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8/18/2019 Cap. TAPIE Victor O Barroco http://slidepdf.com/reader/full/cap-tapie-victor-o-barroco 1/9 Tl76b 82-1023 l J CIP-Brasil. Catalogação-na-Publicação Câmara Brasileira do Livro, SP Tnpié, Victor -lucien, 1900 19_74. . _ I O barroco I Victor-Lucten Taplé ; traduçao de Ar"?ando Ribeiro Pinto. - São Paulo : Cultrix : Ed . da lJ \:vc:rsidade de São Paulo, 1983. (Mestres da modernidade) Bibllografin. 1. Arte barroca I Titulo. 7. CDD·7g9.033 18. -719.032 lndlces para catálogo sistemático : t Arte barroca 709.Q33 (17.) 709.Q32 (18 . ) ' 2. llarroco : Arte 709.033 (17.) 709.032 (18.) I . I \ 1 J . . . VICTOR-LUCIEN TAPI}j, (Membro do Instituto d b França e professor honorário da Sorbonnc) B RROCO Tradução de ARMANDO RIBEIRO PINTO t . 1 XXX)31559 EDITORA CULTRIX São aul~ I EDITORA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO . , I . . . . . .

Cap. TAPIE Victor O Barroco

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8/18/2019 Cap. TAPIE Victor O Barroco

http://slidepdf.com/reader/full/cap-tapie-victor-o-barroco 1/9

Tl76b

82-1023

l

J

CIP-Brasil. Catalogação-na-Publicação

Câmara

Brasileira do Livro,

SP

Tnpié, Victor-

lucien, 1900 19_74.

. _

I

O barroco

I Victor-Lucten Taplé ;

traduçao de

Ar"?ando

Ribeiro Pinto. -

São

Paulo : Cultrix : Ed .

da

lJ \:vc:rsidade de

São

Paulo, 1983.

(Mestres

da modernidade)

Bibllografin.

1. Arte

barroca

I Titulo.

7. CDD·7g9.033

18. -719.032

lndlces

para

catálogo sistemático :

t Arte

barroca

709.Q33 (17.) 709.Q32

(18

.) '

2. llarroco : Arte 709.033

(17.)

709.032 (18.)

I .

I

\

1 J

.. .

VICTOR-LUCIEN TAPI}j,

(Membro do Instituto dbFrança

e professor honorário

da Sorbonnc)

B RROCO

Tradução de

ARMANDO RIBEIRO PINTO

t

. 1 XXX)31559

EDITORA CULTRIX

São a u l ~

I

EDITORA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

. , I .

. . . .

.

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f

nelriSiliO italiano, já

acusam caracteres barrocos. No

séculÓ

xvn

essas forças serão captadas pelo barroco romano e

pelo cla

ssicismo

francês, impelidos sem dúvida

em

direções opostas pelo exemplo

de obras

maiores que

cada

corrente imporá como

modelos

J

Não se

deve cqncluir

daí que barroco e ciassicismo, pJ ssu indo

cada um sua autonomia constituíram dois mundos espirit

1

1ais he

terogêneos, recip r

ocamente

irredutíveis.

Seria reportar ao passad

o

uma antinomia

do

gosto que só existiu muito mais tarde e em de

corrência de

uma

longa

evolução

das

cricunstâncias

e

dos

espíritos.

O

conhecimento imparcial da época · revela, ao contrário t ontami

nações, intercâmbios, interferências

cujas condições

histórid s, devi

damente compreendidas fo rnecem a chave.

O

estudo

do

bkrroco e

do

classicismo

enseja

conhecer essas relações,

mas nossa I atençã

o

deve incidir somente sobre o barroco para inferir-lhe o caráter e a

evolução nos diversos pa(ses

europeus

e

naqueles

que de

endernm

diretamente

da

civilização européia .

26

\

\

\

.-

:

õ

c a

i

~

I

SOCIEDADES

DA

EURO

O HARR

\ )

MODERNA E

Co nvém resgatar, nas sociedades ropéias em

quo

o barroco

se desenv olveu a pa rtir do século XVI os valores que

se

revelaram,

co mp

r

ovadamente mais

favoráveis a sucesso.

O

primeiro

que se deve mencion 6 a

concepção

que

muito

s

homen

s tiveram então da religião e culto. A

crise

religiosa do

sécul o

X

q\Jes ionpu to

da

a

espiritual

da

Idade Média

.

A Reforma,

vi

sualizuda e1q seu conju

é

uma J;llptura com

es

sa

herança e, acima dos . séculos em que o ideal cristão pareceu.--eor

romper-

se ao contato dos interesses unu•u•auu; um

retomo . b-Ori ....

gens

do

cristianismo. Deus porém só

O

Cristo redentor po-

ré m o Cristo tal como

se retrata

testemunho

da Escritura

o

puro evangelho . A comunhão por

mas

não a missa. A fra

ternidade

do

s fiéis e

não

mais a h uia

da Igreja.

A

recordação

dos defunt os, porém não mais as aos mortos

e

que se atre

v

em

, o

bras imp

erfeitas

do homem

a fletir o

julgamento

do

Deus

e as secret

as

r

azõe

s

Je

sua eleição

1

de sua

justiça

. Por isso, a

in terc

essão da Virgem

e dos

santos

a reversibilidade

dos

méritos

se vêem rejeit

ad

os como indiscretos,

.

atentat

órios . à onipotência

do

Criad o

r.

Dis

so resulta

senão ção

da

arte

religiosa

·(Lu,.

te ro o de mon strou por

~ u a

. . çom

Ç ~ p s

çªntps;

Cal-

vin o, mes mo negando que seja I representar Deus reconhece

qu e as

ar

tes

de

_

intar_

e .

esculpir

.

..

dons_.de

. Deus), pelo

_menOS:.

llll\

;1 t ~ I H i

à t ~ f \ d a ~ ~ ~

ª-.gr.ª

. § ~ 1 )

amHlVÇ

.

..à.

do barro co. O iconoclasmo surge assi na viol8ncia das lutas, com

a obstinução de

suprimir

imagens a simples

visão

f

omentaria

o piniões noc ivas. À Reforma Contra-Reforma. Empre-

endendo, · da

Jgrejá

d ã ~ ü a f n i . l l -

27

•li

I

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I  

i

,

I

I

guém contestava a urgência, o Concflio de Trento especific6u nu

merosos dogmas ou diferiu a definição de outros - in dubiis libertas

P l l r ~ m .

ao invés de

umu

ruptura ele assinalava uma evoluçãb . Re

novar a vida cristã e a espiritualidade como a Reforma precdnizara,

mas desta

vez

no âmago e através de uma Igreja romana u r a d a ,

conj.ugaua resolutamente ao que 9 passado contivera de autêfltico e

ortodoxo . Vêem-se, assim; proclamados o culto da Eucaristia, inde

pendentemente da consumação das santas espécies pelos a in

tercess

ihl

dos santos e a obrigação de venerar suas imagens, ja posi

ção exce pcional da Virgem nesse culto dos Santos, a legitimidade

das devoções

à

sua glória, antecipando a promoção de novos o g m a s

Im

aculada Concepção, Assunção), a primazia do trono de Pedro

e a autoridade do Papa, ainda não declarado infalível.

A

ihtenção

de

rCCllnqui stnr aqueles que a Reforma afastara da fé rot

n'

ana, de

iluminar os que viviam na antiga e confusa rotina,

p r e s u n h a

a

propagação da liturgia e novos locais de culto. A arte relig,osa era

assim reanimada, promovida a

um

novo surto. Não

dúvida de

que o Concílio de Trento, onde nas últimas sessões principhlmente,

teólogos franceses imprimiram energicamente a sua marca,J foi um

Concílio dos Italianos e Espanhóis, filhos de dois países em que

as

artes ocupavam um lugar primordial, em que o iconoclasmb repug

nava às tradições . O Concílio, em reação contra o paganisr10, ape

na s um dos aspectos do Renascimento, não renegava, portanto, todo

o Renascimento , dele conservando as lições disponíveis

a r a

uma

nova arte religiosa. Além disso, foi ' a pomposidade do Renascimento

que reapareceu nu arte barroca. a preciso, porém,

p r e v e n i - s e

para

não identificar Contra-Reforma .e estilo barroco como dadod estáveis,

ligados necessariamente um ao outro,

que,

ao·

contrárioI se trata

de uma evolução.

Porque o Concflio não ministrou prescrições em matéria de arte.

Ele falou muito do que era preciso banir das igrejas: imagens lasci

vas, profanas ou que ameaçavam arredar os espfritos da

I

doutrina .

Nesse ponto, mais uma advertência negativa

do q l i e u m ~

doutrina

s i t i v ~

Colocados os princ{pios da liturgia e da

d i s c i p l i n

o meio

de aphcá-los dependia das circunstâncias e do gosto de jcada um.

Tanto

isto é verdade, que a arte religiosa da Itália nos anos próximos

ao Concílio

foi

uma arte severa, .cujos laços com o

barroto

triunfal

do século seguinte quase não se identificam

à

primeira vista . Na com

p.osição necessária das catygorias os ·historiadores falaram) a propó

sl o, de um estilo da Contra-Reforma, o que

é

dizer a i s ,

ou

de

barroco severo, o que talvez seja contradição nos tennos. A verdade,

no entanto, reside no fato de que os princípios arquitetô

1

icos e

as

8

\

~ o r m n s

do Renascimento e do maneirismo foram conservados, depois

lnlcrpretaclos n.um sentido cada vez mais  favorável ao movimento,

à

prOl:ura do efeilo pelo contraste e a suntuosidade, . e que se' formou

ass

im tim

novo estilo ao

q u ~ l

se aplica j

1

ustamente

··a

epiteto de bar

roco. Essa ev olução está ligada muito mt nos às intenções iniciais do

Concílio do que ao destino de sua mensagem.

I

Sem dúvida, cercando o sacrifício da missa de uma liturgia

so-

lene, afirmando ·que

urn

culto peculiar deveria ser rendido

à

hóstia

consagrando a legitimidade das cerimônias de homenagem como

proci

ss

ões, o Concílio planejava, para arte religiosa que deveria

d

es

envolver-se a partir dele, um caráter jde esplendor. Hoje Jiturgis

ta

s severos ou preocupados em atenuar que separa a Igreja romana

das igrejas refo

rm

adas, deixam transpareçer seu desgosto ante a mag

nitude atingida pelo gosto da suntuosidbde. Eles receiam, retrospec

ti

vamente, que os Salves do Santo Sn

1

cramento, com

as

luzes,

as

flores, n incenso, não tenham distraído qpiedade do que a teria mais

s u > ~ t ~ n c i a l m ~ n t alimentado: i n t e l ~ ê n c . i a mais profunda o sa

cnftclo eucanst1co, uma part1c1paçao m1

  s

attva ou menos passiva do

. povo cristão , do caráter comunitário da missa. Mas são juizos

de valor e não explicação. A época ainda era de luta. Convinha-lhe

afirmar, de forma ostensiva, as venlade

1

s dogmáticas do Concílio,

de

marcar assim a retomada das posições iauanclonadas . Não se acredi

tava que a religião intima das almas r.udesse ser menos intensa, se

e s ~ e ,

na sociedade inteira,

as

m a n i f e ~

a ç õ e s

grandiosas de

um.

culto

puhllco. Era portanto natural que apos uma reação contra

as

con

descendências sensuais do Renascimentb, o catolicismo reencontrasse

o gosto das decorações pomposas. Pi incipalmente na Espanha, na

I álin, onde ta

is

tendências já existiam, jou na Flandres católica, con

servada espanhola porque continuava católica.

A espiritualitlade da alegria , na acepção do Oratório e de São

Felipe Néri , também predispunha as almas a traduzirem em cantos

e gestos seu regozijo interior. /11

y J

  ís

·et

ca ticis

 

Em Romà, en

fim

, capital do mundo religioso, na romana, atenta à retomada

do destino dos povos por príncipes catÓlicos - um duque da Baviera,

um IIabsburgo em Praga, no centro de sociedades quase totalmente

conquistadas

à

Reforma,

um

HenriquJ IV que se convertia para rei

nar e restabelecer a paz civil na Françh - a consciência pas vitórias

alcançadas · acarretava a exigência de I ções de graça. "Onde estão,

pois, os outros

~ 1 o v e ?

dissera o Cristb ao constatar a ingratidão da

q u ~ l

q ~ 1 e _ hav1a curado. Agradecerl a Deus era um estrito dever.

A mgra ldao representava uma fom1

1

de blasfêmia, um pecado do

29

J

.I

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.

I

orgulho. Quer_ queiram ou

n ~ o

havia também humildade e s

il

hp lici

dade de ~ o r a ç a o nessa necesstdade de preito e magnificência . rlorém,

eSSl'· c o n J i l l l t ~ J de

opini.i)es e sentimentos

provoçava

uma ren d

vação

da arle reltgtOsa pela nqueza e a profusão. Não ' um estilo invêntado

para surpreender as imaginações, perturbar os · sentidos, submJrg

ir

a

razão,

captar

as adesões religiosas

por

um

aparato de

s e d u ç ã

mas

um

t i l o

sem dúvida triunfal, porque

se conciliava com

a

expe  ·

iênc

ia

do tempo e que, sob esta forma, representava uma expressão da ,prece.

neve ser aqui dissipado o precottceito que associou muito tempo

o barroco e a atividade

da

Companhia

de

Jesus, ao

ponto de se fazer

admitir a expressão de est ilo jesuíta. Este, para ser autêntico  pres

supnria que a Companhia tivesse

adotado

um

tipo uniforme de

ar

quitetura religiosa e

de de

coração, ou que a igreja do Gesu em

contemplHànea tio

Concílio,

tivesse serv

ido

de

modelo à

arte

posterior.

Duas asscn;õt s contraditadas pelos fatos. ·Vimos o caráter igreja

dn Gesu. l

A l ntos

ao

perfeito acordo

da arte r ~ l i g i o s a

_

com as pres

rições

th>

L'n

ndliu

,

llS

jesuítas

só pen savam em

fins práticos. S laS i

grejas

deviam ser iluminadas para que o fiel pudesse acompanhar bem o

nfído, lc r as

orações de

seu livro; a ac(lstica impostada

de

modo

que se nu,·isse o pregador e o canto ressoasse em sua pldnitude.

Um acesso fácil

à Mesa

Sagrada devia

garªntir

sern .

deso

Idem a

d i s t ~ i b u i ç ã n da

comunhão. Ainda algumas particularidades, como

a ausência

de

um

grande coro,

inútil já que não havia ofítio

blico, a pre sença de oratórios

onde

os padres, isolados

do

rbsto da

igreja, adorariam o Santo Sacramento num recolhimento mJis ínti

mo, e a

i ~ s o

se resumia

l mo o

11ostro a maneira

próptia

dos

jesuítas . U resto, isto é, o principal: planta do edifício,

e ~ t i l o

du

co

nstrução, submetidt1S

à preferência

dos

doadores,

ao dos

arquitetos e subordinad os às circunstâncias. Hq lve no te thpo do

generalato

do

P.

Mercurian

(

1580),

efêmera

veleidade dd

impor

às div ersas províncias da Companhia o mesmo tipo de edifídio, m as

u princípio

da liberdade

prevaleceu.

Da modesta

igreja de Af1chieta,

na

ba

ía do Rio de Janeiro, simples como uma igreja . paroquial tle

vila,

ao

hábil, · p

oré

m livre apelo

do Gesu,

a igreja

professa

de

Paris (

m ) ~

São Paulo-São Luis),

mais

_prima afastada do

qtie

filha

n t u a r t ~ romano : (f. Moisy); à pura e romana igreja

I

o no

v e lado pans1ense;

à

capela de

La

Fleche, onde se conserva a vo

luta de ogivas; à obra-p

1

fima barroca do noviciado romand, Sanlo

André

do Quirinal, de

Dernini, em San

Salvator de Pra

ga,

com

suas três naves e seus

p ú l ~ i t o s ;

à igreja

Am

Hof de Viena , dom sua

30

I

- . . d . á 1 I . ·

1 eemaçao manetrtsta e seu a tntr ve terraço

(a

. hsta seria ines-

gntávt:l

é u t ~ l a variedade

surpreendente 

de

tipos

s u a

diversidade

se cxp

lt

ca, acuna de tmlo, pelo desejo ser eficaz. Flexibilidade

e moderação da Compa

nhia

: o

importantb não

era fascinar pela uni

l'onnidade e c11clnsividade de um modelo, mas tornar uma igreja

agrndá

vel

aos usuá

ri

os,

respeitando

a

c o l h a

dos

doadores, adap

tando

-

se

aos hábi tos

da

região, às condições

do

espaço.

Dissolve-se assim o fantas ma do

t i l o

jesufta. Mas fica evi

de ncia do, em

eompensação,

que os jestlitas,

construindo

muito na

época en1 que triunfava o barroco, elegdram esse. estilo para alguns

1k se

us mais

t á v e i resultados

e muit1.

contribuíram para

seu su-

cesso e reputaçao.

I

preciso conceber como os val0res religiosos católicos se

pt o

pagaram

então amplamente

na sociedade

européia. A partir

das

prescrições conciliares, favorecida s aqui, combatidas ali pelos gover

llos

o ca tolic.:ismo

renovado progrediu r

reconquistou almas. Algu

tna s delas aseenderam até à santidade ou conheceram as graças ex

cepcionais do êxtase:

por

injunções da fraqueza

humana, um redu

zido

número.

Em compensação, sociedades inteiras se banham na atmosfera

·

da

religião c, principalmente, sua

e s t r u ~ u r a

mental

é

religiosa. Do

nascimento à morte, o clero int ervém

bm

odas as etapas de uma

: is

tência. Nenhn.m

estado

civil a ser o da lgreja.

D a t i s ~ o s ,

casa1nentos, falecunentos, tudo é regtstrado pelo cura. Em mmtos

países mantém-se o registro elas confissões e

comunhões

pascais, pres

cri tas pelo Concílio de Trento. Se o trabà tho é regulado somente pela

lu'l.

do

dia e,

no

ca

mpo,

pelo ciclo

elas

j estações,

também

o

é

pelas

fases do ano litÍtrgico . Os domingos são de folga e de numerosas

-fcstus

de

san tos.

Os

açougues siio {echddos durante a

quaresma.

Os

di vertimentos populares acompanham júbilos da Igreja. :S ela · que

e111 presta a alguns dias seu

ritmo

de feSta e a outros seu caráter

de

pcnitêm:in. Cclcbrn-se o Natal para lembrar ·o nascimento do Salva

dor,

a Páscoa para o dia

da Ressurreição

, as festas da

Virgem para

evocar suas graças insignes e anunciar vinda do Cristo. Cada pafs,

.

ci

dad

e venera um santo

protetor, cujo nome se reproduz

.

nas

Ianultas de uma geração a outra.

Existe

algo tle

mais

direto ainda, nrincipalmente

nas

sociedades

r u r i ~ i s ~

Apesar

do .P

·

ogresso

da ciência, qnal só

se

desfrutaria com

knttdao os bcncftctos, e que, além disso só interessam a uma mi

noria da populm;ão, a precariedade dás' técnicas deixa

os

homens

tragicamente desamparados em face da

1

s calamidades que os amea-

31

i

I

I

:I

l

' i

I

i

l

I

I

I

\

I

i

I

i

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çam. Trata-se da saúde? As epidemias que nada previne nem detém,

alastram-se com um ritmo de catástrofe e desencadeiam terrívf is es

tragos. Em tempos normais a medicina empírica, a ignorânçia da

ci rurgia deixam as doenças súbitas e fatais destruir existências em

pleno vigor da idade. Muitas mulheres sucumbem aos partds e a

mortalidade infantil permanece considerável,

nãÇJ

atingindo seqGer 25

anos a média de vida humana. I

Trata-se dos bens da terra? Numa época em que os rendtmentos

do

solo cultivado são irrisoriamente baixos, em que os costuthes vi

gentes arrebatam do produtor uma parte importante de sua c:olheita

e interditam-lhe

as

reservas necessárias, as intempéries, des'\strosas

mes111o hoje em dia, conduzem rapidamente à miséria uma população

subnli111entada

e cedo esgotada pelo trabalho. As privações degrneram

em fome e acarretam puru aqueles que atinge as mesmas ~ q i l ê n

da

s trágicas: morte quase inevitável dos mais fracos, das c fianças,

velhos, mulheres grávidas e queda da natalidade durante

B indubitável que essa insegurança geral predispunha aJ almas

a solidtar a intercessão das forças espirituais. Uma religiosid'ade di

fusa uma crença um pouco temerosa no maravilhoso explicab1, con

forme a maneira pela qual podia ser iluminada ou captada, recep

tividade mais dócil ao ensinamento das i g r e ~ a s ou o refúpio nf s mis

térios da feitiçaria. A Contra-Reforma, mulllphcando as tmagy

ns

, en

corajando o apelo à intercessão dos Santos, norteia para a doutrina

definida pela Igreja uma inquietação que derivaria facilme dte para

a magia. As exigências inerentes a nosso tempo levam muitas vezes

a desconhecer que esse ritual, se deixava numerosas almas ào nível

de práticas mescladas de superstições, fomentava

em

muitas outras

uma vida religiosa autêntica. As prescrições conciliares tinhpm sido

formais a esse respeito: recomendavam a invocação pessoal

i.los

san

tos e o

~ : u l t o

de suas relíquias e imagens, como uma coisa b9a e útil,

condenavam "aqueles que defendem que os Santos não rogam a Deus

pelos homens

ou

que é uma idolatria invocá-los, .a

fim

de qf e orem

para cada

11111

de

nós

em particular" (25.a sessão, dezembrj 1563).

"Cada um de nós em particular." Cento e vinte anos dfpois do

Condlio, esta mesma idéia é reafirmada por Bossuet na or·ação fú-

nl bre da rainha da França: Que eu menospreze esses filósf:fos que

avaliando os conselhos ~ t e Deus à medida dos seus pensamer tos, não

o fariam autor senão de i.tma certa ordem geral, onde o res o se de

senvolve como p o d e ~ .

. \

Como se a soberana inteligência

I

ão pu

desse compreender em s

1

eus desígnios as coisas individuais que, sós,

subsistem verdadeiramente. Não duvidemos disso, cristãos. Deus or-

1 I

32

I

denou também nas nações as famílias individuais de que elas são com

postas."

Di

.sposição que prepara e fomentâ, na arte religiosa, ·não ape

'nns o caráter trunscendenta.l das visões de paraíso e eternidade,

rnvilhns dos santos na glóna, mas os testemunhos concretos e stmples .

de uma proteção familiar, inesclada à àtividade de cada dia, que _

antecipadamente, empresta a algumas estáluas uma personalidade, tam

bém específica, encoraja os fiéis a d e p o ~ i t a r e m nelas um s ~ n t i m e f \ O

de predileção, a visitá-las em peregrinndões ou em instâncias isola-

das, ·como seres vivos e eficazes. /

No decurso dos debates do Concílio, os perigos da idolatria

eram salientados nessas práticas, mas nãb contrabalançavam a amea

ça mais grave de

um

culto abstrato que lpoderia levar

à

ind.iferença.

l'or isso, os padres espanhóis tinham felli.l reconhecer nas Imagens,

wr11o tais,

em

primeiro lugar pelo ~ u e _ l a s represe.ntavam . mas t ~ m ·

hém diretamente e em razão das bençaos de que tmham s1do objeto

e das graças de que e s t a v ~ ~ i n ~ e s t i d a ~ jum caráter venerável de ob

jeto consagrado que as dtstmgura da tmagem profana e

as

banhava

de espiritualidade. Quamlo no dia subsbqUente à guerra dos Trinta

Anos, o Imperador Fernando l l l orderlava reerguer no Império os

calv:írios e as imagens das encruzilhad ds, erigidos pela piedade dos

antigos cristãos e destruídos no decurso

I

e agitações, não fazia mais

do que aplicar o próprio espírito do €oncílio e reatar a tradição.

Mas se se considerar até que ponto as o m l i ç õ e s da vida favoreciam

esses recursos à intercessão e preparav

1

am um uso constante dessas

imagens, compreende-se o sucesso que poderia advir de tal medida

e como ela facilitava, muito mais do 1ue as prescrições poHticas e

talvez melhor do que os sermões, a propagação de uma religião

sensível e familiar.

Poder-se-ia perguntar em que es[as tendências sociológicas e

religiosas garautiam o sucesso de uma arte que fosse antes barroca

do

que outra coisa. Mas a resposta é fácil.

Em primeiro lugar, essa. religião as imagens era conforme ao

gosto da Europa e, naturalmente, os modelos espanhóis se expan

dirum nos países católicos para se a s ~ o c i a r

à

propaganda religiosa.

Como o caso da estatueta do Menino {esus identific11da até hoje sob

a denominação de Menino Jesus de Praga e que tem por modelo

autêntico uma pequena estátua de

ced

trazida da Espanha por Mm•

de Pernstejn e oferecida por sua filha Imperador Ferdinando, que

a colocou numa igreja de Praga.

Dehe

modo, à vezes

a

própria

33

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8/18/2019 Cap. TAPIE Victor O Barroco

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  :

i :

\ \

c

I

I

I

figura, porém mais freqUentemente ainda o santo cuja dev qçã o

se

expandia com sucesso, procediam

da

Espanha, como Santo lsidoro,

reconheddo como padroeiro dos trabalhadores e l a m e n t aceito

nos meios ntrnis de tod a a Europa.

Nos

países

da América

Latina,

cullo e expressão do culto caminharam juntos e difundiram t o novo

continente o feito da

Espanha. Encontram-se,

pdis, tanto

as

dl

evoções

espanholas co

mo

a forma de arte CJUe as

traduzia.

Mas onde o novo

impulso de espiritualidade dos

santos não adotava forçosamente

os

modelos ibéricos, o c

ulto se

dese nvolvia

num mundo

já hAbituado

com

a

arte

iluminista do gótico e cuja

s ~ n s i b i l i d a d e

s;at isf azia

menllS com uma bdl za ideal do que com tmagens famtltares e

to

c.:antes qu

e a

aproximavam da

doçura ou

da dor, dos

sofrir

tentos

e

da

misericórdia. E preciso, portanto, que a imagem e n t e r

t e ç a

on

acílllllê,

que

ensine,

porém inquietando

o

coração

e,

em

nenhuma

parte, a medida clássica nu a ha rmonia

platônica

parecen\ bastar,

ada ptadas ao objetivo visado.

Normalmente,

o

culto

do k

santos,

tal como era ~ o m p r e e m l i d o . na t r a R e f

~ r m a

e n c o n t r ~ v a se asso

cindu a um

cluua

de

maravilhoso

e

de

realismo, que a

liberdade

do

barl·

uco

podia melhor evocar e satisfazer.

-

·-

· I - En tre os valores civis que favoreceram a arte de .sun uosidade

h a

r o ~ a , .

deve-se

a ~ e n t a r

para

a .

in

stituição

m o n á r q t i ~

e luxo

que

os pnnt:lpc.;s at:retlttavam necessl ar

para

seu presllg1o.

Dt r

ise-á que

essa prent:

upação

existira

no temp

o do

Renascimento,

e

que propor

cionou

bons resultados

ao

espírito

do

classicismo .

~ t o

é yerdade e

assinala uma

li

gação a mais

entre

o

Renascimento

e o

barr0co, entre

o Renascimento o classicismo

do

século

XVII.

Entretantp, n itlé

ia

de cercar a majestade real tle um aparato de riqueza, assumia mais

co

nsistência

à

medida

em

que

grandes Estados se formarani na Fran-

. , I

· a , na Inglaterra, nu Espanha, e que com tsso se

quts

marcar a pre-

eminência da instituição e do personagem no qual ela se encarnav a

tclllpurnriunlente.

Ainda

uma vez mais é

à

Itália que

se

d,irige,

pro

curando segu ir o exemplo das Cortes italianas, que mantinham junto

delas os artistas e cujos

príncipes se divertiam

·em construi'.. palácio s,

em remodelar-lhes os arranjos int eriores. Surpreendente é lo caso de

Henrique

IV, habituado

às vicissi tud es

de uma

vida gueureira e de

per igos, d u r a n t ~

tanto

tempo pouco preocupado

de

ter o I

gibão

ras

gado

e as vestes sujas,

mas que,

uma vez estabelecido

no poder de

um rei

de

França, toma logo o gosto

de

construir .em Paris e em

Folttaineblea u, de o r g ~ n i z a r no L ~ u v r e a grande G a l e ~ . Í ~ à

i r a

dágua .

Ao humor pesso(\l do prfnctpe, que pode, se o ·qutser, ser um

amador esclarecido, apreciar as belas coisas e,

pela

facilitla

ue

de

as

34

\

I

• I.

adquirir, reuni-las em torno dele, se a ·rescenta uma condescendên

c.:ia geral

da opinião, em que entram,

aÓ mesmo tempo, o gosto

po

pula r do espetáculo e a

mais recente

to nvicção de que o poder é

realizado so mente se

se

manifesta nos

de

totlos pelo brilho

do

cenário

em

que se exert:e. Como não Ii ca r impressionado pela in

sis tência

de

Ri

che

lieu, depois

de J3o

s

suet

o defender,

um no 1 es-

tamellt politique, o outro na Politique /tirée des propres paro{es e

I Escriture Sainte, de

que o lu

xo

da

casa

real deve ser rebuscado,

pa

ra im

-lo

aos

estrangeiros'/

As

dbspesas

com

magnificência e

dignidade não são menos

necessárias 1Jara a

manutenção da

majes

t

ade

aos

olh

os dos povos estrangeiros " Há, portanto, intenção de

dcsl

u111br

a

r, vontade de parecer

faustos b,

por

razões

de oportunidade

política. Desenvolve-se assim, além do j Renascimento, p a r a l e l a m e n t ~

ao

e

sforço

dos juristas e

doutrinários ~ ~ r a

fornecer ao poder

do

ret

justificuçi'>es

de

o rdem intelectual, a resolução tle

comover as

sen

sib ilidades pela gra ndeza do esp et ácuth real. Bossuet falará de

não

sei que encanto emana

da pessoa

do príncipe. Se se acrescentar a

idéia geralmente aceita, tanto entre os católicos

como entre

os

pro

testuntes ( J aime I da Inglaterra),

de

9 poder do rei emana d -

. retamenle

de

Deu s,

de

que o rei

é.

b representante

da autoridade

divina e, nesse seniido, tligúó de hmi tenagens que não se tribtltam

a

Clltt

ros l OIJtens· se se

pensar

enfim

huma

espécie

de contaminação

cu lto da n t o J ~ a r q l i i : l pelos

r i t o s

( ) ~ religiãô n9s· países: católicos,.

ler-se-á o elen

co de

co

mponeilles

do maravilhoso.

que se d e s e n ~ o l v ~

em to

rno \<1

instituição.

Ainda ma

is: a mo

narquia será

ta

110

mais

grandiosa quanto

mais

misteriosa for.

Em

1648, parlamentar s parisienses, pressionados

por

fvlnzari11 para definirem claramente os respectivos direitos do Parla

mento

e

do

re i, ao invés de

aproveitar

:

em

a ocasião para

amesquinhar

um

pod

er do qual eles ·não

~ a n ~ a denunciar

ab.usos, protes

ta m,

como diante de um

sac rtl

ég

to,

declaram que sena

vtolar os selos

do segredo

tl

u majestade do Impértb. Tudo isso pode parecer es-

tranho

ao

b a r r o c o ~ mas na

rea\idacte jo

repete

. . .

- ·\ ·

Não

se

pouena, para compreend

r a

monarqma do

século

XVII,

negligencia r esse caráter sacra , nem deixar

de vislumbrar

uma dis

posição

em buscar em outras

instâncias o

que

possibilita fomentar a

emoção em torno dela. Donde as fbstas das

quais

a Idade Média,

sem dúvida, t

ra

nsmitira a

trad

ição, t

bas que recorrem

a

tudo

o

que

a arte contemporânea

oferece

de mÁis deslumbrante para a inaugu

ração de reinados,

para

os casamerltos, nascimentos, lutos na casa

real. Com

diferenças

que

resultam

I

das

disponibilidades financeiras

de cada Estado, no decorrer dos acontecimentos políticos mais ou

35

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I

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, I

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I .

i '

I

I

I

'

·i

i .

l

m ~ n o s propícios,

~ o n f o r m e

os pa{ses e as datas, essa pompa

1

monár

qtuca esteve

assOCI tda,

cedo ou ta'nle, em maior ou menor grau, em

os pulses europeus - Espanha, França, Império, n1esmo a

Ingl

aterra

-

a manifestações barrocas. E as outras classes sociais?

se viu como o modo de vida

dos  

camponeses

)S

pre

dispunha à forma de sensibilidade religiosa que a arte bar oca era

a mais apta a traduzir. Um estudo mais aprofundado obsta ia, sem

dúvida, considerar a classe camponesa como um to.do; propiciaria

re

conhecer nela os grupos que, mais específica ou conscien

1

temente,

contribuíram para ns realizações da .arte religiosa barroca

ho

cam

pe

sinato da Europa católica, mas têm-se como certas

as

afinidades

do mundo rural com uma arte de imaginação e de iluminu ta.

Mais complexos parecem os casos da aristocracia e da b trguesia.

Uma e outra classes, detentoras da fortuna, constituem  a clien

tela dos artistas e tem-se o direito de procurar o que, em sua ideo

logia específica, as impeliria a outorgar sua preferência a Úm estilo

mais do que a outro.

I

Na base da economia geral do tempo, observa-se em todos

os países a progressão

do

domínio fundiário, quer se trataske da re

constituição de parcelas de terras desmembradas, em herdades ar

rendadas por seus proprietários, nobres ou burgueses, ou de mais fJ

ampl os domínios, cujo senhorio se reserva a exploração, co fiando-a .

na prática a intendentes e fazendo garantir a maior parte dos tra

balhos, o titulo de vassalagem gratuita, pelos camponeses detentores ..

de dependências ou locatários de terras de aluguel. Seja

u a l

for a

origem das rendas, a aristocracia (ou a burguesia que se Iconfunde

com ela e tem acesso

à

nobreza, na França, através de cargos judi

ciais), está fortemente ligada à terra. Não ·há riqueza sem gran-

de propon;fio de domínios e de florestas, nem nobre podtroso que

ntí

u seja proprietário e orgulhoso de o ser.

Por

muitos dspec tos n

vida senhorial se aproxima da vida camponesa,

e n r o l a

- s ~

na mes-

ma moldura natural e, malgrado as diferenças de recursos) n.artiçipa

das _mesmas representações colet,ivas. No solar aristocráticb de pro

vfncta francesa, o nobre, caçador ou agricultor

é

antes

dd

udo um

r ~ t r í Como sua fortuna seja mais extensa sem d ú v i garan

tida

p { ~ r

alguma herança burguesa, comporta uma dessas 1esidências

senhonais, que as famílias consideran1 questão

de

honra, e que pas

sam _de uma geração outra, embelezadas e readaptada

à

moda

dta_ O orgulho de

t ~ a n s m i t i r

herança perm lnece, ,

r v é s

de

tres seculos, um dos traços mats marcantes da sensibilidade desse

I

i

6

.I

gr

u

po

social,

ma

s

é,

com freqiiência, frustrado pelas vicissitudes das

111ás gestões, dos infortímios dos

f i l h o

pródigos, dos

ri

scos impre

vis

íveil: \

. P

or

isso, a cont inuidade dessa ltrndição nõo é uma regra tão

gené

ri

ca como se tem dito; mas se se tem dito

ou

dese

jaJ

o fazer crer,

é

justamente porque correspondia ao ideal por excelência. "Temos

poucos bens, dizia orgulhosamente um Lefevre d'O rmesson, mas es-

tes

bens nos vêm de nossos pais." ' Há, desse modo,

110

senhor e

pmprie t;Írio fund iár io, ao mesmo te n

1

tpo, camponês e rei, pois ele

exe rce sobre se us vassalos uma proteção e uma autoridade adminis

trativa que relembra m as dos

p d n c i p e

sllbre seus súditos. E mu itos

valores da concepção monárquica cdmo a posse

ss

ão territ

or

ial , a

continuid ade hereditária, u c o m p o r t

m e n t o

paternal, encontram-se

na concepção senh

or

iaL

também

é um

mundo da imaginaç

ão

e

da se nsibi lidade.

I .

Nesse se ntid o, o mumlo da burguesia se apresentaria, em con-

1

aslt , li

gado a valores ma

is

positivos Todavia, quando os negócios

ou a manipulação do diuheiro assegu

1

raram a riqueza (deve-se con

side rar que as maiores fortun

as

são

as

  dos

fin

ancistas, principalmente

nos países em que a economia capitalista se desenvolve mais), o

pr

es

tígio da nobreza, ao mesmo

ten

lpo

od

iada e invejada, perma

ne

ce tão poderoso que a passagem phra o modo de vida da aristo

c

ra ci

a e a adoção de seus hábitos muito depressa, Mas

não é necessário deter-se nesses excepcionais

ou

rápidos da

minoria da burguesia. Um fato deve reter mais a atenção.

Ê

que na

Europa do sécu lo XVII, os países que concederam preferência de-

clarada à arquitetura e

à

decoraçã0 bar roca, com seu fausto ou

apenas seu gos to do excesso e da

l u m i n u r a ,

foram aqueles ·onde

dominava o ele•.nento rural e aristoeráti co e onde a burguesia pa

reci a mai s reduzid a

. É

difícil, nessas bondições, deixar de estabelecer

lltna provável relação de causalidadé entre a econom

ia

senhorial e

o barroco, a economia urbana e um k arte mais sóbria, que seria a

do c

ln

ssidsuto. A coisu

é

bnstunte

su

1

rpreendente no que diz respeito

à

Fronça.

·E

mb ora faltem ainda as

c a s

comprobatórias,· pode

se admitir que a sociedade burgues

1

a na França era proporcional

nt

ente mais numerosa

do

que na Eufopa central, na Espanha ou na

ltáliu; que pequenos patrimônios lhe ésseguravam a abastança na par-

I

~ t ~ i

do ritmo

e

vida, sem autor

iz

ar despesas supérflu

as.

É

in-

1 dub1avel que, para a clientela burguesa das cidades, a arqtútetura

, f

ram: es

a adotou freqUentem

en

te uma postura de

fri

eza e severidade

que se prefere dizer cl ássiça,

p e n ~ s

para reduzir

as

despesas ao

\ mínim o. Ela se sa

ti

sfez em obt er uth resultado sa tisfat ório pela re

g

ul

aridade re lativa

QU

pela harmonih das proporçÕes, sem excessos

37

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11 •

ç

I

Qua

n

do

essas tendên

cias

foram reveladas

nu m

a li teratura e em

fmmas

d e arte plás tica co m ca

ra

cterís ticas equilibr

adas

e a

cons

is

tência

int

erior do classicismo

ou em

mo num

entos

de

arqu

ite tu ra

na decoração dos edifícios religiosos,

no

folclore fl

orido

d ds en

can tos rebuscados o u ingênuos do

barroco

a

cont

radi

ção

entre

os

dois

es tilos su rpree nd eu os espíritos ao ponto de

fazer

d m i t i que

por sua natureza, cada

qual procedia

de

um

· gê nio p r o f m e n t e

diferente d n outro. Na verdade porém

as

coi sas não

aco

nt 9

ce ram

desse m

odo.

Ca da

um dos

fa to res

indicados ne sta

breve análise

sem

aca rreta r, necessa riamente o suce

sso

ex clu sivo

de

um estilo mu i1 país

predispunha-o, dis tint amente a

maior

favorecimento ou rd trição.

Principalmente as co ndi

ções

hist

ór

i

cas

-

ou

se ja,

ao mesmo

[empo

ew

nõmic as, políticas . r e l i ~ i o s s e

sóc

iai s - d e t e r m i n ~ l h e o

d ese nvo lvimento e emprestaram à civilização

da

Europa

m o ~ e r n

a

comuvente d iversidade qu e co n

tinua

a re

presentar

o testemu 1ho de

sua riqueza esp iritual e exige, nesse sentido d

aq

ueles que a e tuda m

o r

espe

ito a toda s as su as manifestações e uma s

imp

at ia

com

reensi

va, su scetível à qualidade de todas as suas mensagens.

·I

..

Segunda

Parle

S EXPERif:NCIAS BARROCAS