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Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos
Giovana Krempel Fonseca Merighe
Passagem celular, sexo e transcrição X-específica interferem no desenvolvimento embrionário e fetal de bovinos produzidos por transferência nuclear
Pirassununga
2007
Giovana Krempel Fonseca Merighe
Passagem celular, sexo e transcrição X-específica interferem no desenvolvimento embrionário e fetal de bovinos produzidos por transferência nuclear
Tese de Doutorado apresentada à Comissão de Pós Graduação da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP, como parte dos requisitos para a obtenção do Título de Doutor em Zootecnia, na área de concentração: Qualidade e Produtividade Animal.
Prof. Dr. Flávio Vieira Meirelles Orientador
Pirassununga
2007
ii
FICHA CATALOGRÁFICA preparada pela
Biblioteca da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo
Merighe, Giovana Krempel Fonseca M561p Passagem celular, sexo e transcrição X-específica interferem
no desenvolvimento embrionário e fetal de bovinos produzidos por transferência nuclear. / Giovana Krempel Fonseca Merighe - Pirassununga, 2007.
111 f. Tese (Doutorado) -- Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos - Universidade de São Paulo. Departamento de Ciências Básicas. Área de Concentração: Qualidade e Produtividade Animal. Orientador: Flávio Vieira Meirelles. Unitermos: 1. Transferência nuclear 2. Bovino 3. Passagem celular 4. Sexo 5. Cromossomo X 6. Expressão gênica. I. Título.
iii
AGRADEÇO A DEUS,
Criador Universal que por sua infinita
bondade permitiu esta vitória pela qual me doei.
iv
DEDICO
Ao meu marido MAURICIO MERIGHE,
Por ser a melhor pessoa do mundo; por me fazer abundantemente feliz estando ao meu lado;
pelos momentos que compartilhamos, sendo alegres ou tristes; pelos sonhos adiados,
pelo amor que dá o real sentido a vida.
v
DEDICO
Aos meus pais ANTONIO e DORA,
À minha irmã CRISTIANE
Fortaleza presente em toda minha vida... Na segurança de um lar bem estruturado,
moldaram meu caráter e minha personalidade. Todas as minhas realizações eu devo ao amor,
carinho e apoio que sempre me dedicaram.
vi
AGRADECIMENTO ESPECIAL
AO PROF. DR. FLÁVIO VIEIRA MEIRELLES
Agradeço a credibilidade em mim depositada; mais que
um orientador, despertou em mim o espírito do poder de realização e me fez acreditar em novos horizontes para meus conhecimentos.
Agradecimentos
vii
Prof. Dr. José Bento Sterman Ferraz, por quem tenho grande respeito e
admiração, conselheiro ímpar nas decisões importantes, não poupando esforços
para que o ideal se concretizasse.
Dra. Yeda F. Watanabe, motivadora fundamental, agradeço pelos
ensinamentos, pela confiança e amizade que foram alicerces deste trabalho.
Profa. Dra. Claudia Lima Verde Leal e Prof. Dr. Luis Felipe Prada e Silva pela
preciosa contribuição durante a qualificação.
Prof. Dr. Júlio César de C. Balieiro, pela orientação nas análises estatísticas, e
pelas palavras sábias e amigas.
Prof. Dr. Antonio Augusto Mendes Maia, incentivador constante dos meus
objetivos.
Profa. Dra. Elyara Maria Pereira da Silva, por me apresentar o caminho para
pesquisa.
Fernando Henrique Biase e Weruska Karina Freitas Santos Biase, pelo
compartilhamento de seus conhecimentos, sendo imprescindíveis para a
concretização deste trabalho. Agradeço a amizade sincera e incondicional.
Moyses dos Santos Miranda e Tiago Henrique Câmara de Bem, colaboradores
fundamentais para a realização deste trabalho.
Felipe Perecin e Simone Cristina Méo Niciura, pelas discussões e
compartilhamento das experiências adquiridas.
Amigos do ZAB, Aldo, Andréa, China, Elisangela, Márcia, Mirele, Nathália, Nilton,
Rafael, Ricardo, Sandra, Silvana e Rosângela, pelo apoio, incentivo e
companheirismo de sempre.
Soraya Brites Loureiro Raspantini, por quem tenho grande respeito e admiração,
agradeço a confiança, o apoio e a disposição incansável.
viii
Adriana Roberta, pela amizade e por tornar a convivência do dia-a-dia
extremamente agradável e bem-humorada.
Colegas do LMMD, que de uma maneira ou de outra me mostraram as
dificuldades das relações inter-pessoais e me ensinaram a enxergar o que
realmente tem valor.
Conceição e Layla, pela paciência e atenção dispensadas.
Colegas da Biblioteca, pela atenção e auxílios prestados.
Colegas da FZEA, pelo apoio e incentivo.
Nucleogen, pela preciosa parceria sem a qual este trabalho não seria realizado.
Comissão de Pós-Graduação da FZEA, colaboradores significativos na aquisição
de materiais utilizados.
FAPESP, financiadora de parte do projeto.
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São
Paulo, Campus de Pirassununga, em especial, ao Departamento de Ciências
Básicas por ser a casa onde recebo oportunidades inigualáveis de crescer
profissionalmente.
ix
Sumário
Lista de Figuras ...........................................................................................................................xii
Lista de Tabelas........................................................................................................................xvii
Introdução Geral ....................................................................................................................xviii
CAPÍTULO 1
Efeito do número da passagem e do sexo de fibroblastos no desenvolvimento de
embriões bovinos produzidos por transferência nuclear..................................................01
Resumo.......................................................................................................................................02
Abstract ......................................................................................................................................04
1. Introdução.............................................................................................................................05
2. Revisão de Literatura ...........................................................................................................06
3.Objetivos .................................................................................................................................12
3.1 Objetivo Geral................................................................................................................12
3.2 Objetivos Específicos ....................................................................................................12
4. Hipóteses................................................................................................................................13
5. Material e Métodos..............................................................................................................14
5.1 Produção dos embriões ...............................................................................................14
5.1.1 Maturação in vitro...............................................................................................14
5.1.2 Transferência nuclear .........................................................................................14
5.1.3 Eletrofusão e Ativação Química ......................................................................15
5.1.4 Células doadoras ................................................................................................15
5.2 Sincronização do cio e transferência dos embriões...............................................17
5.3 Análise Estatística...........................................................................................................18
6. Resultados..............................................................................................................................19
6.1 Efeito do número da passagem dos fibroblastos....................................................19
6.2 Efeito do sexo dos fibroblastos ....................................................................................23
7. Discussão................................................................................................................................27
7.1 Efeito do número da passagem dos fibroblastos....................................................27
7.2 Efeito do sexo dos fibroblastos ....................................................................................29
8. Conclusões ............................................................................................................................34
9. Perspectivas...........................................................................................................................34
10. Referências Bibliográficas.................................................................................................35
x
CAPÍTULO 2
Efeito da reprogramação nuclear na expressão de genes relacionados ao
cromossomo X em embriões bovinos produzidos in vitro ................................................46
Resumo.......................................................................................................................................47
Abstract ......................................................................................................................................49
1. Introdução..........................................................................................................................50
2. Revisão de Literatura ........................................................................................................52
2.1 Transcrito Específico da Inativação (XIST)...........................................................55
2.2 Glicose-6-Fosfato Desidrogenase (G6PD) e Hipoxantina
Fosforribosiltransferase (HPRT) ................................................................................58
2.3 Interferon-tau (IFN-τ)................................................................................................62
3. Objetivos .............................................................................................................................67
3.1 Objetivo Geral .............................................................................................................67
3.2 Objetivos Específicos ..................................................................................................67
4. Hipótese ..............................................................................................................................68
5. Material e Métodos...........................................................................................................69
5.1 Produção dos embriões por fecundação in vitro .............................................69
5.1.1 Maturação in vitro..........................................................................................69
5.1.2 Fecundação in vitro.......................................................................................69
5.1.3 Cultivo in vitro..................................................................................................70
5.2 Produção dos embriões por transferência nuclear ..........................................71
5.2.1 Maturação in vitro..........................................................................................71
5.2.2 Transferência nuclear ....................................................................................71
5.2.3 Eletrofusão e ativação química ..................................................................72
5.2.4 Células doadoras ...........................................................................................72
5.3 Armazenamento e sexagem dos embriões .......................................................74
5.3.1 Armazenamento dos embriões ...................................................................74
5.3.2 Sexagem dos embriões produzidos por fecundação in vitro ................74
5.4 Análise da expressão gênica ................................................................................75
5.4.1 Amplificação do RNA....................................................................................75
5.4.2 Transcrição reversa ........................................................................................77
5.4.3 Amplificação do cDNA dos genes de interesse ......................................77
5.5 Análise estatística........................................................................................................79
6. Resultados...........................................................................................................................82
xi
6.1 Sexagem dos embriões produzidos por fecundação in vitro ...................82
6.2 Amplificação do cDNA dos genes de interesse .........................................83
7. Discussão.............................................................................................................................87
8. Modelos Hipotéticos .........................................................................................................94
9. Conclusões .........................................................................................................................96
10. Perspectivas .......................................................................................................................96
11. Referências Bibliográficas................................................................................................97
xii
Lista de Figuras
Figura 1. Ilustração das diferentes etapas do processo de transferência nuclear. (a)
Oócito no estádio de metáfase II antes da enucleação. (b) Aspiração do
corpúsculo polar e citoplasma adjacente. (c) Oócito enucleado. (d) Controle
fluorescente da presença dos cromossomos em metáfase dentro da pipeta de
micromanipulação após coloração do DNA. (e) Cultivo de fibroblastos bovinos a
partir de biópsia da prega da cauda. (f) Células doadoras isoladas da cultura de
fibroblastos. (g) Inserção da célula doadora no espaço perivitelino do oócito
enucleado. (h) Fusão da célula doadora com o citoplasma receptor. (i) Primeira
clivagem do embrião reconstituído. (j) Blastocisto produzido por transferência
nuclear desenvolvido in vitro. (k) Bezerros produzidos por transferência nuclear
(modificado de HEYMAN, 2005) ............................................................................................16
Figura 2. Esquema resumido do cronograma de sincronização do cio dos animais
utilizados como receptoras dos embriões produzidos por transferência nuclear .......18
Figura 3. Taxas clivagem, 8 células e formação de blastocisto de embriões
submetidos à transferência nuclear com células somáticas em diferentes passagens.
Estas porcentagens foram calculadas sobre zigotos efetivamente reconstituídos
(fundidos; iniciais = 3ª a 5ª passagens; intermediárias = 6ª a 8ª passagens e tardias =
9ª a 12ª passagens) ..................................................................................................................20
Figura 4. Taxas de prenhez aos 30 dias, gestação a termo e sobrevivência pós
nascimento de embriões submetidos a transferência nuclear com células somáticas
em diferentes passagens (iniciais = 3ª a 5ª passagens; intermediárias = 6ª a 8ª
passagens e tardias = 9ª a 12ª passagens)..........................................................................21
Figura 5. Evolução da gestação de receptoras após a transferência de embriões
bovinos produzidos a partir de transferência nuclear de células somáticas
submetidas a diferentes períodos de cultivo in vitro. A seta indica o intervalo de
maior perda gestacional ........................................................................................................22
xiii
Figura 6. Taxas de clivagem, 8 células e formação de blastocisto de embriões
submetidos à transferência nuclear a partir de células doadoras de núcleos
femininas e masculinas............................................................................................................24
Figura 7. Taxas de prenhez, gestação a termo e sobrevivência após o nascimento
de embriões submetidos à transferência nuclear a partir de células doadoras de
núcleos femininas e masculinas.............................................................................................25
Figura 8. Evolução da gestação de receptoras após a transferência de embriões
bovinos machos e fêmeas produzidos a partir de transferência nuclear de células
somáticas ...................................................................................................................................26
Figura 9. Principais pontos de perda gestacional influenciados pelo sexo de
embriões bovinos machos e fêmeas submetidos à transferência nuclear. A perda
gestacional no período entre 30 e 90 dias foi considerada independente do sexo. As
setas indicam o valor de p para as taxas de aborto de fêmeas em comparação
com machos. O período de 90 a 150 dias foi considerado um ponto crítico para a
perda gestacional em fêmeas por apresentar p < 0,01 ...................................................32
Figura 10. Organogênese do desenvolvimento embrionário e fetal pós-implantação,
evidenciando os períodos críticos durante a gestação...................................................33
Figura 11. Escolha do Xa (cromossomo X ativo) pelo fator de bloqueio. (A) Fator de
bloqueio (BF), codificado autossomicamente, é produzido em quantidades
suficientes para escolher um Xa. (B) Durante o processo de escolha do Xa, ambos os
cromossomos X competem pelo fator de bloqueio na região cis-atuante
descriminada como elemento de contagem (EC). A interação do fator de bloqueio
com o elemento de contagem define a escolha do Xa. Neste momento, moléculas
de RNA estão sendo produzidas, porém estão restritas ao local de transcrição. (C)
No próximo passo, a atividade do RNA é reprimida no Xa eleito mediante sua
modificação pelo fator de bloqueio, e a expressão de XIST é, então, cessada. O
RNA do Xi (X inativo) reveste o cromossomo, levando à inativação de seus genes
(modificado de PLATH et al., 2002) .......................................................................................56
xiv
Figura 12. Participação da G6PD no ciclo das pentoses. GSH = Glutationa reduzida
(atividade anti-oxidante); GSSH = Glutationa oxidada; H2O2 = peróxido de
hidrogênio; NADP+ = nicotinamida adenina difosfato; NADPH = nicotinamida
adenina difosfato reduzida (modificado de VOGEL e MOTULSKY, 1997)......................58
Figura 13. Participação da HPRT da via de recuperação das purinas. A enzima
produzida por este gene converte bases purinas livres nas células aos seus 5’-
mononucleotídeos correspondentes (modificado de VOGEL e MOTULSKY, 1997)....61
Figura 14. Representação esquemática do cromossomo X e a localização dos
genes estudados XIST, G6PD e HPRT .....................................................................................62
Figura 15. Ilustração das diferentes etapas do processo de produção de embriões a
partir de fecundação in vitro. (a) Aspiração dos folículos ovarianos. (b) Fluído
folicular contendo oócitos. (c) Oócito selecionado no estádio imaturo. (d) Oócito no
estádio de metáfase II antes da fecundação. (e) Confirmação fluorescente da
presença dos cromossomos em metáfase II e da extrusão do 1º corpúsculo polar. (f)
Preparação do gradiente de percoll. (g) Seleção dos espermatozóides viáveis por
centrifugação do gradiente de Percoll. (h) Blastocistos produzidos por fecundação
in vitro. (i) Armazenamento individual de blastocistos eclodidos no 9º dia de cultivo
in vitro para posterior análise de expressão gênica ..........................................................70
Figura 16. Ilustração das diferentes etapas do processo de transferência nuclear. (a)
Oócito no estádio de metáfase II antes da enucleação. (b) Aspiração do
corpúsculo polar e citoplasma adjacente. (c) Oócito enucleado. (d) Controle
fluorescente da presença dos cromossomos em metáfase dentro da pipeta de
micromanipulação após coloração do DNA. (e) Cultivo de fibroblastos bovinos a
partir de biópsia da prega da cauda. (f) Células doadoras isoladas da cultura de
fibroblastos. (g) Inserção da célula doadora no espaço perivitelino do oócito
enucleado. (h) Fusão da célula doadora com o citoplasma receptor. (i) Primeira
clivagem do embrião reconstituído. (j) Blastocisto produzido por transferência
nuclear desenvolvido in vitro. (k) Armazenamento individual de blastocistos
eclodidos no 9º dia de cultivo in vitro para posterior análise de expressão gênica
(modificado de HEYMAN, 2005) ............................................................................................73
xv
Figura 17. Esquema do protocolo utilizado para amplificação do RNA obtido a partir
de um único embrião no estádio de blastocisto eclodido no nono dia de cultivo....76
Figura 18. Protocolo utilizado no sistema de PCR em tempo real para amplificação
do cDNA obtido a partir do RNA amplificado de um único embrião no estádio de
blastocisto eclodido no nono dia de cultivo ......................................................................78
Figura 19. Curva de regressão linear utilizando o programa LinRegPCR. Os limites
superior e inferior da janela de linearidade foram utilizados para os cálculos da
eficiência da reação de PCR e índice de correlação da curva ...................................80
Figura 20. Curva de amplificação obtida a partir de uma reação em cadeia da
polimerase apresentada em tempo real. O limiar de fluorescência corresponde ao
ponto médio da janela de linearidade (região de amplificação exponencial), onde
a eficiência da PCR é maior. O ciclo em que cada curva de amplificação atravessa
o limiar de fluorescência serve como base para comparação entre as amostras ....81
Figura 21. Eletroforese dos fragmentos de DNA amplificados por PCR a partir de
oligonucleotídeos iniciadores específicos para identificarem machos e fêmeas da
espécie bovina. (♀) Fragmento de DNA de fêmea amplificado apenas pelo
oligonucleotídeo específico para bovinos (♂) Fragmentos de DNA de machos
amplificados tanto pelo oligonucleotídeo específico de bovinos quanto específico
para machos.............................................................................................................................82
Figura 22. Eletroforese dos fragmentos de cDNA amplificados por PCR em tempo
real a partir de oligonucleotídeos iniciadores específicos dos genes XIST, IFN-τ, G6PD
e HPRT em bovinos ...................................................................................................................83
Figura 23. Expressão relativa do transcrito do gene XIST em blastocistos bovinos
produzidos por transferência nuclear e por fecundação in vitro. Letras distintas
indicam diferença significativa entre os grupos (p < 0,05)...............................................84
xvi
Figura 24. Expressão relativa do transcrito do gene G6PD em blastocistos bovinos
produzidos por transferência nuclear e por fecundação in vitro. Letras distintas
indicam diferença significativa entre os grupos (p < 0,05)...............................................85
Figura 25. Expressão relativa do transcrito do gene HPRT em blastocistos bovinos
produzidos por transferência nuclear e por fecundação in vitro. Letras distintas
indicam diferença significativa entre os grupos (p < 0,05)...............................................86
Figura 26. Expressão relativa do transcrito do gene IFN-τ em blastocistos bovinos
produzidos por transferência nuclear e por fecundação in vitro. Letras distintas
indicam diferença significativa entre os grupos (p < 0,05)...............................................86
Figura 27. Modelo hipotético proposto da velocidade da progressão do evento de
inativação do cromossomo X em embriões fêmeas produzidos por transferência
nuclear (TN) e por fecundação in vitro (FIV).......................................................................94
Figura 28. Modelo hipotético da expressão de G6PD durante o desenvolvimento
embrionário frente à disponibilidade de glicose no meio de cultivo ............................95
xvii
Lista de Tabelas
Tabela 1. Número de oócitos manipulados e de embriões produzidos por
transferência nuclear de células somáticas (TNCS) em relação ao tempo de cultivo
da célula doadora de núcleo ...............................................................................................19
Tabela 2. Número de embriões transferidos e dados das gestações obtidas a partir
de embriões produzidos por transferência nuclear de células somáticas (TNCS) em
relação ao tempo de cultivo da célula doadora de núcleo .........................................21
Tabela 3. Número de oócitos manipulados e de embriões produzidos por
transferência nuclear de células somáticas (TNCS) em relação ao sexo da célula
doadora de núcleo .................................................................................................................23
Tabela 4. Número de embriões transferidos e dados das gestações obtidas a partir
de embriões produzidos por transferência nuclear de células somáticas (TNCS) em
relação ao sexo da célula doadora de núcleo.................................................................25
Tabela 5. Seqüências dos oligonucleotídeos iniciadores para o estudo do sexo de
embriões bovinos......................................................................................................................75
Tabela 6. Seqüências dos oligonucleotídeos iniciadores e tamanho dos fragmentos
dos genes escolhidos para estudo da expressão em embriões bovinos (GAPDH, XIST,
IFN-τ, G6PD e HPRT) ..................................................................................................................79
Tabela 7. Número de oócitos manipulados e de embriões produzidos por
fecundação in vitro utilizando protocolo padrão do laboratório (M = embriões
machos e F = embriões fêmeas) ...........................................................................................83
xviii
Introdução Geral
A clonagem animal por transferência nuclear de células somáticas (TNCS) está
sendo aplicada em várias espécies de mamíferos. A partir da Dolly, um clone de
ovelha (CAMPBELL et al., 1996b), várias outras espécies têm sido clonadas, por
exemplo, camundongos (WAKAYAMA et al., 1998), bovinos (KATO et al., 1998; WELLS et
al., 1999), caprinos (BAGUISI et al., 1999), suínos (ONISHI et al., 2000; POLEJAEVA et al.,
2000), coelhos (CHESNE et al., 2002), gatos (SHIN et al., 2002), mulas (WOODS et al.,
2003), cavalos (GALLI et al., 2003; VANDERWALL et al., 2004; HINRICHS et al., 2005) e
mais recentemente, um cachorro (LEE et al., 2005).
Contudo, existem dois fatores diretamente relacionados às falhas da
biotecnologia da clonagem que limitam sua aplicação na área comercial. O primeiro
deles é a baixa eficiência, na qual, em bovinos, aproximadamente 6% dos embriões
sobrevivem a termo (WELLS et al., 1999). O segundo, é denominado síndrome da
clonagem, caracterizado por uma série de anormalidades que resultam em morte
embrionária no início do desenvolvimento, altas taxas de aborto, gestação
prolongada, síndrome do bezerro grande, malformações placentárias e fetais e
complicações do sistema imunológico (SMITH et al., 2000; WELLS et al., 2004).
Fatores que podem estar envolvidos com as falhas da TNCS, como a
manipulação in vitro de embriões reconstruídos, implicam em conseqüências adversas
que podem ser imediatas ou em longo prazo (SMITH e MURPHY, 2004). Alterações
epigenéticas e maturidade do citoplasma receptor (SMITH e MURPHY, 2004), tanto
quanto, alterações na cromatina derivadas da célula doadora afetam a
competência do desenvolvimento embrionário e acarretam em anormalidades
cromossômicas (YOUNG e FAIRBURN, 2000; KANG et al., 2001; BUREAU et al., 2003).
Evidências destas alterações em decorrência da TNCS são manifestadas pela
inapropriada expressão de genes durante o desenvolvimento embrionário
(HUMPHERYS et al., 2001; RIDEOUT et al., 2001; WRENZYCKI et al., 2001) e modificações
na cromatina (SANTOS et al., 2003), como a inativação do cromossomo X (XUE et al.,
2002) e metilação do DNA (KANG et al., 2001; BOURC’HIS et al, 2001; DEAN et al., 2001).
Somadas às observações mencionadas anteriormente, foi observado aumento de
células cromossomicamente anormais em clones nascidos vivos (HANADA et al., 2005).
Embora células doadoras possam ser obtidas diretamente de um animal adulto,
estas normalmente são cultivadas e propagadas in vitro antes da transferência, para
xix
facilitar a manipulação e estocagem. Fibroblastos são geralmente utilizados por
apresentarem divisões estáveis e linhagens homogêneas, além de poderem ser
congelados e descongelados sem grandes perdas de viabilidade. (SMITH et al., 2000).
Além da memória epigenética do núcleo doador, outros fatores como a fase
do ciclo celular, o número da passagem e o sexo das células doadoras de núcleo,
influenciam a viabilidade dos embriões reconstruídos. Estas variações têm sido
estudadas em relação à eficiência da clonagem, porém ainda permanecem não
esclarecidas (ORTEGON et al., 2007).
A reprogramação do núcleo somático também pode afetar o cromossomo X,
resultando, por exemplo, em uma reativação do cromossomo X inativo do núcleo
doador através de alterações do padrão de metilação. Em conseqüência, genes que
estavam silenciados na célula somática retornam à sua atividade durante o
desenvolvimento embrionário, podendo ou não ser novamente inativados (XUE et al.,
2002).
O entendimento dos mecanismos celulares e moleculares que envolvem estas
alterações pode levar ao aprimoramento do desenvolvimento embrionário e ao
aumento das taxas de nascimento. Este trabalho teve como objetivo estudar a
influência do tempo de cultivo in vitro e do sexo das células doadoras de núcleo no
desenvolvimento embrionário de indivíduos produzidos por transferência nuclear,
como também comparar a expressão de alguns genes reconhecidamente silenciados
durante a inativação do cromossomo X em fêmeas, no início do desenvolvimento de
embriões machos e fêmeas produzidos por fecundação in vitro e transferência
nuclear.
1
CAPÍTULO 1
Efeito do número da passagem e do sexo
de fibroblastos no desenvolvimento de
bovinos produzidos por transferência
nuclear
2
Resumo
MERIGHE, G.K.F. Efeito do número da passagem e do sexo de fibroblastos no
desenvolvimento de bovinos produzidos por transferência nuclear. Tese de Doutorado –
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Universidade de São Paulo,
Pirassununga, 2007.
Células cultivadas por longos períodos acumulam alterações genéticas e
epigenéticas que resultam frequentemente em uma inapropriada reprogramação nuclear
de embriões submetidos à transferência nuclear a partir de células somáticas (TNCS). Além
disso, a variável sexo é um fator limitante na produção de blastocistos e na competência de
desenvolvimento pós-implantação de embriões produzidos in vitro. Desta maneira, o
objetivo deste trabalho foi estudar o efeito do número da passagem nos experimentos de
transferência nuclear, bem como, avaliar o efeito do sexo no desenvolvimento in vitro e no
potencial pós-implantação destes embriões. Para tanto, oócitos derivados de matadouro
foram enucleados e reconstruídos com células somáticas de animal adulto a partir de 18
horas pós-maturação. Após a fusão (dois pulsos de 2,25 kv/cm durante 65 µseg) e ativação
química (ionomicina - 5,0 µM durante 5 minutos e 6-DMAP - 2,0 mM durante 3 horas), os
zigotos reconstituídos com núcleo de célula somática foram cultivados em CR2 com
monocamada de células da granulosa a 38,8ºC, em atmosfera umidificada e 5% de CO2 em
ar durante 7 dias. Os resultados foram analisados utilizando o teste Qui-quadrado (χ2). No
cultivo in vitro, embriões reconstruídos com células em passagens tardias apresentaram
menores taxas de clivagem, 8 células e desenvolvimento a blastocisto (p < 0,05). Embriões
reconstruídos com células em passagens iniciais apresentaram maior competência em
formar um blastocisto (16% versus 14% - intermediárias e 7% - tardias; p < 0,05). Apesar dos
embriões reconstruídos com células em passagens tardias apresentarem resultados
semelhantes de prenhez aos 30 dias (35% versus 27% - iniciais e 26% - intermediárias), não
foram competentes para o desenvolvimento de uma gestação a termo (0% versus 34% -
iniciais e 25% - intermediárias). Além de não apresentarem diferenças nas taxas de
desenvolvimento a termo, neonatos produzidos com células em passagens iniciais e
intermediárias apresentaram taxas equivalentes de sobrevivência (50% vs 57%,
respectivamente). Em relação ao sexo, embora maior taxa de clivagem tenha sido
observada para fêmeas (78% vs 74%; p < 0,05), embriões machos foram mais competentes
no desenvolvimento a blastocisto (16% vs 14,5%; p < 0,05). As taxas de prenhez,
desenvolvimento a termo e sobrevivência foram semelhantes entre os gêneros. Entretanto,
fêmeas apresentaram maior taxa de aborto entre 90 e 120 dias de gestação (p < 0,05). Em
conclusão, estes resultados indicam que células doadoras de núcleos cultivados por um
3
longo período dificultam a produção de blastocistos e aumentam as chances de perdas
durante a gestação. Também foi possível concluir que embriões clonados do gênero
masculino apresentam maior competência para desenvolver a blastocisto e suportar uma
gestação a temo.
Palavras-chaves: transferência nuclear, fibroblastos, passagem celular, sexo, bovino.
4
Abstract
MERIGHE, G.K.F. Effect of fibroblasts passage number and sex on bovine development after
nucleus transfer. Tese de Doutorado – Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos,
Universidade de São Paulo, Pirassununga, 2007.
Cells cultured for long-term periods accumulate genetic and epigenetic
modifications that result in improper nuclear reprogramming of somatic cell nuclear transfer
(SCNT) embryos. Furthermore, the sex may be a limiting factor in blastocysts production and
in post-implantation developmental competence. Therefore, the objective of this study was
to determine the effect of the passage number for SCNT, and to evaluate the effect of sex
on in vitro development and on post-implantational competence of these embryos. Oocytes
obtained from slaughtered cows were enucleated and reconstructed by TNCS from an adult
animal at 18 hours of in vitro maturation. After fusion (two 2.25 kv/cm DC pulses for 65 µsec)
and chemical activation (5.0 µM ionomycin for 5 min followed by 2.0 mM 6-DMAP for 3 hours),
the reconstructed zygotes were cultured in CR2 on a granulosa cell monolayer at 38.8ºC in a
humidified atmosphere of 5% CO2 in air for 7 days. Data were analyzed using Chi Square
analysis. Reconstructed embryos with cells on late passages showed lower rates for
cleavage, 8 cells embryos and blastocyst formation (p < 0.05). Reconstructed embryos with
cells on early passages showed higher competence to blastocyst formation (16% versus 14% -
intermediate and 7% - late; p < 0.05). Although reconstructed embryos with cells on late
passages showed similar results for pregnancy on day 30 (35% versus 27% - early and 26% -
intermediate), they were not competent to develop to term. Calving rates and perinatal
survival (PNS) were similar when comparing early and intermediate passages (34% vs 25% and
50% vs 57%, respectively). Regarding sex, although cleavage rates were higher for female
embryos (78% vs 74%; p < 0.05), male embryos were more competent for blastocyst formation
(16% vs 14.5%; p < 0.05). The pregnancy rate, development to term and PNS were similar
between gender, however, female embryos showed higher rates of abortion between day
90 and 120. In conclusion, these results indicate that long-term culture of donor cells
decrease blastocyst formation and increase the chances of failure during pregnancy.
Futhermore, cloned male embryos were more competent to form a blastocyst and had lower
rates of abortion.
Key-words: nuclear transfer, fibroblast, cell passage, sex, bovine.
5
1) Introdução
Existe interesse científico e comercial em embriões produzidos por
transferência nuclear de células somáticas (TNCS), visando, principalmente, a
preservação de espécies em extinção e a produção de indivíduos transgênicos
com aplicação na agropecuária e ciências biomédicas. A realização destas
aplicações envolve o desenvolvimento de um embrião produzido por técnicas de
manipulação celular que capacitam o potencial totipotente e a expressão do
núcleo reprogramado.
O sucesso na produção de indivíduos derivados de transferência nuclear
depende de alguns fatores. Entre outros, o número da passagem durante o cultivo
da célula doadora de núcleo tornou-se um fator limitante na transferência nuclear,
pois células cultivadas por um longo período entram em senescência celular e
apresentam mutações que se acumulam durante as várias passagens celulares,
prejudicando o desenvolvimento dos embriões.
Além disso, o sexo dos embriões produzidos por sistemas de cultivo in vitro
influencia a competência de desenvolvimento pré-implantação além de ser fator
limitante na gestação a termo. Pesquisadores observaram que o desenvolvimento
de embriões fêmeas frequentemente é afetado por sistemas de cultivo in vitro,
desequilibrando a proporção em relação ao sexo, o que justifica o maior número
de bezerros machos nascidos de embriões produzidos in vitro.
A maior compreensão dos fatores que condicionam este desvio entre os
sexos no nascimento, deve colaborar no esclarecimento das variáveis que
influenciam o desenvolvimento pré e pós-implantação de embriões machos e
fêmeas.
Desta maneira, esta etapa do trabalho objetivou determinar a competência
das células doadoras de núcleo após cultivo por período curto (3ª a 5ª passagens),
intermediário (6ª a 8ª passagens) e prolongado (9ª a 12ª passagens), bem como
avaliar o efeito do sexo no desenvolvimento in vitro e no potencial pós-implantação
de embriões submetidos à transferência nuclear.
6
2) Revisão de Literatura
A partir dos primeiros relatos de nascimentos de bovinos produzidos por
transferência nuclear de um núcleo embrionário para um oócito enucleado
(PRATHER et al., 1987), vários estudos tem sido realizados para aprimorar a eficiência
da clonagem nesta espécie. Esta metodologia, não somente, permite avaliar o
potencial de desenvolvimento de um núcleo, mas também possibilita analisar as
interações entre o núcleo doador e o citoplasma receptor (KATO et al., 1998).
Esta biotecnologia levou ao crescente investimento de diversos grupos e
empresas de pesquisa. Estima-se que, até o ano de 2004, cerca de 1.500 bezerros
foram obtidos a partir de transferência nuclear somática no mundo, principalmente
na América do Norte, Japão, Nova Zelândia e Europa, como também em países da
América do Sul e Ásia (HEYMAN, 2005).
Este número, porém, parece insignificante comparado ao impacto de outras
biotecnologias reprodutivas. Por exemplo, aproximadamente 500.000 transferências
de embriões são realizadas a cada ano em bovinos a partir de embriões produzidos
in vivo e in vitro (HEYMAN, 2005). Tal fato deve-se à baixa eficiência, pois esta
metodologia ainda permanece em fase de aprimoramento, para futuramente ser
uma ferramenta intensamente integrada à biotecnologia reprodutiva (HEYMAN,
2005).
A clonagem somática pode também contribuir em vários aspectos como a
conservação da biodiversidade. Por exemplo, na Nova Zelândia a transferência
nuclear foi utilizada para clonar a única fêmea da raça bovina extinta “Enderby
Island”, obtendo-se 20 cópias. Estas fêmeas poderão reproduzir através de
inseminação com sêmen de diferentes touros que foram congelados e estocados
(WELLS et al., 1998).
Outra finalidade para a transferência nuclear é utilizar oócitos bovinos como
receptores de núcleos somáticos de outras espécies comprometidas. Usando esta
técnica de transferência nuclear inter-específica, fibroblastos de Bos gaurus foram
fundidos com oócitos enucleados de Bos taurus, resultando em um indivíduo com
genótipo nuclear de B. gaurus e mitocondrial de B. taurus obtendo-se um modelo
inter-espécies (DINDOT et al., 2004).
Do ponto de vista de aplicação da clonagem na produção pecuária, cópias
genéticas podem ter alto valor para a inseminação artificial. Estas cópias podem ser
7
obtidas por transferência nuclear no caso de morte acidental ou doença severa
deste reprodutor ou, ainda, para favorecer a logística de venda de sêmen. Esta
possibilidade foi demonstrada primeiramente no Canadá com o nascimento do
clone Starbuck II usando células doadoras do touro Starbuck, que teve uma grande
contribuição para o rebanho holandês (SMITH, 2002).
Finalmente, no caso da clonagem em larga escala, grupos de animais
geneticamente idênticos são rotineiramente produzidos como animais que servem
como modelo para pesquisa (BIGGERS, 1986) e, na espécie bovina, poderia ser
potencialmente usada em programas de criação (MEIRELLES et al., 2006; 2007).
Na área científica, a transferência nuclear é considerada um modelo para a
pesquisa básica visando à investigação em biologia celular e molecular.
Finalmente, o modelo bovino oferece vantagens como ativação do genoma e
implantação tardios comparado ao camundongo (WELLS et al., 1999).
Apesar de todo este potencial para aplicação da biotecnologia de
transferência nuclear de células somáticas, numerosos parâmetros permanecem
limitantes para o aumento da eficiência desta técnica na produção de animais
saudáveis, porém um importante pré-requisito é a disponibilidade de células
capazes de sofrer reprogramação para suportar o desenvolvimento embrionário e
fetal após a transferência nuclear (MASTROMONACO et al., 2006).
Em se tratando do tempo de cultivo celular, a eficiência da clonagem a
partir de células somáticas adultas tem sido amplamente limitada ao uso de células
doadoras recém colhidas, ou após o cultivo in vitro por períodos curtos (abaixo da
10ª passagem; KUBOTA et al., 2000).
A maior parte das células somáticas cultivadas in vitro alcança um limite de
proliferação. Neste momento, estas células cessam o crescimento, fenômeno
denominado senescência replicativa. Este estado irreversível difere da quiescência
celular, onde a inibição do crescimento é conseguida com a privação de soro ou
com a densidade celular, característica necessária para sincronizar células
doadoras na fase G0 para a transferência nuclear (PIGNOLO et al., 1993).
Quando as células são cultivadas in vitro por um longo período resultam na
acumulação de numerosas modificações, favorecendo a perda da função de
genes. Características como instabilidade cromossômica e encurtamento do
telômero têm sido correlacionados com o aumento do tempo de cultivo (HAMILTON
et al., 2001; ALLSOPP, et al., 1992; BENN, 1976). Tais modificações acumulam-se
8
durante muitos ciclos de divisões celulares e conseqüentemente dificultam ou
inviabilizam o desenvolvimento (CIBELLI, et al., 1998; WALKER et al., 1996).
Um considerável aumento de células cromossomicamente anormais oriundas
de passagens tardias foi demonstrado (BENN, 1976; STRELCHENKO, 1996; GIRALDO et
al., 2004). Benn (1976) observou que o conteúdo cromossômico contido nas células
progrediu de 30% para 60% de anormalidade durante o cultivo celular até
passagens tardias.
Ao mesmo tempo, Strelchenko (1996) e Giraldo et al. (2004) relataram 81% e
98% de células anormais derivadas de cultivos em passagens tardias,
respectivamente. Entre as anormalidades estruturais e numéricas que foram
observadas estão incluídas as fusões terminais, translocações, aneuploidia e
poliploidia.
Por resultar na diminuição de sua eficiências, a aplicação da técnica de
transferência nuclear está limitada ao período de cultivo in vitro das células
doadoras. Desta maneira, estudos têm utilizado passagens iniciais (anteriores a 9ª
passagem) de fibroblastos doadores de núcleo para TNCS para produzir animais
clonados com sucesso (SCHNIEKE, et al., 1997; CIBELLI, et al., 1998; WELLS, et al., 1999;
POLEJAEVA, et al., 2000).
Este efeito foi estudado por Jang e colaboradores (2004) que relataram
diferenças no desenvolvimento de embriões TNCS derivados de passagens iniciais e
tardias de fibroblastos. Embriões reconstruídos com fibroblastos de passagens tardias
apresentaram um aumento significativo de blastômeros em apoptose em
comparação àqueles produzidos com fibroblastos em passagens iniciais.
Apesar de reconhecidamente gerar problemas, o uso de cultivos
prolongados é importante na produção eficiente de animais transgênicos, pois há
necessidade de estabelecimento de uma incorporação estável do gene exógeno
na célula doadora. Para obter esta incorporação estável, células doadoras
precisam tolerar os distúrbios causados pela transfecção e seleção após cultivos
prolongados (períodos de cultivo e passagens celulares). Além disso, cultivos
prolongados de células doadoras de núcleo torna-se essencial para modificações
genéticas das células doadoras por recombinação homóloga (BHUIYAN et al.,
2004).
Células senescentes são reconhecidamente portadoras de telômeros
menores e outra característica envolvendo a reprogramação nuclear somática é o
9
potencial para restaurar o tamanho do telômero e superar a senescência. Embora
exista evidência de que o comprimento do telômero seja restaurado em núcleos
somáticos após a transferência para o oócito, muitas mutações no DNA no núcleo
somático não podem ser restauradas (SHIELS et al., 1999).
Parte das mutações pode ser tolerável em uma célula diferenciada, mas
dada a característica totipotente do zigoto, elas podem ser letais no
desenvolvimento embrionário. Isto certamente também contribui à baixa eficiência
do desenvolvimento de embriões produzidos por transferência nuclear a partir de
células somáticas. Shiels e colaboradores (1999) afirmaram que Dolly, um clone de
ovelha, herdou os telômeros curtos do animal adulto que doou as células para a
realização da transferência nuclear. Além disso, os telômeros de Dolly sofreram um
encurtamento adicional durante o cultivo in vitro das células doadoras.
Estas observações provocam questionamentos como, por exemplo, se clones
saudáveis podem ser obtidos de animais doadores velhos, particularmente, após
cultivos in vitro por longos períodos.
Apesar destes relatos, Kubota e colaboradores (2000), encontraram dados
que diferem do que é observado mais frequentemente, pois demonstraram que a
utilização de fibroblastos derivados de animal adulto e cultivados por um longo
período (acima da 30ª passagem), não comprometeu a eficiência da clonagem
em termos de desenvolvimento a termo, além disso, resultou em maior taxa de
desenvolvimento comparado àqueles derivados da utilização de passagens iniciais.
Outra variável de interesse neste trabalho é o sexo, pois aparentemente
trata-se de outro fator que influencia a produção de blastocistos e a competência
de desenvolvimento pré e pós-implantação de embriões produzidos in vitro.
Apesar de muitos trabalhos relatarem que embriões machos alcançam o
estádio de blastocisto mais rapidamente que embriões fêmeas, e que este
fenômeno aparentemente pode ser alterado pelas condições de cultivo (AVERY et
al., 1989, 1991; CARVALHO et al., 1996; GUTIÉRREZ-ADÁN et al., 2001), ainda
permanece uma dúvida sobre o efeito do sexo na velocidade de desenvolvimento,
pois outros trabalhos demonstraram uma proporção muito próxima entre os gêneros
quando alcançaram o estádio de compactação, formação da blastocele ou
mesmo na duração do ciclo celular (HOLM et al., 1998).
Apesar de embriões bovinos apresentarem capacidade de adaptação ao
meio em que são cultivados, tendo como resposta o progresso no desenvolvimento,
10
aparentemente, a tolerância do embrião ao estresse do ambiente é mediada pela
unidade materno-fetal ou diretamente no cultivo in vitro e influenciada pelo sexo
(EDWARDS et al., 2001).
O meio de cultivo utilizado na produção in vitro de embriões afeta o
desenvolvimento após a fecundação, interferindo no metabolismo ou na expressão
de genes importantes para o desenvolvimento, podendo influenciar no
desenvolvimento embrionário, fetal e placentário em bovinos (BAVISTER, 1995;
NIEMANN e WRENZYCKI, 2000). Os componentes dos meios de cultivo podem, ainda,
afetar a sobrevivência de embriões femininos, alterando a proporção do sexo
(RIEGER, 1992; KOCHHAR et al., 2001), o que pode explicar o número superior de
bezerros machos nascidos de embriões produzidos in vitro.
A identificação das condições que levam a este desvio no nascimento,
fornece subsídios para melhor interpretar os fatores que controlam o
desenvolvimento pré e pós-implantação de embriões machos e fêmeas. Por outro
lado, é difícil chegar a uma conclusão clara baseada na literatura, pois alguns
estudos não mostraram diferença na proporção do sexo (CARVALHO et al., 1995),
porém na maioria deles o número de embriões machos foi superior (GUTIÉRREZ-
ADÁN et al., 1996 e LONERGAN et al., 1999).
Evidências sugerem que o sexo do embrião pode estar relacionado com a
habilidade deste em conduzir uma resposta ao estresse durante os estádios iniciais
do desenvolvimento. King e colaboradores (1992) encontraram maior número de
fetos bovinos machos aos 90 dias de gestação em embriões produzidos in vivo que
foram submetidos à biopsia, sexados, cultivados in vitro, congelados e
descongelados e transferidos no estádio de blastocisto. Estes autores concluíram
que a exposição à variação da temperatura durante o cultivo, a criopreservação e
a transferência resultaram em morte de embriões fêmeas.
Estes estudos comprovam que a resposta do embrião ao estresse do
ambiente não apenas é influenciada pelo estádio do desenvolvimento em que o
embrião se encontra no momento em que está sofrendo o estresse, mas também
pela composição de seus cromossomos sexuais.
Devido aos seus cromossomos, embriões machos e fêmeas diferem na
composição e no número de cópias de genes (DE LA FUENTE, et al., 1999). O
mecanismo responsável pela compensação do nível de expressão dos genes
ligados ao cromossomo X, é a inativação de um dos cromossomos homólogos nas
11
fêmeas, inibindo a transcrição de muitos genes e resultando numa equivalência
funcional com os machos.
Shimizu e colaboradores (1981) relataram que o aumento da expressão de
genes metabolicamente vitais localizados no X antes da inativação e a
compensação do nível de expressão estabelecida em fêmeas contribuíram
significativamente no desenvolvimento diferencial entre embriões machos e
fêmeas.
Acredita-se que a inativação do cromossomo X é essencial para
embriogênese normal, pois foi comprovado que a manutenção de dois
cromossomos X ativos durante a implantação em camundongos retardou o
desenvolvimento e causou morte destes embriões (TAKAGI et al., 1990).
12
3) Objetivos
3.1) Objetivo Geral
Esta etapa do trabalho objetivou avaliar a competência dos embriões
oriundos de TNCS reconstruídos com células somáticas adultas provindas de
diferentes passagens, bem como, de animais de gêneros diferentes.
3.2) Objetivos Específicos
1) avaliar o efeito do número da passagem de células doadoras de núcleo
após cultivo por período curto (3ª a 5ª passagens), intermediário (6ª a 8ª passagens)
e prolongado (9ª a 12ª passagens) na produção de blastocistos por TNCS, na
gestação e sobrevivência após nascimento;
2) avaliar o efeito do sexo das células doadoras de núcleo no
desenvolvimento in vitro dos embriões oriundos de TNCS e no potencial pós-
implantação, mediante observação da gestação e sobrevivência dos bezerros.
13
4) Hipóteses
A partir do momento em que propriedades das células doadoras de núcleo
contribuem diretamente no sucesso da transferência nuclear, características como
o número da passagem e o sexo destas células são variáveis determinantes deste
processo. Desta maneira, as hipóteses deste trabalho foram: 1) H1 = células
cultivadas in vitro durante períodos curtos proporcionam maior viabilidade do
embrião produzido por TNCS; 2) H1 = embriões clonados reconstruídos com células
cultivadas in vitro durante períodos curtos apresentam maior competência em
completar uma gestação a termo. 3) H1 = células masculinas doadoras de núcleo
proporcionam maior viabilidade do embrião produzido por TNCS; 4) H1 = embriões
machos apresentam maior competência em completar uma gestação e sobreviver
após o nascimento.
14
5) Material e Métodos
5.1) Produção dos embriões
5.1.1) Maturação in vitro
A produção in vitro de embriões submetidos ao processo de transferência
nuclear a partir de células somáticas, teve início com o procedimento de
maturação de oócitos viáveis. Para tanto, ovários de vacas zebus ou mestiças
foram obtidos em abatedouro, transportados em solução salina (0,9%) a 37ºC, e
encaminhados até o laboratório. Os complexos cumulus-oócito foram aspirados de
folículos entre 2 a 8 mm utilizando uma seringa de 10 mL acoplada a uma agulha
de 18 G, e somente os oócitos de qualidade I, com cumulus compacto completo e
citoplasma límpido e de aspecto homogêneo (finas granulações), foram
selecionados para os experimentos. Os oócitos foram, em seguida, maturados em
TCM199 com sais de Earles, glutamina e NaHCO3 suplementado com 10% de soro
fetal bovino (SFB), piruvato (22 µg/mL), gentamicina (50 µg/mL), 0,5 µg de FSH/mL,
50 µg de LH/mL e 1 µg de estradiol/mL em microgotas de 100 µL de meio de
maturação, cobertas com óleo mineral (30 oócitos/gota). A incubação foi realizada
a uma temperatura de 38,5°C e atmosfera gasosa de 5% CO2 em ar, durante 18
horas.
5.1.2) Transferência Nuclear
Após o período de maturação, as células do cumulus foram removidas
por exposição à solução de hialuronidase (2 mg/mL) em PBS simples acrescido de
0,4% de BSA e os oócitos foram selecionados pela presença do 1º corpúsculo polar.
Em seguida, foram transferidos para uma solução de citocalasina B (10 µg/mL) e
Hoechst 33342 (10 µg/mL) em meio CR2 (WATANABE et al., 1999) suplementado com
10% de SFB durante 20 minutos.
Os oócitos foram então enucleados, removendo uma pequena porção
do citoplasma próxima à região do 1º corpúsculo polar (eliminação do material
genético do oócito). Esta porção aspirada foi visualizada sob luz ultra-violeta para
15
confirmação da enucleação. Cada oócito foi, posteriormente, reconstruído com
uma célula somática de um animal adulto no estádio G1/G0 do ciclo celular
(restrição de soro), inserindo a célula no espaço perivitelino.
5.1.3) Eletrofusão e Ativação Química
Os conjuntos oócitos-células somáticas foram eletricamente fundidos
após 24 a 26 horas de maturação em uma solução contendo 0,3 M de manitol, 0,1
mM MgSO4, 0,5 mM Hepes e 0,05% BSA. Os embriões reconstruídos foram alinhados
manualmente de maneira que a superfície de contato entre o oócito e a célula
estava paralela aos eletrodos. As células foram, então, expostas a dois pulsos
elétricos de 2,25 kV/cm durante 65 µseg. Aproximadamente uma hora após a
eletrofusão, os oócitos fundidos foram quimicamente ativados em 5 µM de
ionomicina durante 4 minutos e, em seguida, cultivados em CR2 acrescido de 2 mM
de 6-dimetilaminopurina (6DMAP) durante 3 horas.
Ao término do período de ativação, os oócitos foram então cultivados
em meio CR2 suplementado com 10% de SFB em co-cultivo com células da
granulosa, em temperatura de 38,5ºC e atmosfera de 5% CO2 em ar, durante sete
dias, quando foram transferidos para receptoras sincronizadas.
5.1.4) Células Doadoras
As células somáticas doadoras de núcleo foram obtidas a partir de
biópsias realizadas em animais adultos machos e fêmeas. A biópsia foi retirada da
prega da cauda do animal e transportada imediatamente para o laboratório em
solução tampão fosfato (PBS) em gelo. O tecido foi então triturado em pequenos
pedaços de aproximadamente 1 mm, lavados em PBS e fixados numa placa de
Petri de 35 mm de diâmetro. O cultivo procedeu-se em meio DMEM suplementado
com 20% de SFB, piruvato (22 µg/mL), glutamina (1 mM) e gentamicina (50 µg/mL).
A incubação foi realizada a uma temperatura de 38,5°C e atmosfera gasosa de 5%
CO2 em ar, trocando-se o meio de três em três dias.
Ao crescimento das primeiras células, o meio foi substituído por DMEM
suplementado com 10% de SFB e o cultivo processado até a 3ª passagem,
momento em que as células estavam prontas para o procedimento de
16
48 horas 7º e 9º dias
transferência nuclear. Aproximadamente 5 dias antes da realização do
experimento, o meio de cultivo foi substituído por DMEM suplementado com 0,5% de
SFB (restrição de soro), procedimento este que visava bloquear o ciclo celular das
células somáticas no estádio G1/G0 do ciclo celular (Figura 1).
Figura 1. Ilustração das diferentes etapas do processo de transferência nuclear. (a) Oócito
no estádio de metáfase II antes da enucleação. (b) Aspiração do corpúsculo
polar e citoplasma adjacente. (c) Oócito enucleado. (d) Controle fluorescente
da presença dos cromossomos em metáfase dentro da pipeta de
micromanipulação após coloração do DNA. (e) Cultivo de fibroblastos bovinos a
partir de biópsia da prega da cauda. (f) Células doadoras isoladas da cultura de
fibroblastos. (g) Inserção da célula doadora no espaço perivitelino do oócito
enucleado. (h) Fusão da célula doadora com o citoplasma receptor. (i) Primeira
clivagem do embrião reconstituído. (j) Blastocisto produzido por transferência
nuclear desenvolvido in vitro. (k) Bezerros produzidos por transferência nuclear
(modificado de Heyman, 2005).
K
Avaliação da gestação a termo e sobrevivência
Avaliação da produção de blastocistos
Avaliação da clivagem e produção de 8 células
17
5.2) Sincronização do cio das receptoras e transferência
dos embriões
A sincronização do cio tem sido uma prática cada vez mais difundida, por
facilitar o manejo concentrado e aumentar a eficiência de observação de cio,
resultando em melhores índices reprodutivos. Neste trabalho, somente um embrião
produzido por transferência nuclear, com 7 dias de cultivo in vitro e na fase de
blastocisto, foi transferido para cada receptora através de procedimento não
cirúrgico.
Para as inovulações dos embriões foram utilizadas fêmeas nulíparas
provenientes de cruzamento (½ zebu e ½ europeu) com no mínimo 350 kg e com
exames de brucelose e tuberculose negativos. Estes animais foram mantidos em
sistema de pastagem composto por capim-braquiarão (Brachiaria brizantha cv.
Marandu), complementada com suplementação mineral e água a disposição.
Para a sincronização do ciclo estral foram utilizados agentes farmacológicos
que possibilitaram a transferência dos embriões em tempo fixo (TETF), isto é, sem a
necessidade de observação do cio.
Independentemente da fase do ciclo em que as receptoras se
encontravam, todos os animais receberam implantes auriculares contendo 3,0 mg
de norgestomet (Crestar®, Intevet) associados a uma injeção intramuscular de 2,0
mg de benzoato de estradiol (BE). Este tratamento visou suprimir a manifestação de
cio e a ovulação até total regressão do corpo lúteo. Os animais permaneceram
com os implantes durante um período de 8 dias.
No 5° dia do tratamento foi administrado 500 UI de gonadotrofina coriônica
eqüina (eCG - Novormon®), como agente estimulador do desenvolvimento folicular.
No dia da remoção dos implantes (D8), todos os animais receberam aplicação
intramuscular de prostaglandina sintética Prosolvin® (7,5 mg de luprostiol) para
assegurar a luteólise e, 24 horas após a remoção dos implantes, receberam uma
dose intramuscular de benzoato de estradiol (1,0 mg) como agente sincronizador
das ovulações (Figura 2).
18
Figura 2. Esquema resumido do cronograma de sincronização do cio dos animais
utilizados como receptoras dos embriões produzidos por transferência
nuclear.
5.3) Análise Estatística
As taxas de desenvolvimento embrionário pré-implantação e pós-implantação
entre embriões bovinos submetidos à transferência nuclear a partir de diferentes
passagens celulares e diferentes sexos, foram avaliadas utilizando a análise qui-
quadrado (χ2).
Diferenças no desenvolvimento entre os grupos foram transformadas a anti-log
para aproximar a uma distribuição normal e avaliados pelo teste de análise de
variância e a comparação das médias realizada pelo teste t de Student, utilizando
o programa JMP, versão 2.4 SAS Institute (Cary, NC, EUA).
Implantes + 2mg BE
Remoção implantes + prostaglandina
500 UI eCG 1,0 mg BE
TETF
D0 D5 D8 D9 D17
19
6) Resultados
6.1) Efeito do número da passagem dos fibroblastos
Para cumprir esta etapa do trabalho, 5.629 oócitos foram submetidos ao
procedimento de transferência nuclear, 3.076 (55%) zigotos foram efetivamente
reconstruídos (fundidos), 2.349 (42%) embriões alcançaram o estádio de 2 células
(clivaram), 934 (17%) embriões desenvolveram até o estádio de 8 células e
finalmente, 438 (8%) embriões foram competentes para formar um blastocisto.
Células doadoras que partiram de passagens iniciais (3ª a 5ª) e intermediárias
(6a a 8a) apresentaram taxas de clivagem e desenvolvimento até 8 células
significativamente melhores quando comparadas com passagens tardias (9a a 12a;
p < 0,05; Figura 3). Além disso, zigotos reconstituídos com células que partiram de
passagens iniciais apresentaram maior competência ao desenvolvimento a
blastocisto quando comparados com aqueles reconstituídos com passagens
intermediárias e tardias. Da mesma maneira, um maior número de embriões
produzidos com células em passagens intermediárias desenvolveu até o estádio de
blastocisto comparados com aqueles produzidos com células em passagens tardias
(p < 0,05).
Na tabela 1 estão apresentados os dados numéricos da produção dos embriões
durante o desenvolvimento pré-implantação que foram submetidos à transferência
nuclear a partir dos grupos de células estudados.
Tabela 1. Número de oócitos manipulados e de embriões produzidos por
transferência nuclear de células somáticas (TNCS) em relação ao tempo
de cultivo da célula doadora de núcleo.
Número de oócitos Oócitos fundidos No passagem da célula doadora Total Fundidos 2 células 8 células blastocisto
3ª a 5ª 2.844 1.594 1.232 494 249 6ª a 8ª 2.355 1.257 967 389 174
9ª a 12ª 430 225 150 51 15 Total 5.629 3.076 2.349 934 438
20
76% 77%
67%
31% 31%
23%
16% 14%7%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
Clivagem 8 células Blastocisto
Iniciais Intermediárias Tardias
Figura 3. Taxas de clivagem, 8 células e formação de blastocisto de embriões
submetidos à transferência nuclear com células somáticas em diferentes
passagens. Estas porcentagens foram calculadas sobre zigotos
efetivamente reconstituídos (fundidos; iniciais = 3ª a 5ª passagens;
intermediárias = 6ª a 8ª passagens e tardias = 9ª a 12ª passagens).
Em relação ao desenvolvimento pós-implantação, 277 embriões no 7º dia de
cultivo in vitro foram transferidos para receptoras, porém apenas 75 (30%)
apresentaram prenhez aos 30 dias, resultando em 21 (8%) gestações a termo,
destas, 11 (4%) animais clonados sobreviveram após o nascimento.
Embora o grupo de embriões produzidos a partir de células em passagens
tardias tenha apresentado resultados semelhantes de prenhez aos 30 dias
comparado aos demais, este mesmo grupo não apresentou gestação a termo
(Figura 4).
Apesar de não significativas, embriões reconstruídos com células em passagens
iniciais resultaram em melhores taxas de gestação a termo comparadas com as
intermediárias (34 e 25%, respectivamente). As taxas de sobrevivência após o
nascimento foram semelhantes entre os grupos (50 e 57%, respectivamente; p >
0,05).
a a
b
a a
b a b
c
21
Argumenta-se que os resultados não apresentaram diferenças significativas
possivelmente devido ao número limitado de receptoras que apresentaram prenhez
aos 30 dias e gestação a termo e de animais que sobreviveram após o nascimento.
Na tabela 2 estão apresentados os dados numéricos de gestação durante o
desenvolvimento pós-implantação dos embriões que foram submetidos à
transferência nuclear a partir dos grupos de células estudados.
Tabela 2. Número de embriões transferidos e dados das gestações obtidas a partir
de embriões produzidos por transferência nuclear de células somáticas
(TNCS) em relação ao tempo de cultivo da célula doadora de núcleo.
Número de embriões transferidos Gestação No passagem da célula doadora Total Prenhez 30 dias A termo Sobrevivência
3ª a 5ª 154 41 14 7 6ª a 8ª 106 28 7 4
9ª a 12ª 17 6 0 0 Total 277 75 21 11
27% 26%
35% 34%
25%
0%
50%
57%
0%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Prenhez A termo Sobrevivência
Iniciais Intermediárias Tardias
Figura 4. Taxas de prenhez aos 30 dias, gestação a termo e sobrevivência pós
nascimento de embriões submetidos a transferência nuclear com células
somáticas em diferentes passagens (iniciais = 3ª a 5ª passagens;
intermediárias = 6ª a 8ª passagens e tardias = 9ª a 12ª passagens).
a a
a a
a
a
a a
a
22
Durante o período de gestação, as receptoras apresentaram perdas
gestacionais a partir das primeiras semanas de gestação até o nascimento dos
bezerros. Não houve diferença significativa entre as passagens celulares, porém a
gestação de embriões clones apresentou três fases agudas de perda gestacional:
no período de implantação, ou seja, nos primeiros dias de desenvolvimento,
evidenciado pela baixa taxa de prenhez aos 30 dias; no período que variou entre
30 e 60 dias; e também durante a organogênese, entre 90 a 150 dias de gestação
(Figura 5).
100%
35%18% 12%
0% 0% 0% 0% 0% 0%
100%
23% 15% 15% 11% 10% 7% 7% 7% 7%
100%
27% 20% 20% 13% 10% 9% 9% 6% 6%0%
20%
40%
60%
80%
100%
Taxa
de
pren
hez
Transfer. D30 D60 D90 D120 D150 D180 D210 D240 Nascidos
Inic
iais
Inte
rmed
iária
s
Tard
ias
Dias de gestação
Iniciais Intermediárias Tardias
Figura 5. Evolução da gestação de receptoras após a transferência de embriões
bovinos produzidos a partir de transferência nuclear de células somáticas
submetidas a diferentes passagens em cultivo in vitro. As setas indicam os
intervalos de maior perda gestacional.
23
6.2) Efeito do Sexo dos Fibroblastos
Para a avaliação do efeito do sexo dos fibroblastos no desenvolvimento de
embriões produzidos por transferência nuclear foi excluído das análises o grupo de
embriões reconstruídos com células somáticas de passagens prolongadas,
evitando, assim, a influência desta variável.
Durante o desenvolvimento pré-implantação, especialmente em relação aos
parâmetros estudados: clivagem, 8 células e formação de blastocisto, o gênero
apresentou efeito significativo nos resultados obtidos. Embriões fêmeas
apresentaram maior taxa de clivagem (78% vs 74%; p < 0,05), porém, menor taxa de
formação de blastocisto comparados com embriões machos (14% vs 16%; p < 0,05).
Em relação ao estádio de 8 células, embriões machos e fêmeas não diferiram entre
si (Figura 6).
Na tabela 3 estão apresentados os dados numéricos de produção dos embriões
durante o desenvolvimento pré-implantação que foram submetidos à transferência
nuclear a partir dos grupos de células estudados (macho e fêmea).
Tabela 3. Número de oócitos manipulados e de embriões produzidos por
transferência nuclear de células somáticas (TNCS) em relação ao sexo da
célula doadora de núcleo.
Número de oócitos Oócitos fundidos Sexo célula doadora Total Fundidos 2 células 8 células blastocisto Fêmea 4.337 2.324 1.807 721 339 Macho 862 527 392 162 84
Total 5.199 2.851 2.199 883 423
24
78% 74%
31% 31%
14% 16%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
Clivagem 8 células Blastocisto
Fêmea Macho
Figura 6. Taxas de clivagem, 8 células e formação de blastocisto de embriões
submetidos à transferência nuclear a partir de células doadoras de
núcleos femininas e masculinas.
Embora exista proximidade em relação às taxas de prenhez aos 30 dias entre
indivíduos machos e fêmeas, os resultados, apesar de não significativos, sugerem
uma tendência à maior competência de desenvolvimento a termo de machos
comparada a fêmeas em relação às prenhezes detectadas (40% vs 27%,
respectivamente; p = 0,13; Figura 7).
Da mesma maneira, bezerros nascidos a partir de embriões produzidos por
transferência nuclear utilizando células doadoras de núcleos masculinas
apresentaram tendência a uma maior taxa de sobrevivência em relação àqueles
nascidos de células femininas (63% vs 46%, respectivamente; p = 0,14).
Como ocorreram para os grupos das passagens celulares, os resultados não
apresentaram diferenças estatisticamente significativas possivelmente devido ao
número limitado de receptoras que apresentaram prenhez aos 30 dias e gestação a
termo e de animais que sobreviveram após o nascimento.
Na tabela 4 estão apresentados os dados numéricos de gestação durante o
desenvolvimento pós-implantação dos embriões que foram submetidos à
transferência nuclear a partir dos grupos de células estudados (macho e fêmea).
a b
a a
a b
25
Tabela 4. Número de embriões transferidos e dados das gestações obtidas a partir
de embriões produzidos por transferência nuclear de células somáticas
(TNCS) em relação ao sexo da célula doadora de núcleo.
Número de embriões transferidos Gestação Idade célula
doadora Total Prenhez 30 dias A termo Sobrevivência
Fêmea 193 49 13 6 Macho 67 20 8 5
Total 260 69 21 11
25%
30%
27%
40%46%
63%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
Prenhez A termo Sobrevivência
Fêmea Macho
Figura 7. Taxas de prenhez, gestação a termo e sobrevivência após o nascimento
de embriões submetidos à transferência nuclear a partir de células
doadoras de núcleos femininas e masculinas.
Como mencionado anteriormente, durante o período de gestação, as
receptoras apresentaram perdas gestacionais a partir do momento em que o
embrião foi transferido até o nascimento dos bezerros. Diferenças significativas
foram observadas entre os sexos, sendo que fêmeas apresentaram maior taxa de
aborto entre 90 a 150 dias de gestação (Figura 8).
a a
a
a
a
a
26
100%
25% 18% 18% 12%10% 8% 7% 7% 6%
100%
30%18% 18% 16% 16% 12% 12% 12% 12%
0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%
100%
Taxa
de
pren
hez
Transfer. D30 D60 D90 D120 D150 D180 D210 D240 Nascidos Macho
Fêmea
Dias de gestação
Figura 8. Evolução da gestação de receptoras após a transferência de embriões
bovinos machos e fêmeas produzidos a partir de transferência nuclear de
células somáticas. As setas indicam o período crítico de perda
gestacional.
Crítico aos clones
Crítico às fêmeas
27
7) Discussão
7.1) Efeito do número da passagem dos fibroblastos
Os resultados deste estudo demonstram que o número da passagem das
células doadoras de núcleo influencia a competência de desenvolvimento dos
embriões submetidos à transferência nuclear, bem como a taxa de gestação a
termo, uma vez que embriões reconstruídos com células somáticas de passagens
prolongadas apresentaram menor desenvolvimento a blastocisto e não
progrediram durante a gestação.
Concordando com estes dados, Jang et al. (2004), apesar de não
encontrarem diferenças de desenvolvimento em embriões clones derivados de
células de diferentes passagens, evidenciaram um aumento de blastômeros
apoptóticos em embriões reconstruídos com células de número de passagens
elevados, sugerindo que o uso destas células poderia diminuir as taxas de prenhez e
nascimento de embriões clones pela diminuição da viabilidade dos blastocistos.
Por outro lado, resultados obtidos por Kubota et al. (2000) não apresentaram
diferenças no desenvolvimento de embriões submetidos à transferência nuclear
utilizando fibroblastos adultos entre a 5ª e a 15ª passagens. Além disso, Bhuiyan e
colaboradores (2004), também não encontraram efeito no número da passagem
de células doadoras transfectadas no desenvolvimento in vitro de embriões
transgênicos (3ª a 7ª = 11%; 8ª a 12ª passagens = 12% de blastocistos).
Roh e colaboradores (2000), trabalhando com fibroblastos fetais transgênicos,
demonstraram que embriões oriundos de células provindas de passagens iniciais (8ª
a 16ª) e tardias (17ª a 32ª) foram capazes de suportar o desenvolvimento in vitro
após a transferência nuclear, porém com taxas reduzidas de formação de
blastocistos para aqueles oriundos de passagens tardias.
Dados da literatura relatam que cultivos prolongados, em termos de duração
e número de passagens de células doadoras transfectadas, são essenciais para
integração estável do gene transfectado e para a seleção das células
transfectadas antes do procedimento de transferência nuclear (WESTHUSIN et al.,
2001). Contudo, foi evidenciado que o número da passagem de células doadoras
28
transfectadas influencia a competência do desenvolvimento embrionário (ARAT et
al., 2001; ROH et al., 2000; SCHNIEKE et al., 1997).
Neste estudo, foi evidenciado que embriões reconstruídos com células
somáticas em passagens iniciais e intermediárias foram equivalentemente
competentes em número de prenhez e gestação a temo, entretando, aqueles
produzidos com células em passagens tardias não foram competentes em sinalizar
e manter uma gestação a termo.
Em contraste, Kubota et al. (2000) demonstraram que fibroblastos oriundos da
pele de um animal adulto, cultivados por um longo período (acima da 15ª
passagem), apresentaram taxas superiores de desenvolvimento comparados
àqueles cultivados por um curto período, obtendo sucesso no nascimento de
bezerros clones.
Atualmente, uma grande preocupação sobre a utilização de células oriundas
de longas passagens na TNCS é que estas poderiam estar influenciando a eficiência
da clonagem devido ao seu estado de senescência. Este envelhecimento celular
pode ser um fator limitante nas aplicações de TNCS na biotecnologia animal, pois
compromete a correta divisão celular (JANG et al., 2004).
Além disso, quando as células são cultivadas por um longo período, as
alterações genéticas e epigenéticas podem ser acumuladas durante os ciclos de
divisões celulares, podendo resultar em falhas durante a gestação que levam ao
aborto ou problemas congênitos (CAMPBELL et al., 1996a).
Analisando a expressão de genes, Walker et al. (1996) e Young et al. (1998)
observaram que alterações na regulação de genes marcados foram conseqüência
da utilização de células doadoras de núcleo cultivadas por longos períodos,
inviabilizando, desta maneira, o desenvolvimento embrionário e fetal.
Neste estudo, apesar de fibroblastos oriundos de animais adultos cultivados in
vitro por longo período (9ª a 12ª passagens) apresentarem maior taxa de prenhez,
os resultados indicam que células oriundas de animal adulto e cultivadas por um
longo período não são competentes como doadoras de núcleo para produzir
embriões viáveis ao desenvolvimento gestacional a termo.
29
7.2) Efeito do Sexo dos Fibroblastos
Relatos da literatura mostram-se divergentes em relação ao desequilíbrio na
produção de embriões machos e fêmeas a partir de fecundação in vitro, pois
embora alguns estudos não tenham identificado diferenças na proporção entre os
sexos (CARVALHO et al., 1995), outros autores revelaram um número superior de
embriões machos que se desenvolveram até o estádio de blastocisto (GUTIÉRREZ-
ADÁN et al., 1996; LONERGAN et al., 1999).
Neste trabalho, a produção de embriões por transferência nuclear apresentou
maior taxa de desenvolvimento a blastocisto de embriões machos. Além disso,
embora não tenham sido observadas diferenças em relação à taxa de prenhez aos
30 dias, foi explícito o sucesso das gestações de machos durante o desenvolvimento
pós-implantação, indicando uma possível alteração durante a gestação de
fêmeas.
Concordando com estes resultados, autores relataram uma possível vantagem
no desenvolvimento de embriões machos oriundos de sistemas de produção in vitro
comparado a fêmeas, bem como um maior número de nascimento de bezerros,
comprovando um maior sucesso de gestações de machos, porém, a literatura atual
não revela o mecanismo que possa estar influenciando nestes desvios durante o
desenvolvimento de embriões machos e fêmeas pré e pós-implantação (GUTIÉRREZ-
ADÁN et al., 1996; LONERGAN et al., 1999).
Sugere-se que o ponto de transição que distancia a produção de machos em
relação à produção de fêmeas ocorra entre os estádios de blastocisto inicial e
demais fases de blastocisto. Blastocistos expandidos e eclodidos no 7º dia de cultivo
(desenvolvimento rápido) apresentaram significativamente maior proporção de
machos (68 e 100%, respectivamente), comparada ao estádio de mórula
(desenvolvimento lento), onde mostraram menor proporção (24%; CARVALHO et al.,
1996).
Outros autores observaram efeitos de distorção entre machos e fêmeas logo
no 3º dia após a inseminação (MARQUANT-LE GUIENNE et al., 1992), no estádio de 8
células no bovino, que coincide com a primeira expressão do genoma embrionário,
onde a capacidade de síntese de RNA é adquirida (KOPECNY e NIEMANN, 1993).
A razão pela qual, embriões machos apresentam maior velocidade de
desenvolvimento ainda não está completamente esclarecida. Sugere-se que o
30
consumo de glicose fornecida no meio de cultivo possa estar relacionado com este
desvio. Embriões bovinos produzidos in vitro aumentam acentuadamente o
consumo de glicose entre o estádio de 2 células ao estádio de blastocisto eclodido
em conseqüência do aumento do metabolismo. Este evento ocorre
preferencialmente em duas etapas do desenvolvimento embrionário: o início da
transcrição do genoma embrionário (8 a 16 células), e no momento da
compactação (RIEGER et al., 1992).
O consumo de glicose pode estar relacionado com as diferenças no
desenvolvimento entre machos e fêmeas, pelo fato de que enzimas ligadas ao
cromossomo X, responsáveis pelo seu metabolismo, estão presentes em menor
concentração nos machos durante as primeiras clivagens, causando assim, maior
nível de radicais livres, que são responsáveis pelo aumento na velocidade de
clivagem (LEQUARRE et al., 1997).
Gutierrez-Adán e colaboradores (1993) também mostraram que as condições
de cultivo in vitro interferem na proporção de embriões machos e fêmeas, pois seus
resultados revelaram uma perda preferencial de embriões de camundongos
fêmeas comparado com embriões machos. Apesar destes relatos, King e
colaboradores (1991) não observaram esta distorção para embriões bovinos
produzidos por fecundação in vitro, afirmando que as condições de cultivo in vitro
não influenciam na proporção entre os sexos.
Da mesma maneira, Holm et al. (1998) relataram uma proximidade entre as
taxas obtidas para machos e fêmeas (53:47%, respectivamente) quando avaliados
após a fecundação e em todos os eventos de clivagem, incluindo o estádio de
compactação, formação de blastocele e a cada duração do ciclo celular.
Concordando com estes resultados Lê Bourhis e colaboradores (1998), não
observaram diferenças significativas nas taxas de blastocistos produzidos por
transferência nuclear a partir de núcleos embrionários machos e fêmeas analisados
no 7º dia de cultivo in vitro. Além disso, também avaliaram o potencial de destes
blastocistos em proporcionar o nascimento de bezerros vivos após sua transferência
para receptoras, verificando que não houve diferença na taxa de prenhez aos 35
dias, 90 dias e nascimento.
Thibier e Nibart (1995), trabalhando com embriões produzidos in vivo e
submetidos ao processo de sexagem, obtiveram taxas de 54% de nascimentos de
31
embriões machos e 46% de nascimentos de embriões fêmeas, não apresentando
diferença significativa na relação 50:50.
Durante o período gestacional, evidenciamos pontos críticos que parecem ser
característicos de gestação de clones. Na Figura 9 está esquematizada a perda
gestacional de machos e fêmeas e observou-se que existe uma equivalência para
ambos os sexos no primeiro trimestre de gestação (entre 30 e 90 dias).
A partir deste momento, a gestação de embriões fêmeas sofreu maior perda
em relação à gestação de machos (p < 0,05), tornando-se novamente equilibrada
a partir do 6º mês de gestação (180 dias). Embora a taxa de mortalidade, após o
nascimento, de fêmeas tenha sido superior a de machos, os resultados não foram
significativos (fêmeas 6/13; machos 5/8).
Acredita-se que o desvio em relação à perda gestacional entre machos e
fêmeas, caracterizado preferencialmente entre os dias 90 e 150 da gestação, esteja
correlacionado ao evento da organogênese, ou seja, primeiro trimestre da
gestação onde ocorre a formação dos órgãos, sugerindo que embriões fêmeas
tenham maiores alterações congênitas ocasionando, assim, maior taxa de aborto
comparada com machos (Figura 10).
Por ocorrer em fêmeas, tais relatos levam à especulação de que mecanismos
epigenéticos que controlam e modulam a inativação do X estão sujeitos a
alterações num sistema in vitro. Partindo-se da informação de que o evento de
inativação do X é um processo altamente regulado e extremamente necessário,
King e colaboradores (2006) evidenciaram que falhas durante a inativação de um
dos cromossomos X, ocasionada por mutação ou transfecção, acarretaram em
letalidade embrionária para fêmeas.
Assim, falhas neste processo poderiam estar ocasionando as diferentes taxas
de nascimento entre machos e fêmeas, prejudicando a produção embrionária e as
gestações de fêmeas que foram encontradas neste trabalho.
32
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
30 60 90 120 150 180 210 240 270 290 morte
Dias de gestação
Taxa
de
perd
a ge
stac
iona
lFêmea Macho
Figura 9. Principais pontos de perda gestacional influenciados pelo sexo de
embriões bovinos machos e fêmeas submetidos à transferência nuclear.
A perda gestacional no período entre 30 e 90 dias foi considerada
independente do sexo. As setas indicam o valor de p para as taxas de
aborto de fêmeas em comparação com machos. O período de 90 a 150
dias foi considerado um ponto crítico para a perda gestacional em
fêmeas por apresentar p < 0,01.
p = 0,08 p = 0,01 p = 0,26
p = 0,1 p = 0,07
p = 0,07 p = 0,08
p = 0,07
Período independente do sexo
Período sexo-dependente
33
Embrião pré-implantação
Desenvolvimento embrionário (semanas)
Desenvolvimento fetal (semanas)
1 - 2 3 4 5 6 7 8 12 16 20-36 38 14 dias 50 dias 90 dias 120
dias 270 dias
290 dias
Clivagem, implantação e
gastrulação
Maior risco de anomalias morfológicas
Erros funcionais e fisiológicos; menor risco de anomalias morfológicas
Músculo cardíaco e primeiras células sanguíneas
Sistema nervoso
Visão e audição
Diferenciação do tubo digestivo
Sistema respiratório e fígado
Membros superiores
Membros inferiores
Estomago e rins
Cordão umbilical
Cartilagem, pele e músculos
Dentes
Palato
Genitais externos
Maturação
do pulmão
Figura 10. Organogênese do desenvolvimento embrionário e fetal após
implantação, evidenciando os períodos críticos durante a gestação
(modificado de MOORE e PERSAUD, 2000).
34
8) Conclusões
1) Células doadoras de núcleos cultivadas por um longo período
prejudicam a produção de blastocistos e aumentam as chances de
perdas durante a gestação em embriões produzidos por transferência
nuclear de células somáticas (TNCS).
2) Células do gênero masculino quando aplicadas na TNCS resultam em
maior taxa de desenvolvimento embrionário e maior competência a uma
gestação a termo.
9) Perspectivas
Sugere-se que embriões machos são reprogramados de maneira mais eficiente
que embriões fêmeas possivelmente devido ao evento de inativação do
cromossomo X.
35
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46
CAPÍTULO 2
Efeito da reprogramação nuclear na
expressão de genes relacionados ao
cromossomo X em embriões bovinos
produzidos in vitro
47
Resumo
MERIGHE, G.K.F. Efeito da reprogramação nuclear na expressão de genes relacionados ao
cromossomo X em embriões bovinos produzidos in vitro. Tese de Doutorado – Faculdade de
Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Universidade de São Paulo, Pirassununga, 2007.
Conforme descrito no capítulo anterior, os resultados evidenciaram uma maior
competência de embriões machos, produzidos por transferência nuclear, em alcançar o
estádio de blastocisto e concluir uma gestação, sugerindo alterações durante a
reprogramação nuclear entre os sexos. No início do desenvolvimento embrionário, embriões
fêmeas (XX) poderiam potencialmente produzir duas vezes a quantidade de transcritos dos
genes ligados ao X em relação aos embriões machos (XY). Contudo, o processo de
inativação do cromossomo X, equilibra a dosagem de genes ligados ao X, tornando viável o
desenvolvimento de embriões fêmeas. Neste trabalho foi investigada a expressão de três
genes ligados ao cromossomo X e importantes para o desenvolvimento, XIST, G6PD e HPRT e
do transcrito Interferon-tau (IFN-τ) em blastocistos bovinos machos e fêmeas produzidos por
transferência nuclear e por fecundação in vitro. Oócitos derivados de matadouro foram
enucleados e reconstruídos com células somáticas de animal adulto a partir de 18 horas
pós-maturação. Após a fusão (dois pulsos de 2,25 kv/cm) e ativação química (ionomicina -
5,0 µM durante 5 minutos e 6-DMAP - 2,0 mM durante 3 horas), os conjuntos oócito-célula
somática foram cultivados em CR2 com monocamada de células da granulosa a 38,8ºC,
em atmosfera umidificada de 5% de CO2 em ar. Embriões produzidos in vitro foram
inseminados, após centrifugação do gradiente de percoll, com 2 x 106 espermatozóides/mL
em meio TALP suplementado com BSA e PHE e cultivados nas mesmas condições dos
embriões clonados. Mediante análises de PCR em tempo real, avaliou-se a expressão
relativa dos genes estudados tomando-se como referência o gene GAPDH. As eficiências
das reações, os limiares de fluorescência e os Cts foram calculados utilizando o programa
LinRegPCR, as comparações e análises estatísticas foram realizadas pelo programa REST.
Conforme esperado, os resultados mostraram que o gene XIST foi expresso nos embriões
fêmeas e não detectado em embriões machos produzidos por FIV, porém foi discretamente
expresso em embriões machos produzidos por TN. Em contraste com dados já relatados, o
transcrito de G6PD foi expresso em menor quantidade em fêmeas comparado com
machos, sugerindo um efeito de silenciamento duplo ou outro mecanismo de controle deste
gene. Embriões fêmeas clonados apresentaram menor quantidade do transcrito de HPRT em
comparação aos embriões fêmeas produzidos por fecundação in vitro, confirmando um
efeito de silenciamento duplo dos genes ligados ao X em embriões clonados fêmeas. Não
foi encontrada diferença na expressão de Interferon-tau nos embriões estudados. Portanto,
48
embriões fêmeas reconstituídos por transferência nuclear apresentam alteração na
expressão de genes importantes ao desenvolvimento, particularmente aqueles relacionados
ao evento de inativação do cromossomo X, que foram alvo deste estudo, sugerindo maior
comprometimento destes embriões às falhas durante o mecanismo de reprogramação
nuclear.
Palavras-chave: inativação do cromossomo X, reprogramação nuclear, embriões bovinos,
transferência nuclear, sexo.
49
Abstract
MERIGHE, G.K.F. Effects of nuclear reprogramming on the expression of X chromosome-
related genes in in vitro produced bovine embryos. Tese de Doutorado – Faculdade de
Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Universidade de São Paulo, Pirassununga, 2007.
In the previous chapter, we showed that male embryos produced by nuclear transfer
have higher competence to develop to the blastocyst stage and term pregnancy,
suggesting sex-related alterations during nuclear reprogramming. Early cleavage stages
female embryos (XX) could potentially produce twice the amount of X-linked gene products
relative to male embryos (XY). However, X chromosome inactivation, responsible for X-linked
genes dosage compensation, is necessary for female embryo development. The present
study investigated the relative expression of three X chromosome specific transcripts, XIST,
G6PD and HPRT and also of Interferon-tau (IFN-τ) in male and female bovine blastocysts
produced by nucleus transfer (NT) and in vitro fertilization (IVF). Oocytes obtained from
slaughtered cows were enucleated and reconstructed by somatic cell nucleus transfer
(TNCS) from an adult animal at 18 hours of in vitro maturation. After fusion (two 2.25 kv/cm DC
pulses for 65 µsec) and chemical activation (5.0 µM ionomycin for 5 min followed by 2.0 mM
6-DMAP for 3 hours), the couplets were cultured in CR2 on a granulosa cell monolayer at
38.8ºC in a humidified atmosphere of 5% CO2 in air. IVF embryos were inseminated following
Percoll centrifugation with 2 x 106 spermatozoids/mL in TALP medium supplemented with BSA
and PHE and further cultured in the same condition as cloned embryo. For real time analysis,
GAPDH was used as reference gene. Reaction efficiencies, fluorescence thresholds and Cts
were calculated using the LinRegPCR software and comparisons and statistical analyses were
performed using the REST software. XIST transcripts were higher in female embryos, discretely
expressed in male NT embryos and not detected in IVF male embryos. In contrast with
previous reports, G6PD expression was lower in female embryos in comparison with males,
suggesting a double silencing or another control mechanism for this gene. Female NT
embryos presented lower HPRT expression compared to female IVF embryos, confirming a
double silencing of X-linked genes in female NT embryos. No differences in Interferon-tau
expression were observed among the analyzed embryos. In conclusion, the nuclear
reprogramming mechanism in bovine NT embryos alters the expression of genes important for
development, particularly those related with X chromosome inactivation which were
analyzed in this study.
Key-words: X chromosome inactivation, nuclear reprogramming, bovine embryos, nuclear
transfer, sex.
50
1) Introdução
Todas as células de um organismo multicelular superior têm basicamente um
genótipo idêntico, mas são funcionalmente e morfologicamente diferentes. Isto
ocorre não apenas pela especificidade do tecido, mas devido à expressão
espacial e temporal de genes que são controlados por mecanismos genéticos e
epigenéticos.
O sucesso da clonagem por transferência de núcleo de tecidos
diferenciados em oócitos enucleados demonstra que estes programas genéticos e
epigenéticos podem ser revertidos e que a totipotência celular pode ser restaurada.
Embora experimentos relatem a grande plasticidade de núcleos de tecidos
diferenciados, a clonagem a partir de células somáticas ainda é um processo
pouco compreendido e ineficiente, e uma série de anormalidades tem sido descrita
em embriões, fetos e recém-nascidos.
Várias evidências indicam que a reprogramação epigenética incompleta ou
inapropriada do núcleo doador é, provavelmente, a causa primária das falhas da
transferência nuclear, pois o sucesso desta biotecnologia necessita do
cancelamento da transcrição do genoma somático, e o restabelecimento de
padrões de expressão gênica embrionária (reprogramação nuclear).
Por este motivo, ocorrem eventos de silenciamento e reorganização da
cromatina, por exemplo, o silenciamento gênico de um dos cromossomos X em
fêmeas. Este evento, denominado inativação do cromossomo X (ICX) é responsável
pela equalização dos transcritos do cromossomo X entre os gêneros.
No início do desenvolvimento, o embrião feminino possui dois cromossomos X
ativos. Quando a diferenciação celular tem início, um dos dois cromossomos X, em
cada célula, é selecionado e inativado. Este evento é iniciado pela ativação do
gene XIST a partir do cromossomo X escolhido. O X inativo (Xi) adquire uma série de
características que o difere do X ativo (Xa). Entre estas diferenças encontram-se o
alto nível de metilação de seu DNA em regiões promotoras e a hipoacetilação das
histonas H4.
Enquanto que nas células que formarão o embrião a ICX se dá de forma
aleatória, no tecido extra-embrionário, em camundongos, ela é submetida à
marcação genética, sendo o X paterno preferencialmente inativado. Assim, esses
51
dois processos epigenéticos, marcação e ICX, se sobrepõem nos tecidos extra-
embrionários.
No zigoto fêmea normal os dois cromossomos X estão ativos, por outro lado, o
zigoto fêmea produzido por transferência nuclear possui um Xa e um Xi do núcleo
somático. Desta maneira, durante a reprogramação nuclear, essas marcas devem
ser apagadas para que o processo de ICX ocorra de forma normal no embrião
clonado.
Os estudos de herança epigenética em clones mamíferos indicam que a
natureza desses rastros pode ser distinta. Mecanismos celulares envolvidos na
reprogramação celular podem distinguir os rastros relativos à marcação genômica
daqueles relativos ao estado de atividade do cromossomo X, mantendo os
primeiros intactos e apagando os últimos.
Este trabalho procurou avaliar o processo de inativação do cromossomo X
em embriões clones bovinos, investigando a expressão relativa de genes ligados ao
cromossomo X, comparando blastocistos machos e fêmeas produzidos por
fecundação in vitro (FIV) e por transferência nuclear de células somáticas (TNCS).
52
2) Revisão de Literatura
Embora não seja uma tecnologia recente e esteja sendo aplicada para
várias espécies, muitos dos eventos biológicos básicos envolvidos na transferência
nuclear são ainda pouco compreendidos, especialmente quando células
somáticas adultas são usadas para clonagem.
A maioria dos embriões e fetos submetidos à transferência nuclear morre
durante os diferentes estágios de gestação, e pode sofrer sérias anormalidades
como o aumento do peso ao nascer, disfunção placentária e falhas nos sistemas
vascular, respiratório, metabólico e endócrino (CROSS, 2001; HILL, 2002).
Dados da literatura relatam que tais anomalias são conseqüências de
alterações de expressão gênica nestes animais, sugerindo que mecanismos de
regulação transcricional sofram prejuízos durante o processo de reprogramação
nuclear, em virtude do bloqueio da transcrição do genoma somático, e o
restabelecimento da expressão gênica embrionária (McGRAW et al., 2002).
Dentre os mecanismos que regulam a transcrição, o padrão de acetilação
da cromatina apresentou-se alterado em embriões bovinos clonados comparado
aos produzidos por fecundação in vitro. Wee e colaboradores (2005), trabalhando
com embriões de camundongo clonados, observaram que o tratamento com
tricostatina A (TSA) e ácido valpróico (VPA), inibidores das enzimas desacetilases,
aumentou significativamente a eficiência da clonagem (KISHIGAMI et al., 2006;
RYBOUCHKIN et al.; 2006).
Como mencionado anteriormente, anormalidades observadas em animais
clonados sugerem que genes marcados e alterações na reprogramação
epigenética contribuem para a falha no desenvolvimento de embriões clones. Uma
série de estudos sobre embriões submetidos à transferência nuclear mostrou que a
metilação do DNA e expressão de genes marcados estão alterados em embriões e
animais clonados (EGGAN et al., 2000; BOURC’HIS et al., 2001; DEAN et al., 2001;
HUMPHERYS et al., 2001; JONES et al., 2001; KANG et al., 2001, 2002; XUE et al., 2002;
INOUE et al., 2002; CEZAR et al., 2003).
A metilação do DNA em embriões, principal fenômeno epigenético pelo qual
um gene é silenciado, altera o estabelecimento de padrões de marcação que são
vitalmente importantes para uma série de eventos biológicos. As enzimas DNA
metiltransferases (DNMTs) são responsáveis pelo estabelecimento e manutenção da
53
metilação do DNA (YODER e BESTOR, 1996; BESTOR, 2000). As DNMT3a e DNMT3b são
suspeitas de agirem na origem da metilação, uma vez que suas atividades
parecem estar ligadas a um determinado domínio do genoma, sendo que a DNMT1
é responsável pela manutenção da metilação do DNA durante o processo de
duplicação (OKANO et al., 1999; BESTOR, 2000).
Além das variações na metilação do DNA em embriões clones (BOURC’HIS et
al., 2001; DEAN et al., 2001; KANG et al., 2002; MANN et al., 2003), genes críticos para
o desenvolvimento, tais como aqueles envolvidos na resposta ao estresse e funções
trofoblásticas também estão alterados (BOIANI, et al., 2002; CHUNG et al., 2003;
WRENZYCKI et al., 2001).
De maneira geral, as taxas de sucesso com a transferência nuclear são
extremamente baixas, onde apenas 0,9% a 5% dos embriões clonados geram
animais vivos e saudáveis (WILMUT et al., 2002). Estudos analisando as modificações
epigenéticas em animais clonados indicam que a reprogramação incorreta pode
ser parcialmente responsável pela baixa taxa de sucesso (BOIANI et al., 2002;
BORTVIN et al., 2003; EGGAN et al., 2000).
Uma das modificações epigenéticas muito estudada em embriões normais é
a inativação do cromossomo X (ICX), contudo, ainda permanece caracterizada de
maneira incompleta em embriões clones. Sabendo-se que fêmeas possuem dois
cromossomos X e machos possuem apenas um, teoricamente, elas teriam expressão
gênica duas vezes superior aos machos em relação aos genes presentes no
cromossomo X. Entretanto, no início do desenvolvimento, um dos dois cromossomos
X torna-se inerte, resultando na equalização da transcrição de genes ligados ao X
(PLATH et al., 2002).
Em todas as células, um dos dois cromossomos X, o X materno herdado (Xm)
ou o X paterno herdado (Xp), podem ser inativados aleatoriamente. Após o
silenciamento, o X inativo permanece extremamente estável, apresentando
características específicas tais como heterocromatinização, replicação tardia do
DNA, níveis altos de expressão do gene XIST, acumulação de RNA do XIST,
metilação das ilhas CpG e modificações de histonas (TAKAGI, 2003).
Vários estudos relatam que uma única região do cromossomo X,
denominada Centro de Inativação do X (CIX), é essencial para a iniciação,
propagação e manutenção da inativação. O início da inativação envolve o
reconhecimento do número de cromossomos X presentes na célula, assegurando a
54
permanência de um cromossomo X ativo numa célula diplóide masculina e a
inativação de apenas um único cromossomo X numa célula diplóide feminina
(CHUREAU et al., 2002).
Este processo, no qual é conhecido como contagem, seleciona um dos
cromossomos X para permanecer ativo (Figura 10). Para tanto, uma célula diplóide
produz um único fator bloqueador que aleatoriamente associa-se com um
cromossomo X e o protege da inativação, enquanto que o X não bloqueado é
inativado (CHUREAU et al., 2002).
Nos tecidos extra-embrionários, tais como a placenta, em camundongos no
início do desenvolvimento, é sempre o cromossomo X herdado do pai que é
inativado. A expressão gênica de apenas um membro parental de um par de
cromossomos é conhecida como marcação (imprinting), e é causada por uma
memória epigenética carregada no oócito ou no espermatozóide. Mais tarde, nos
tecidos embrionários, a inativação do X é aleatória em relação à origem parental
dos cromossomos X (EGGAN et al., 2000).
Estudando clones de camundongos, Eggan e colaboradores (2000),
analisando o gene XIST e outros dois genes ligados ao X, observaram que a
inativação do cromossomo X (ICX) ocorreu de forma normal nestes animais, ou seja,
os fetos apresentaram ICX aleatória, enquanto na placenta o X inativo (Xi) foi o X
paterno.
Análises citogenéticas e bioquímicas da inativação do cromossomo X em
embriões de camundongos (EPSTEIN et al., 1978; MUKHERJEE, 1976) mostraram que
no estádio de blastocisto (3,5 a 4 dias do desenvolvimento), o cromossomo X
paterno no trofectoderma apresentou replicação tardia e transcrição inativa
(TAKAGI e SASAKI, 1975; WEST et al., 1977), enquanto no ectoderma embrionário, a
inativação do X ocorreu tardiamente (6,5 dias de desenvolvimento) e envolveu ou o
cromossomo X paterno ou o materno (TAKAGI e SASAKI, 1975).
Esses resultados indicaram que, durante a reprogramação nuclear, as marcas
epigenéticas do Xi foram apagadas. É interessante notar que, enquanto as marcas
epigenéticas de origem parental foram mantidas nos clones de camundongos, as
de atividade do cromossomo X foram apagadas, sugerindo que elas têm naturezas
bioquímicas distintas (EGGAN et al., 2000).
Um estudo posterior em clones bovinos analisou a expressão do gene XIST e
de outros 10 genes ligados ao X em clones bovinos vivos e mortos (WILMUT et al.,
55
1997). Em contraste com os resultados em camundongos, foram observados dois
padrões de ICX, de acordo com a viabilidade dos clones analisados. Enquanto em
fibroblastos de pele de clones vivos a ICX se deu de forma aleatória normal, nos
clones mortos observou-se um padrão complexo e inédito de ICX em todos os
órgãos analisados, de maneira que, em cada órgão, pelo menos dois genes ligados
ao X estavam silenciados em ambos os cromossomos X.
Além disso, a análise da ICX na placenta de animais normais demonstrou
que, como em camundongos, em bovinos essa inativação é submetida à
marcação, ou seja, o Xi é paterno. Enquanto que na placenta dos clones vivos, a
ICX era submetida à marcação, nos animais mortos a ICX era aleatória. Assim, os
autores concluíram que a reprogramação nuclear incompleta pode gerar marcas
epigenéticas anormais no cromossomo X em clones bovinos, o que pode estar
relacionado com a não-viabilidade desses animais (WILMUT et al., 1997).
2.1) Transcrito específico do X inativo (XIST)
O principal fator responsável pelas várias etapas da cascata de inativação é
o gene XIST que está localizado no centro de inativação do X (CIX) no qual
transcreve um RNA não-codificante que permanece associado ao cromossomo X
inativo (FARAZMAND, et al., 2001).
Antes da inativação, ocorre expressão do XIST a partir de todos os
cromossomos X e este RNA permanece apenas no local da transcrição,
propagando-se e acumulando-se do CIX ao longo de todo comprimento do
cromossomo correlacionado ao silenciamento.
O cromossomo X inativo torna-se heterocromático e hipoacetilado (JEPPESEN
e TURNER, 1993), apresenta replicação tardia na fase S do ciclo celular (TAKAGI e
OSHIMURA, 1973) e, com exceção de pouquíssimos genes que escapam da
inativação, torna-se transcricionalmente quiescente (GRAVES e GARTLER, 1986).
O processo de inativação do X apresenta múltiplas etapas, envolvendo
desde a contagem de cromossomos X, a seleção de um cromossomo X para
permanecer ativo e iniciação da inativação do cromossomo X (ou cromossomos X
no caso de indivíduos com mais de dois cromossomos X) para ser silenciado (LYON,
1991; Figura 11).
56
Figura 11. Escolha do Xa (cromossomo X ativo) pelo fator de bloqueio. (A) Fator
bloqueador (FB), codificado autossomicamente, é produzido em
quantidades suficientes para escolher um Xa. (B) Durante o processo de
escolha do Xa, ambos os cromossomos X competem pelo fator de bloqueio
limitante na região cis-atuante descriminada como elemento de contagem
(EC). A escolha do Xa é determinada quando o fator de bloqueio interage
com o elemento de contagem em um dos cromossomos X. Neste momento,
moléculas de RNA do XIST são produzidas, porém restritas ao local de
transcrição. (C) Durante o período de inativação, a atividade do RNA-XIST é
reprimida no Xa eleito em conseqüência de sua modificação pelo fator de
bloqueio, e a expressão de XIST é, então, cessada. No suposto Xi (X inativo),
RNA-XIST reveste o cromossomo em cis, levando à inativação de seus genes
(modificado de PLATH et al., 2002).
Autossomo
Autossomo Fator bloqueador
Fator bloqueador
(A) Produção do fator bloqueador:
FB
(C) Xa/Xi
= Xa
FB
X ativo eleito XIST CE genes ligados ao X XIST CE genes ligados ao X
FB
suposto Xi XIST CE genes ligados ao X XIST CE genes ligados ao X = Xi
Suposto X inativo
X ativo eleito
Cromossomo X
Cromossomo X XIST
(B) Escolha do X ativo:
XIST
CE
CE
FB
XIST
XIST
CE
CE
FB RNA do XIST
57
O RNA do XIST carece de maior conhecimento estrutural para sua
interpretação, permanecendo como um RNA nuclear não traduzido. A inativação,
então, propaga-se do seu local de transcrição em direção às regiões mais próximas
até alcançar todo o comprimento do cromossomo X selecionado, tornando-se
inativo (BROCKDORFF et al., 1992; CLEMSON et al, 1996).
Em bovinos, o XIST foi detectado em níveis muito baixos em embriões no
estádio de duas células, aumentando sua quantidade quando analisado em
embriões de oito células no terceiro dia do desenvolvimento (DE LA FUENTE et al.,
1999), no momento da ativação do genoma embrionário (TELFORD et al., 1990).
Contudo, a replicação tardia do cromossomo X inativo foi somente detectada no
estádio de blastocisto inicial no sétimo dia do desenvolvimento in vitro em bovinos
(DE LA FUENTE et al., 1999).
A porcentagem de embriões fêmeas com replicação tardia do cromossomo
X e o número de células por embrião que apresenta esta característica, aumenta
com o avanço do desenvolvimento (DE LA FUENTE et al., 1999), sugerindo que existe
uma variação individual inter-embrião, assim como, intra-embrionária (entre
blastômeros) na progressão do processo de inativação.
No processo de transferência nuclear, a introdução de um núcleo somático
contendo um cromossomo X inativo no citoplasma do oócito receptor cria uma
situação epigenética artificial. Estudos revelaram que, embora o gene XIST esteja
hipermetilado no cromossomo X ativo das células somáticas, ambos os
cromossomos X estão hipometilados nas células do embrião na fase pré-
implantação (McDONALD et al., 1998; NORRIS et al., 1994).
58
2.2) Glicose-6-Fosfato Desidrogenase (G6PD) e Hipoxantina
fosforibosiltransferase (HPRT)
Genes como glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD) e hipoxantina
fosforibosiltransferase (HPRT) são importantes para o metabolismo, estão localizados
no cromossomo X e ambos estão sujeitos à inativação. G6PD é uma enzima que
atua como fator limitante na via pentose fosfato (PPP) na qual produz NADPH e
ribose-5-fosfato, precursor de todos os nucleotídeos (RIEGER, 1992; Figura 12).
NADPH é critico para manutenção da glutationa (GSH) em sua forma
reduzida na qual é fundamental para desintoxicação de radicais livres e
hidroperóxidos lipídicos. Dada a importância de G6PD no estresse oxidativo,
embriões e fetos que apresentam deficiência de G6PD são mais susceptíveis ao
estresse oxidativo que os demais indivíduos (RIEGER, 1992).
Figura 12. Participação da G6PD no ciclo das pentoses. GSH = Glutationa reduzida
(atividade anti-oxidante); GSSH = Glutationa oxidada; H2O2 = peróxido de
hidrogênio; NADP+ = nicotinamida adenina difosfato; NADPH =
nicotinamida adenina difosfato reduzida (modificado de VOGEL e
MOTULSKY, 1997).
Glicose
ATP ADP Glicoquinase
Glicose-6-Fosfato Frutose-6-Fosfato Fosfoglicoisomerase
Glicose-6-Fosfato Desidrogenase
Ácido Pirúvico + 2 ATP + 2H+
70%
30% (Ciclo Pentose-Fosfato)
6-Fosfogluconato
RIBOSE
várias reações
NADP+
NADPH
GSH
☺
GSSH
2H2O2
2H2O + O2
Glutationa Peroxidase
Glutationa Redutase
59
Em alguns estudos tem sido observado um número desproporcional de
bezerros machos versus fêmeas oriundos de embriões cultivados in vitro (HASLER et
al., 1995; MASSIP et al., 1996). Gutiérrez-Adán et al. (2000) relataram que, em muitos
sistemas de cultivo in vitro, embriões bovinos machos apresentam tanto
desenvolvimento mais rápido ao estádio de blastocisto, quanto maior porcentagem
destes embriões alcança o estádio de blastocisto expandido. Este fato justifica o
número desproporcional de nascimentos de bezerros machos oriundos de embriões
produzidos in vitro (BEHBOODI et al., 1997).
Estas diferenças entre os sexos acontecem antes da diferenciação sexual das
gônadas. Uma hipótese interessante é que estas diferenças no desenvolvimento são
ocasionadas pela expressão de alguns genes localizados no cromossomo X ou no
cromossomo Y ou em ambos. Os genes do cromossomo Y podem desempenhar um
efeito acelerador nos embriões machos, ao invés disto, a expressão potencialmente
desbalanceada dos genes ligados ao cromossomo X exerceria efeito de
retardamento nos embriões fêmeas durante o desenvolvimento pré-implantação
(GUTIÉRREZ-ADÁN et al., 1996, 2001a).
A expressão de ambos G6PD e HPRT está envolvida no controle da
quantidade de radicais livres. Durante o estádio das primeiras clivagens, ambos os
cromossomos X das fêmeas estão ativos (EPSTEIN et al., 1978; KRATZER e GARTLER,
1978; DE LA FUENTE et al., 1999), e a inativação do X ocorre a partir de células
diferenciadas de linhagem totipotente (MONK e HARPER, 1978).
O papel das enzimas ligadas ao cromossomo X envolvidas no metabolismo
energético, especialmente G6PD, a primeira enzima do ciclo pentose-fosfato, tem
sido considerado como um possível indicador de diferenças entre os sexos (Rieger,
1992). Sugere-se que a sobrevivência do embrião pode estar relacionada à
capacidade deste em manter a homeostase celular em relação ao meio. A G6PD,
contribuindo na desintoxicação de espécies reativas de oxigênio (ROS), se torna
responsável por manter este equilíbrio celular (RIEGER, 1992; IWATA et al., 1998;
NICOL et al., 2000).
A atividade do ciclo pentose-fosfato apresenta-se quatro vezes maior em
embriões fêmeas comparada aos embriões machos (TIFFIN et al., 1991), levando a
uma maior eficiência na desintoxicação de radicais de oxigênio (PEIPPO e
BREDBACKA, 1995). Estes radicais não apenas estão envolvidos no mecanismo de
60
morte celular, mas também tem um efeito estimulante do crescimento (RIEGER,
1992).
O menor nível de radicais de oxigênio em fêmeas, devido à dose dupla de
G6PD, poderia ser responsável pelo efeito de retardamento no desenvolvimento.
Machos, com radicais de oxigênio apropriado, poderiam formar blastocistos mais
rapidamente que as fêmeas. Estes efeitos poderiam explicar porque embriões
produzidos in vitro mostram um significativo desvio da razão 1:1 do sexo; em cultivo,
eles são expostos às condições do ambiente que facilitam a formação de radicais
livres.
Outra possível justificativa para a maior proporção de blastocistos machos
produzidos in vitro (AVERY et al., 1991, 1992; XUE et al., 1992) pode ser explicada pela
grande sensibilidade de embriões fêmeas à presença de glicose no meio de cultivo.
Altas concentrações de glicose causam deficiência nas fêmeas bloqueando seu
desenvolvimento no estádio de mórula, consequentemente um menor número de
embriões fêmeas alcançam o estádio de blastocisto comparado com embriões
machos (GUTIÉRREZ-ADÁN et al., 2001a, 2001b; LARSON et al., 2001; PEIPPO et al.,
2001).
A concentração de glicose no meio de cultivo embrionário associada à
produção de espécies reativas de oxigênio são fatores que poderiam influenciar o
desenvolvimento embrionário in vitro (RIEGER, 1992; BREDBACKA e BREDBACKA,
1996; GUTIÉRREZ-ADÁN et al., 2001a; PEIPPO et al., 2001), além de contribuir na maior
velocidade no desenvolvimento de embriões machos (AVERY et al., 1991; XUE et al.,
1992; YADAV et al., 1993; PERGAMENT et al., 1994; RAY et al., 1995; BREDBACKA e
BREDBACKA, 1996; CARVALHO et al., 1996; GUTIÉRREZ-ADÁN et al., 1996, 2001a;
PEGORARO et al., 1998; PEIPPO et al., 2001).
A enzima hipoxantina fosforibosiltransferase (HPRT) participa do metabolismo
das purinas nas células através de seu envolvimento na via de recuperação das
purinas (Figura 13). A enzima produzida por este gene converte bases purinas livres
nas células aos seus 5’-mononucleotídeos correspondentes (VOGEL e MOTULSKY,
1997). A HPRT metaboliza hipoxantina, inibidora do desenvolvimento embrionário, na
qual é produzida pela degradação de nucleotídeos purínicos, a inosinato (IMP), um
precursor de outros nucleotídeos purínicos, tais como adenilato (AMP) e guanilato
(GMP).
61
Em conseqüência do déficit de hipoxantina fosforibosiltransferase (HPRT) há
um aumento importante da produção de ácido úrico que resulta em várias
complicações fetais por causa de seu aumento na circulação sangüínea.
Figura 13. Participação da HPRT da via de recuperação das purinas. A enzima
produzida por este gene converte bases purinas livres nas células aos seus
5’-mononucleotídeos correspondentes (modificado de VOGEL e
MOTULSKY, 1997).
Visto que a inativação do X inicia-se e propaga-se a partir do CIX (LYON,
1991), os níveis de expressão de genes localizados no cromossomo X sob diferentes
distancias do CIX poderiam informar o estado de inativação do X através da
avaliação da dosagem dos genes entre os embriões.
Sabe-se que o gene HPRT localiza-se mais próximo à região CIX do que o
gene G6PD no cromossomo X em humanos (BROWN et al., 1991; Figura 14). O gene
XIST está localizado na região do CIX sobre o braço longo do cromossomo X em
humanos, bovinos e camundongos (BROCKDORFF et al., 1991; BROWN et al., 1991) e
a localização dos genes HPRT e G6PD é na porção distal do braço longo do
cromossomo X, porém estando o G6PD mais distante que o HPRT (XIAO et al., 1998).
Sugere-se que a propagação da metilação, um mecanismo envolvido na
AMP + ATP 2 ADP adenilato quinase
ADP
ATP
adenosina quinase
ADENOSINA
Pi NH3
NH3 Pi
IMP
AMP desaminase 5-N
adenosina desaminase
INOSINA
5’-nucleotidase
HIPOXANTINA
nucleosídeo fosforilase
PPi
PRPP
HGPRT
xantina oxidase
XANTINA
xantina oxidase
ÁCIDO ÚRICO
Radicais de Oxigênio
62
inativação do X, está extremamente ligada a distância entre o centro de
inativação (CIX) e o gene (GRANT et al., 1993).
Figura 14. Representação esquemática do cromossomo X em humanos e a
localização dos genes estudados XIST, G6PD e HPRT. (adaptado de
Genetics Home Reference).
2.3) Interferon-Tau
Interferon-τ (IFN-τ) é a proteína de secreção mais abundante produzida
pelas células do trofectoderma de embriões bovinos e desempenha papel vital no
estabelecimento da prenhez por seu efeito anti-luteolítico, responsável pela
degeneração do corpo lúteo (CL; ROBERTS et al., 1992).
A expressão de IFN-τ é restrita ao período de desenvolvimento pré-
implantação do concepto, iniciando no estádio de blastocisto expandido e
declinando acentuadamente após a fixação definitiva do trofoblasto alongado à
parede uterina. Sabe-se que age pontualmente no endométrio materno, e, de
maneira ainda não totalmente compreendida, anula a liberação da luteolisina
uterina, prostaglandina F2α e simultaneamente aumenta a produção do fator
luteotrófico e prostaglandina E (BINELLI et al., 2000; AROSH et al., 2002).
Em sistemas de cultivo in vitro, o estádio do desenvolvimento, a qualidade
dos embriões (HERNANDEZ-LEDEZMA et al., 1992), as condições de cultivo utilizadas,
e a velocidade de formação de blastocistos (KUBISCH et al., 1998) influenciam
significativamente na expressão e na secreção de IFN-τ.
CIX/XIST HPRT G6PD
63
A quantificação da produção de IFN-τ por blastocistos individuais é de
grande valor para avaliar a qualidade do embrião quando produzidos in vitro
(HERNANDEZ-LEDEZMA et al., 1992, 1993; KUBISCH et al., 1998; LARSON e KUBISCH,
1999; STOJKOVIC et al., 1999; KUBISCH et al., 2001a).
As taxas de prenhez apresentadas após a transferência de embriões
produzidos in vitro são ligeiramente menores que após a transferência de embriões
produzidos in vivo (REICHENBACH et al., 1992). Além disso, apesar das taxas de
desenvolvimento a blastocistos não apresentarem diferenças acentuadas, a
proporção de embriões clones que originam uma prenhez e bezerros nascidos vivos
é geralmente muito baixa (WESTHUSIN et al., 1991; STICE et al., 1994).
Estudos indicam uma correlação entre a qualidade morfológica e a
secreção de IFN-τ por blastocistos. Hernandez-Ledezma et al. (1993) concluíram que
blastocistos eclodidos de alta qualidade secretaram mais IFN-τ que blastocistos
eclodidos de baixa qualidade. Além disso, Stojkovic et al. (1999) também
encontraram maior secreção de IFN-τ por blastocistos eclodidos no 8º dia de cultivo
comparados à secreção por blastocistos não eclodidos no 8º dia de cultivo.
A partir da secreção de IFN-τ pelo trofectoderma diferenciado, esta proteína
passa a ser um indicador do potencial de viabilidade e qualidade do concepto, e
particularmente do trofoblasto, num período crítico do desenvolvimento.
A quantidade de IFN-τ secretada por blastocistos produzidos in vitro de
mesma idade de desenvolvimento e mesmo número de células varia
consideravelmente (KUBISCH et al., 2003; STOJKOVIC et al., 1999). Foi relatada uma
associação positiva entre a qualidade do embrião e a produção de IFN-τ
(HERNANDEZ-LEDEZMA et al., 1993), porém outros relatos sugerem que blastocistos
devem produzir mais IFN-τ quando estão sujeitos ao estresse do ambiente, e que os
melhores embriões devem ser aqueles que alcançam o estádio de blastocisto mais
rapidamente e produzem menores quantidades de IFN-τ (KUBISCH et al., 2001b;
LARSON et al., 2001).
Estes trabalhos, contudo, têm sofrido questionamentos devido a três
observações importantes. A primeira delas é que quanto mais tarde um embrião
alcança o estádio de blastocisto, mais IFN-τ é produzido durante as subseqüentes 24
e 48 horas de cultivo in vitro (KUBISCH et al., 1998, 2001a).
A segunda é que blastocistos fêmeas produzem cerca de duas vezes mais
IFN-τ que machos com equivalente período de desenvolvimento, estádio de
64
desenvolvimento e qualidade (LARSON e KUBISCH, 1999; KUBISCH et al., 2003). A
terceira é o suplemento macromolecular disponível no meio de cultivo, por
exemplo, soro fetal bovino versus albumina sérica bovina versus polivinil álcool,
podem influenciar na produção de IFN-τ (KUBISCH et al., 2001b).
Embriões fêmeas produzidos in vitro (PIV) diferem dos machos em relação a
expressão de IFN-τ. Eles são, por exemplo, muito mais susceptíveis aos prejudiciais
efeitos da glicose adicionada aos meios de cultivo para uso in vitro se este açúcar
está oferecido em concentrações que aproximam daquelas encontradas no soro e
na maioria dos meios de cultivo comerciais (GUTIÉRREZ-ADÁN et al., 2001a; LARSON
et al., 2001; PEIPPO et al., 2001).
Sob tais condições, uma alta proporção de fêmeas alcança o estádio de
mórula, mais falham para avançar para o estádio de blastocisto. Uma possível
explicação para este fenômeno é que fêmeas, pelo menos até o estádio de
blastocisto expandido, possuem dois cromossomos X ativos e poderiam, dessa
maneira, ser mais susceptível ao não balanceamento metabólico como um
resultado da dosagem de genes (GUTIÉRREZ-ADÁN et al., 2000; WRENZYCKI et al.,
2002).
A produção aumentada de IFN-τ por blastocistos fêmeas deve, portanto, ser
um efeito indireto da dosagem do cromossomo X, mesmo o gene IFN-τ sendo de
origem autossômica (RYAN e WOMACK, 1993). Por exemplo, estes genes poderiam
ser sensíveis ao estado redox das células e alterados na sua expressão como um
resultado do alto fluxo do ciclo pentose-fosfato, já que o gene G6PD, o “guardião”
do ciclo das pentoses, parece estar expresso mais fortemente em mórulas e
blastocistos fêmeas que em machos (DE LA FUENTE et al., 1999; GUTIÉRREZ-ADÁN et
al., 2000; IWATA et al., 2002; WRENZYCKI et al., 2002).
Alternativamente, eles podem ser sensíveis a um fator de transcrição
codificado no cromossomo X. Claramente, não se pode esperar uma expressão de
genes equivalente entre blastocistos machos e fêmeas, mesmo porque fêmeas tem
dois cromossomos X ativos e os machos tem apenas um cromossomo X além do seu
único cromossomo Y.
Um exemplo de dimorfismo sexual entre embriões bovinos tem sido a
observação que blastocistos expandidos fêmeas produzem significativamente mais
o hormônio reconhecedor da prenhez, interferon-tau, que machos (LARSON et al.,
2001; KUBISCH et al., 2003). Esta observação levanta a questão de como esta
65
diferença entre os sexos deve também ser uma conseqüência das condições de
cultivo.
Quando o braço oxidativo da via pentose-fosfato está ativo, a transcrição de
IFN-τ, por sua vez, também deve estar aumentada. Ainda é desconhecido o valor
adaptativo para este aumento de IFN-τ por blastocistos fêmeas, porém é evidente
que esta diferença não pode ser atribuída a um artefato do desenvolvimento in
vitro, ao contrário, representa real diferença entre os dois sexos (KIMURA et al., 2004).
Contudo, condições de cultivo com baixa concentração de glicose não
levam à equalização na produção de IFN-τ entre os sexos (LARSON et al., 2001).
Fêmeas continuam a produzir cerca de duas vezes a quantidade de IFN-τ que
machos adicionando ou não glicose no meio de cultivo.
A produção de IFN-τ por blastocistos parece ser influenciada por vários
fatores, incluindo o grupo de oócitos selecionados (LARSON et al., 2001), número de
embriões cultivados juntos (LARSON e KUBISCH, 1999), a idade do embrião quando
forma blastocisto (KUBISCH et al., 1998) e o genótipo do doador de espermatozóides
(KUBISCH et al., 2001a), mas a causa do dimorfismo sexual permanece
desconhecida.
O que nos chama a atenção, é que nenhuma diferença tem sido detectada
na produção total de IFN-τ entre blastocistos expandidos produzidos in vivo e in vitro
e entre blastocistos expandidos cultivados em diferentes meios de cultivo (KUBISCH
et al., 2001a).
O maior fator que contribui para o dimorfismo sexual entre embriões no início
do desenvolvimento é a dosagem de cromossomos X (ERICKSON, et al., 1997;
KOCHHAR et al., 2001; WRENZYCKI et al., 2002). Como fêmeas carregam dois
cromossomos X, potencialmente produzem duas vezes a quantidade de genes
ligados ao X que machos.
Em camundongo o processo tem início com a formação do blastocisto e
está, a princípio, confinado ao trofectoderma, onde o cromossomo X paterno é
seletivamente inativado (HARPER et al., 1982; GOTO e MONK, 1998). A inativação do
cromossomo X é também iniciada no estádio de blastocisto em embriões bovinos
(DE LA FUENTE et al., 1999), e, pela analogia com o camundongo, pode ser limitada
ao trofectoderma.
Uma possível explicação é que a maior dosagem de genes localizados no
cromossomo X no trofectoderma de blastocistos expandidos fêmeas levam à maior
66
expressão de IFN-τ, porém tendo em vista que o gene IFN-τ não está localizado no
cromossomo X (RYAN e WOMACK, 1993), qualquer efeito deste torna-se indireto.
Embriões bovinos, como também de outras espécies, são sensíveis ao estresse
oxidativo. A partir do momento em que a expressão de G6PD é maior em mórulas e
blastocistos fêmeas do que em machos (IWATA et al., 2002; GUTIÉRREZ-ADÁN et al.,
2000), é concebível que a menor produção de IFN-τ por machos pode refletir numa
maior sensibilidade de machos ao estresse oxidativo.
Portanto, a maior produção de IFN-τ por fêmeas pode ser favorecida pela
maior concentração de G6PD, associada ao aumento do fluxo da via pentose-
fosfato. Dessa maneira, caracteriza a sensibilidade das atividades dos fatores de
transcrição ao estado redox do meio celular (MOREL e BAROUTI, 1999; WENGER,
2000; HADDAD, 2002).
67
3) Objetivos 3.1) Objetivo Geral
O objetivo deste trabalho foi avaliar a expressão de genes ligados ao processo
de inativação do cromossomo X em embriões produzidos por transferência nuclear
de células somáticas adultas masculinas e femininas.
3.2) Objetivos Específicos
3.2.1) Investigar a expressão relativa dos genes XIST, G6PD, HPRT e IFN-τ em
blastocistos eclodidos bovinos machos e fêmeas produzidos por
fecundação in vitro (FIV) e por transferência nuclear de células somáticas
(TNCS) com nove dias de cultivo.
68
4) Hipótese
Evidenciado que características como menor taxa de desenvolvimento a
blastocisto, maior taxa de aborto e maior taxa de mortalidade após o nascimento
estavam ligados ao sexo, por se apresentarem em indivíduos clones fêmeas,
sugeriu-se que estes fenômenos poderiam estar relacionados com a expressão
errônea de genes ligados ao cromossomo X, evidenciando falha na
reprogramação nuclear durante a inativação do X. Portanto, a hipótese deste
trabalho foi que a expressão de genes relacionados ao cromossomo X estaria
alterada em embriões fêmeas produzidos por transferência nuclear.
69
5) Material e Métodos
5.1) Produção dos embriões por Fecundação in vitro
5.1.1) Maturação in vitro
A produção in vitro de embriões, técnica realizada rotineiramente no
laboratório, procedeu-se a partir de oócitos viáveis maturados in vitro (MIV),
fecundados com espermatozóides capacitados in vitro (FIV) e mantidos de zigoto
até o estádio de blastocisto em sistema de co-cultivo in vitro. Para tanto, ovários de
vacas zebus ou mestiças foram obtidos em abatedouro, transportados em solução
salina (0,9%) a 37ºC, e encaminhados até o laboratório. Os complexos cumulus-
oócito foram aspirados de folículos entre 2 a 8 mm utilizando uma seringa de 10 mL
acoplada a uma agulha de 18 G, e somente os oócitos de qualidade I, com
cumulus compacto completo e citoplasma límpido e de aspecto homogêneo (finas
granulações), foram selecionados para os experimentos. Os oócitos foram, em
seguida, maturados em TCM199 com sais de Earles, glutamina e NaHCO3
suplementado com 10% de soro fetal bovino (SFB), piruvato (22 µg/mL), gentamicina
(50 µg/mL), 0,5 µg de FSH/mL, 50 µg de LH/mL e 1 µg de estradiol/mL em microgotas
de 100 µL de meio de maturação, cobertas com óleo mineral (30 oócitos/gota). A
incubação foi realizada a uma temperatura de 38,5°C e atmosfera gasosa de 5%
CO2 em ar, durante 22 a 24 horas.
5.1.2) Fecundação in vitro
Após o período de maturação, os oócitos foram submetidos à
fecundação in vitro, em microgotas de 100 µL de meio TALP suplementado com
heparina (10 µg/mL), piruvato (22 µg/mL), gentamicina (50 µg/mL), BSA sem ácidos
graxos (6 mg/mL) e solução de PHE (2 µM de penicilamina, 1 µM de hipotaurina e
0,25 µM de epinefrina). As palhetas de sêmen congelado de touros da raça Nelore
foram descongelados em banho-maria a 35ºC, durante 30 segundos e seu
conteúdo centrifugado em gradiente de Percoll (45 e 90%) para obtenção dos
espermatozóides móveis, além da remoção do diluidor e do plasma seminal. A
70
concentração espermática utilizada foi de 2 x 106 células/mL e, após 30 minutos de
incubação dos espermatozóides, os oócitos foram transferidos para as microgotas
(30 oócitos/gota) onde permaneceram sob incubação em atmosfera com 5% de
CO2 em ar, temperatura de 38,5ºC durante 18 horas.
5.1.3) Cultivo in vitro
Após o processo de MIV e FIV, os zigotos tiveram as células do cumulus
removidas e foram então cultivados em meio CR2 modificado suplementado com
10% de SFB, em co-cultivo com células da granulosa (WATANABE et al., 1999), em
temperatura de 38,5ºC e atmosfera de 5% CO2 em ar, durante nove dias, quando
foram retirados do sistema de cultivo e armazenados individualmente para posterior
análise de expressão gênica (Figura 15).
Figura 15. Ilustração das diferentes etapas do processo de produção de embriões
por fecundação in vitro. (a) Aspiração dos folículos ovarianos. (b) Fluído
folicular contendo oócitos. (c) Oócito selecionado no estádio imaturo. (d)
I
A C B
D E F
G H
71
Oócito no estádio de metáfase II antes da fecundação. (e) Confirmação
fluorescente da presença dos cromossomos em metáfase II e da extrusão
do 1º corpúsculo polar. (f) Preparação do gradiente de percoll. (g)
Seleção dos espermatozóides viáveis por centrifugação do gradiente de
Percoll. (h) Blastocistos produzidos por fecundação in vitro. (i)
Armazenamento individual de blastocistos eclodidos no 9º dia de cultivo
in vitro para posterior análise de expressão gênica.
5.2) Produção dos embriões por Transferência Nuclear
5.2.1) Maturação in vitro
A produção in vitro de embriões submetidos ao processo de transferência
nuclear a partir de células somáticas, iniciou-se com o procedimento de maturação
de oócitos viáveis. Para tanto, ovários de vacas zebus ou mestiças foram obtidos em
abatedouro, transportados em solução salina (0,9%) a 37ºC, e encaminhados até o
laboratório. Os complexos cumulus-oócito foram aspirados de folículos entre 2 a 8
mm utilizando uma seringa de 10 mL acoplada a uma agulha de 18 G, e somente
os oócitos de qualidade I, com cumulus compacto completo e citoplasma límpido
e de aspecto homogêneo (finas granulações), foram selecionados para os
experimentos. Os oócitos foram, em seguida, maturados em TCM199 com sais de
Earles, glutamina e NaHCO3 suplementado com 10% de soro fetal bovino (SFB),
piruvato (22 µg/mL), gentamicina (50 µg/mL), 0,5 µg de FSH/mL, 50 µg de LH/mL e 1
µg de estradiol/mL em microgotas de 100 µL de meio de maturação, cobertas com
óleo mineral (30 oócitos/gota). A incubação foi realizada a uma temperatura de
38,5°C e atmosfera gasosa de 5% CO2 em ar, durante 18 horas.
5.2.2) Transferência Nuclear
Após o período de maturação, os oócitos foram desnudados mediante
solução de hialuronidase (2 mg/mL) e então selecionados em relação a presença
do 1º Corpúsculo Polar. Em seguida, foram transferidos para uma solução de
72
citocalasina B (10 µg/mL) e Hoechst 33342 (10 µg/mL) em meio CR2 suplementado
com 10% de SFB durante 20 minutos.
Os oócitos foram então enucleados, removendo uma pequena porção
do citoplasma próxima à região do 1º corpúsculo polar (eliminação do material
genético do oócito). Esta porção aspirada foi visualizada sob luz ultra-violeta para
confirmação da enucleação. Os oócitos foram posteriormente reconstruídos com
células somáticas de um animal adulto no estádio G0 do ciclo celular, inserindo a
célula no espaço perivitelíno.
5.2.3) Eletrofusão e Ativação Química
Os conjuntos oócitos-células somáticas foram transferidos para uma
solução contendo 0,3 M de manitol e expostos a dois pulsos elétricos de 2,25 kV/cm
durante 65 µseg. Aproximadamente uma hora após a eletrofusão, os oócitos
fundidos foram quimicamente ativados em 5 µM de ionomicina durante 4 minutos e,
em seguida, em 2 mM de 6DMAP durante 3 horas.
Ao término do período de ativação, os oócitos foram então cultivados
em meio CR2 suplementado com 10% de SFB em co-cultivo com células da
granulosa, em temperatura de 38,5ºC e atmosfera de 5% CO2 em ar, durante nove
dias, quando foram retirados do sistema de cultivo e armazenados individualmente
para posterior análise de expressão gênica.
5.2.4) Células Doadoras
As células somáticas doadoras de núcleo foram obtidas a partir de
biópsias realizadas em animais adultos machos e fêmeas. O tecido foi retirado da
prega da cauda do animal, e transportado imediatamente para o laboratório em
solução tampão fosfato (PBS) sob gelo. O tecido foi então triturado em pequenos
pedaços de aproximadamente 1 mm, lavados em PBS e fixados numa placa de
Petri de 35 mm de diâmetro. O cultivo procedeu-se em meio DMEM suplementado
com 20% de SFB, piruvato (22 µg/mL), glutamina (1 mM) e gentamicina (50 µg/mL).
A incubação foi realizada a uma temperatura de 38,5°C e atmosfera gasosa de 5%
CO2 em ar, trocando-se o meio de três em três dias.
Ao crescimento das primeiras células, o meio foi substituído por DMEM
suplementado com 10% de SFB e o cultivo processado até a 3ª passagem,
73
momento em que as células estavam prontas para o procedimento de
transferência nuclear. Aproximadamente 5 dias antes da realização do
experimento, o meio de cultivo foi substituído por DMEM suplementado com 0,5% de
SFB (restrição de soro), procedimento este que visava “pausar” as células somáticas
no estádio G0 do ciclo celular (Figura 16).
Figura 16. Ilustração das diferentes etapas do processo de transferência nuclear. (a)
Oócito no estádio de metáfase II antes da enucleação. (b) Aspiração do
corpúsculo polar e citoplasma adjacente. (c) Oócito enucleado. (d)
Controle fluorescente da presença dos cromossomos em metáfase
dentro da pipeta de micromanipulação após coloração do DNA. (e)
Cultivo de fibroblastos bovinos a partir de biópsia da prega da cauda. (f)
Células doadoras isoladas da cultura de fibroblastos. (g) Inserção da
célula doadora no espaço perivitelino do oócito enucleado. (h) Fusão da
célula doadora com o citoplasma receptor. (i) Primeira clivagem do
embrião reconstituído. (j) Blastocisto produzido por transferência nuclear
desenvolvido in vitro. (k) Armazenamento individual de blastocistos
eclodidos no 9º dia de cultivo in vitro para posterior análise de expressão
gênica (modificado de HEYMAN, 2005).
K
74
5.3) Armazenamento e sexagem dos embriões
5.3.1) Armazenamento dos embriões
Após finalização dos procedimentos de produção dos embriões tanto
por fecundação in vitro quanto por transferência nuclear, exatamente no 9º dia de
cultivo, os embriões no estádio de blastocisto eclodido (Be) foram armazenados
individualmente em solução de PBS simples acrescido de 0,1% de polivinilpirolidona
(PVP) e 1 unidade/µL de inibidor de RNase. Imediatamente foram mergulhados em
nitrogênio líquido e armazenados no freezer -80ºC para posterior análise da
expressão gênica.
5.3.2) Sexagem dos embriões produzidos por fecundação in vitro
Para realização das comparações entre os sexos, os embriões produzidos
por fecundação in vitro, foram sexados aplicando a reação em cadeia da
polimerase (PCR). Os fragmentos de DNA foram amplificados a partir de 1/3 de um
blastocisto. A PCR foi realizada em um volume final de 25 µL contendo tampão para
PCR 1X [20 mM Tris-HCl (pH 8,0); 50 mM KCl], 1,5 mM de MgCl2, 200 µM de cada
dNTP, 0,5 µM do oligonucleotídeo iniciador Y-específico, 0,08 µM do
oligonucleotídeo iniciador X-específico (Tabela 5; WRENZYCKI et al., 2002) e 1
unidade de Taq DNA polimerase (Invitrogen). A PCR iniciou-se a 97ºC por 2 minutos,
seguida por 32 ciclos de 30 segundos a 95ºC para desnaturação do DNA, 30
segundos a 60ºC para anelamento dos oligonucleotídeos iniciadores e 45 segundos
a 72ºC para extensão do oligonucleotídeo iniciador. A extensão final foi realizada a
72ºC durante 5 minutos e resfriada a 4ºC. O produto da amplificação foi submetido
à eletroforese em gel de agarose 1,5% em tampão TBE 1X (89 mM de tris, 89 mM
ácido bórico e 2 mM de EDTA, pH 8,0), contendo 0,5 µg/mL de brometo de etídeo.
A imagem foi visualizada no Scanner FLA 3000G (FUJIFILM) sobre um comprimento
de onda de 520 nm de excitação e 580 nm de emissão.
75
Tabela 5. Seqüências dos oligonucleotídeos iniciadores para o estudo do sexo de embriões bovinos.
Gene Seqüência do primer Fragmento (pb) Y específico Direto Reverso
CCTCCCCTTGTTCAAACGCCCGGAATCATT TGCTTGACTGCAGGGACCGAGAGGTTTGGG
210 pb
X específico Direto Reverso
AGGTCGCGAGATTGGTCGCTAGGTCATGCA AAGACCTCGAGAGACCCTCTTCAACACGT
300 pb
5.4) Análise da expressão gênica
5.4.1) Amplificação do RNA
Para a amplificação do RNA, partindo de um único embrião selecionado
no estádio de blastocisto eclodido, foi empregado o kit Superscript™ RNA
Amplification System (Invitrogen; Figura 17). Resumidamente, o protocolo iniciou-se
com a síntese da 1ª fita de cDNA, adicionando ao tubo contendo o RNA, oligo(dT)-
T7 e água livre de RNase. A reação procedeu-se a 70ºC durante 10 minutos, para
então ser adicionado os demais componentes: tampão de síntese da 1ª fita, DTT,
dNTP, inibidor de RNase, enzima transcriptase reversa Superscript III. A reação foi
então incubada a 46ºC por 2 horas, seguida por 10 minutos a 70ºC, para inativação
da enzima.
Após a síntese da primeira fita, procedeu-se imediatamente a síntese da
segunda fita, adicionando-se ao tubo de reação o tampão de síntese da 2ª fita,
dNTP, as enzimas DNA polimerase I, DNA ligase e RNase II. A incubação foi realizada
a 16ºC por 2 horas.
A purificação da dupla fita de cDNA foi realizada logo após o término da
síntese, adicionando ao tubo de reação o tampão de carregamento e, após
homogeneização, transferindo-o para a coluna de purificação e centrifugado a
12.000 x g. Adicionou-se tampão de lavagem à coluna e centrifugou-se novamente
a 12.000 x g. O último passo envolveu a adição de água livre de RNase e
centrifugação a 12.000 x g para recuperação do cDNA. Para concentração do
cDNA, este foi precipitado com etanol absoluto, acetato de sódio 3 M e glicogênio.
A transcrição in vitro, realizada na seqüência, foi responsável por gerar o
RNA amplificado a partir da dupla fita de cDNA. Para tanto, foi utilizada a enzima T7
76
RNA polimerase, tampão de reação T7 e dNTP (ATP, CTP, GTP e UTP), incubando a
reação a 37ºC por 16 horas. Ao término da reação, o RNA amplificado foi exposto à
enzima DNase I durante 30 minutos a 37ºC.
Finalmente, procedeu-se a purificação do RNA amplificado, adicionando
ao tubo de reação tampão de ligação e etanol absoluto e, após
homogeneização, foi transferido para a coluna de purificação e centrifugado a
12.000 x g. Adicionou-se tampão de lavagem à coluna e centrifugou-se novamente
a 12.000 x g. O último passo envolveu a adição de água livre de RNase e
centrifugação a 12.000 x g para recuperação do RNA.
Figura 17. Esquema do protocolo utilizado para amplificação do RNA obtido a
partir de um único embrião no estádio de blastocisto eclodido no nono
dia de cultivo.
5’
UUUUU 5’
UUUUU 5’
UUUUU 5’
AAAAA 3’ RNA total T T T T T-T7 Oligo(dT)-T7
Síntese da primeira fita de cDNA
AAAAA T T T T T-T7 cDNA
Síntese da segunda fita de cDNA
AAAAA-T7 T T T T T-T7
Purificação do cDNA Transcrição in vitro (amplificação)
cDNA dupla-fita
RNA antisenso (RNAa)
Purificação do RNAa
RNA amplificado está pronto para a transcrição reversa
77
5.4.2) Transcrição Reversa
Para a transcrição reversa do RNA amplificado foi empregado o kit
Improm II (Promega). Resumidamente, o protocolo iniciou-se com a incubação do
RNA com 0,5 µg do oligonucleotídeo randômico poly A (5’AAA AAA AAA AAA 3’)
por 5 minutos a 70ºC. Em seguida, foi adicionado ao tubo de reação tampão 1X, 3
mM de MgCl2, 0,5 mM de dNTP, 40 unidades de inibidor de RNases e 1,0 µL da
enzima transcriptase reversa Improm, totalizando um volume final de 20 µL. A
reação procedeu-se a 42ºC por 60 minutos, seguindo por 15 minutos a 70ºC e
resfriamento a 4ºC.
5.4.3) Amplificação do cDNA dos genes de interesse
Amostras de cDNA dos embriões no estádio de blastocisto eclodido
produzidos por fecundação in vitro e por transferência nuclear foram analisadas
através de PCR em tempo real, utilizando o Sistema de PCR 7500 da Applied
Biosystems. Os produtos da PCR dos genes GADPH, XIST, G6PD, IFN-τ e HPRT foram
detectados através do sistema TaqMan® (Applied Biosystems). Para tanto, as
reações foram realizadas em quadruplicata, num volume final de 20 µL, contendo
1X do mix para PCR TaqMan®, 0,9 µM de cada oligonucleotídeo iniciador, 0,25 µM
da sonda (Tabela 6) e 1% do embrião. A PCR iniciou-se com a ativação da Uracil-N-
glicosilase (UNG) a 50ºC por 2 minutos, seguida por 10 minutos a 95ºC para ativação
da enzima DNA polimerase, 57 ciclos de amplificação de 15 segundos a 95ºC para
desnaturação do DNA e 1 minuto a 60ºC para anelamento e extensão dos
oligonucleotídeos iniciadores (Figura 18). A seqüência dos oligonucleotídeos
iniciadores, bem como, o tamanho do fragmento gerado pela PCR estão descritos
na Tabela 6. A confirmação dos fragmentos obtidos para cada oligonucleotídeo
iniciador foi realizada por eletroforese em gel de agarose 2%.
78
Figura 18. Protocolo utilizado no sistema de PCR em tempo real para amplificação
do cDNA obtido a partir do RNA amplificado de um único embrião no
estádio de blastocisto eclodido no nono dia de cultivo.
Ativação da UNG
Ativação da AmpliTaq Gold Desnaturação
Anelamento e Extensão
79
Tabela 6. Seqüências dos oligonucleotídeos iniciadores e tamanho dos fragmentos dos genes escolhidos para estudo da expressão em embriões bovinos (GAPDH, XIST, IFN-τ, G6PD e HPRT).
Gene Seqüência do oligonucleotídeo iniciador e sonda
Fragmento (pb)
Identificador GenBank
GAPDH Direto Reverso Sonda
AAGGCCATCACCATCTTCCA CCACTACATACTCAGCACCAGCAT AGCGAGATCCTGCCAACATCAAGTGG
76 pb NM_001034034
XIST Direto Reverso Sonda
TTGGCTTTTAGATTAATTTGATGAACAGCAT CCCTTTAGACTAGGCCCATTTCATA ATTCTAGGTCCTGAGCATAAG
99 pb NR_001464
INTERFERON-TAU Direto Reverso Sonda
CCTTCGTGCTCTCTCTACTGATG CAGGTAACAACCCAGAGATCGT CCGTAGCTGACCAGCACC
74 pb AF238612
G6PD Direto Reverso Sonda
GCCGTCCTCTATGTGGAAAATGA CGCAGCGCAGGATGAAG CACCCCGTCCCAGCGC
58 pb XM_583628
HPRT Direto Reverso Sonda
GTTGTGGGATATGCCCTTGACTAT GCTTTGTATTTTGCTTTTCCAGTTTCG CACACACGTGATTCAAG
92 pb NM_001034035
5.5) Análise Estatística
Foi utilizado o método de quantificação relativa utilizando o gene GAPDH como
referência. A expressão relativa está baseada na taxa de expressão de um gene
alvo versus um gene de referencia e é adequada para investigar alterações no
nível de expressão de genes.
A eficiência das amplificações dos fragmentos de interesse a partir de um
oligonucleotídeo iniciador específico durante a reação em cadeia da polimerase
foi estimada utilizando a regressão linear do logaritmo da fluorescência em cada
ciclo através do programa LinRegPCR (RAMARKES, et al., 2003).
Cada curva de regressão foi ajustada para conter no mínimo 4 e no máximo 6
pontos, mantendo sempre um coeficiente de regressão máximo. Para cada par de
oligonucleotídeo iniciador, a linha do limiar de fluorescência foi fixada no ponto
médio da janela de linearidade, correspondendo a fase de amplificação
exponencial das amostras. A janela de linearidade foi determinada pelos valores
mínimos (limite inferior) e máximos (limite superior) de fluorescência utilizada para
estimar a eficiência da PCR (Figuras 19 e 20).
80
As diferenças relativas entre os grupos (TN F, TN M, FIV F e FIV M) para cada
gene estudado, XIST, G6PD, HPRT e IFN-τ, foram estimadas tendo o GAPDH como
gene de referência (PFAFFL et al., 2001). O grau de significância entre os níveis de
expressão foi calculado utilizando o programa REST e os resultados foram
comparados pela diferença entre as amostras testadas e a amostra controle
(PFAFFL et al., 2002).
Foi considerada hipótese nula (H0), como ausência de diferença entre os
grupos e, hipótese alternativa (H1), diferença significativa entre os grupos quando
p < 0,05.
Figura 19. Curva de regressão linear utilizando o programa LinRegPCR. Os limites
superior e inferior da janela de linearidade foram utilizados para os
cálculos da eficiência da reação de PCR e índice de correlação da
curva. Cada curva de regressão foi ajustada para conter no mínimo 4 e
no máximo 6 pontos, mantendo sempre um coeficiente de regressão
máximo.
Limite superior
Limite inferior
81
Figura 20. Curva de amplificação obtida a partir de uma reação em cadeia da
polimerase apresentada em tempo real. O limiar de fluorescência
corresponde ao ponto médio da janela de linearidade (região de
amplificação exponencial), onde a eficiência da PCR é próxima de
dois. O ciclo em que cada curva de amplificação atravessa o limiar de
fluorescência (Ct) serve como base para comparação entre as
amostras.
Limiar de fluorescência
82
6) Resultados
6.1) Sexagem dos embriões produzidos por fecundação in
vitro
Para obtenção dos embriões produzidos a partir de fecundação in vitro foi
realizado um único procedimento laboratorial que resultou em quantidade de
blastocistos suficiente para a realização das comparações entre os sexos. Estes
embriões foram armazenados individualmente e, previamente à manipulação do
RNA, foram sexados aplicando a reação em cadeia da polimerase (PCR; Figura 21).
Na Tabela 7 estão apresentados os valores numéricos da produção in vitro de
embriões utilizando protocolo padrão do laboratório, descrito anteriormente. Neste
experimento, não obtivemos diferenças no número de embriões machos e fêmeas
que alcançaram o estádio de blastocisto eclodido (9º dia de cultivo).
Figura 21. Eletroforese dos fragmentos de DNA amplificados por PCR a partir de
oligonucleotídeos iniciadores específicos para identificação de machos e
fêmeas da espécie bovina. (♀) Fragmento de DNA de fêmea amplificado
apenas pelo oligonucleotídeo específico para cromossomo X; (♂)
fragmentos de DNA de machos amplificados tanto pelo oligonucleotídeo
específico para X quanto específico para cromossomo Y; (C) controle.
♂ ♀
♂ ♂ ♂ ♀
C C
83
Tabela 7. Número de oócitos manipulados e de embriões produzidos por
fecundação in vitro utilizando protocolo padrão do laboratório (M =
embriões machos e F = embriões fêmeas).
Desenvolvimento embrionário Experimento Número
de oócitos 2 células 8 células Blastocisto Blastocisto eclodido Sexagem
M = 16 (53%) Experimento 1 132 101 (77%) 60 (59%) 39 (39%) 30 (77%) F = 14 (47%)
6.2) Amplificação do cDNA dos genes de interesse
Após amplificação das amostras de cDNA dos embriões no estádio de
blastocisto eclodido produzidos por fecundação in vitro e por transferência nuclear,
através de PCR em tempo real, foi realizada a confirmação dos fragmentos obtidos
para cada oligonucleotídeo iniciador dos genes XIST, IFN-τ, G6PD e HPRT mediante
eletroforese em gel de agarose (Figura 22).
Figura 22. Eletroforese dos fragmentos de cDNA amplificados por PCR em tempo
real a partir de oligonucleotídeos iniciadores específicos dos genes XIST,
IFN-τ, G6PD e HPRT em bovinos.
50 pb GAPDH 76 pb 50 pb XIST
99 pb Interferon-τ
74 pb G6PD 58 pb
HPRT 92 pb
84
Transcritos dos genes GAPDH, XIST, G6PD, HPRT e IFN-τ foram detectados em
blastocistos eclodidos com 9 dias de cultivo produzidos tanto por fecundação in
vitro quanto por transferência nuclear. A expressão relativa destes genes foi
individualmente avaliada em quadruplicata de 16 embriões sendo, oito produzidos
por transferência nuclear, quatro machos (TN M) e quatro fêmeas (TN F), e oito
produzidos por fecundação in vitro, quatro machos (FIV M) e quatro fêmeas (FIV F).
O número de ciclos de amplificação de cada amostra suficiente para atingir
o limiar de fluorescência (Ct) foi normalizado com o Ct obtido para o gene GAPDH,
fornecendo um valor normalizado. Como o valor de Ct é inversamente proporcional
à quantidade de cDNA inicial, valores maiores significam menores quantidades de
transcritos e vice-versa. Para as comparações entre os grupos, embriões produzidos
por fecundação in vitro do gênero masculino (FIV M) foram utilizados como amostra
controle.
Embriões bovinos fêmeas produzidos por transferência nuclear e fecundação
in vitro apresentaram maior nível de expressão do gene XIST quando comparados
aos embriões machos produzidos pelas mesmas biotecnologias (p < 0,05). No
entanto, embriões machos produzidos por transferência nuclear mostraram maior
expressão de XIST comparados com embriões machos produzidos por fecundação
in vitro (p < 0,05; Figura 23).
0 .0 0 0 0 .0 0 4
1.0 0 0 1.0 4 8
0.00
0.20
0.40
0.60
0.80
1.00
1.20
Expr
essã
o
FIV M TN M FIV F TN F
Figura 23. Expressão relativa do transcrito do gene XIST em blastocistos bovinos
produzidos por transferência nuclear e por fecundação in vitro.
Excepcionalmente para este transcrito, embriões FIV F foram utilizados
como amostra controle para comparação com as amostras
investigadas, pois FIV M não expressou XIST. Letras distintas indicam
diferença significativa entre os grupos (p < 0,05).
a
c
b
c
85
Ao contrário dos resultados relatados na literatura, a expressão de G6PD, foi
significativamente maior em embriões machos produzidos por transferência nuclear
quando comparados com embriões fêmeas oriundos do mesmo sistema de
produção e por fecundação in vitro (p < 0,05). Embriões machos produzidos por
fecundação in vitro também apresentaram maior expressão comparados às
fêmeas produzidas pelo mesmo sistema (p < 0,05; Figura 24).
1.0 0 0
5.0 2 7
0 .14 3 0 .2 0 0
0.000
1.000
2.000
3.000
4.000
5.000
6.000
Expr
essã
o
FIV M TN M FIV F TN F
Figura 24. Expressão relativa do transcrito do gene G6PD em blastocistos bovinos
produzidos por transferência nuclear e por fecundação in vitro. Letras
distintas indicam diferença significativa entre os grupos (p < 0,05).
Analisando a expressão de HPRT, não foram observadas diferenças significativas
entre os sexos, porém a expressão variou entre os sistemas de produção para
embriões fêmeas, onde aqueles produzidos por fecundação in vitro apresentaram
maior expressão em relação aos embriões fêmeas oriundos de transferência nuclear
(p < 0,05; Figura 25).
a,b
a,c c
b
86
1.000
1.774
2.262
0.976
0.000
0.500
1.000
1.500
2.000
2.500
Expr
essã
o
FIV M TN M FIV F TN F
Figura 25. Expressão relativa do transcrito do gene HPRT em blastocistos bovinos
produzidos por transferência nuclear e por fecundação in vitro. Letras
distintas indicam diferença significativa entre os grupos (p < 0,05).
Quanto à expressão do gene IFN-τ foi observada similaridade entre os grupos
estudados, não evidenciando diferenças significativas entre eles (Figura 26).
1.000
2.140
0.974
0.753
0.000
0.500
1.000
1.500
2.000
2.500
Expr
essã
o
FIV M TN M FIV F TN F
Figura 26. Expressão relativa do transcrito do gene IFN-τ em blastocistos bovinos
produzidos por transferência nuclear e por fecundação in vitro. Letras
distintas indicam diferença significativa entre os grupos (p < 0,05).
a, b b
a
a, b
a
a a
a
87
7) Discussão
Neste trabalho foi investigado o padrão de expressão de quatro genes, sendo
três deles ligados ao cromossomo X, XIST, G6PD e HPRT e o quarto gene, ligado
indiretamente, IFN-τ, normalizados com o padrão de expressão do gene constitutivo
GAPDH, em embriões bovinos no estádio de blastocisto eclodido, produzidos por
transferência nuclear e por fecundação in vitro.
Acredita-se que sistemas de produção de embriões in vitro, tais como
fecundação in vitro e transferência nuclear, provocam anormalidades na expressão
de genes extremamente importantes para o desenvolvimento. Rotineiramente tem
sido relatado que embriões sofrem alterações devido às condições de cultivo in
vitro, incluindo os meios de cultivos, a suplementação protéica e o protocolo de
transferência nuclear (WRENZYCKI et al., 1999).
De acordo com os resultados obtidos neste estudo, além da divergência de
expressão entre embriões machos e fêmeas, notou-se que a quantidade dos
transcritos analisados também variou entre as biotecnologias aplicadas, ou seja, a
compensação da dosagem dos genes ligados ao cromossomo X variou entre
indivíduos do mesmo sexo, porém produzidos por transferência nuclear e
fecundação in vitro.
O transcrito de XIST é responsável pelo sinal citológico da inativação durante
o estádio de blastocisto (DE LA FUENTE et al., 1999), porém foi detectado RNA do
gene XIST em pools de embriões machos. Além disso, mesmo após a expressão de
XIST, níveis dimórficos de transcritos ligados ao X persistem no embrião no estádio de
blastocisto. Dessa maneira, o papel do XIST como precursor da inativação do
cromossomo X durante o desenvolvimento embrionário, ainda permanece
duvidoso.
Neste trabalho, conforme esperado, evidenciou-se maior expressão do gene
XIST em embriões fêmeas tanto produzidos por transferência nuclear quanto por
fecundação in vitro. Quando se avaliou este mesmo gene para embriões machos
produzidos pelas duas tecnologias, percebeu-se que nos embriões produzidos por
TN a expressão foi menor que nas fêmeas (p < 0,05), já nos produzidos por
fecundação in vitro, não foi detectada expressão do gene XIST no estádio de
blastocisto eclodido.
88
Peippo et al. (2002), também encontraram transcritos do gene XIST em
embriões bovinos machos, embora um nível significativamente maior tenha sido
encontrado em fêmeas no mesmo estádio de desenvolvimento.
A expressão gênica embrionária de XIST, por outro lado, foi detectada em
pools de embriões no estádio entre 8 a 16 células, em mórulas e em blastocistos,
porém não foi observada em embriões com 2 e entre 4 a 8 células. No estádio de
blastocisto a expressão de XIST foi detectada somente em embriões fêmeas (PEIPPO
et al., 2002).
RNA de XIST foi detectado em zigotos machos humanos, embriões nas
primeiras clivagens (DANIELS et al., 1997) e blastocisto humanos (RAY et al., 1997) e
camundongos (LEE et al., 1999). Estes dados sugerem que, como XIST foi detectado
em embriões machos e fêmeas, exista algum outro mecanismo envolvido na
inativação que junto com o transcrito XIST desempenham o papel na escolha do
cromossomo X a ser inativado (DANIELS et al., 1997).
Outras observações sugerem que o cromossomo X materno nos embriões
machos de camundongo, além de alojarem o gene XIST, inclui também a sua forma
antisenso, na qual não é distinguível de XIST pelo PCR convencional (LEE et al.,
1999), e desempenha papel na escolha do cromossomo X ativo e inativo (LEE, 2000).
Embora ainda permaneça não esclarecido se o gene XIST desempenha ou
não papel na inativação de um dos cromossomos X ou na escolha do cromossomo
X para permanecer ativo, o que está claro é que em bovinos, assim como em
humanos e camundongos, XIST está presente em embriões machos e fêmeas
durante o período pré-implantação (WRENZYCKI et al., 2002).
Peippo e colaboradores (2002) demonstraram a existência de expressão
dimórfica entre alguns, mas não entre todos os genes localizados no cromossomo X
durante o desenvolvimento de mórulas e blastocistos produzidos in vitro. Estes
autores sugerem que a equalização dos níveis de RNA mensageiro detectado em
machos e fêmeas pode ser influenciada por fatores não necessariamente
relacionados à inativação de um dos cromossomos X em fêmeas.
A expressão do gene XIST em embriões fêmeas equilibra o nível desigual de
expressão dos genes ligados ao cromossomo X. Assim, a quantidade de transcritos
dos genes G6PD e HPRT, que estão sujeitos à compensação, não deveriam
diferenciar entre os sexos, a partir do momento em que o gene XIST fosse detectado
nestes embriões.
89
Contudo, a partir do momento em que a inativação do X propaga-se
durante os vários ciclos celulares (DE LA FUENTE et al., 1999) e ocorre em diferentes
momentos nas diferentes linhagens celulares (MONK e HARPER, 1979), a equalização
dos níveis dos transcritos ocorre gradualmente.
Além disso, a equalização tardia dos transcritos entre os sexos deve-se
também ao aumento no número de células do estádio de mórula ao estádio de
blastocisto eclodido, pois embriões machos apresentam maior número de células
quando comparado aos embriões fêmeas produzidos in vitro (YADAV et al., 1993;
RAY et al., 1995).
Ao contrário dos relatos da literatura, a expressão de G6PD encontrada neste
estudo tanto para embriões fêmeas produzidos por transferência nuclear quanto
para aqueles produzidos por fecundação in vitro foi significativamente menor
comparada com embriões machos. Uma possível explicação para este desvio de
expressão seria o silenciamento do gene G6PD nos dois cromossomos X em parte
das células dos blastocistos fêmeas.
Não subestimando as conseqüências das falhas na reprogramação nuclear
de embriões clones e desconhecendo a extensão do silenciamento gênico e os
possíveis genes comprometidos, apesar de ter sido detectada expressão normal do
gene XIST, não implica que níveis normais dos demais genes sejam encontrados,
visto que existem outras formas de controle da expressão destes e de outros
transcritos além do processo de inativação.
Wilmut e colaboradores (1997) observaram que, enquanto em fibroblastos de
pele de clones vivos a ICX ocorreu de forma aleatória normal, nos clones mortos
observou-se um padrão complexo e inédito de ICX em todos os órgãos analisados:
em cada órgão, pelo menos dois genes ligados ao X estavam silenciados nos dois
cromossomos X.
Porém, Peippo et al. (2002) encontraram níveis dos transcritos para G6PD
significativamente maiores em fêmeas do que em machos no estádio de mórula e
blastocisto, sendo que esta diferença foi aumentada à medida que o embrião
passava do estádio de mórula para o estádio de blastocisto.
Todavia, espera-se que as diferenças nos níveis de expressão entre machos e
fêmeas declinem à medida que o desenvolvimento progride. Contudo, Peippo et
al. (2002) revelaram dados diferentes dos esperados. Por exemplo, níveis similares de
transcritos do gene HPRT foram detectados em pools de mórulas e blastocistos
90
machos e fêmeas 2 ou 3 três dias após ser detectada a expressão de XIST e um ou
dois dias antes de ser detectada a replicação tardia do cromossomo X inativo (DE
LA FUENTE et al., 1999).
Em nossos resultados, encontramos níveis similares de transcritos do gene HPRT
entre machos e fêmeas, porém, variando entre embriões fêmeas produzidos por
transferência nuclear e por fecundação in vitro. Neste caso, como foram
detectado níveis maiores de HPRT em embriões fêmeas produzidos por FIV em
comparação aos clonados, acredita-se que este gene ainda não tenha sido
silenciado em um dos cromossomos X em parte das células embrionárias, pois,
como descrito anteriormente, a equalização dos níveis dos transcritos ocorre
gradualmente.
Peippo et al. (2002) encontraram níveis maiores de HPRT em fêmeas nos
estádios de mórula e blastocisto que em machos, porém, ao contrário dos níveis de
G6PD, eles não diferiram significativamente.
A quantidade observada de RNA mensageiro de G6PD foi similar entre
embriões machos e fêmeas no estádio de 2 células anteriormente a ativação do
genoma embrionário (LONERGAN et al., 2000), mas maior em fêmeas que em
machos no estádio de blastocisto (GUTIÉRREZ-ADÁN et al., 2000; LONERGAN et al.,
2000).
O nível do transcrito do gene HPRT também foi similar entre embriões bovinos
no estádio de 2 células machos e fêmeas (LONERGAN et al., 2000), mas em
contraste com o estudo de Peippo et al. (2002) foi significativamente maior em
fêmeas do que em machos no estádio de blastocisto (GUTIÉRREZ-ADÁN et al., 2000;
LONERGAN et al., 2000).
Estas observações são sugestivas de que o processo de compensação de
expressão dos genes para HPRT ocorre no estádio de mórula, mas para G6PD o
processo está incompleto. Na fase de blastocisto, na presença do XIST sugere-se
que tenha sido iniciada a inativação do cromossomo X a partir do CIX e
propagação ao longo do cromossomo X selecionado para inativação (LYON, 1991).
Aqueles locais tais como HPRT que estão mais próximos ao CIX deveriam mostrar
sinais de inativação e compensação de expressão anteriormente àqueles situados
mais distantes do CIX, tais como o G6PD.
A metilação padrão do cromossomo X em camundongos suporta esta
hipótese de propagação linear da inativação do X a partir do CIX (GOTO e MONK,
91
1998). Contudo, tanto o aumento quanto a diminuição na diferença dos níveis de
RNAm para HPRT e G6PD entre machos e fêmeas nos estádios de mórula e
blastocisto apresentados por Peippo et al. (2002), e os efeitos da expressão de HPRT
e G6PD na produção dos embriões relatados em outros trabalhos (GUTIÉRREZ-ADÁN
et al., 2000; LONERGAN et al., 2000; LUCAS-HAHN et al., 2001) sugerem que outros
fatores além da inativação podem estar envolvidos na equalização da expressão
entre machos e fêmeas.
A estabilidade do RNA mensageiro do HPRT em embriões bovinos não está
esclarecida. Tem sido mostrado que a estabilidade do mensageiro associada com
a poliadenilação do transcrito está relacionada ao potencial de desenvolvimento
nos oócitos bovinos (BREVINI-GANDOLFI et al., 1999) e que os níveis de transcritos do
HPRT são maiores em embriões de alta capacidade de desenvolvimento em
sistemas de produção in vitro (LONERGAN et al., 2000).
Além disso, em camundongos, tem sido demonstrado que a expressão de
HPRT é mais intensa no cromossomo X materno do que no paterno (MOORE e
WHITTINGHAM, 1992). Por esta razão os níveis similares de transcritos do HPRT em
mórulas e blastocistos poderiam refletir a estabilidade da mensagem, baixo
metabolismo de HPRT e baixo nível de transcrição do cromossomo X paterno em
embriões fêmeas mais propriamente que a compensação provocada pela
inativação do X.
No caso do G6PD, Lucas-Hahn e co-autores (2001) relataram que enquanto
os níveis de G6PD foram maiores em blastocistos bovinos fêmeas produzidos in vitro
do que em machos, os níveis encontrados para machos e fêmeas produzidos in vivo
foram similares. Desta maneira, acredita-se que o período de inativação do X ou a
síntese e acumulação de transcritos diferem entre os embriões produzidos in vivo e
in vitro e preferencialmente são susceptíveis a influência do ambiente.
Dada a importância de G6PD no estresse oxidativo, embriões e fetos que
apresentam deficiência de G6PD são mais susceptíveis ao estresse oxidativo que os
demais indivíduos (RIEGER, 1992). Neste trabalho, como foi evidenciado menor nível
de G6PD em embriões fêmeas, acredita-se que as baixas taxas de formação de
blastocistos, bem como, maior taxa de morte durante a gestação possam estar
correlacionados com a deficiência na expressão deste gene.
Por outro lado, a deficiência na expressão de G6PD em embriões fêmeas não
pode ser atribuída somente ao evento de inativação do cromossomo X, visto que, a
92
expressão de XIST e HPRT ocorreu de forma normal em relação aos machos.
Acredita-se que, além da inativação, ocorreu um efeito de sistema in vitro, uma vez
que, em cultivo, os embriões são expostos às condições do ambiente, por exemplo
a concentração de glicose no meio, que podem alterar a expressão de genes
importantes ao desenvolvimento, neste caso, sendo mais susceptível nas fêmeas.
Embriões bovinos, como também de outras espécies, são sensíveis ao estresse
oxidativo. Sabendo-se que a expressão de G6PD é maior em mórulas e blastocistos
fêmeas do que em machos (IWATA et al., 2002; GUTIÉRREZ-ADÁN et al., 2000), é
concebível que a menor produção de IFN-τ por machos seja conseqüência da
maior sensibilidade de machos ao estresse oxidativo.
Alternativamente, a maior produção de IFN-τ por fêmeas pode ser
favorecida pelo aumento de G6PD e está associada ao aumento do fluxo da via
pentose-fosfato. Dados da literatura revelam que as atividades de vários fatores de
transcrição são sensíveis ao estado redox do meio celular (MOREL e BAROUTI, 1999;
WENGER, 2000; HADDAD, 2002).
Observou-se, neste trabalho, que embriões bovinos submetido à transferência
nuclear e fecundação in vitro não diferiram em relação à expressão de IFN-τ no
estádio de blastocisto eclodido, apesar das diferenças na expressão de G6PD.
Neste caso, mesmo com o baixo nível de expressão de G6PD pelos embriões
fêmeas, não foi suficiente para influenciar na transcrição de IFN-τ.
Kimura et al. (2004) relataram que conceptos no 14º dia do desenvolvimento
produziram em média cerca de 150.000 vezes mais IFN-τ que blastocistos
expandidos no 9º dia de cultivo, embora maior variabilidade tenha sido encontrada
entre os conceptos. O dimorfismo sexual evidente entre os blastocistos no dia 8 e 9
de cultivo aparentemente não persistiu durante a progressão do desenvolvimento.
Além disso, estes mesmos autores verificaram que o peróxido de hidrogênio
(H2O2) e altas concentrações de O2 no sistema de cultivo, e inibidores de G6PD
como desidroepiandrosterona (DHEA) e 6-aminonicotinamida (6-AN), reduziram
acentuadamente a produção de IFN-τ por blastocistos bovinos, tendo ambos os
suplementos, um maior efeito nas fêmeas do que em machos. Em conseqüência, a
expressão sexualmente dimórfica de IFN-τ foi abolida pelo uso dos tratamentos.
Estes efeitos, particularmente aqueles mediados pelo 6-AN, não
comprometeram a qualidade ou o progresso do desenvolvimento, pois muitos
blastocistos eclodiram tanto na presença quanto na ausência dos inibidores
93
(KIMURA et al., 2004). Além disso, o tratamento com 6-AN, não levou à redução no
número de células nos blastocistos em cultivo.
DHEA é inibidor específico de G6PD, ligando-se diretamente à enzima e
agindo num domínio não competitivo (GORDON et al., 1995), 6-AN é inicialmente
metabilizada a 6-amino-NAD(P+), um componente que competitivamente inibe um
número de reações que utilizam NADP+, incluindo duas enzimas limitantes da via
pentose-fosfato, 6-fosfogluconato desidrogenase, e G6PD (KÖHLER et al., 1970).
Ambos componentes, embora apresentando diferentes modelos de ação, agem
para reduzir o fluxo de G6PD diretamente nas etapas oxidativas da via pentose-
fosfato e alterar o balanço redox dos embriões (HARVEY et al., 2002).
Os dados do trabalho de KIMURA e colaboradores (2004) sugerem que a
produção sexualmente dimórfica de IFN-τ observada entre blastocistos bovinos é
uma conseqüência direta da dosagem relativa ao cromossomo X no trofectoderma
de embriões machos e fêmeas e à maior atividade de G6PD em fêmeas.
Como em embriões bovinos, a inativação do X inicia-se no estádio de
blastocisto e completa-se no 14º dia do desenvolvimento (DE LA FUENTE et al., 1999),
a expressão sexualmente dimórfica de IFN-τ é também perdida entre os dias 08 e 14
entre os conceptos produzidos in vivo (KIMURA et al., 2004), uma observação que
está claramente consistente com a hipótese da dosagem compensatória.
Estes experimentos consistentemente correlacionam o braço oxidativo da via
pentose-fosfato e produção de IFN-τ, embora um mecanismo lógico esteja longe
de atingir o óbvio.
O gene IFN-τ é autossômico, formando um grupo com outro gene, IFN tipo-I,
no cromossomo 8 em bovinos (RYAN e WOMACK, 1993). Portanto, a compensação
da dosagem de genes é um improvável mecanismo para explicar a maior
expressão de IFN-τ em embriões fêmeas, onde no 10º dia de desenvolvimento,
apresenta menor número de células que machos da mesma idade. Outra
possibilidade é que um ou mais fatores que controlam a transcrição de IFN-τ sejam
sensíveis ao estado redox da célula e mais ativos quando a concentração de
NADPH está alta.
94
8) Modelos Hipotéticos
A partir dos resultados obtidos e discutidos neste trabalho, pode-se sugerir que
a velocidade da progressão do evento de inativação de um dos cromossomos X
em fêmeas seja maior nos embriões produzidos por transferência nuclear quando
comparados àqueles produzidos por fecundação in vitro, visto que, a expressão do
gene HPRT por fêmeas FIV foi maior comparada às fêmeas TN que por sua vez foi
semelhante aos machos. Este atraso no equilíbrio da expressão gênica entre fêmeas
FIV e fêmeas TN colabora com a sugestão de que este processo possa ser
conseqüência de uma memória genética do núcleo da célula somática utilizada
na transferência nuclear que, por sua vez, já passou pelo mesmo processo de
inativação do cromossomo X (Figura 27).
Figura 27. Modelo hipotético proposto da velocidade da progressão do evento de
inativação do cromossomo X em embriões fêmeas produzidos por
transferência nuclear (TN) e por fecundação in vitro (FIV).
TN
Progressão do desenvolvimento
Progressão da inativação
FIV
2-células 4-células 8-células 16-células Mórula inicial
Mórula compacta
Blastocisto
95
Sim
Sim
Não
Não
Não
Sim
Por outro lado, acredita-se que o processo de silenciamento gênico não
ocorra isoladamente, mas é dependente das condições ambientais fornecidas
durante a progressão do desenvolvimento embrionário in vitro.
Além do controle transcricional convencional a que são submetidos machos
e fêmeas, o meio de cultivo utilizado na produção in vitro afeta o desenvolvimento,
interferindo no metabolismo ou na expressão de genes importantes para o
desenvolvimento, podendo influenciar no desenvolvimento embrionário, fetal e
placentário em bovinos (BAVISTER, 1995; NIEMANN e WRENZYCKI, 2000).
Desta maneira, sugere-se que a baixa expressão de G6PD por embriões
fêmeas, está relacionada à falta de glicose no meio de cultivo, pois, ao contrário
dos machos, as células embrionárias femininas possuem todos os componentes
necessários para o silenciamento dos genes no cromossomo X, dispensando, assim,
a transcrição de G6PD na ausência de glicose (Figura 28).
Figura 28. Modelo hipotético da expressão de G6PD durante o desenvolvimento
embrionário frente a disponibilidade de glicose no meio de cultivo.
Desenvolvimento embrionário
Fatores de inativação
Metabólitos
(glicose)
Metabólitos
(glicose)
Ausência de silenciamento
Silenciamento Transcricional
Expressão monoalélica
Ausência de silenciamento
96
9) Conclusões
1) Embriões machos e fêmeas submetidos à transferência nuclear diferem na
expressão de genes localizados no cromossomo X no estádio de blastocisto
eclodido.
2) Embriões fêmeas oriundos de transferência nuclear são mais susceptíveis à
falhas durante a reprogramação provavelmente em virtude da inativação do
cromossomo X e ao comprometimento de genes essenciais ao desenvolvimento.
10) Perspectivas
Sugere-se a existência de outros fatores que influenciam na expressão de
genes ligados ao cromossomo X além do processo de inativação, como a escolha
do X paterno ou do X materno para permanecer ativo, bem como as condições do
ambiente de um sistema in vitro.
97
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