert recebeu a not#cia do noivado da irm! na maior calma.
K( descon2ava de +ue vinha +ual+uer coisa por a#
observou com ar de sabich!o.
Estava 'antando so3inho com a m!e. arbara tinha sa#do com
Kim.
Vuentin colocou a "arra)a de vinho do ,orto T sua )rente e
retirou4se sem )a3er barulho.
Esse cara a# n!o me en"ana disse Rupert acenando com a
cabe>a para a porta )echada. 9( +ual+uer coisa es+uisita com ele
sabe1 Vual+uer coisa...
8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)
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*uspeita1 interrompeu Mrs. *t. ?incent sorrindo de leve.
U0 mam!e como 0 +ue a senhora adivinhou o +ue eu ia
di3er1 per"untou Rupert bem s0rio.
,or+ue 0 uma palavra +ue voc@ sempre usa meu bem. ?oc@
acha tudo suspeito. No m#nimo tamb0m descon2a de +ue )oi Vuentin
+uem li+uidou com o Lord Listerdale e escondeu o cad(ver debai%o
do soalho n!o1
Atr(s do )orro de madeira corri"iu Rupert. A senhora
sempre con)unde um pouco as coisas m!e. N!o '( me in)ormei sobre
isso. Na ocasi!o o Vuentin andava l( por Yin"^s Cheviot.
Mrs. *t. ?incent sorriu para ele levantando4se da mesa e
subindo para a sala do andar superior. Em certo sentido Rupert estava
custando a 2car adulto.
No entanto surpreendeu4se pela primeira ve3 a ima"inar por
+ue motivo Lord Listerdale teria partido t!o abruptamente da
In"laterra. Devia haver al"uma e%plica>!o al"uma 'usti2cativa para
uma decis!o t!o repentina assim. Ainda estava pensando nisso
+uando Vuentin entrou com a bande'a do ca)0. N!o resistiu ao
impulso de per"untar.
?oc@ '( trabalha h( muito tempo para Lord Listerdale n!o 0
Vuentin1
Z sim senhora. Desde +ue eu tinha vinte e um anos.
Isso )oi na 0poca do )alecido pai dele. Comecei como au%iliar de
camareiro.
?oc@ deve conhec@4lo muito bem. Vue tipo de homem ele 01
O mordomo virou um pouco a bande'a para +ue ela pudesse
servir4se mais comodamente de a>Wcar en+uanto respondia com o
mesmo tom impass#vel:
Lord Listerdale era um homem muito e"o#sta. N!o tinha
considera>!o com nin"u0m.
Retirou a bande'a de ca)0 e levou4a embora da sala. Mrs. *t.
?incent 2cou sentada com a %#cara na m!o e uma e%press!o intri"ada
no rosto. Vual+uer coisa na+uela resposta al0m da opini!o
8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)
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e%ternada lhe soara estranha. N!o demorou muito a compreender
por +u@.
Vuentin tinha dito Qera em lu"ar de Q0. Mas ent!o ele deve
pensar... deve 'ul"ar... ,assou um car!o em si mesma. Estava 2cando
i"ual ao Rupert/ ?iu4se por0m tomada de uma in+uieta>!o bem
de2nida. Mais tarde locali3ou suas primeiras suspeitas na+uele
momento.
Com a )elicidade e o )uturo de arbara "arantidos teve tempo
para se entre"ar a seus racioc#nios +ue contra sua prpria vontade
come>aram a se concentrar em torno do mist0rio de Lord Listerdale.
Vual seria a verdadeira histria1 $osse +ual )osse Vuentin sabia de
al"uma coisa a respeito. Vue palavras mais estranhas ele havia dito:
Q...um homem muito e"o#sta... n!o tinha considera>!o com nin"u0m.
Vue esconderiam1 8inha )alado como um 'ui3 )alaria com isen>!o
imparcialmente.
Estaria Vuentin envolvido no desaparecimento de Lord
Listerdale1 8eria tomado parte ativa em al"uma tra"0dia +ue
porventura tivesse acontecido1 A2nal de contas por mais absurda
+ue parecesse a hiptese de Rupert na ocasi!o a+uela Wnica carta
remetida da )rica Oriental com uma procura>!o dei%ava... bem
mar"em a dWvidas.
Mas por mais +ue se es)or>asse n!o podia acreditar +ue
Vuentin )osse capa3 de +ual+uer maldade. Vuentin repetiu a si
mesma v(rias ve3es era "om ela usou a palavra com a mesma
simplicidade +ue uma crian>a usaria. Vuentin era "om. Mas sabia de
al"uma coisa/
Nunca voltou a )alar no dono da casa com ele. O assunto
estava aparentemente encerrado. Rupert e arbara tinham mais em
+ue pensar e n!o houve novas discussSes.
$oi em 2ns de a"osto +ue suas va"as con'eturas se crista4
li3aram em realidades. Rupert tinha ido passar +uin3e dias de )0rias
em companhia de um ami"o +ue possu#a um moto4ciclo com rebo+ue.
$a3ia uns de3 dias +ue ele havia partido +uando Mrs. *t. ?incent
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levou um susto ao v@4lo entrar correndo na sala onde estava sentada
escrevendo.
Rupert/ e%clamou.
Eu sei mam!e. A senhora s esperava me ver da+ui a tr@s
dias. Mas aconteceu uma coisa. O Anderson... o meu ami"o sabe1...
n!o tinha nenhum lu"ar especial para ir por isso su"eri +ue )-ssemos
dar uma olhada em Yin"^s Cheviot...
Yin"^s Cheviot1 Mas por +u@... 1
M!e a senhora sabe per)eitamente +ue eu sempre senti +ue
havia al"o suspeito em certas coisas a+ui. ,ois bem. Dei uma olhada
por l(... a casa est( alu"ada sabe1... e n!o achei nada. N!o +ue
esperasse realmente encontrar +ual+uer coisa... apenas andei
)are'ando pelos cantos por assim di3er.
Z pensou ela na+uele momento Rupert se assemelhava muito
a um c!o. $are'ando a esmo em busca de al"o va"o e inde2nido
levado pelo instinto entretido e )eli3.
$oi s +uando est(vamos passando por um lu"are'o a uns
de3 +uil-metros de dist[ncia de l( +ue a coisa aconteceu... +ue dei
com ele +uero di3er.
Ele +uem1
O Vuentin... entrando num pe+ueno chal0. Esse ne"cio n!o
est( me cheirando bem pensei c( comi"o e paramos o carro para eu
voltar. ati na porta e ele mesmo veio atender.
Mas eu n!o compreendo. O Vuentin n!o arredou p0 da+ui...
K( che"o l( m!e. ,reste aten>!o e n!o me interrompa viu1
Era o Vuentin e n!o era o Vuentin n!o sei se a senhora me entende.
L"ico +ue Mrs. *t. ?incent n!o estava entendendo portanto
ele teve +ue ser mais claro.
Era realmente o Vuentin mas n!o o nosso Vuentin. Era o
verdadeiro Vuentin.
Rupert/
Escute s. A princ#pio eu nem +ueria acreditar e per"untei:
QZ o Vuentin n!o 01 E o camarada respondeu: QE%atamente mo>o
8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)
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esse 0 o meu nome. Em +ue posso servi4lo1 $oi ent!o +ue eu vi +ue
n!o era o Vuentin +ue conhec#amos embora )osse absolutamente
i"ual a ele inclusive na vo3. $i3 al"umas per"untas e tudo se
esclareceu. O camarada n!o tinha a m#nima id0ia de +ue estivesse
acontecendo +ual+uer coisa de anormal. 9avia sido e)etivamente
mordomo de Lord Listerdale mas '( tinha se aposentado e recebido o
tal chal0 mais ou menos na 0poca em +ue se supunha +ue Lord
Listerdale tivesse embarcado para a )rica. A senhora est( vendo
aonde isso nos leva. O homem +ue trabalha a+ui 0 um impostor...
)a3endo4se passar pelo Vuentin sabe l( com +ue 2nalidade. Eu sou
da teoria de +ue na+uela noite ele veio T cidade 2n"indo ser o mor4
domo de Yin"^s Cheviot conse"uiu )alar com Lord Listerdale matou o
coitado e escondeu o cad(ver atr(s do )orro de madeira. A casa 0
muito velha com certe3a e%iste al"um nicho secreto...
Ah n!o vamos recome>ar com essa histria interrompeu
Mrs. *t. ?incent '( desesperada. N!o a"`ento mais. ,or +ue iria
ele... 0 isso +ue eu +uero saber... por +u@1 *e ele de )ato )e3 uma
coisa dessas... +ue n!o acredito de 'eito nenhum +ue tenha )eito
note4se... +ual o motivo pra tudo isso1
8em ra3!o concordou Rupert. O motivo 0 o +ue
interessa. Acontece +ue 23 sindic[ncias. Lord Listerdale possu#a uma
+uantidade de imveis. Nestes Wltimos dois dias eu descobri +ue
praticamente todas essas casas dele )oram alu"adas durante os
Wltimos de3oito meses a pessoas como ns por um pre>o irrisrio...
so" a condi#o de que os criados continuassem no servi#o. E em cada
uma delas o prprio Vuentin... isto 0 o su'eito +ue se )a3 passar pelo
Vuentin... trabalhou al"um tempo como mordomo. Isso me )a3
descon2ar de +ue e%iste al"uma coisa ... 'ias ou pap0is... escondida
numa das casas de Lord Listerdale e a +uadrilha n!o sabe em +ual.
*uponho +ue se trate de uma +uadrilha mas 0 bem poss#vel +ue esse
tal Vuentin a'a so3inho. 9( outra...
Mrs. *t. ?incent interrompeu4o com certo "rau de determina>!o.
Rupert/ ,are de )alar um instante. K( estou com a cabe>a
8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)
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3on3a. *e'a como )or o +ue voc@ di3 0 boba"em... essa histria de
+uadrilhas e pap0is escondidos.
9( outra teoria admitiu Rupert. Esse tal Vuentin pode
ser al"u0m +ue Lord Listerdale pre'udicou. O verdadeiro mordomo me
contou uma histria comprida a respeito de um cara chamado *amuel
Lo&e... um a'udante de 'ardineiro +ue tinha mais ou menos a mesma
estatura e o mesmo corpo do prprio Vuentin. Ele 2cou ressentido
com o Listerdale...
Mrs. *t. ?incent teve um sobressalto.
QN!o tinha considera>!o com nin"u0m. As palavras lhe vieram
T lembran>a com o mesmo tom desapai%onado contido. ,areciam
descabidas mas o +ue n!o si"ni2cariam1
Distra#da mal escutava o +ue Rupert di3ia. Ele deu uma r(pida
e%plica>!o sobre al"o +ue ela n!o havia prestado aten>!o e saiu
apressadamente da sala.
Ent!o ela caiu em si. Aonde Rupert tinha ido1 Vue ia )a3er1 N!o
havia entendido direito as Wltimas palavras dele. 8alve3 )osse avisar T
pol#cia. Nesse caso...
Levantou4se abruptamente e tocou a campainha. Com a
prontid!o habitual Vuentin apareceu.
A senhora chamou1
Chamei. $a>a o )avor de entrar e )eche a porta.
O mordomo obedeceu e Mrs. *t. ?incent 2cou um instante
calada en+uanto o analisava atentamente.
,ensou: QEle tem sido timo para mim... nin"u0m sabe +uanto.
Os meninos n!o compreenderiam. Essa histria desvairada do Rupert
talve3 se'a pura tolice... ,or outro lado talve3... sim talve3... tenha
al"um )undamento. Como 'ul"ar1 N!o d( pra sa"er. O +ue est( certo
ou errado +uero di3er... E aposto a minha vida... sim 'uro +ue
aposto/... como ele 0 um homem de bem.
Corada com a vo3 tr@mula come>ou a )alar.
Vuentin o Mr. Rupert acaba de voltar. Ele andou l( por Yin"^s
Cheviot... por um lu"are'o vi3inho...
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,arou notando o r(pido sobressalto +ue o criado n!o conse"uiu
dis)ar>ar.
E viu... al"u0m prosse"uiu num tom contido.
,ensou consi"o mesma: Q,ronto... a"ora ele '( sabe. *e'a como
)or est( prevenido.
Depois da+uele r(pido sobressalto inicial Vuentin retomou seu
porte impass#vel 2%ando por0m o olhar no rosto dela atento e
penetrante com uma e%press!o +ue Mrs. *t. ?incent 'amais tinha
visto. Era pela primeira ve3 o olhar de um homem e n!o de um
criado.
Ele hesitou um pouco depois per"untou numa vo3 +ue tamb0m
estava sutilmente mudada:
,or +ue a senhora est( me contando isso Mrs. *t. ?incent1
Antes +ue pudesse responder a porta se abriu e Rupert entrou
intempestivamente na sala. 8ra3ia 'unto um homem '( maduro todo
di"no com pe+uenas su#>as e um ar de arcebispo ben0volo.
$uentin!
C( est( ele disse Rupert. O verdadeiro Vuentin. Mandei
+ue esperasse l( )ora no t(%i. A"ora Vuentin olhe para este homem
e me. di"a... 0 o *amuel Lo&e1
,ara Rupert )oi um momento de triun)o. Mas durou pouco.
Vuase de imediato percebeu +ue havia al"uma coisa errada. ,ois ao
passo +ue o verdadeiro Vuentin parecia enver"onhado e muito mal T
vontade o )also Vuentin sorria abertamente sem dissimular o pra3er
+ue sentia na+uela situa>!o.
Deu uma palmada nas costas do ssia contra)eito.
N!o )a3 mal Vuentin. Era inevit(vel +ue um dia a verdade
viesse T tona. ,ode di3er a eles +uem eu sou.
O di"no desconhecido se emperti"ou todo.
Mo>o este senhor anunciou num tom de recrimina>!o 0
o meu patr!o Lord Listerdale.
O minuto subse+`ente testemunhou v(rias coisas. ,rimeiro a
8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)
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prostra>!o absoluta do presun>oso Rupert. Antes +ue pudesse
compreender o +ue estava acontecendo ainda bo+uiaberto com o
impacto da descoberta viu4se sendo empurrado delicadamente na
dire>!o da porta por uma vo3 ami"a +ue lhe era e ao mesmo tempo
n!o era )amiliar.
N!o tem a menor import[ncia meu rapa3. Nin"u0m vai sair
pre'udicado por causa disso. Mas +uero trocar uma palavra com sua
m!e. ?oc@ e)etuou um timo trabalho me desmascarando desse
'eito.
$icou do lado de )ora no patamar olhando para a porta
)echada. O verdadeiro Vuentin estava a seu lado e prontamente se
p-s a e%plicar tudo o +ue havia acontecido. Dentro da sala Lord
Listerdale se con)rontava com Mrs. *t. ?incent.
Dei%e4me e%plicar... se eu puder/ Durante a vida inteira )ui
um monstro de e"o#smo... um dia acordei para esse )ato. Achei +ue
devia procurar ser um pouco altru#sta para variar e sendo um louco
de marca maior comecei a )a3er as coisas mais )ant(sticas. $i3 tudo
+uanto )oi esp0cie de donativos mas senti necessidade de )a3er
al"uma coisa... bem al"uma coisa pessoal. *empre tive pena da
classe +ue n!o pode mendi"ar +ue tem +ue so)rer calada... "ente
distinta +ue cai na mis0ria. ,ossuo uma s0rie de propriedades.
Concebi a id0ia de alu"ar essas casas a pessoas +ue... ora
precisassem delas e soubessem valori3(4las. Casais 'ovens com a vida
pela )rente viWvas com 2lhos e 2lhas T procura de um lu"ar ao sol.
Vuentin tem sido mais +ue um mordomo para mim: um ami"o. Com o
consentimento e a a'uda dele tomei de empr0stimo a sua
personalidade. *empre tive talento para representar. A id0ia me veio
uma noite a caminho do clube. $ui lo"o discuti4la com o Vuentin.
Vuando descobri +ue estavam )a3endo um escarc0u em torno do meu
desaparecimento providenciei para +ue remetessem uma carta
minha da )rica Oriental. Nela eu dava todas as instru>Ses ao meu
primo Maurice Car)a%. E... bem em resumo )oi isso o +ue aconteceu.
,arou de )alar meio sem 'eito lan>ando um olhar de apelo a
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Mrs. *t. ?incent. Ela 2cou imvel muito erecta e olhou4o bem nos
olhos.
$oi uma id0ia "enerosa disse. 8otalmente )ora do
comum e da +ual pode se envaidecer. *into4me... muito "rata. Mas...
o senhor naturalmente h( de compreender +ue ns n!o podemos
continuar a+ui n!o 01
K( contava com essa retrucou ele. O seu or"ulho n!o lhe
permite aceitar o +ue provavelmente chamaria de Qcaridade.
E por acaso n!o 01 per"untou com 2rme3a.
N!o respondeu ele. ,or+ue eu espero uma coisa em
troca.
O +u@1
8udo.
A vo3 de Lord Listerdale ressoou com o tom de +uem est(
acostumado a dominar.
Vuando eu tinha vinte e tr@s anos continuou casei com
a mulher +ue eu amava. Um ano depois ela morreu. A partir de ent!o
tenho me sentido muito s. Vueria tanto encontrar al"u0m... a
criatura dos meus sonhos...
E acredita +ue se'a eu1 per"untou Mrs. *t. ?incent em vo3
bai%a. K( estou t!o velha... t!o. murcha...
Ele riu.
?elha1 ?oc@ 0 mais mo>a +ue +ual+uer um de seus 2lhos.
Eu sim 0 +ue poderia di3er isso.
Mas a risada dela por sua ve3 ressoou com o som delicado e
cristalino de +uem acha uma "ra>a imensa.
?oc@1 ?oc@ ainda 0 um rapa3. Um rapa3 +ue "osta de se
)antasiar/
E estendeu as m!os +ue ele tomou entre as suas.
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A MO5A DO 8REM
Acabou4se o +ue era doce/ e%clamou 7eor"e Ro&land com
pesar contemplando a ma'estosa )achada encardida do pr0dio de
onde acabava de sair.
,odia4se di3er +ue simboli3ava muito bem o poder do Dinheiro
e o Dinheiro na 2"ura de ]illiam Ro&land tio do mencionado
7eor"e tinha mani)estado sua opini!o com a maior )ran+ue3a. No
curto pra3o de de3 minutos. 7eor"e a menina dos olhos do tio
herdeiro de sua )ortuna e com uma promissora carreira comercial pela
)rente havia in"ressado subitamente na vasta le"i!o de
desempre"ados.
E com estas roupas n!o posso nem pedir esmola re\etiu
acabrunhado. E para andar vendendo poemas de porta em porta
a troco de ninharias: QD@ o +ue a senhora +uiser madameP
simplesmente me )alta 'eito.
?erdade +ue 7eor"e simboli3ava um aut@ntico triun)o da arte
da al)aiataria. Estava maravilhosamente bem vestido. *alom!o com
seus l#rios do campo perderia tempo com ele. Mas nem s de roupa
vive o homem a menos +ue possua consider(vel e%peri@ncia na
re)erida arte e nin"u0m melhor +ue 7eor"e Ro&land para saber
disso.
8udo por causa da+uela dro"a de )esta de ontem T noite
pensou com triste3a.
A Qdro"a de )esta de ontem T noite )ora um baile no Covent
7arden. 7eor"e tinha voltado numa hora bastante tardia ou
melhor matinal e para ser )ranco n!o seria capa3 de 'urar +ue se
lembrava se+uer de ter voltado. Ro"ers o mordomo do tio era muito
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prestativo e poderia sem dWvida prestar maiores esclarecimentos
sobre o assunto. Uma dor de cabe>a atro3 uma %#cara de ch( bem
)orte e uma che"ada ao escritrio +uando )altavam cinco minutos
para o meio4dia o e%pediente come>ava Ts nove e trinta...
precipitaram a cat(stro)e. O tio +ue h( vinte e +uatro anos vinha
tolerando e pa"ando tudo como cumpre a um parente discreto de
repente mudou de t(tica revelando4se sob uma lu3 totalmente nova.
O descabimento das respostas de 7eor"e a cabe>a do rapa3 abria e
)echava sem parar )eito um instrumento de tortura medievalP dei%ou4
o ainda mais irritado. ]illiam Ro&land n!o costumava ter papas na
l#n"ua. Com meia dW3ia de palavras bem escolhidas botou o sobrinho
no olho da rua e voltou a se concentrar no e%ame +ue andava
)a3endo de uns campos de petrleo no ,eru.
7eor"e Ro&land sacudiu dos p0s a poeira do escritrio do tio e
saiu caminhando pela City. 8inha esp#rito pr(tico.Um bom almo>o a
seu ver seria indispens(vel T an(lise da situa>!o. $oi o +ue )e3.
Depois tomou o caminho do solar da )am#lia. Ro"ers abriu4lhe a porta.
N!o mani)estou a menor surpresa na 2sionomia tra+ue'ada ao ver
7eor"e nessa hora inusitada.
oa tarde Ro"ers. Vuer )a3er o )avor de me arrumar as
malas1 ?ou4me embora.
,ois n!o patr!o. Z para uma via"em r(pida1
N!o Ro"ers 0 para sempre. ,arto a"ora de tarde para as
col-nias.
De verdade patr!o1
*im. Vuer di3er se houver um navio +ue saia ho'e. ?oc@
entende al"uma coisa de navios Ro"ers1
,ara +ue col-nia o senhor vai1
*ei l(. N!o tenho pre)er@ncias. Vual+uer uma serve.
,ara a Austr(lia di"amos. Vue acha da id0ia Ro"ers1
Ro"ers tossiu discretamente.
em patr!o n!o resta dWvida de +ue '( me disseram +ue l(
h( sempre lu"ar para +ual+uer pessoa +ue +ueira realmente
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trabalhar.
Mr. Ro&land encarou4o com interesse e admira>!o.
E%celente resposta Ro"ers. $oi e%atamente o +ue pensei.
,ortanto n!o irei para a Austr(lia... pelo menos por ora. ?( buscar o
"uia )errovi(rio sim1 ?amos escolher um lu"ar +ue n!o 2+ue t!o )ora
de m!o.
Ro"ers trou%e o volume pedido. 7eor"e abriu4o ao acaso
)olheando rapidamente as p("inas.
,erth... 2ca muito lon"e... ,utney rid"e... 0 perto demais.
Rame"ate1 N!o me palpita. Rei"ate tamb0m n!o me interessa. Mas
+ue coisa incr#vel/ N!o 0 +ue e%iste de )ato um lu"ar chamado
Ro&land^s Castle1 ?oc@ '( tinha ouvido )alar nisso Ro"ers1
8enho impress!o de +ue para ir l( 0 preciso tomar o trem na
esta>!o de ]aterloo.
?oc@ 0 um )en-meno Ro"ers. N!o h( nada +ue n!o saiba.
Ora '( se viu Ro&land^s Castle/ Como ser( +ue 0 hem1
Acho +ue n!o deve ser "rande coisa patr!o.
8anto melhor. Assim haver( menos competi>!o. Esses
lu"are'os tran+`ilos do interior conservam ainda muito do velho
esp#rito )eudal. O Wltimo Ro&land aut@ntico na certa ser( recebido
com entusiasmo instant[neo. N!o me admiro se )or eleito pre)eito
da+ui a uma semana.
$echou o "uia )errovi(rio com estrondo.
A sorte est( lan>ada. Me arrume uma mala pe+uena viu
Ro"ers1 8ransmita tamb0m meus cumprimentos T co3inheira e
per"unte se ela n!o me emprestaria o "ato por uns tempos. $eito o
DicX ]hittin"ton sabe1 Vuando a "ente resolve tornar4se pre)eito 0
indispens(vel ter um "ato.
*into muito patr!o mas o "ato n!o se encontra dispon#vel
no momento.
Como assim1
8eve oito 2lhotes ho'e de manh!.
N!o di"a. ,ensei +ue o nome dele )osse ,eter.
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E de )ato 0 patr!o. 8odo mundo se admirou.
Um caso de batismo desatento e se%o en"anador hem1
Muito bem terei de ir sem "ato mesmo. N!o demore para arrumar a
mala sim1
,er)eitamente.
Ro"ers se retirou e reapareceu de3 minutos depois.
Vuer +ue lhe chame um t(%i patr!o1
Chame sim por )avor.
Ro"ers hesitou e por 2m adiantou4se um pouco para o meio da
sala.
Desculpe a liberdade mas eu se )osse o senhor n!o levaria
a s0rio nada +ue Mr. Ro&land possa ter dito ho'e de manh!. Ontem T
noite ele )oi a um desses 'antares de cerim-nia e...
N!o di"a mais nada atalhou 7eor"e. K( entendi.
E sendo propenso T "ota...
Eu sei eu sei. Deve ter sido uma noite e%tenuante pra voc@
hem Ro"ers tendo +ue aturar ns dois. Mas '( decidi me tornar
)amoso em Ro&land^s Castle... o ber>o da minha dinastia... n!o 2caria
nada mal num discurso n!o 0 mesmo1 Um tele"rama para mim l( ou
um anWncio discreto nos 'ornais matutinos sempre me lembrar!o de
+ue um fricass%e de vitela se acha em preparo. E a"ora... rumo a
]aterloo/... como disse ]ellin"ton na v0spera da histrica batalha.
A esta>!o de ]aterloo na+uela tarde n!o estava num de seus
momentos mais )eli3es. Mr. Ro&land descobriu eventualmente o trem
+ue o levaria ao seu destino mas era um trem sem "ra>a sem nada
+ue o distin"uisse dos demais um trem +ue nin"u0m parecia
ansioso em tomar. Mr. Ro&land dispunha de um va"!o inteiro de
primeira classe s para ele bem perto da locomotiva. Uma neblina
come>ava a pairar va"amente sobre a cidade ora subindo ora
descendo. A plata)orma estava deserta e apenas o res)ole"ar
asm(tico da m(+uina rompia o sil@ncio.
De repente tudo come>ou a acontecer com uma rapide3
estonteante.
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,rimeiro )oi a mo>a. Ela abriu a porta com viol@ncia e entrou de
um salto despertando Mr. Ro&land de al"o +ue se apro%imava
peri"osamente de um cochilo ao mesmo tempo +ue e%clamava:
Ah/ Me esconda... ,or )avor me esconda/
7eor"e era essencialmente um homem de a>!o +ue n!o se
detinha a pedir e%plica>Ses +ue pre)eria morrer a perder tempo com
hesita>Ses e assim por diante. * e%iste um Wnico lu"ar +ue pode
servir de esconderi'o num va"!o )errovi(rio a parte de bai%o do
assento. Em sete se"undos a mo>a estava alo'ada ali e a maleta de
7eor"e dei%ada ne"li"entemente em p0 encobria4lhe o re)W"io. $oi
por pouco. Um rosto indi"nado sur"iu na 'anela do va"!o.
Minha sobrinha/ ?oc@ est( com ela a#/ Vuero a minha
sobrinha.
7eor"e meio o)e"ante estava encostado no canto imerso na
coluna esportiva do 'ornal da tarde a edi>!o da uma e meia. ai%ou4o
com ar de +uem encontra di2culdade para voltar T realidade.
Como )oi +ue o senhor disse1 per"untou cort@s.
Minha sobrinha... +ue )oi +ue voc@ )e3 com ela1
aseando4se na pol#tica de +ue o ata+ue 0 sempre melhor +ue a
de)esa 7eor"e entrou lo"o em a>!o.
Vue diabo est( +uerendo insinuar1 voci)erou numa
imita>!o bastante boa das maneiras de seu tio.
O outro vacilou um pouco intimidado por a+uela sWbita
veem@ncia. Era "ordo e ainda bu)ava como se tivesse corrido uma
certa dist[ncia. Usava cabelo cortado T escovinha e bi"ode tipo
&aiser. ,ossu#a um sota+ue decididamente "utural e a ri"ide3 do porte
indicava +ue se sentia mais T vontade )ardado do +ue T paisana.
7eor"e tinha o inato preconceito in"l@s contra estran"eiros e uma
antipatia toda especial por estran"eiros de aspecto "erm[nico.
Vue diabo est( +uerendo insinuar1 repetiu irritado.
Ela entrou a# insistiu o outro. Eu vi. Vue )e3 com ela1
7eor"e lar"ou o 'ornal e meteu a cabe>a e os ombros para )ora
da 'anela.
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Ah ent!o 0 isso 01 ru"iu. Chanta"em. Mas desta ve3
tomou o bonde errado. K( li tudo a seu respeito no 'ail( Mail de ho'e
de manh!. Ei "uarda venha c(/
K( atra#do de lon"e pela discuss!o o )uncion(rio chamado
acudiu Ts pressas.
Olhe a+ui seu "uarda disse Mr. Ro&land com a+uele ar
autorit(rio +ue as classes in)eriores tanto adoram. Este su'eito est(
me importunando. *e )or necess(rio darei parte de tentativa de
chanta"em. Ele +uer di3er +ue escondi a sobrinha dele a+ui dentro.
Anda por a# uma verdadeira +uadrilha de estran"eiros procurando
aplicar esse "olpe. Z preciso acabar com isso. $a>a o )avor de
prend@4lo. E leve o meu cart!o caso precise de mim.
O olhar do "uarda ia de um para o outro. N!o demorou a tomar
uma resolu>!o. A e%peri@ncia o ensinava a despre3ar estran"eiros e
respeitar e admirar cavalheiros bem tra'ados +ue via'am em primeira
classe.
,ousou a m!o no ombro do importuno.
?amos ordenou d@ o )ora.
Nesse momento decisivo o in"l@s do estran"eiro )alhou e ele se
p-s a pro)erir violentos improp0rios na l#n"ua materna.
Che"a atalhou o "uarda. E a)aste4se da# viu1 O trem '(
vai sair.
E entre acenos de bandeira e apitos o relutante trem arrancou
com um solavanco.
7eor"e permaneceu no seu posto de observa>!o at0 +ue a
plata)orma sumiu de vista. A# ent!o tirou a cabe>a da 'anela levantou
a mala e colocou4a na prateleira.
N!o h( mais peri"o. ,ode sair disse tran+`ili3ador.
A mo>a saiu se arrastando.
,u%a/ e%clamou tomando )-le"o. Nem sei como lhe
a"radecer/
N!o precisa. Asse"uro4lhe +ue )oi um pra3er retrucou
7eor"e displicente.
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*orriu para tran+`ili3(4la. Ela o olhava meio intri"ada. ,arecia
at0 certo ponto decepcionada. $oi ent!o +ue se en%er"ou no
espelhinho da parede oposta e soltou uma e%clama>!o de horror.
Z de se duvidar +ue os limpadores de va"Ses )errovi(rios
varram diariamente a parte in)erior dos bancos. 8odas as apar@ncias
indicam o contr(rio mas pode ser +ue cada part#cula de p e )uli"em
tenha mania de se alo'ar ali )eito p(ssaros em ninho. Devido T
che"ada intempestiva da mo>a e o breve espa>o de tempo antes +ue
se a"achasse para o esconderi'o 7eor"e mal teve tempo de
observar4lhe o aspecto mas n!o h( +ue ne"ar +ue era uma 'ovem
ele"ante e bem vestida +ue havia desaparecido debai%o do assento.
A"ora al0m do chapeu3inho vermelho amassado e torto estava com
o rosto des2"urado por "randes manchas de su'eira.
Ah/ resmun"ou.
Reme%eu dentro da bolsa. 7eor"e com o tato de um aut@ntico
cavalheiro desviou o olhar para a 'anela pondo4se a admirar as ruas
de Londres ao sul do 8[misa.
Nem sei como lhe a"radecer repetiu a mo>a.
Interpretando essa )rase como o sinal de +ue '( podiam
continuar a conversa 7eor"e se virou e )e3 outro protesto cort@s s
+ue desta ve3 com muito mais ardor.
A mo>a era uma verdadeira maravilha/ 7eor"e teve de se
con)essar +ue nunca tinha visto uma mulher t!o linda assim. *eu
entusiasmo tornou4se indis)ar>(vel.
Achei simplesmente )ormid(vel de sua parte declarou ela
com veem@ncia.
N!o sei por +u@. A coisa mais )(cil do mundo. 8ive o maior
pra3er em lhe ser Wtil murmurou 7eor"e.
$ormid(vel reiterou en)(tica.
N!o resta dWvida +ue 0 e%tremamente a"rad(vel 2car sentado
diante da mo>a mais bonita +ue '( se viu encarando a "ente nos
olhos e di3endo +ue voc@ 0 )ormid(vel. 7eor"e estava "ostando
da+uilo como +ual+uer outra pessoa tamb0m "ostaria.
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$oi ent!o +ue se )e3 um sil@ncio meio embara>oso. ,arecia +ue
ela se havia dado conta de +ue talve3 )osse necess(rio )ornecer
maiores e%plica>Ses. Corou um pouco.
O mais constran"edor disse toda nervosa 0 +ue tenho
impress!o de +ue n!o d( para e%plicar.
E lan>ou4lhe um comovente olhar de incerte3a.
N!o d( para e%plicar1
N!o
Vue bele3a/ e%clamou Mr. Ro&land entusiasmado.
Como 0 +ue 01
Eu disse: QVue bele3a/ Z +ue nem nesses livros +ue dei%am
a "ente acordado a noite inteira. No primeiro cap#tulo a hero#na
sempre di3: QN!o d( para e%plicar. Claro +ue no 2m ela sempre
termina e%plicando e nunca h( o menor motivo v(lido para +ue n!o
e%plicasse tudo lo"o de in#cio... s +ue estra"aria a histria. N!o
ima"ina a minha ale"ria por estar metido num verdadeiro mist0rio...
n!o sabia +ue e%istiam coisas assim. Espero +ue se'a al"o rela4
cionado com documentos secretos de suma import[ncia e com o
e%presso dos (lc!s. *ou louco pelo e%presso dos (lc!s.
A mo>a arre"alou os olhos para ele descon2ada.
,or +ue 'ustamente o e%presso dos (lc!s1 per"untou
subitamente.
Espero n!o ter sido indiscreto apressou4se 7eor"e a
acrescentar. ?ai ver +ue seu tio '( via'ou nele.
O meu tio... $e3 uma pausa depois recome>ou: O meu
tio...
Eu sei disse 7eor"e compreensivo. 8amb0m tenho um.
Nin"u0m tem culpa dos tios +ue tem. *!o os pe+uenos percal>os do
atavismo... 0 assim +ue eu encaro.
A mo>a de repente come>ou a rir. Vuando voltou a )alar 7eor"e
notou4lhe um leve sota+ue estran"eiro. A princ#pio tinha pensado +ue
)osse in"lesa.
Vue pessoa mais simp(tica e ori"inal +ue o senhor 0 Mr. ...
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Ro&land. Meus ami"os me chamam de 7eor"e.
Meu nome 0 Eli3abeth...
,arou abruptamente.
Eu "osto do nome de Eli3abeth disse 7eor"e para salv(4la
da con)us!o moment[nea. Espero +ue nin"u0m a chame de essie
ou +ual+uer coisa horr#vel assim...
Ela sacudiu a cabe>a.
em continuou 7eor"e a"ora +ue '( nos conhecemos 0
melhor p-r m!os T obra. *e voc@ se levantar Eli3abeth eu posso lhe
tirar o p das costas do seu casaco.
Ela se levantou obediente e 7eor"e cumpriu sua palavra.
Obri"ada Mr. Ro&land.
7eor"e. 7eor"e para os ami"os n!o se es+ue>a. ?oc@ n!o
pode entrar no meu con)ort(vel va"!o va3io rolar para bai%o do
banco e me levar a mentir para seu tio para depois se recusar a ser
minha ami"a n!o 01
Obri"ada 7eor"e.
K( melhorou.
Estou bem a"ora1 per"untou Eli3abeth tentando ver4se
por cima do ombro es+uerdo.
?oc@... ah/ voc@ est(... voc@ est( bem sim respondeu
7eor"e contendo4se resoluto.
8udo aconteceu t!o de repente sabe1 e%plicou ela.
,ercebi lo"o...
Ele nos viu no t(%i e depois na esta>!o eu simplesmente
entrei correndo a+ui sabendo +ue ele vinha no meu encal>o. ,or )alar
nisso pra onde vai este trem1
,ra Ro&land^s Castle disse 7eor"e com 2rme3a.
A mo>a 2cou perple%a.
Ro&land^s Castle1
N!o diretamente l"ico. * depois de uma boa +uantidade
de paradas e demoras. Mas acredito piamente +ue che"arei l( antes
da meia4noite. A anti"a *udoeste era uma linha em +ue se podia
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con2ar... demorava mas che"ava... mas tenho certe3a de +ue a
$errovia *ul continua mantendo as velhas tradi>Ses.
N!o sei se +uero ir pra Ro&land^s Castle disse Eli3abeth
meio em dWvida.
?oc@ est( me o)endendo. Z um lu"ar timo.
K( andou por l(1
N!o propriamente. Mas h( uma por>!o de outros lu"ares a
+ue voc@ pode ir se n!o "osta de Ro&land^s Castle. 8em ]oXin"
]eybrid"e e ]imbledon. Z certo +ue o trem p(ra em +ual+uer um
deles.
Ah 0 disse ela. ,ois 0 eu posso descer l( e talve3 voltar
de carro para Londres. *eria a melhor solu>!o a meu ver.
En+uanto )alava o trem come>ou a diminuir a marcha. Mr.
Ro&land olhou4a implorante.
*e puder )a3er +ual+uer coisa...
Absolutamente. O +ue voc@ )e3 '( )oi demais.
9ouve uma pausa depois de repente ela e%clamou:
Eu... eu "ostaria de poder e%plicar. Eu...
,elo amor de Deus n!o )a>a isso/ Estra"aria tudo. Mas
escute a+ui n!o h( mesmo nada +ue eu possa )a3er1 Levar os pap0is
secretos para ?iena... ou +ual+uer coisa no "@nero1 *empre e%istem
pap0is secretos. Me d@ uma oportunidade sim1
O trem tinha parado. Eli3abeth saltou rapidamente para a
plata)orma. ?irou4se e )alou com ele pela 'anela.
Est( )alando s0rio1 ?oc@ )aria realmente al"uma coisa por
ns... por mim1
,or voc@ eu )aria tudo Eli3abeth.
Mesmo +ue n!o desse para e%plicar os motivos1
7rande coisa os motivos/
Ainda +ue )osse... arriscado1
Vuanto mais arriscado melhor.
Ela hesitou um pouco depois pareceu ter tomado uma decis!o.
Debruce4se na 'anela. Olhe para a plata)orma como se n!o
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estivesse vendo nada. Mr. Ro&land es)or>ou4se para atender essa
recomenda>!o bastante di)#cil. Est( vendo a+uele homem +ue vai
pe"ar o trem... de cavanha+ue escuro... e capa leve1 *i"a4o observe o
+ue ele )a3 e para onde vai.
* isso1 per"untou Mr. Ro&land. O +ue 0 +ue eu...
Ela o interrompeu.
Depois voc@ receber( novas instru>Ses. N!o o perca de
vista... e "uarde isto a+ui. Entre"ou4lhe um pe+ueno embrulho
lacrado. Como se )osse a sua prpria vida. Cont0m a chave de
tudo.
O trem partiu. Mr. Ro&land 2cou olhando pela 'anela vendo a
silhueta alta e ele"ante de Eli3abeth abrindo caminho pela plata)orma
a)ora. Apertou na m!o o pe+ueno embrulho lacrado.
O resto da via"em transcorreu montono e sem incidente. O
trem era va"aroso. ,arava em toda parte. Em cada esta>!o 7eor"e
espichava a cabe>a para )ora da 'anela cuidando para ver se a sua
presa n!o desembarcava. De ve3 em +uando descia e caminhava de
um lado para outro na plata)orma certi2cando4se de +ue o su'eito
continuava a bordo.
O destino 2nal do trem era ,ortsmouth e )oi l( +ue o via'ante
de cavanha+ue preto desembarcou diri"indo4se a um hotel3inho de
se"unda cate"oria onde se re"istrou como hspede. Coisa +ue Mr.
Ro&land tamb0m )e3.
*eus +uartos 2cavam no mesmo corredor separados apenas
por duas portas de dist[ncia. Isso pareceu timo a 7eor"e. Era um
completo ne2to na arte de se"uir os outros mas estava louco de
vontade de se sair bem e 'usti2car a con2an>a +ue Eli3abeth
depositava nele.
Na hora do 'antar indicaram4lhe uma mesa pr%ima da de sua
presa. O sal!o estava cheio e 7eor"e classi2cou a maioria dos
hspedes como cai%eiros4via'antes homens sosse"ados e
respeit(veis +ue comiam com muito apetite. * houve um +ue lhe
chamou a aten>!o de modo especial: um su'eito bai%inho de cabelo e
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bi"ode ruivos e um to+ue de e+uita>!o no estilo de se tra'ar +ue
tamb0m mostrou interesse por ele e no 2m da re)ei>!o su"eriu4lhe
um drin+ue e uma partida de bilhar. 7eor"e por0m acabava de ver o
homem de cavanha+ue pondo o chap0u e a capa e recusou
polidamente o convite. N!o demorou muito estava na rua ad+uirindo
nova e%peri@ncia na di)#cil arte de se"uir os outros. A perse"ui>!o )oi
lon"a e cansativa e resultou inWtil. Depois de 3an3ar pelas ruas de
,ortsmouth por mais de cinco +uil-metros o homem retornou ao
hotel sempre com 7eor"e nos calcanhares. Este '( se via tomado de
uma certa dWvida. *er( +ue sua presa sabia +ue estava sendo
se"uida1 En+uanto debatia a +uest!o consi"o mesmo parado no
vest#bulo a porta se abriu novamente e o *u'eitinho ruivo entrou. Era
bvio +ue tamb0m tinha sa#do para dar uma volta.
De repente 7