Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)

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    A MINA DE OURO

    As palavras me morreram na boca. A portada sala de visitas se abriu e Lady Carmichael

    envolta num roup!o sur"iu no vest#bulo.$i%ou os olhos em Andre& e se al"um dia '( vi

    um olhar de terror absoluto carre"ado de culpa

    )oi o dela. *eu rosto nem parecia humano de t!oapavorado +ue estava. ,-s a m!o na "ar"anta.Andre& se adiantou para ela com

    e%pansividade in)antil. Ol( m!e/ Ent!o tamb0m andou

    doente1 ,u%a vida +ue pena +ue me d(.Ela recuou arre"alando os olhos. A# de repente

    com o "rito lancinante de uma almapenada caiu de costas pela porta aberta.Corri e me debrucei sobre ela e depois

    23 sinal para *ettle se apro%imar.

    N!o di"a nada pedi. Leve4odiscretamente l( para cima e voltea+ui. Lady Carmichael est( morta.

    COLE56O A7A89A C9RI*8IE

    http:;;"roups4beta."oo"le.com;"roup;di"italsource

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    A7A89A C9RI*8IE

    A MINA DE OURO

    !o

    EDI8ORANO?A

    $RON8EIRA

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    8#tulo do ori"inal in"l@s:8he 7olden all and Other *tories

    B F G HF by Christie Copyri"hts 8rust

    CapaRol) 7unther raun

    8radu>!oMilton ,ersson

    Revis!oA. 8avares

    Direitos ad+uiridos com e%clusividade para o rasil pelaEDI8ORA NO?A $RON8EIRA *.A.

    Rua Maria An"0lica GJ 4 La"oa 4 CE,. .FG 4 8el.: JG4JEndere>o 8ele"r(2co 4 NEO$RON8

    Rio de Kaneiro 4 RK

    ,roibida a e%porta>!o para ,ortu"al e pa#sesa)ricanos de l#n"ua portu"uesa

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    NDICE

    A Mina de OuroO Mist0rio de Lord Listerdale

    A Mo>a do 8remA ravura de Ed&ard Robinson

    Kane ,rocura Empre"oUm Domin"o $rut#)eroA Esmeralda do Ra'(

    O Canto do CisneO C!o da Morte

    A Ci"anaO Lampi!o

    O Estranho Caso de *ir Andre& Carmichael

    O Chamado das Asas$lor de Ma"nliaN!o $osse o Cachorro

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    A MINA DE OURO

    7eor"e Dundas estava parado em plena City1pensando.

    De todos os lados simples )uncion(rios e "ente empenhada em

    "anhar dinheiro sur"iam e passavam como avassaladora mar0. Mas

    7eor"e impecavelmente vestido as cal>as muito bem )risadas nem

    prestava aten>!o. * procurava encontrar uma )orma de sair da+uela

    situa>!o.

    N!o era para menos. Entre ele e o tio rico Ephraim Leadbetter

    da 2rma Leadbetter 7illin"P tinha4se travado o +ue as classes

    in)eriores chamam de Qbate4boca. A bem da verdade di"a4se +ue o

    bate4boca havia partido +uase +ue e%clusivamente de Mr. Leadbetter.

    As palavras 'orravam de seus l(bios numa torrente incontida de

    revolta e indi"na>!o e o )ato de no )undo se resumirem tamb0m

    +uase +ue e%clusivamente em repeti>Ses nem parecia perturb(4lo.

    Limitar4se a di3er uma coisa apenas uma ve3 de modo bem claro e

    conciso n!o 2"urava entre os lemas de Mr. Leadbetter.

    A causa era bem simples: o estouvamento e a irrespon4

    sabilidade criminosa de um rapa3 +ue tendo de trabalhar para

    "anhar a vida se ausenta do empre"o no meio da semana sem se

    di"nar a pedir licen>a. Mr. Leadbetter depois de di3er tudo o +ue lhe

    veio T cabe>a e boa parte '( pela se"unda ve3 parou para tomar

    )-le"o e per"untar o +ue 7eor"e pretendia com a+uilo.

    7eor"e respondeu simplesmente +ue tinha sentido vontade de

    tirar um dia de )ol"a. Umas )0rias para ser mais e%ato.

    E o +ue +uis saber Mr. Leadbetter vinham a ser as tardes de

    s(bado e os domin"os1 *em )alar na )esta do Esp#rito *anto h( pouco

    tempo e no )eriado banc(rio de a"osto +ue n!o tardaria a che"ar1

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    1ona onde se concentra o maior movimento 2nanceiro e banc(rio de Londres.

    7eor"e )risou +ue n!o "ostava de tardes de s(bados nem de

    domin"os ou )eriados banc(rios. Vueria ter um dia de verdade

    +uando )osse poss#vel encontrar al"um lu"ar ainda n!o invadido por

    metade da popula>!o londrina.

    Mr. Leadbetter declarou ent!o +ue havia )eito todo o poss#vel

    pelo 2lho de sua 2nada irm! nin"u0m poderia di3er +ue n!o lhe

    tivesse dado uma oportunidade. Mas evidentemente de nada

    adiantava. Assim para o )uturo 7eor"e disporia de cinco dias de

    verdade por semana al0m do s(bado e do domin"o para )a3er o +ue

    bem entendesse.

    Rapa3 voc@ teve nas m!os uma mina de ouro

    acrescentou num to+ue 2nal de retrica e n!o soube aproveitar.

    7eor"e retrucou +ue na sua opini!o era 'ustamente isso +ue

    tinha )eito e Mr. Leadbetter trocando a retrica pela clera ordenou

    +ue se retirasse.

    Eis pois 7eor"e... perdido em co"ita>Ses. O tio voltaria atr(s

    ou n!o1 *entiria no #ntimo al"um a)eto pelo sobrinho ou apenas uma

    indi)eren>a brutal1

    Nesse momento e%ato ouviu uma vo3 a mais inesperada de

    todas.

    Ol(/

    ,arado no meio42o a seu lado estava um carro esporte

    vermelho de cap- +uilom0trico tra3endo ao volante a+uele 2no e

    popular ornamento da nossa melhor sociedade Mary Montresor

    se"undo a descri>!o dos 'ornais +ue lhe publicavam a )oto"ra2a pelo

    menos uma ve3 por semanaP. E sorria de um modo irresist#vel para

    7eor"e.

    Nunca ima"inei +ue um homem pudesse lembrar tanto uma

    ilha disse. Vuer dar uma volta1

    Nada me a"radaria mais respondeu 7eor"e sem hesitar

    saltando para o assento vi3inho.

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    Avan>aram lentamente por+ue o tr()e"o n!o permitia outra

    coisa.

    Cansei disto a+ui declarou Mary Montresor. ?im s para

    ver como era. ?ou voltar para Londres.

    N!o se atrevendo a corri"ir4lhe a imprecis!o topo"r(2ca

    7eor"e respondeu +ue lhe parecia uma tima id0ia. $oram indo Ts

    ve3es deva"ar outras com sWbitos acessos de velocidade +uando

    Mary Montresor encontrava oportunidade de ultrapassar al"u0m.

    7eor"e teve impress!o de +ue era meio otimista nesse sentido mas

    consolou4se com a id0ia de +ue nin"u0m morre mais +ue uma ve3.

    Achou melhor por0m n!o pu%ar conversa. ,re)eria +ue a sua bela

    motorista concentrasse a aten>!o no +ue estava )a3endo.

    $oi ela +uem recome>ou a )alar primeiro escolhendo o

    momento em +ue descreviam uma curva alucinada em torno de 9yde

    ,arX Corner.

    ?oc@ n!o +uer casar comi"o1 per"untou com a maior

    naturalidade.

    7eor"e en"oliu em seco rea>!o +ue talve3 se pudesse atribuir

    a um -nibus enorme +ue parecia disposto a esma"(4los. Or"ulhou4se

    da prontid!o de sua resposta:

    Adoraria disse com a maior )acilidade.

    ,ois olhe retrucou Mary Montresor va"amente.

    Vual+uer dia destes talve3 voc@ case.

    Entraram na reta sem acidentes e no mesmo instante 7eor"e

    avistou novas manchetes reprodu3idas com desta+ue T entrada da

    esta>!o de metr- de 9yde ,arX Corner. Espremidas entre 7RA?E

    *I8UA56O ,OL8ICA e CORONEL LE?ADO AO* 8RIUNAI* numa se lia

    MO5A DA *OCIEDADE CA*A COM DUVUE e na outra O DUVUE DE

    ED7E9ILL E MI** MON8RE*OR.

    Vue histria 0 essa de Du+ue de Ed"ehill1 in+uiriu 7eor"e

    com 2rme3a.

    Entre mim e o in"o1 Ns noivamos.

    Mas ent!o... o +ue voc@ disse a"orinha mesmo...

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    Ah aquilo retrucou Mary Montresor. *abe o +ue 0 ainda

    n!o resolvi com +uem vou casar realmente.

    Ent!o por +ue noivou com ele1

    $oi s pra ver se eu conse"uia. 8odo mundo vivia di3endo

    +ue seria tremendamente di)#cil e n!o )oi nem um pouco/

    Vue a3ar para... o in"o disse 7eor"e vencendo o

    constran"imento de chamar um du+ue aut@ntico pelo apelido.

    N!o ve'o por +u@ disse Mary Montresor. ?ai ser at0 bom

    para ele... embora eu duvide +ue haja al"uma coisa +ue possa ser

    boa para o in"o.

    7eor"e )e3 outra descoberta novamente com o au%#lio de um

    carta3 colocado de maneira estrat0"ica.

    Mas claro ho'e 0 dia de corridas em Ascot. Como se e%plica

    +ue voc@ n!o tenha ido1

    Mary Montresor deu um suspiro.

    Estava precisando de umas )0rias disse em tom de

    +uei%ume.

    ,ois eu tamb0m e%clamou 7eor"e encantado. E s

    conse"ui +ue meu tio me botasse no olho da rua para passar )ome.

    Vuer di3er ent!o +ue se ns casarmos as minhas vinte mil

    libras anuais talve3 venham a calhar1

    N!o h( +ue ne"ar +ue nos proporcionariam certos con)ortos

    dom0sticos admitiu 7eor"e.

    ,or )alar nisso lembrou Mary vamos dar uma volta a#

    pelo interior para ver se se encontra uma casa +ue d@ para a "ente

    morar.

    ,arecia um plano simples e maravilhoso. Atravessaram ,utney

    rid"e che"aram T variante de Yin"ston e com um suspiro de

    satis)a>!o Mary apertou o p0 no acelerador. N!o demorou muito

    estavam no campo. Meia hora depois com uma e%clama>!o sWbita

    ela )e3 um "esto dram(tico e apontou com a m!o.

    Diante de ambos no alto de um morro via4se uma dessas casas

    +ue os corretores de imveis costumam descrever raramente com

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    'uste3aP como Quma 'ia rara. *uponhamos +ue ao menos uma ve3 a

    descri>!o da maioria das casas de campo tenha4se tornado de )ato

    uma realidade e se )ar( uma id0ia da tal casa.

    Mary parou na )rente de um port!o branco.

    ?amos dei%ar o carro a+ui e entrar para dar uma olhada. Z a

    nossa casa/

    Decididamente 0 a nossa casa concordou 7eor"e. Mas

    pelo 'eito tem "ente morando nela.

    Mary descartou a hiptese com um aceno de m!o. *ubiram

    'untos o caminho sinuoso +ue dava acesso T casa. ?ista de perto

    dava impress!o de ser ainda mais convidativa.

    ?amos espiar pelas 'anelas prop-s Mary.

    7eor"e mostrou relut[ncia.

    ?oc@ n!o acha +ue essa "ente...

    N!o +uero nem pensar neles. A casa 0 nossa. Est!o morando

    a+ui apenas por uma esp0cie de casualidade. Al0m do mais o dia

    est( uma bele3a e com certe3a sa#ram. E se al"u0m nos surpreender

    em \a"rante eu di"o... eu di"o... +ue 'ul"uei +ue )osse a casa de

    Mrs.... de Mrs. ,ardonsten"er e pe>o mil desculpas pelo e+u#voco.

    em nesse caso ent!o creio +ue n!o h( problema

    ponderou 7eor"e.

    Olharam pelas 'anelas. A casa estava muito bem mobiliada.

    8inham acabado de che"ar ao estWdio +uando escutaram passos

    sobre o cascalho atr(s deles. ?iraram4se e deram de cara com o mais

    irrepreens#vel dos mordomos.

    Ah/e%clamou Mary recorrendo ao seu sorriso mais

    cativante. Mrs. ,ardonsten"er est(1 Eu estava olhando para ver se

    ela n!o estava no estWdio.

    Mrs. ,ardonsten"er est( sim senhora disse o mordomo.

    Vueiram ter a bondade de me acompanhar.

    $i3eram a Wnica coisa cab#vel: acompanharam o mordomo.

    7eor"e come>ou a calcular a mar"em de possibilidades para uma

    coincid@ncia dessas. E che"ou T conclus!o de +ue com um nome

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    como ,ardonsten"er tinha +ue ser no m#nimo de uma para vinte mil.

    Dei%e por minha conta cochichou sua companheira.

    8udo vai sair bem.

    7eor"e 2cou simplesmente encantado com a id0ia de dei%ar a

    situa>!o por conta dela. A seu ver o momento re+ueria o m(%imo

    tato )eminino.

    $oram condu3idos a uma sala de visitas. Mal o mordomo se

    retirou a porta tornou a se abrir e uma mulher "randalhona e corada

    de cabelos o%i"enados entrou com ar de e%pectativa.

    Mary Montresor esbo>ou um movimento em sua dire>!o mas

    lo"o estacou num "esto de surpresa bem simulado.

    Mais/ e%clamou. N!o 0 a Amy/ Vue coisa mais curiosa/

    Muito curiosa mesmo disse uma vo3 implac(vel.

    Um su'eito enorme com cara de buldo"ue e uma carranca

    sinistra tinha entrado por tr(s de Mrs. ,ardonsten"er. 7eor"e achou

    +ue 'amais havia visto um brutamontes t!o desa"rad(vel assim. O

    homem )echou a porta e 2cou de costas para ela.

    Muito curiosa mesmo repetiu escarninho. Mas tenho a

    impress!o de +ue '( entendemos aonde voc@s +uerem che"ar/ De

    repente tirou do bolso o +ue parecia ser um revlver descomunal.

    M!os ao alto. M!os ao alto eu disse. Reviste os dois ella.

    7eor"e ao ler romances policiais sempre se sentira curioso

    para saber +ual era a sensa>!o de ser revistado. A"ora sabia. ella

    ali(s Mrs. ,.P deu4se por satis)eita. Nem ele nem Mary tra3iam armas

    mort#)eras escondidas em seu poder.

    *e 'ul"am muito espertinhos n!o 01 rosnou o homem.

    ?irem a+ui deste 'eito bancando os inocentes. Mas desta ve3 se

    en"anaram... e se en"anaram )eio. ,ra )alar a verdade duvido muito

    +ue seus ami"os e parentes tornem a v@4los al"um dia. Ah/ em +ue

    voc@ "ostaria n!o 01 disse +uando 7eor"e )e3 um movimento.

    Mas pode desistir. Eu lhe daria um tiro na mesma hora.

    8enha cuidado 7eor"e balbuciou Mary.

    Eu terei disse 7eor"e convicto. E muito.

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    A"ora caminhem ordenou o homem. Abra a porta

    ella. E voc@s dois mantenham as m!os ao alto. ,rimeiro a mo>a...

    isso mesmo. Eu vou atr(s. Atravessem o sa"u!o. *ubam a escada...

    Obedeceram. Vue mais podiam )a3er1 Mary subiu a escada de

    m!os ao alto. 7eor"e se"uiu4a. E atr(s de ambos de revlver em

    punho ia o imenso bandido.

    Mary che"ou ao topo dos de"raus e dobrou para o lado. No

    mesmo instante sem o menor aviso 7eor"e des)echou um coice

    violento +ue atin"iu o su'eito bem na boca do est-ma"o )a3endo4o

    rolar escada abai%o. Com a rapide3 de um raio 7eor"e se virou e

    saltou em cima dele calcando4lhe o 'oelho no peito. Com a m!o

    direita livre apanhou o revlver +ue na +ueda o outro tinha dei%ado

    cair.

    ella deu um "rito e sumiu por uma porta coberta por

    reposteiro. Mary desceu a escada correndo o rosto branco )eito

    papel.

    7eor"e voc@ o matou1/

    O homem continuava deitado absolutamente imvel. 7eor"e

    curvou4se para ele.

    Acho +ue n!o respondeu pesaroso. Mas n!o h( dWvida

    de +ue acertei em cheio no bruto.

    7ra>as a Deus.

    Ela estava +uase sem )-le"o.

    Vue coice mais bem aplicado comentou 7eor"e com

    perdo(vel vaidade. E depois +uerem di3er +ue a "ente n!o aprende

    nada com os burros. Ei +ue 0 isto1

    Mary o pu%ava pelo bra>o.

    ?amos embora implorou aos "ritos. ?amos embora de

    uma ve3.

    *e ao menos houvesse al"uma coisa para amarrar este cara

    disse 7eor"e absorto em seus prprios planos. *er( +ue n!o

    daria pra voc@ achar um peda>o de corda ou cord!o por a#1

    N!o d( n!o respondeu Mary. E ande de uma ve3 por

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    )avor... por )avor... estou morta de medo.

    N!o precisa ter medo disse 7eor"e com arro"[ncia virial.

    Eu estou a+ui.

    7eor"e +uerido eu lhe pe>o... )a>a isto por mim. N!o +uero

    me envolver nessa histria. ,or )avor vamos embora.

    A maneira intensa com +ue sussurrou as palavras Q)a>a isto por

    mim abalou a resolu>!o de 7eor"e. Dei%ou4se levar para )ora da

    casa e pelo caminho abai%o Ts pressas at0 o lu"ar onde tinha 2cado

    o carro.

    Diri'a voc@ pediu Mary +uase sem vo3. Acho +ue n!o

    posso.

    7eor"e tomou conta do volante.

    Mas ns dev#amos levar esse ne"cio at0 o 2m a2rmou.

    *abe l( +ue pati)arias a+uele su'eito mal4encarado anda tramando. *e

    voc@ n!o +uiser eu n!o dou parte T pol#cia... mas vou averi"uar por

    conta prpria. 8enho +ue dar um 'eito de descobrir a 2cha deles ah

    isso eu tenho.

    N!o 7eor"e n!o +uero +ue voc@ )a>a isso.

    O +u@1 A "ente se mete numa aventura sensacional +ue

    nem esta e voc@ me pede pra desistir1 Nunca na vida.

    N!o pensei +ue voc@ )osse t!o san"uin(rio disse Mary

    toda chorosa.

    N!o sou san"uin(rio. N!o )ui eu +uem come>ou. A petul[ncia

    incr#vel desse cara... nos amea>ar com um revlver da+uele tamanho.

    ,or )alar nisso... como se e%plica +ue o revlver n!o tenha disparado

    +uando chutei o su'eito pela escada abai%o1

    ,arou o carro e tirou o revlver do compartimento lateral onde o

    tinha colocado. Depois de e%amin(4lo soltou um assobio.

    Ora '( se viu/ Este tro>o n!o est( carre"ado. *e eu soubesse

    +ue... N!o completou a )rase com o pensamento distante. Mary

    +ue coisa mais es+uisita.

    Eu sei. Z por isso +ue estou lhe pedindo pra desistir dessa

    histria.

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    Kamais protestou 7eor"e com 2rme3a.

    Mary dei%ou escapar um suspiro de resi"na>!o.

    Estou vendo disse +ue vou ter +ue lhe contar tudo. E o

    pior 0 +ue n!o tenho a m#nima id0ia de como voc@ vai rea"ir.

    Me contar1... O +u@1

    Olhe o ne"cio 0 o se"uinte. $e3 uma pausa. Eu acho

    +ue ho'e em dia as mulheres deviam se unir... e insistir em saber

    al"uma coisa sobre os homens +ue 2cam conhecendo.

    E da#1 per"untou 7eor"e completamente con)uso.

    E a coisa mais importante para uma mulher 0 saber como um

    homem se comporta numa situa>!o de emer"@ncia... se ele tem

    presen>a de esp#rito... cora"em... inteli"@ncia viva. Isso 0 o tipo da

    coisa +ue a "ente i"nora praticamente por completo... at0 +ue '( 0

    tarde demais. A "ente pode estar casada anos a 2o antes +ue se

    apresente uma situa>!o de emer"@ncia. E a Wnica coisa +ue se sabe a

    respeito de um homem 0 se ele dan>a bem e se 0 bom pra conse"uir

    t(%i em noite de chuva.

    Duas +ualidades muito Wteis )risou 7eor"e.

    Z mas o +ue a "ente +uer saber 0 se ele 0 homem mesmo.

    Os hori3ontes sem 2m onde os homens s!o homens citou

    7eor"e distra#do.

    E%atamente. Mas isso de hori3ontes sem 2m na In"laterra

    n!o e%iste. ,ortanto tem +ue se criar arti2cialmente uma situa>!o.

    $oi o +ue eu 23.

    Vuer di3er +ue...

    Isso mesmo. Acontece +ue a+uela casa na realidade 0

    minha. Ns )omos l( de propsito... e n!o por acaso. E o homem...

    a+uele homem +ue voc@ por pouco n!o matou...

    *im.

    Z o Rube ]allace... o artista de cinema +ue sempre )a3 papel

    de pu"ilista voc@ sabe. *impatic#ssimo a prpria delicade3a

    personi2cada. Eu o contratei bem como a ella +ue 0 casada com

    ele. ,or isso 2+uei morta de medo +ue voc@ o tivesse matado. L"ico

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    +ue o revlver n!o estava carre"ado. Z desses +ue s!o usados no

    teatro. Oh 7eor"e voc@ n!o se 3an"a comi"o1

    $ui eu o primeiro em +uem voc@... aplicou esse teste1

    Oh n!o. Ao todo... dei%e eu ver... '( houve nove e meio.

    Vuem )oi o meio1 per"untou 7eor"e curioso.

    O in"o respondeu Mary )riamente.

    E nenhum deles se lembrou de escoicear )eito mula1

    Nenhum. Al"uns tentaram bancar o macho outros lo"o

    entre"aram os pontos mas todos sem e%ce>!o consentiram em ser

    levados escada acima e se dei%aram amarrar e amorda>ar. Depois

    naturalmente eu sempre dava um 'eito de a)rou%ar os ns +ue me

    prendiam... tal e +ual nos romances... soltava meus parceiros e a

    "ente )u"ia... encontrando a casa va3ia.

    E nin"u0m pensou no tru+ue do coice ou +ual+uer coisa

    parecida1

    N!o.

    Nesse caso disse 7eor"e ma"n[nimo voc@ est(

    perdoada.

    Obri"ada 7eor"e a"radeceu Mary submissa.

    Em suma continuou ele o Wnico problema +ue nos resta

    0 o se"uinte: aonde vamos a"ora1 N!o tenho bem certe3a se 0 no

    Lambeth ,alace ou do Doctor^s Commons +ue nem sei direito onde

    2ca.

    Do +ue 0 +ue voc@ est( )alando1

    Da licen>a. Na minha opini!o precisamos tirar lo"o uma

    licen>a especial. ?oc@ tem a mania de noivar com um homem e em

    se"uida pedir pra outro casar com voc@.

    Eu n!o lhe pedi pra casar comi"o/

    ,ediu sim. Em 9yde ,arX Corner. N!o 0 o tipo do lu"ar +ue

    eu escolheria pra pedir al"u0m em casamento mas "ostos n!o se

    discutem.

    N!o 23 nada disso. Apenas per"untei por brincadeira se

    voc@ n!o "ostaria de casar comi"o. N!o )oi a s0rio.

  • 8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)

    16/277

    *e eu +uisesse me dar ao trabalho de consultar um

    advo"ado tenho certe3a de +ue ele diria +ue o +ue voc@ )e3 )oi uma

    aut@ntica proposta de casamento. Ali(s voc@ sabe +ue +uer casar

    comi"o.

    N!o +uero n!o.

    Nem depois de nove )racassos e meio1 Ima"ine a sensa>!o

    de se"uran>a +ue teria passando a vida inteira ao lado de um

    homem capa3 de salv(4la de +ual+uer situa>!o peri"osa.

    Mary pareceu li"eiramente abalada por esse ar"umento

    decisivo. ,or0m respondeu com 2rme3a:

    Eu s me casaria com o homem +ue me implorasse de

    'oelhos.

    7eor"e virou4se para ela. Era maravilhosa. Mas 7eor"e tinha

    outras caracter#sticas da mula al0m do coice. E com i"ual 2rme3a

    retrucou:

    Vuem se a'oelha diante de mulher se rebai%a. Isso eu n!o

    )a>o.

    Vue pena disse Mary com ador(vel triste3a.

    Rumaram de volta a Londres. 7eor"e ia s0rio e calado. O rosto

    de Mary estava oculto pela aba do chap0u. Ao cru3arem por 9yde

    ,arX Corner ela per"untou bai%inho:

    ?oc@ n!o se a'oelharia diante de mim1

    N!o respondeu 7eor"e inabal(vel.

    *entia4se o prprio super4homem. Ela o admirava pela 2rme3a

    de atitude. In)eli3mente por0m 7eor"e descon2ava de +ue ela

    tamb0m tivesse tend@ncias de mula. De repente parou o carro.

    Com licen>a disse.

    *altou do carro )oi rapidamente at0 uma carrocinha de )rutas

    +ue tinham passado e voltou t!o depressa +ue o "uarda +ue '( se

    apro%imava para reclamar contra o estacionamento n!o teve nem

    tempo de che"ar perto.

    7eor"e saiu diri"indo e atirou de leve uma ma>! no colo de

    Mary.

  • 8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)

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    Coma mais )rutas disse. Isso tamb0m 0 simblico.

    *imblico1

    Z. No come>o )oi Eva +uem deu a ma>! a Ad!o. 9o'e em dia

    0 Ad!o +ue d( pra Eva. Entendeu1

    Entendi respondeu Mary meio em dWvida.

    ,ra onde voc@ +uer ir1 per"untou 7eor"e todo )ormal.

    ,ra casa por )avor.

    Ele tomou o rumo de 7rosvenor *+uare. Estava com a

    2sionomia absolutamente impass#vel. *altou do carro e deu a volta

    para a'ud(4la a descer. Ela )e3 um Wltimo apelo.

    7eor"e +uerido... voc@ n!o se a'oelharia1 Nem para me

    a"radar1

    Nunca disse 7eor"e.

    $oi ent!o +ue aconteceu. Ele escorre"ou tentou recuperar o

    e+uil#brio e )alhou. $icou de 'oelhos na lama diante dela. Mary deu

    um "rito de ale"ria e bateu palmas.

    7eor"e +uerido/ A"ora eu caso com voc@. ,ode ir correndo

    ao Lambeth ,alace para combinar tudo com o Arcebispo de

    Canterbury.

    $oi sem +uerer protestou 7eor"e )urioso. $oi essa po...

    )oi essa casca de banana disse contendo a tempo o palavr!o.

    N!o interessa e%clamou Mary. O +ue vale 0 +ue

    aconteceu. Vuando ns bri"armos e voc@ me lan>ar em rosto +ue )ui

    eu +ue pedi pra voc@ casar comi"o eu posso responder +ue voc@

    teve +ue se a'oelhar diante de mim antes +ue aceitasse. E tudo por

    causa dessa porcaria de casca de banana/ Era porcaria de casca de

    banana +ue voc@ ia di3er n!o era1

    Mais ou menos respondeu 7eor"e.

    _s cinco e meia da+uela tarde Mr. Leadbetter )oi in)ormado de

    +ue o seu sobrinho estava na sala de espera e dese'ava )alar4lhe.

    ?eio me pedir desculpas pensou Mr. Leadbetter. 8enho

    +ue admitir +ue )ui um pouco duro com o rapa3 mas )oi s para o

  • 8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)

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    bem dele.

    E deu ordem para +ue o 23essem entrar.

    7eor"e che"ou todo eu)rico.

    ,reciso ter uma palavrinha com o senhor titio disse.

    9o'e de manh! o senhor cometeu uma "rande in'usti>a comi"o. Eu

    "ostaria de saber se na minha idade o senhor depois de haver sido

    posto no olho da rua pelos prprios parentes seria capa3 de entre Ts

    on3e e +uin3e e Ts cinco e meia conse"uir uma renda de vinte mil

    libras por ano. ,or+ue )oi isso o +ue eu 23/

    ?oc@ est( doido rapa3.

    Doido n!o rico/ ?ou me casar com uma "r!42na mo>a rica e

    bonita/ Vue al0m do mais vai dar o )ora num du+ue s por minha

    causa.

    ?oc@ casando por interesse1 Nunca o 'ul"uei capa3 disso.

    Com toda a ra3!o. Eu nunca me atreveria a pedi4la em

    casamento se ela n!o tivesse... pro cWmulo da sorte... )eito antes o

    pedido. Depois +uis di3er +ue n!o mas eu a obri"uei a mudar de

    id0ia. E sabe titio como )oi +ue conse"ui tudo isso1 Com dois pences

    muito bem "astos e o bom senso de saber aproveitar uma mina de

    ouro.

    ,or +ue os dois pences? per"untou Mr. Leadbetter

    interessado no aspecto 2nanceiro da +uest!o.

    ,ara comprar uma banana... numa corrocinha de rua. Nem

    todos se lembrariam da+uela banana. Onde se tira licen>a para

    casar1 Z no Doctor^s Commons ou no Lambeth ,alace1

  • 8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)

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    O MI*8ZRIO DE LORD LI*8ERDALE

    Mrs. *t. ?incent estava )a3endo as contas. De ve3 em +uando

    suspirava e passava a m!o pela testa dolorida. Nunca tinha "ostado

    de aritm0tica. Mas por des"ra>a de uns tempos para c( sua vida

    parecia se resumir inteiramente num Wnico tipo de opera>!o: a soma

    incessante de pe+uenos itens indispens(veis de despesa +ue

    per)a3iam um total +ue 'amais dei%ava de surpreend@4la e alarm(4la.

    N!o era poss#vel +ue )osse tanto! Re)e3 todos os c(lculos. 9avia

    cometido um erro insi"ni2cante na coluna dospences, mas +uanto ao

    resto estava tudo certo.

    Mrs. *t. ?incent suspirou de novo. A essa altura a dor de cabe>a

    '( era +uase insuport(vel. Levantou os olhos +uando a porta se abriu

    e a 2lha arbara entrou na sala. Uma "arota muito bonita arbara

    *t. ?incent tinha herdado da m!e os tra>os delicados e o )ormato

    ma"n#2co da cabe>a mas os olhos eram escuros em ve3 de a3uis e a

    boca tamb0m era di)erente uma boca amuada e vermelha n!o

    destitu#da de atrativos.

    Ah mam!e/ e%clamou. Ainda Ts voltas com essas

    contas chat#ssimas1 Ko"ue tudo no )o"o.

    8emos +ue saber em +ue p0 estamos disse Mrs. *t.

    ?incent meio inse"ura.

    A "arota encolheu os ombros.

    Na mesma ora retrucou )riamente. Na maior penWria.

    *em um tost!o como de costume.

    Mrs. *t. ?incent suspirou.

    Eu "ostaria... come>ou mas lo"o parou.

    ,reciso encontrar al"uma coisa pra )a3er disse arbara

  • 8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)

    20/277

    com vo3 resoluta. E encontrar lo"o. A2nal tirei a+uele curso de

    ta+ui"ra2a e datilo"ra2a. Como +uase um milh!o de outras mo>as

    por sinal/ Q8em e%peri@ncia1 QN!o mas... QAh/ Obri"ado passe

    bem. Ns lhe avisaremos. Coisa +ue nunca )a3em/ ,reciso encontrar

    outro tipo de empre"o +ual+uer... se'a l( +ual )or.

    ,or en+uanto n!o +uerida suplicou a m!e. Espere mais

    um pouco.

    arbara )oi at0 a 'anela e 2cou olhando para )ora distra#da sem

    en%er"ar a 2leira de casas encardidas do lado oposto.

    _s ve3es disse hesitante me arrependo de ter ido com

    a prima Amy pro E"ito no inverno passado. *im eu sei +ue me

    diverti... e +ue deve ter sido o Wnico divertimento +ue '( tive ou terei

    em toda a minha vida. Aproveitei muito... aproveitei ao m(%imo. Mas

    me dei%ou abalad#ssima. Vuero di3er... voltar pra isto.

    E )e3 um "esto lar"o +ue abarcava toda a sala. Mrs. *t. ?incent

    acompanhou4o com os olhos e estremeceu. A sala era t#pica das

    pe>as mobiliadas de alu"uel barato. Uma aspidistra1 empoeirada

    mveis de mau "osto papel de parede espalha)atoso com partes

    desbotadas. Certos ind#cios mostravam +ue a personalidade dos

    in+uilinos tinha lutado com a da propriet(ria: um ou dois ob'etos de

    porcelana de boa +ualidade mas t!o rachados e colados +ue o seu

    valor vend(vel era nulo um bordado cobrindo o encosto do so)( e

    um retrato pintado a a+uarela de uma mo>a vestida T moda de vinte

    anos atr(s +ue ainda dava para ver +ue se tratava de Mrs. *t.

    ?incent.

    N!o teria import[ncia continuou arbara se a "ente

    nunca tivesse morado noutro lu"ar. Mas +uando me lembro de

    Ansteys...

    Interrompeu a )rase para n!o se entre"ar a reminisc@ncias

    sobre a+uela casa amada com tanto carinho +ue durante s0culos

    pertencera T )am#lia *t. ?incent e a"ora se achava em m!os

    estranhas.

  • 8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)

    21/277

    1,lanta de ori"em asi(tica +ue d( uma \or lil(s muito usada como ornamentocaseiro na In"laterra.

    *e ao menos papai... n!o houvesse especulado... e )eito

    empr0stimos...

    Minha cara atalhou Mrs. *t. ?incent. *eu pai nunca )oiem +ual+uer sentido do termo um ne"ociante.

    Disse isso de modo cate"rico sem se lamentar. arbara se

    apro%imou e deu4lhe um bei'o meio va"o en+uanto murmurava:

    ,obre m!e3inha. ,rometo +ue n!o vou me +uei%ar mais.

    Mrs. *t. ?incent pe"ou a caneta de novo e curvou4se sobre a

    escrivaninha. arbara voltou T 'anela. N!o demorou muito disse:

    Mam!e. 9o'e de manh! recebi uma carta do... do Kim

    Masterton. Ele +uer vir me visitar.

    Mrs. *t. ?incent lar"ou a caneta e er"ueu vivamente os olhos.

    A+ui1 e%clamou.

    Vuem sabe a senhora +ueria +ue )-ssemos convid(4lo para

    'antar no Rit31 ironi3ou arbara.

    A m!e )e3 uma cara de desa"rado. Olhou de novo em torno com

    pro)unda avers!o.

    *im tem ra3!o concordou arbara. Z um lu"ar

    e%ecr(vel. Decad@ncia aristocr(tica/ Vuem ouve 0 capa3 de lo"o

    ima"inar uma casinha branca no campo toda en)eitada de chit!o

    velho de boa padrona"em vasos com rosas servi>o de ch( de certa

    +ualidade +ue a "ente mesma pode lavar. Nos romances 0 assim. Na

    vida real com um 2lho come>ando a trabalhar no car"o mais

    insi"ni2cante de um escritrio si"ni2ca Londres. *enhorias

    des"renhadas crian>as su'as pelas escadas pei%es meio duvidosos

    no ca)0 da manh!... e por a# a )ora.

    *e ao menos... principiou Mrs. *t. ?incent. Olhe para

    )alar a verdade '( est( me dando medo de +ue n!o possamos se+uer

    conservar esta sala por muito mais tempo.

    Vue horror/ Ent!o 2caremos com uma pe>a Wnica... para a

    senhora e pra mim e%clamou arbara. E um arm(rio servindo de

    biombo para o Rupert. E +uando o Kim vier me visitar terei de receb@4

  • 8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)

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    lo na+uela sala horrenda l( embai%o cheia de solteironas

    bisbilhoteiras )a3endo tric- pelos cantos olhando para a "ente e

    tossindo com a+uele tipo pavoroso de acessos de tosse +ue elas t@m/

    9ouve uma pausa.

    arbara )alou por 2m Mrs. *t. ?incent. ,or +ue voc@

    n!o... +uero di3er... voc@ n!o "ostaria de...1

    ,arou avermelhando um pouco.

    N!o precisa ser delicada mam!e disse arbara. 9o'e

    em dia nin"u0m mais 0. ,or +ue n!o caso com o Kim1 Era isso +ue a

    senhora ia me per"untar n!o 01 Olhe eu casaria no mesmo instante

    +ue ele me pedisse. Mas estou com muito medo de +ue isso n!o v(

    acontecer.

    Ah arbara meu bem/

    Ora uma coisa 0 ele me ver por l( com a prima Amy

    )re+`entando como se di3 nos romances ("ua com a>WcarP os salSes

    da melhor sociedade onde ele se interessou mesmo por mim e outra

    0 ele vir c( e me encontrar nisto aqui! Depois ele 0 uma criatura

    en"ra>ada sabe1 8odo cheio de manias e id0ias anti+uadas. Eu... eu

    at0 "osto +ue ele se'a assim. Me )a3 lembrar Ansteys e o lu"are'o...

    tudo com cem anos de atraso mas t!o... t!o... ah/ sei l(... t!o

    per)umado. Como al)a3ema/

    Riu meio +ue enver"onhada do prprio entusiasmo. Mrs. *t.

    ?incent resolveu )alar com sinceridade sem rodeios.

    Eu "ostaria de +ue voc@ casasse com o Kim Masterton

    disse. Ele pertence ao nosso meio. 8amb0m tem muito dinheiro

    mas isso pra mim n!o )a3 "rande di)eren>a.

    ,ois pra mim )a3 retrucou arbara. K( ando )arta de ser

    pobre.

    Mas arbara n!o v( me di3er +ue 0 s por....

    * por causa disso1 N!o. Mas eu acho +ue )a3 mesmo.

    Eu... ah mam!e/ ser( +ue a senhora n!o v +ue )a31

    Mrs.. *t. ?incent teve uma e%press!o de pro)unda triste3a.

    Vuem dera +ue ele pudesse encontrar voc@ num ambiente

  • 8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)

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    mais ade+uado minha 2lha suspirou melanclica.

    ,aci@ncia retrucou arbara. Vue adianta se preocupar1

    Z melhor a "ente se es)or>ar para encarar tudo com otimismo.

    Desculpe o ata+ue de rabu"ice. Cora"em meu an'o.

    Curvou4se para a m!e bei'ou4lhe a testa de leve e saiu. Mrs. *t.

    ?incent desistindo por completo dos c(lculos 2nanceiros sentou4se

    no inc-modo so)(. *eus pensamentos "iravam em c#rculos )eito

    es+uilos numa 'aula.

    ,odem di3er o +ue +uiserem mas as apar@ncias realmente

    contribuem para um homem perder o interesse. *e ainda )osse

    depois... +uando estivessem noivos v( l(. Ent!o ele '( saberia como

    ela 0 mei"a e +uerida. Mas a 'uventude tem uma tal )acilidade de se

    adaptar ao ambiente em +ue vive... O Rupert por e%emplo n!o 0

    mais o mesmo. N!o +ue eu +ueira +ue meus 2lhos se'am esnobes. De

    'eito nenhum. Mas morreria de des"osto se o Rupert inventasse de

    casar com a+uela mo>a horrenda da tabacaria. Admito +ue ela possa

    ser inclusive muito simp(tica. Mas n!o pertence ao nosso meio. Ah

    como tudo 0 di)#cil. Coitada da abs. *e ao menos eu pudesse )a3er

    al"uma coisa... se'a l( o +ue )osse. Mas com +ue dinheiro1 ?endemos

    tudo para a'udar o Rupert. Na verdade n!o vamos nem poder manter

    mais isto a+ui.

    ,ara se distrair Mrs. *t. ?incent pe"ou o Morning Post e

    come>ou a dar uma olhada nos anWncios da primeira p("ina. A

    maioria '( conhecia de cor. ,essoas T cata de dinheiro pessoas +ue

    dispunham de capital e estavam ansiosas para trans)orm(4lo em

    notas promissrias pessoas +ue +ueriam comprar dentes sabe l( por

    +u@P ou +ue +ueriam vender peles e vestidos e tinham id0ias muito

    otimistas a respeito do pre>o.

    De repente um anWncio chamou4lhe a aten>!o. Leu e releu as

    palavras impressas: Q* para pessoas de 2no trato ,e+uena casa

    em ]estminster muito bem mobiliada o)erece4se a +uem se

    pronti2car a cuid(4la como merece. Alu"uel irrisrio. 8ratar

    diretamente com o propriet(rio.

  • 8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)

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    Um anWncio per)eitamente comum. K( tinha encontrado v(rios

    id@nticos... bem mais ou menos id@nticos. A novidade era o alu"uel:

    irrisrio

    Mas como estava irre+uieta e ansiosa para se ver livre de seus

    pensamentos p-s lo"o o chap0u e pe"ou um -nibus +ue a dei%asse

    mais perto do endere>o mencionado no anWncio.

    Resultou +ue era de uma imobili(ria +ue nada tinha de nova

    nem de movimentada um lu"ar meio caindo aos peda>os

    anti+uado. Mostrou o anWncio com certa timide3 e pediu maiores

    detalhes.

    O velho de cabelos brancos +ue a estava atendendo co>ou o

    +uei%o pensativo.

    ,er)eitamente. *im per)eitamente minha senhora. O

    endere>o dessa casa 0 Cheviot ,lace n. . Vuer uma autori3a>!o

    para ir v@4la1

    ,rimeiro eu "ostaria de saber +uanto 0 o alu"uel disse

    Mrs. *t. ?incent.

    Ah/ O alu"uel. O montante e%ato ainda n!o )oi estipulado

    mas posso lhe "arantir +ue 0 absolutamente irrisrio.

    *im mas a no>!o de irrisrio pode ser muito el(stica

    ar"umentou Mrs. *t. ?incent.

    O velho se permitiu uma risadinha.

    8em ra3!o isso 0 um tru+ue velho... um tru+ue velho. Mas

    lhe dou minha palavra de +ue desta ve3 0 di)erente. Dois ou tr@s

    "uin0us por semana talve3 no m(%imo.

    Mrs. *t. ?incent resolveu pedir a autori3a>!o. N!o na4

    turalmente +ue houvesse +ual+uer possibilidade de +ue viesse a

    alu"ar a casa. Mas tinha curiosidade de v-la. A2nal de contas devia

    apresentar al"uma desvanta"em muito "rande para ser o)erecida a

    tal pre>o.

    ?ibrou por0m ao olhar a )achada do n. de Cheviot ,lace. A

    casa era uma 'ia. Estilo Rainha Ana e em per)eito estado de

    conserva>!o/ Um mordomo atendeu T porta. 8inha cabelo "risalho

  • 8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)

    25/277

    um pouco de su#>as e a calma pausada de um arcebispo. De um

    arcebispo muito simp(tico na opini!o de Mrs. *t. ?incent.

    Recebeu o papel da autori3a>!o com ar ben0volo.

    ,ois n!o minha senhora tenha a bondade de entrar. A casa

    est( pronta para ser ocupada.

    $oi na )rente abrindo portas indicando as depend@ncias.

    A sala de visitas o estWdio branco um banheiro social neste

    canto minha senhora

    Era per)eita um sonho. Mveis todos de 0poca cada pe>a

    com sinais de uso mas enverni3ados com o maior carinho. Os tapetes

    do soalho eram de cores bonitas e discretas anti"as. Em todos os

    +uartos havia vasos com \ores rec0m4colhidas. Os )undos da casa

    davam para o 7reen ,arX. O lu"ar parecia impre"nado de um

    per)ume do passado.

    Os olhos de Mrs. *t. ?incent se encheram de l("rimas por mais

    +ue lutasse para cont@4las. Ansteys tamb0m tinha sido assim

    Ansteys...

    $icou ima"inando se o mordomo havia notado a sua emo>!o. *e

    havia era bem educado demais para demonstrar. Ela "ostava desses

    velhos criados a "ente se sentia se"uro com eles T vontade. Como

    se )ossem ami"os.

    Vue casa mais linda murmurou. Lind#ssima. Vue bom

    +ue vim v@4la.

    Z s para a senhora1

    N!o tamb0m tenho um 2lho e uma 2lha. Mas receio +ue...

    N!o terminou a )rase. A id0ia de perder a+uela casa lhe era

    insuport(vel inconceb#vel.

    *entiu instintivamente +ue o mordomo tinha compreendido.

    N!o olhou para ela ao declarar de um modo desinteressado

    impessoal:

    Ao +ue me consta minha senhora o propriet(rio e%i"e

    acima de tudo in+uilinos ade+uados. O alu"uel para ele n!o tem

    import[ncia. Ele s +uer +ue a casa se'a ocupada por al"u0m +ue

  • 8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)

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    realmente "oste e tenha carinho por ela.

    Eu teria disse Mrs. *t. ?incent em vo3 bai%a.

    ?irou4se para ir embora.

    Obri"ada por ter4me mostrado tudo a"radeceu

    cortesmente.

    N!o tem de +u@ minha senhora.

    $icou parado T porta todo correto e emperti"ado en+uanto ela

    se a)astava pela rua a)ora pensando consi"o mesma:

    Ele notou. *entiu pena de mim. 8amb0m 0 do meu tempo.

    em +ue ele "ostaria de +ue eu a alu"asse... em ve3 de um

    parlamentar trabalhista ou um )abricante de botSes/ A nossa classe

    pode estar morrendo mas permanece unida.

    8erminou resolvendo n!o voltar T imobili(ria. ,ara +u@1 O

    alu"uel estava ao seu alcance mas como pa"ar a criada"em1 Uma

    casa da+uelas precisaria de empre"ados.

    Na manh! se"uinte encontrou uma carta na bande'a. Era da

    imobili(ria. O)erecia4lhe a loca>!o do n. de Cheviot ,lace durante

    seis meses por dois "uin0us semanais e continuava: Q*upomos +ue

    a senhora tenha levado em considera>!o o )ato de +ue os

    empre"ados permanecer!o em seus car"os Ts custas do senhorio

    n!o1 Z uma o)erta realmente e%cepcional.

    *e era. $icou t!o espantada +ue leu a carta em vo3 alta. *e"uiu4

    se um tiroteio de per"untas e ela descreveu a visita do dia anterior.

    M!e3inha dissimulada/ e%clamou arbara. Z realmente

    t!o bonita assim1

    Rupert pi"arreou e come>ou um interro"atrio 'udicial.

    A# tem coisa. *e +uer saber a minha opini!o acho muito

    suspeito. ,ositivamente suspeito.

    Vue nem este ovo a+ui disse arbara torcendo o nari3.

    Ui/ ,ra +ue tanta descon2an>a1 Isso 0 bem de voc@ Rupert com essa

    mania de ver mist0rios por toda parte. *!o esses horrendos romances

    policiais +ue voc@ vive lendo.

    O alu"uel 0 uma piada disse Rupert. Vuando se trabalha

  • 8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)

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    na City acrescentou com ares de import[ncia a "ente 2ca

    sabendo de tudo +uanto 0 esp0cie de es+uisitices. Eu di"o pra voc@s

    +ue a# tem coisa.

    oba"em retrucou arbara. A casa pertence a um

    homem de muito dinheiro +ue "osta dela e +uer +ue se'a habitada

    por "ente decente en+uanto ele estiver ausente. Z mais ou menos

    isso. ,rovavelmente n!o precisa de dinheiro.

    Vual era mesmo o endere>o1 per"untou Rupert T m!e.

    Cheviot ,lace .

    Epa/ Recuou a cadeira da mesa. N!o estou di3endo1

    Vue sensacional/ $oi l( +ue Lord Listerdale desapareceu.

    8em certe3a1 per"untou Mrs. *t. ?incent em dWvida.

    Absoluta. Ele possui uma por>!o de outras casas espalhadas

    por Londres mas 0 nessa +ue ele morava. Uma noite ele saiu

    di3endo +ue ia ao clube e nunca mais )oi visto. ,ensaram +ue tivesse

    se mandado pra )rica Oriental ou coisa +ue o valha mas nin"u0m

    soube e%plicar por +u@. ,odem estar certas ele )oi assassinado

    na+uela casa. A senhora di3 +ue as pe>as s!o todas revestidas de

    madeira1

    Z respondeu Mrs. *t.?incent +uase sem vo3. Mas...

    Rupert n!o lhe deu tempo de continuar. Come>ou a )alar com

    enorme entusiasmo.

    Est!o vendo1 Claro +ue deve haver al"um nicho secreto. O

    corpo 2cou escondido l( onde na certa permanece at0 ho'e. 8alve3

    )osse embalsamado antes.

    Rupert meu bem n!o di"a asneiras atalhou a m!e.

    Dei%e de boba"em disse arbara. ?oc@ anda indo

    demais ao cinema com a+uela loura o%i"enada.

    Rupert se levantou todo di"no com o m(%imo de di"nidade

    +ue o corpo desen"on>ado e a )ase cr#tica da adolesc@ncia permitem

    e pronunciou um derradeiro ultimato:

    ,e"ue essa casa m!e. Eu esclarecerei o mist0rio. A senhora

    vai ver.

  • 8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)

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    E saiu Ts pressas com medo de che"ar tarde ao escritrio.

    As duas mulheres se entreolharam.

    *er( +ue d( mam!e1 murmurou arbara com a vo3

    tr@mula. Ah/ *e a "ente pudesse.

    Os criados lembrou Mrs. *t. ?incent pat0tica t@m +ue

    comer, n!o se es+ue>a. O +ue eu +uero di3er 0 +ue l"ico +ue

    nin"u0m vai +uerer +ue n!o comam... mas h( esse inconveniente.

    Vuando a "ente est( so3inha... 0 muito )(cil se privar de certas

    coisas.

    $e3 um olhar comovente para arbara +ue concordou com a

    cabe>a.

    ,recisamos re\etir bem disse a m!e.

    Mas na realidade '( tinha tomado a decis!o. 9avia visto o brilho

    nos olhos da 2lha. E pensou: QO Kim Masterton tem +ue encontr(4la

    num ambiente ade+uado. Esta oportunidade... 0 uma oportunidade

    Wnica. N!o posso perd@4la.

    *entou4se T escrivaninha e escreveu T imobili(ria aceitando a

    o)erta.

    II

    Vuentin de onde vieram esses l#rios1 *inceramente eu n!o

    posso comprar \ores caras.

    De Yin"^s Cheviot patroa. Z um anti"o costume da casa.

    O mordomo se retirou. Mrs. *t. ?incent deu um suspiro de al#vio.Vue )aria sem Vuentin1 Ele tornava tudo t!o fcil. ,ensou consi"o

    mesma: QIsto est( bom demais para durar. Da+ui a pouco eu sei +ue

    vou acordar e descobrir +ue )oi s um sonho. *ou t!o feli a+ui... '( se

    passaram dois meses como um rel[mpa"o.

    E de )ato a vida tinha sido surpreendentemente a"rad(vel.

    Vuentin o mordomo havia4se revelado como o autocrata de Cheviot

    ,lace n. .

    Dei%e tudo por minha conta dissera respeitosamente. A

  • 8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)

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    senhora ver( +ue 0 a melhor maneira.

    8odas as semanas apresentava4lhe as contas da casa com

    totais assombrosamente bai%os. 9avia apenas duas outras criadas: a

    co3inheira e a arrumadeira ambas simp(ticas e e2cientes mas o

    respons(vel pela per)eita or"ani3a>!o era Vuentin. De ve3 em +uando

    apareciam na mesa pratos de carne de ca>a e de aves dom0sticas

    causando preocupa>!o a Mrs. *t. ?incent. Vuentin tran+`ili3ava4a.

    ?inham de Yin"^s Cheviot a resid@ncia de campo de Lord Listerdale

    ou de seu s#tio em orXshire.

    Z um anti"o costume da casa patroa.

    No #ntimo Mrs. *t. ?incent duvidava de +ue Lord Listerdale se

    n!o estivesse ausente concordaria com essas palavras. *entia4se

    inclinada a descon2ar de +ue Vuentin andasse usurpando a

    autoridade do amo. Era bvio +ue se tinha tomado de amores por

    eles e +ue na sua opini!o n!o e%istia nada +ue )osse bom demais

    para os tr@s.

    Com a curiosidade despertada pela in)orma>!o de Rupert Mrs.

    *t. ?incent tentou )a3er uma re)er@ncia a Lord Listerdale +uando

    tornou a procurar os corretores imobili(rios. O velho de cabelos

    brancos respondeu na mesma hora.

    *im Lord Listerdale estava na )rica Oriental '( )a3ia um ano e

    meio.

    Nosso cliente 0 um homem bastante e%c@ntrico

    acrescentou com lar"o sorriso. *aiu de Londres de uma )orma

    e%tremamente inslita n!o sei se a senhora se lembra. N!o avisou

    nin"u0m. Os 'ornais 23eram "rande escarc0u em torno do assunto.

    Inclusive a *cotland ard che"ou a e)etuar sindic[ncias. Ainda bem

    +ue che"aram not#cias do prprio Lord Listerdale l( da )rica

    Oriental. Ele nomeou um primo o Coronel Car)a% como seu

    procurador. Z +uem se encarre"a atualmente de todos os ne"cios de

    Lord Listerdale. *im receio +ue se'a bastante e%c@ntrico. *empre "os4

    tou muito de desbravar terras desconhecidas... 0 +uase certo +ue

    levar( anos para re"ressar T In"laterra embora este'a 2cando velho.

  • 8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)

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    N!o 0 poss#vel +ue se'a t!o velho assim disse Mrs. *t.

    ?incent lembrando4se de repente de uma cara impass#vel e barbuda

    meio parecida com a de um nave"ante da era das descobertas

    mar#timas +ue tinha visto certa ve3 numa revista.

    K( est( bem maduro a2rmou o velho de cabelos brancos.

    8em cin+`enta e tr@s anos se"undo o Debrett.

    Mrs. *t. ?incent repetiu essa conversa para Rupert no intuito de

    repreender o rapa3.

    Rupert por0m n!o se dei%ou impressionar.

    ,ra mim isso est( 2cando cada ve3 mais suspeito declarou.

    Vuem 0 esse tal de Coronel Car)a%1 ?ai ver +ue ele herda o t#tulo

    se acontecer al"uma coisa com o Listerdale. A carta +ue veio da

    )rica Oriental provavelmente )oi )alsi2cada. Da+ui a tr@s anos ou

    se'a l( o tempo +ue )or necess(rio esse tal de Car)a% pode ale"ar

    +ue o outro morreu e se apossa do t#tulo. E nesse meio tempo

    assume o controle de todos os bens. Muito suspeito a meu ver.

    Condescendeu ma"n[nimo em aprovar a casa. Nos momentos

    de )ol"a mostrava4se inclinado a bater de leve no )orro de madeira e

    tirar medidas complicadas para a poss#vel locali3a>!o de uma c[mera

    secreta mas aos poucos )oi perdendo interesse pelo mist0rio de Lord

    Listerdale. 8amb0m 2cou menos entusiasmado em rela>!o T 2lha do

    dono da tabacaria. Z o ambiente in\ui.

    ,ara arbara a casa trou%e "rande satis)a>!o. Kim Masterton

    tinha voltado T In"laterra e )a3ia4lhe visitas )re+`entes. Ele e Mrs. *t.

    ?incent se deram maravilhosamente bem e um dia ele disse a

    arbara uma coisa +ue a surpreendeu.

    Esta casa 0 o cen(rio per)eito para a sua m!e sabe1

    ,ara mame!

    Z. $oi )eita sob medida pra ela/ $a3 parte disto a+ui de uma

    maneira e%traordin(ria. *abe esta casa tem +ual+uer coisa de

    estranho de incr#vel de sobrenatural.

    N!o comece a bancar o Rupert implorou arbara. Ele

    est( convencido de +ue o malvado Coronel Car)a% assassinou Lord

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    Listerdale e escondeu o cad(ver debai%o do soalho.

    Masterton riu.

    Eu admiro o esp#rito detetivesco do Rupert. Mas n!o )oi isso +ue

    +uis di3er. 9( +ual+uer coisa no ar no ambiente +ue n!o d( para

    entender direito.

    K( estavam h( tr@s meses em Cheviot ,lace +uando arbara

    sur"iu diante da m!e com o rosto radiante.

    O Kim e eu... noivamos. *im... ontem T noite. Ah mam!e/ At0

    parece +ue estou vivendo um conto de )adas.

    Ah minha +uerida/ Vue bom... como tico contente.

    M!e e 2lha se abra>aram.

    *abe +ue o Kim est( +uase t!o apai%onado pela senhora

    +uanto por mim1 disse arbara por 2m com uma risada travessa.

    Mrs. *t. ?incent corou de um modo *impatic#ssimo.

    Est( sim insistiu a mo>a. A senhora pensou +ue esta

    casa seria um cen(rio per)eito para mim e durante esse tempo todo

    ela de )ato serviu de cen(rio para a senhora. O Rupert e eu n!o

    2camos muito bem a+ui ao passo +ue a senhora sim.

    N!o di"a boba"ens +uerida.

    oba"em coisa nenhuma. Isto a+ui tem um ar de castelo

    medieval onde a senhora 0 a princesa encantada e o Vuentin 0... 0...

    ah/... o ma"o beni"no.

    Mrs. *t. ?incent riu e concordou com a Wltima compara>!o.

    Rupert recebeu a not#cia do noivado da irm! na maior calma.

    K( descon2ava de +ue vinha +ual+uer coisa por a#

    observou com ar de sabich!o.

    Estava 'antando so3inho com a m!e. arbara tinha sa#do com

    Kim.

    Vuentin colocou a "arra)a de vinho do ,orto T sua )rente e

    retirou4se sem )a3er barulho.

    Esse cara a# n!o me en"ana disse Rupert acenando com a

    cabe>a para a porta )echada. 9( +ual+uer coisa es+uisita com ele

    sabe1 Vual+uer coisa...

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    *uspeita1 interrompeu Mrs. *t. ?incent sorrindo de leve.

    U0 mam!e como 0 +ue a senhora adivinhou o +ue eu ia

    di3er1 per"untou Rupert bem s0rio.

    ,or+ue 0 uma palavra +ue voc@ sempre usa meu bem. ?oc@

    acha tudo suspeito. No m#nimo tamb0m descon2a de +ue )oi Vuentin

    +uem li+uidou com o Lord Listerdale e escondeu o cad(ver debai%o

    do soalho n!o1

    Atr(s do )orro de madeira corri"iu Rupert. A senhora

    sempre con)unde um pouco as coisas m!e. N!o '( me in)ormei sobre

    isso. Na ocasi!o o Vuentin andava l( por Yin"^s Cheviot.

    Mrs. *t. ?incent sorriu para ele levantando4se da mesa e

    subindo para a sala do andar superior. Em certo sentido Rupert estava

    custando a 2car adulto.

    No entanto surpreendeu4se pela primeira ve3 a ima"inar por

    +ue motivo Lord Listerdale teria partido t!o abruptamente da

    In"laterra. Devia haver al"uma e%plica>!o al"uma 'usti2cativa para

    uma decis!o t!o repentina assim. Ainda estava pensando nisso

    +uando Vuentin entrou com a bande'a do ca)0. N!o resistiu ao

    impulso de per"untar.

    ?oc@ '( trabalha h( muito tempo para Lord Listerdale n!o 0

    Vuentin1

    Z sim senhora. Desde +ue eu tinha vinte e um anos.

    Isso )oi na 0poca do )alecido pai dele. Comecei como au%iliar de

    camareiro.

    ?oc@ deve conhec@4lo muito bem. Vue tipo de homem ele 01

    O mordomo virou um pouco a bande'a para +ue ela pudesse

    servir4se mais comodamente de a>Wcar en+uanto respondia com o

    mesmo tom impass#vel:

    Lord Listerdale era um homem muito e"o#sta. N!o tinha

    considera>!o com nin"u0m.

    Retirou a bande'a de ca)0 e levou4a embora da sala. Mrs. *t.

    ?incent 2cou sentada com a %#cara na m!o e uma e%press!o intri"ada

    no rosto. Vual+uer coisa na+uela resposta al0m da opini!o

  • 8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)

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    e%ternada lhe soara estranha. N!o demorou muito a compreender

    por +u@.

    Vuentin tinha dito Qera em lu"ar de Q0. Mas ent!o ele deve

    pensar... deve 'ul"ar... ,assou um car!o em si mesma. Estava 2cando

    i"ual ao Rupert/ ?iu4se por0m tomada de uma in+uieta>!o bem

    de2nida. Mais tarde locali3ou suas primeiras suspeitas na+uele

    momento.

    Com a )elicidade e o )uturo de arbara "arantidos teve tempo

    para se entre"ar a seus racioc#nios +ue contra sua prpria vontade

    come>aram a se concentrar em torno do mist0rio de Lord Listerdale.

    Vual seria a verdadeira histria1 $osse +ual )osse Vuentin sabia de

    al"uma coisa a respeito. Vue palavras mais estranhas ele havia dito:

    Q...um homem muito e"o#sta... n!o tinha considera>!o com nin"u0m.

    Vue esconderiam1 8inha )alado como um 'ui3 )alaria com isen>!o

    imparcialmente.

    Estaria Vuentin envolvido no desaparecimento de Lord

    Listerdale1 8eria tomado parte ativa em al"uma tra"0dia +ue

    porventura tivesse acontecido1 A2nal de contas por mais absurda

    +ue parecesse a hiptese de Rupert na ocasi!o a+uela Wnica carta

    remetida da )rica Oriental com uma procura>!o dei%ava... bem

    mar"em a dWvidas.

    Mas por mais +ue se es)or>asse n!o podia acreditar +ue

    Vuentin )osse capa3 de +ual+uer maldade. Vuentin repetiu a si

    mesma v(rias ve3es era "om ela usou a palavra com a mesma

    simplicidade +ue uma crian>a usaria. Vuentin era "om. Mas sabia de

    al"uma coisa/

    Nunca voltou a )alar no dono da casa com ele. O assunto

    estava aparentemente encerrado. Rupert e arbara tinham mais em

    +ue pensar e n!o houve novas discussSes.

    $oi em 2ns de a"osto +ue suas va"as con'eturas se crista4

    li3aram em realidades. Rupert tinha ido passar +uin3e dias de )0rias

    em companhia de um ami"o +ue possu#a um moto4ciclo com rebo+ue.

    $a3ia uns de3 dias +ue ele havia partido +uando Mrs. *t. ?incent

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    levou um susto ao v@4lo entrar correndo na sala onde estava sentada

    escrevendo.

    Rupert/ e%clamou.

    Eu sei mam!e. A senhora s esperava me ver da+ui a tr@s

    dias. Mas aconteceu uma coisa. O Anderson... o meu ami"o sabe1...

    n!o tinha nenhum lu"ar especial para ir por isso su"eri +ue )-ssemos

    dar uma olhada em Yin"^s Cheviot...

    Yin"^s Cheviot1 Mas por +u@... 1

    M!e a senhora sabe per)eitamente +ue eu sempre senti +ue

    havia al"o suspeito em certas coisas a+ui. ,ois bem. Dei uma olhada

    por l(... a casa est( alu"ada sabe1... e n!o achei nada. N!o +ue

    esperasse realmente encontrar +ual+uer coisa... apenas andei

    )are'ando pelos cantos por assim di3er.

    Z pensou ela na+uele momento Rupert se assemelhava muito

    a um c!o. $are'ando a esmo em busca de al"o va"o e inde2nido

    levado pelo instinto entretido e )eli3.

    $oi s +uando est(vamos passando por um lu"are'o a uns

    de3 +uil-metros de dist[ncia de l( +ue a coisa aconteceu... +ue dei

    com ele +uero di3er.

    Ele +uem1

    O Vuentin... entrando num pe+ueno chal0. Esse ne"cio n!o

    est( me cheirando bem pensei c( comi"o e paramos o carro para eu

    voltar. ati na porta e ele mesmo veio atender.

    Mas eu n!o compreendo. O Vuentin n!o arredou p0 da+ui...

    K( che"o l( m!e. ,reste aten>!o e n!o me interrompa viu1

    Era o Vuentin e n!o era o Vuentin n!o sei se a senhora me entende.

    L"ico +ue Mrs. *t. ?incent n!o estava entendendo portanto

    ele teve +ue ser mais claro.

    Era realmente o Vuentin mas n!o o nosso Vuentin. Era o

    verdadeiro Vuentin.

    Rupert/

    Escute s. A princ#pio eu nem +ueria acreditar e per"untei:

    QZ o Vuentin n!o 01 E o camarada respondeu: QE%atamente mo>o

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    esse 0 o meu nome. Em +ue posso servi4lo1 $oi ent!o +ue eu vi +ue

    n!o era o Vuentin +ue conhec#amos embora )osse absolutamente

    i"ual a ele inclusive na vo3. $i3 al"umas per"untas e tudo se

    esclareceu. O camarada n!o tinha a m#nima id0ia de +ue estivesse

    acontecendo +ual+uer coisa de anormal. 9avia sido e)etivamente

    mordomo de Lord Listerdale mas '( tinha se aposentado e recebido o

    tal chal0 mais ou menos na 0poca em +ue se supunha +ue Lord

    Listerdale tivesse embarcado para a )rica. A senhora est( vendo

    aonde isso nos leva. O homem +ue trabalha a+ui 0 um impostor...

    )a3endo4se passar pelo Vuentin sabe l( com +ue 2nalidade. Eu sou

    da teoria de +ue na+uela noite ele veio T cidade 2n"indo ser o mor4

    domo de Yin"^s Cheviot conse"uiu )alar com Lord Listerdale matou o

    coitado e escondeu o cad(ver atr(s do )orro de madeira. A casa 0

    muito velha com certe3a e%iste al"um nicho secreto...

    Ah n!o vamos recome>ar com essa histria interrompeu

    Mrs. *t. ?incent '( desesperada. N!o a"`ento mais. ,or +ue iria

    ele... 0 isso +ue eu +uero saber... por +u@1 *e ele de )ato )e3 uma

    coisa dessas... +ue n!o acredito de 'eito nenhum +ue tenha )eito

    note4se... +ual o motivo pra tudo isso1

    8em ra3!o concordou Rupert. O motivo 0 o +ue

    interessa. Acontece +ue 23 sindic[ncias. Lord Listerdale possu#a uma

    +uantidade de imveis. Nestes Wltimos dois dias eu descobri +ue

    praticamente todas essas casas dele )oram alu"adas durante os

    Wltimos de3oito meses a pessoas como ns por um pre>o irrisrio...

    so" a condi#o de que os criados continuassem no servi#o. E em cada

    uma delas o prprio Vuentin... isto 0 o su'eito +ue se )a3 passar pelo

    Vuentin... trabalhou al"um tempo como mordomo. Isso me )a3

    descon2ar de +ue e%iste al"uma coisa ... 'ias ou pap0is... escondida

    numa das casas de Lord Listerdale e a +uadrilha n!o sabe em +ual.

    *uponho +ue se trate de uma +uadrilha mas 0 bem poss#vel +ue esse

    tal Vuentin a'a so3inho. 9( outra...

    Mrs. *t. ?incent interrompeu4o com certo "rau de determina>!o.

    Rupert/ ,are de )alar um instante. K( estou com a cabe>a

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    3on3a. *e'a como )or o +ue voc@ di3 0 boba"em... essa histria de

    +uadrilhas e pap0is escondidos.

    9( outra teoria admitiu Rupert. Esse tal Vuentin pode

    ser al"u0m +ue Lord Listerdale pre'udicou. O verdadeiro mordomo me

    contou uma histria comprida a respeito de um cara chamado *amuel

    Lo&e... um a'udante de 'ardineiro +ue tinha mais ou menos a mesma

    estatura e o mesmo corpo do prprio Vuentin. Ele 2cou ressentido

    com o Listerdale...

    Mrs. *t. ?incent teve um sobressalto.

    QN!o tinha considera>!o com nin"u0m. As palavras lhe vieram

    T lembran>a com o mesmo tom desapai%onado contido. ,areciam

    descabidas mas o +ue n!o si"ni2cariam1

    Distra#da mal escutava o +ue Rupert di3ia. Ele deu uma r(pida

    e%plica>!o sobre al"o +ue ela n!o havia prestado aten>!o e saiu

    apressadamente da sala.

    Ent!o ela caiu em si. Aonde Rupert tinha ido1 Vue ia )a3er1 N!o

    havia entendido direito as Wltimas palavras dele. 8alve3 )osse avisar T

    pol#cia. Nesse caso...

    Levantou4se abruptamente e tocou a campainha. Com a

    prontid!o habitual Vuentin apareceu.

    A senhora chamou1

    Chamei. $a>a o )avor de entrar e )eche a porta.

    O mordomo obedeceu e Mrs. *t. ?incent 2cou um instante

    calada en+uanto o analisava atentamente.

    ,ensou: QEle tem sido timo para mim... nin"u0m sabe +uanto.

    Os meninos n!o compreenderiam. Essa histria desvairada do Rupert

    talve3 se'a pura tolice... ,or outro lado talve3... sim talve3... tenha

    al"um )undamento. Como 'ul"ar1 N!o d( pra sa"er. O +ue est( certo

    ou errado +uero di3er... E aposto a minha vida... sim 'uro +ue

    aposto/... como ele 0 um homem de bem.

    Corada com a vo3 tr@mula come>ou a )alar.

    Vuentin o Mr. Rupert acaba de voltar. Ele andou l( por Yin"^s

    Cheviot... por um lu"are'o vi3inho...

  • 8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)

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    ,arou notando o r(pido sobressalto +ue o criado n!o conse"uiu

    dis)ar>ar.

    E viu... al"u0m prosse"uiu num tom contido.

    ,ensou consi"o mesma: Q,ronto... a"ora ele '( sabe. *e'a como

    )or est( prevenido.

    Depois da+uele r(pido sobressalto inicial Vuentin retomou seu

    porte impass#vel 2%ando por0m o olhar no rosto dela atento e

    penetrante com uma e%press!o +ue Mrs. *t. ?incent 'amais tinha

    visto. Era pela primeira ve3 o olhar de um homem e n!o de um

    criado.

    Ele hesitou um pouco depois per"untou numa vo3 +ue tamb0m

    estava sutilmente mudada:

    ,or +ue a senhora est( me contando isso Mrs. *t. ?incent1

    Antes +ue pudesse responder a porta se abriu e Rupert entrou

    intempestivamente na sala. 8ra3ia 'unto um homem '( maduro todo

    di"no com pe+uenas su#>as e um ar de arcebispo ben0volo.

    $uentin!

    C( est( ele disse Rupert. O verdadeiro Vuentin. Mandei

    +ue esperasse l( )ora no t(%i. A"ora Vuentin olhe para este homem

    e me. di"a... 0 o *amuel Lo&e1

    ,ara Rupert )oi um momento de triun)o. Mas durou pouco.

    Vuase de imediato percebeu +ue havia al"uma coisa errada. ,ois ao

    passo +ue o verdadeiro Vuentin parecia enver"onhado e muito mal T

    vontade o )also Vuentin sorria abertamente sem dissimular o pra3er

    +ue sentia na+uela situa>!o.

    Deu uma palmada nas costas do ssia contra)eito.

    N!o )a3 mal Vuentin. Era inevit(vel +ue um dia a verdade

    viesse T tona. ,ode di3er a eles +uem eu sou.

    O di"no desconhecido se emperti"ou todo.

    Mo>o este senhor anunciou num tom de recrimina>!o 0

    o meu patr!o Lord Listerdale.

    O minuto subse+`ente testemunhou v(rias coisas. ,rimeiro a

  • 8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)

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    prostra>!o absoluta do presun>oso Rupert. Antes +ue pudesse

    compreender o +ue estava acontecendo ainda bo+uiaberto com o

    impacto da descoberta viu4se sendo empurrado delicadamente na

    dire>!o da porta por uma vo3 ami"a +ue lhe era e ao mesmo tempo

    n!o era )amiliar.

    N!o tem a menor import[ncia meu rapa3. Nin"u0m vai sair

    pre'udicado por causa disso. Mas +uero trocar uma palavra com sua

    m!e. ?oc@ e)etuou um timo trabalho me desmascarando desse

    'eito.

    $icou do lado de )ora no patamar olhando para a porta

    )echada. O verdadeiro Vuentin estava a seu lado e prontamente se

    p-s a e%plicar tudo o +ue havia acontecido. Dentro da sala Lord

    Listerdale se con)rontava com Mrs. *t. ?incent.

    Dei%e4me e%plicar... se eu puder/ Durante a vida inteira )ui

    um monstro de e"o#smo... um dia acordei para esse )ato. Achei +ue

    devia procurar ser um pouco altru#sta para variar e sendo um louco

    de marca maior comecei a )a3er as coisas mais )ant(sticas. $i3 tudo

    +uanto )oi esp0cie de donativos mas senti necessidade de )a3er

    al"uma coisa... bem al"uma coisa pessoal. *empre tive pena da

    classe +ue n!o pode mendi"ar +ue tem +ue so)rer calada... "ente

    distinta +ue cai na mis0ria. ,ossuo uma s0rie de propriedades.

    Concebi a id0ia de alu"ar essas casas a pessoas +ue... ora

    precisassem delas e soubessem valori3(4las. Casais 'ovens com a vida

    pela )rente viWvas com 2lhos e 2lhas T procura de um lu"ar ao sol.

    Vuentin tem sido mais +ue um mordomo para mim: um ami"o. Com o

    consentimento e a a'uda dele tomei de empr0stimo a sua

    personalidade. *empre tive talento para representar. A id0ia me veio

    uma noite a caminho do clube. $ui lo"o discuti4la com o Vuentin.

    Vuando descobri +ue estavam )a3endo um escarc0u em torno do meu

    desaparecimento providenciei para +ue remetessem uma carta

    minha da )rica Oriental. Nela eu dava todas as instru>Ses ao meu

    primo Maurice Car)a%. E... bem em resumo )oi isso o +ue aconteceu.

    ,arou de )alar meio sem 'eito lan>ando um olhar de apelo a

  • 8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)

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    Mrs. *t. ?incent. Ela 2cou imvel muito erecta e olhou4o bem nos

    olhos.

    $oi uma id0ia "enerosa disse. 8otalmente )ora do

    comum e da +ual pode se envaidecer. *into4me... muito "rata. Mas...

    o senhor naturalmente h( de compreender +ue ns n!o podemos

    continuar a+ui n!o 01

    K( contava com essa retrucou ele. O seu or"ulho n!o lhe

    permite aceitar o +ue provavelmente chamaria de Qcaridade.

    E por acaso n!o 01 per"untou com 2rme3a.

    N!o respondeu ele. ,or+ue eu espero uma coisa em

    troca.

    O +u@1

    8udo.

    A vo3 de Lord Listerdale ressoou com o tom de +uem est(

    acostumado a dominar.

    Vuando eu tinha vinte e tr@s anos continuou casei com

    a mulher +ue eu amava. Um ano depois ela morreu. A partir de ent!o

    tenho me sentido muito s. Vueria tanto encontrar al"u0m... a

    criatura dos meus sonhos...

    E acredita +ue se'a eu1 per"untou Mrs. *t. ?incent em vo3

    bai%a. K( estou t!o velha... t!o. murcha...

    Ele riu.

    ?elha1 ?oc@ 0 mais mo>a +ue +ual+uer um de seus 2lhos.

    Eu sim 0 +ue poderia di3er isso.

    Mas a risada dela por sua ve3 ressoou com o som delicado e

    cristalino de +uem acha uma "ra>a imensa.

    ?oc@1 ?oc@ ainda 0 um rapa3. Um rapa3 +ue "osta de se

    )antasiar/

    E estendeu as m!os +ue ele tomou entre as suas.

  • 8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)

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    A MO5A DO 8REM

    Acabou4se o +ue era doce/ e%clamou 7eor"e Ro&land com

    pesar contemplando a ma'estosa )achada encardida do pr0dio de

    onde acabava de sair.

    ,odia4se di3er +ue simboli3ava muito bem o poder do Dinheiro

    e o Dinheiro na 2"ura de ]illiam Ro&land tio do mencionado

    7eor"e tinha mani)estado sua opini!o com a maior )ran+ue3a. No

    curto pra3o de de3 minutos. 7eor"e a menina dos olhos do tio

    herdeiro de sua )ortuna e com uma promissora carreira comercial pela

    )rente havia in"ressado subitamente na vasta le"i!o de

    desempre"ados.

    E com estas roupas n!o posso nem pedir esmola re\etiu

    acabrunhado. E para andar vendendo poemas de porta em porta

    a troco de ninharias: QD@ o +ue a senhora +uiser madameP

    simplesmente me )alta 'eito.

    ?erdade +ue 7eor"e simboli3ava um aut@ntico triun)o da arte

    da al)aiataria. Estava maravilhosamente bem vestido. *alom!o com

    seus l#rios do campo perderia tempo com ele. Mas nem s de roupa

    vive o homem a menos +ue possua consider(vel e%peri@ncia na

    re)erida arte e nin"u0m melhor +ue 7eor"e Ro&land para saber

    disso.

    8udo por causa da+uela dro"a de )esta de ontem T noite

    pensou com triste3a.

    A Qdro"a de )esta de ontem T noite )ora um baile no Covent

    7arden. 7eor"e tinha voltado numa hora bastante tardia ou

    melhor matinal e para ser )ranco n!o seria capa3 de 'urar +ue se

    lembrava se+uer de ter voltado. Ro"ers o mordomo do tio era muito

  • 8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)

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    prestativo e poderia sem dWvida prestar maiores esclarecimentos

    sobre o assunto. Uma dor de cabe>a atro3 uma %#cara de ch( bem

    )orte e uma che"ada ao escritrio +uando )altavam cinco minutos

    para o meio4dia o e%pediente come>ava Ts nove e trinta...

    precipitaram a cat(stro)e. O tio +ue h( vinte e +uatro anos vinha

    tolerando e pa"ando tudo como cumpre a um parente discreto de

    repente mudou de t(tica revelando4se sob uma lu3 totalmente nova.

    O descabimento das respostas de 7eor"e a cabe>a do rapa3 abria e

    )echava sem parar )eito um instrumento de tortura medievalP dei%ou4

    o ainda mais irritado. ]illiam Ro&land n!o costumava ter papas na

    l#n"ua. Com meia dW3ia de palavras bem escolhidas botou o sobrinho

    no olho da rua e voltou a se concentrar no e%ame +ue andava

    )a3endo de uns campos de petrleo no ,eru.

    7eor"e Ro&land sacudiu dos p0s a poeira do escritrio do tio e

    saiu caminhando pela City. 8inha esp#rito pr(tico.Um bom almo>o a

    seu ver seria indispens(vel T an(lise da situa>!o. $oi o +ue )e3.

    Depois tomou o caminho do solar da )am#lia. Ro"ers abriu4lhe a porta.

    N!o mani)estou a menor surpresa na 2sionomia tra+ue'ada ao ver

    7eor"e nessa hora inusitada.

    oa tarde Ro"ers. Vuer )a3er o )avor de me arrumar as

    malas1 ?ou4me embora.

    ,ois n!o patr!o. Z para uma via"em r(pida1

    N!o Ro"ers 0 para sempre. ,arto a"ora de tarde para as

    col-nias.

    De verdade patr!o1

    *im. Vuer di3er se houver um navio +ue saia ho'e. ?oc@

    entende al"uma coisa de navios Ro"ers1

    ,ara +ue col-nia o senhor vai1

    *ei l(. N!o tenho pre)er@ncias. Vual+uer uma serve.

    ,ara a Austr(lia di"amos. Vue acha da id0ia Ro"ers1

    Ro"ers tossiu discretamente.

    em patr!o n!o resta dWvida de +ue '( me disseram +ue l(

    h( sempre lu"ar para +ual+uer pessoa +ue +ueira realmente

  • 8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)

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    trabalhar.

    Mr. Ro&land encarou4o com interesse e admira>!o.

    E%celente resposta Ro"ers. $oi e%atamente o +ue pensei.

    ,ortanto n!o irei para a Austr(lia... pelo menos por ora. ?( buscar o

    "uia )errovi(rio sim1 ?amos escolher um lu"ar +ue n!o 2+ue t!o )ora

    de m!o.

    Ro"ers trou%e o volume pedido. 7eor"e abriu4o ao acaso

    )olheando rapidamente as p("inas.

    ,erth... 2ca muito lon"e... ,utney rid"e... 0 perto demais.

    Rame"ate1 N!o me palpita. Rei"ate tamb0m n!o me interessa. Mas

    +ue coisa incr#vel/ N!o 0 +ue e%iste de )ato um lu"ar chamado

    Ro&land^s Castle1 ?oc@ '( tinha ouvido )alar nisso Ro"ers1

    8enho impress!o de +ue para ir l( 0 preciso tomar o trem na

    esta>!o de ]aterloo.

    ?oc@ 0 um )en-meno Ro"ers. N!o h( nada +ue n!o saiba.

    Ora '( se viu Ro&land^s Castle/ Como ser( +ue 0 hem1

    Acho +ue n!o deve ser "rande coisa patr!o.

    8anto melhor. Assim haver( menos competi>!o. Esses

    lu"are'os tran+`ilos do interior conservam ainda muito do velho

    esp#rito )eudal. O Wltimo Ro&land aut@ntico na certa ser( recebido

    com entusiasmo instant[neo. N!o me admiro se )or eleito pre)eito

    da+ui a uma semana.

    $echou o "uia )errovi(rio com estrondo.

    A sorte est( lan>ada. Me arrume uma mala pe+uena viu

    Ro"ers1 8ransmita tamb0m meus cumprimentos T co3inheira e

    per"unte se ela n!o me emprestaria o "ato por uns tempos. $eito o

    DicX ]hittin"ton sabe1 Vuando a "ente resolve tornar4se pre)eito 0

    indispens(vel ter um "ato.

    *into muito patr!o mas o "ato n!o se encontra dispon#vel

    no momento.

    Como assim1

    8eve oito 2lhotes ho'e de manh!.

    N!o di"a. ,ensei +ue o nome dele )osse ,eter.

  • 8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)

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    E de )ato 0 patr!o. 8odo mundo se admirou.

    Um caso de batismo desatento e se%o en"anador hem1

    Muito bem terei de ir sem "ato mesmo. N!o demore para arrumar a

    mala sim1

    ,er)eitamente.

    Ro"ers se retirou e reapareceu de3 minutos depois.

    Vuer +ue lhe chame um t(%i patr!o1

    Chame sim por )avor.

    Ro"ers hesitou e por 2m adiantou4se um pouco para o meio da

    sala.

    Desculpe a liberdade mas eu se )osse o senhor n!o levaria

    a s0rio nada +ue Mr. Ro&land possa ter dito ho'e de manh!. Ontem T

    noite ele )oi a um desses 'antares de cerim-nia e...

    N!o di"a mais nada atalhou 7eor"e. K( entendi.

    E sendo propenso T "ota...

    Eu sei eu sei. Deve ter sido uma noite e%tenuante pra voc@

    hem Ro"ers tendo +ue aturar ns dois. Mas '( decidi me tornar

    )amoso em Ro&land^s Castle... o ber>o da minha dinastia... n!o 2caria

    nada mal num discurso n!o 0 mesmo1 Um tele"rama para mim l( ou

    um anWncio discreto nos 'ornais matutinos sempre me lembrar!o de

    +ue um fricass%e de vitela se acha em preparo. E a"ora... rumo a

    ]aterloo/... como disse ]ellin"ton na v0spera da histrica batalha.

    A esta>!o de ]aterloo na+uela tarde n!o estava num de seus

    momentos mais )eli3es. Mr. Ro&land descobriu eventualmente o trem

    +ue o levaria ao seu destino mas era um trem sem "ra>a sem nada

    +ue o distin"uisse dos demais um trem +ue nin"u0m parecia

    ansioso em tomar. Mr. Ro&land dispunha de um va"!o inteiro de

    primeira classe s para ele bem perto da locomotiva. Uma neblina

    come>ava a pairar va"amente sobre a cidade ora subindo ora

    descendo. A plata)orma estava deserta e apenas o res)ole"ar

    asm(tico da m(+uina rompia o sil@ncio.

    De repente tudo come>ou a acontecer com uma rapide3

    estonteante.

  • 8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)

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    ,rimeiro )oi a mo>a. Ela abriu a porta com viol@ncia e entrou de

    um salto despertando Mr. Ro&land de al"o +ue se apro%imava

    peri"osamente de um cochilo ao mesmo tempo +ue e%clamava:

    Ah/ Me esconda... ,or )avor me esconda/

    7eor"e era essencialmente um homem de a>!o +ue n!o se

    detinha a pedir e%plica>Ses +ue pre)eria morrer a perder tempo com

    hesita>Ses e assim por diante. * e%iste um Wnico lu"ar +ue pode

    servir de esconderi'o num va"!o )errovi(rio a parte de bai%o do

    assento. Em sete se"undos a mo>a estava alo'ada ali e a maleta de

    7eor"e dei%ada ne"li"entemente em p0 encobria4lhe o re)W"io. $oi

    por pouco. Um rosto indi"nado sur"iu na 'anela do va"!o.

    Minha sobrinha/ ?oc@ est( com ela a#/ Vuero a minha

    sobrinha.

    7eor"e meio o)e"ante estava encostado no canto imerso na

    coluna esportiva do 'ornal da tarde a edi>!o da uma e meia. ai%ou4o

    com ar de +uem encontra di2culdade para voltar T realidade.

    Como )oi +ue o senhor disse1 per"untou cort@s.

    Minha sobrinha... +ue )oi +ue voc@ )e3 com ela1

    aseando4se na pol#tica de +ue o ata+ue 0 sempre melhor +ue a

    de)esa 7eor"e entrou lo"o em a>!o.

    Vue diabo est( +uerendo insinuar1 voci)erou numa

    imita>!o bastante boa das maneiras de seu tio.

    O outro vacilou um pouco intimidado por a+uela sWbita

    veem@ncia. Era "ordo e ainda bu)ava como se tivesse corrido uma

    certa dist[ncia. Usava cabelo cortado T escovinha e bi"ode tipo

    &aiser. ,ossu#a um sota+ue decididamente "utural e a ri"ide3 do porte

    indicava +ue se sentia mais T vontade )ardado do +ue T paisana.

    7eor"e tinha o inato preconceito in"l@s contra estran"eiros e uma

    antipatia toda especial por estran"eiros de aspecto "erm[nico.

    Vue diabo est( +uerendo insinuar1 repetiu irritado.

    Ela entrou a# insistiu o outro. Eu vi. Vue )e3 com ela1

    7eor"e lar"ou o 'ornal e meteu a cabe>a e os ombros para )ora

    da 'anela.

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    Ah ent!o 0 isso 01 ru"iu. Chanta"em. Mas desta ve3

    tomou o bonde errado. K( li tudo a seu respeito no 'ail( Mail de ho'e

    de manh!. Ei "uarda venha c(/

    K( atra#do de lon"e pela discuss!o o )uncion(rio chamado

    acudiu Ts pressas.

    Olhe a+ui seu "uarda disse Mr. Ro&land com a+uele ar

    autorit(rio +ue as classes in)eriores tanto adoram. Este su'eito est(

    me importunando. *e )or necess(rio darei parte de tentativa de

    chanta"em. Ele +uer di3er +ue escondi a sobrinha dele a+ui dentro.

    Anda por a# uma verdadeira +uadrilha de estran"eiros procurando

    aplicar esse "olpe. Z preciso acabar com isso. $a>a o )avor de

    prend@4lo. E leve o meu cart!o caso precise de mim.

    O olhar do "uarda ia de um para o outro. N!o demorou a tomar

    uma resolu>!o. A e%peri@ncia o ensinava a despre3ar estran"eiros e

    respeitar e admirar cavalheiros bem tra'ados +ue via'am em primeira

    classe.

    ,ousou a m!o no ombro do importuno.

    ?amos ordenou d@ o )ora.

    Nesse momento decisivo o in"l@s do estran"eiro )alhou e ele se

    p-s a pro)erir violentos improp0rios na l#n"ua materna.

    Che"a atalhou o "uarda. E a)aste4se da# viu1 O trem '(

    vai sair.

    E entre acenos de bandeira e apitos o relutante trem arrancou

    com um solavanco.

    7eor"e permaneceu no seu posto de observa>!o at0 +ue a

    plata)orma sumiu de vista. A# ent!o tirou a cabe>a da 'anela levantou

    a mala e colocou4a na prateleira.

    N!o h( mais peri"o. ,ode sair disse tran+`ili3ador.

    A mo>a saiu se arrastando.

    ,u%a/ e%clamou tomando )-le"o. Nem sei como lhe

    a"radecer/

    N!o precisa. Asse"uro4lhe +ue )oi um pra3er retrucou

    7eor"e displicente.

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    *orriu para tran+`ili3(4la. Ela o olhava meio intri"ada. ,arecia

    at0 certo ponto decepcionada. $oi ent!o +ue se en%er"ou no

    espelhinho da parede oposta e soltou uma e%clama>!o de horror.

    Z de se duvidar +ue os limpadores de va"Ses )errovi(rios

    varram diariamente a parte in)erior dos bancos. 8odas as apar@ncias

    indicam o contr(rio mas pode ser +ue cada part#cula de p e )uli"em

    tenha mania de se alo'ar ali )eito p(ssaros em ninho. Devido T

    che"ada intempestiva da mo>a e o breve espa>o de tempo antes +ue

    se a"achasse para o esconderi'o 7eor"e mal teve tempo de

    observar4lhe o aspecto mas n!o h( +ue ne"ar +ue era uma 'ovem

    ele"ante e bem vestida +ue havia desaparecido debai%o do assento.

    A"ora al0m do chapeu3inho vermelho amassado e torto estava com

    o rosto des2"urado por "randes manchas de su'eira.

    Ah/ resmun"ou.

    Reme%eu dentro da bolsa. 7eor"e com o tato de um aut@ntico

    cavalheiro desviou o olhar para a 'anela pondo4se a admirar as ruas

    de Londres ao sul do 8[misa.

    Nem sei como lhe a"radecer repetiu a mo>a.

    Interpretando essa )rase como o sinal de +ue '( podiam

    continuar a conversa 7eor"e se virou e )e3 outro protesto cort@s s

    +ue desta ve3 com muito mais ardor.

    A mo>a era uma verdadeira maravilha/ 7eor"e teve de se

    con)essar +ue nunca tinha visto uma mulher t!o linda assim. *eu

    entusiasmo tornou4se indis)ar>(vel.

    Achei simplesmente )ormid(vel de sua parte declarou ela

    com veem@ncia.

    N!o sei por +u@. A coisa mais )(cil do mundo. 8ive o maior

    pra3er em lhe ser Wtil murmurou 7eor"e.

    $ormid(vel reiterou en)(tica.

    N!o resta dWvida +ue 0 e%tremamente a"rad(vel 2car sentado

    diante da mo>a mais bonita +ue '( se viu encarando a "ente nos

    olhos e di3endo +ue voc@ 0 )ormid(vel. 7eor"e estava "ostando

    da+uilo como +ual+uer outra pessoa tamb0m "ostaria.

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    $oi ent!o +ue se )e3 um sil@ncio meio embara>oso. ,arecia +ue

    ela se havia dado conta de +ue talve3 )osse necess(rio )ornecer

    maiores e%plica>Ses. Corou um pouco.

    O mais constran"edor disse toda nervosa 0 +ue tenho

    impress!o de +ue n!o d( para e%plicar.

    E lan>ou4lhe um comovente olhar de incerte3a.

    N!o d( para e%plicar1

    N!o

    Vue bele3a/ e%clamou Mr. Ro&land entusiasmado.

    Como 0 +ue 01

    Eu disse: QVue bele3a/ Z +ue nem nesses livros +ue dei%am

    a "ente acordado a noite inteira. No primeiro cap#tulo a hero#na

    sempre di3: QN!o d( para e%plicar. Claro +ue no 2m ela sempre

    termina e%plicando e nunca h( o menor motivo v(lido para +ue n!o

    e%plicasse tudo lo"o de in#cio... s +ue estra"aria a histria. N!o

    ima"ina a minha ale"ria por estar metido num verdadeiro mist0rio...

    n!o sabia +ue e%istiam coisas assim. Espero +ue se'a al"o rela4

    cionado com documentos secretos de suma import[ncia e com o

    e%presso dos (lc!s. *ou louco pelo e%presso dos (lc!s.

    A mo>a arre"alou os olhos para ele descon2ada.

    ,or +ue 'ustamente o e%presso dos (lc!s1 per"untou

    subitamente.

    Espero n!o ter sido indiscreto apressou4se 7eor"e a

    acrescentar. ?ai ver +ue seu tio '( via'ou nele.

    O meu tio... $e3 uma pausa depois recome>ou: O meu

    tio...

    Eu sei disse 7eor"e compreensivo. 8amb0m tenho um.

    Nin"u0m tem culpa dos tios +ue tem. *!o os pe+uenos percal>os do

    atavismo... 0 assim +ue eu encaro.

    A mo>a de repente come>ou a rir. Vuando voltou a )alar 7eor"e

    notou4lhe um leve sota+ue estran"eiro. A princ#pio tinha pensado +ue

    )osse in"lesa.

    Vue pessoa mais simp(tica e ori"inal +ue o senhor 0 Mr. ...

  • 8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)

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    Ro&land. Meus ami"os me chamam de 7eor"e.

    Meu nome 0 Eli3abeth...

    ,arou abruptamente.

    Eu "osto do nome de Eli3abeth disse 7eor"e para salv(4la

    da con)us!o moment[nea. Espero +ue nin"u0m a chame de essie

    ou +ual+uer coisa horr#vel assim...

    Ela sacudiu a cabe>a.

    em continuou 7eor"e a"ora +ue '( nos conhecemos 0

    melhor p-r m!os T obra. *e voc@ se levantar Eli3abeth eu posso lhe

    tirar o p das costas do seu casaco.

    Ela se levantou obediente e 7eor"e cumpriu sua palavra.

    Obri"ada Mr. Ro&land.

    7eor"e. 7eor"e para os ami"os n!o se es+ue>a. ?oc@ n!o

    pode entrar no meu con)ort(vel va"!o va3io rolar para bai%o do

    banco e me levar a mentir para seu tio para depois se recusar a ser

    minha ami"a n!o 01

    Obri"ada 7eor"e.

    K( melhorou.

    Estou bem a"ora1 per"untou Eli3abeth tentando ver4se

    por cima do ombro es+uerdo.

    ?oc@... ah/ voc@ est(... voc@ est( bem sim respondeu

    7eor"e contendo4se resoluto.

    8udo aconteceu t!o de repente sabe1 e%plicou ela.

    ,ercebi lo"o...

    Ele nos viu no t(%i e depois na esta>!o eu simplesmente

    entrei correndo a+ui sabendo +ue ele vinha no meu encal>o. ,or )alar

    nisso pra onde vai este trem1

    ,ra Ro&land^s Castle disse 7eor"e com 2rme3a.

    A mo>a 2cou perple%a.

    Ro&land^s Castle1

    N!o diretamente l"ico. * depois de uma boa +uantidade

    de paradas e demoras. Mas acredito piamente +ue che"arei l( antes

    da meia4noite. A anti"a *udoeste era uma linha em +ue se podia

  • 8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)

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    con2ar... demorava mas che"ava... mas tenho certe3a de +ue a

    $errovia *ul continua mantendo as velhas tradi>Ses.

    N!o sei se +uero ir pra Ro&land^s Castle disse Eli3abeth

    meio em dWvida.

    ?oc@ est( me o)endendo. Z um lu"ar timo.

    K( andou por l(1

    N!o propriamente. Mas h( uma por>!o de outros lu"ares a

    +ue voc@ pode ir se n!o "osta de Ro&land^s Castle. 8em ]oXin"

    ]eybrid"e e ]imbledon. Z certo +ue o trem p(ra em +ual+uer um

    deles.

    Ah 0 disse ela. ,ois 0 eu posso descer l( e talve3 voltar

    de carro para Londres. *eria a melhor solu>!o a meu ver.

    En+uanto )alava o trem come>ou a diminuir a marcha. Mr.

    Ro&land olhou4a implorante.

    *e puder )a3er +ual+uer coisa...

    Absolutamente. O +ue voc@ )e3 '( )oi demais.

    9ouve uma pausa depois de repente ela e%clamou:

    Eu... eu "ostaria de poder e%plicar. Eu...

    ,elo amor de Deus n!o )a>a isso/ Estra"aria tudo. Mas

    escute a+ui n!o h( mesmo nada +ue eu possa )a3er1 Levar os pap0is

    secretos para ?iena... ou +ual+uer coisa no "@nero1 *empre e%istem

    pap0is secretos. Me d@ uma oportunidade sim1

    O trem tinha parado. Eli3abeth saltou rapidamente para a

    plata)orma. ?irou4se e )alou com ele pela 'anela.

    Est( )alando s0rio1 ?oc@ )aria realmente al"uma coisa por

    ns... por mim1

    ,or voc@ eu )aria tudo Eli3abeth.

    Mesmo +ue n!o desse para e%plicar os motivos1

    7rande coisa os motivos/

    Ainda +ue )osse... arriscado1

    Vuanto mais arriscado melhor.

    Ela hesitou um pouco depois pareceu ter tomado uma decis!o.

    Debruce4se na 'anela. Olhe para a plata)orma como se n!o

  • 8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)

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    estivesse vendo nada. Mr. Ro&land es)or>ou4se para atender essa

    recomenda>!o bastante di)#cil. Est( vendo a+uele homem +ue vai

    pe"ar o trem... de cavanha+ue escuro... e capa leve1 *i"a4o observe o

    +ue ele )a3 e para onde vai.

    * isso1 per"untou Mr. Ro&land. O +ue 0 +ue eu...

    Ela o interrompeu.

    Depois voc@ receber( novas instru>Ses. N!o o perca de

    vista... e "uarde isto a+ui. Entre"ou4lhe um pe+ueno embrulho

    lacrado. Como se )osse a sua prpria vida. Cont0m a chave de

    tudo.

    O trem partiu. Mr. Ro&land 2cou olhando pela 'anela vendo a

    silhueta alta e ele"ante de Eli3abeth abrindo caminho pela plata)orma

    a)ora. Apertou na m!o o pe+ueno embrulho lacrado.

    O resto da via"em transcorreu montono e sem incidente. O

    trem era va"aroso. ,arava em toda parte. Em cada esta>!o 7eor"e

    espichava a cabe>a para )ora da 'anela cuidando para ver se a sua

    presa n!o desembarcava. De ve3 em +uando descia e caminhava de

    um lado para outro na plata)orma certi2cando4se de +ue o su'eito

    continuava a bordo.

    O destino 2nal do trem era ,ortsmouth e )oi l( +ue o via'ante

    de cavanha+ue preto desembarcou diri"indo4se a um hotel3inho de

    se"unda cate"oria onde se re"istrou como hspede. Coisa +ue Mr.

    Ro&land tamb0m )e3.

    *eus +uartos 2cavam no mesmo corredor separados apenas

    por duas portas de dist[ncia. Isso pareceu timo a 7eor"e. Era um

    completo ne2to na arte de se"uir os outros mas estava louco de

    vontade de se sair bem e 'usti2car a con2an>a +ue Eli3abeth

    depositava nele.

    Na hora do 'antar indicaram4lhe uma mesa pr%ima da de sua

    presa. O sal!o estava cheio e 7eor"e classi2cou a maioria dos

    hspedes como cai%eiros4via'antes homens sosse"ados e

    respeit(veis +ue comiam com muito apetite. * houve um +ue lhe

    chamou a aten>!o de modo especial: um su'eito bai%inho de cabelo e

  • 8/11/2019 Agatha Christie - A Mina de Ouro (Doc) (Rev)

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    bi"ode ruivos e um to+ue de e+uita>!o no estilo de se tra'ar +ue

    tamb0m mostrou interesse por ele e no 2m da re)ei>!o su"eriu4lhe

    um drin+ue e uma partida de bilhar. 7eor"e por0m acabava de ver o

    homem de cavanha+ue pondo o chap0u e a capa e recusou

    polidamente o convite. N!o demorou muito estava na rua ad+uirindo

    nova e%peri@ncia na di)#cil arte de se"uir os outros. A perse"ui>!o )oi

    lon"a e cansativa e resultou inWtil. Depois de 3an3ar pelas ruas de

    ,ortsmouth por mais de cinco +uil-metros o homem retornou ao

    hotel sempre com 7eor"e nos calcanhares. Este '( se via tomado de

    uma certa dWvida. *er( +ue sua presa sabia +ue estava sendo

    se"uida1 En+uanto debatia a +uest!o consi"o mesmo parado no

    vest#bulo a porta se abriu novamente e o *u'eitinho ruivo entrou. Era

    bvio +ue tamb0m tinha sa#do para dar uma volta.

    De repente 7