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Alcione Alvez O Remédio é Ser Feliz

O Remédio é Ser Feliz

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A felicidade está ao nosso alcance. Para conquistá-la basta entendermos que todos temos poderes para alcançar o sucesso.Portanto, precisamos descobrir quais são esses poderes e como utilizá-los a nosso favor.O livro tem a intenção de fornecer ferramentas para essa descoberta e para a utilização de nossos potencias para termos uma vida plena e feliz.

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    O Remdio

    Ser Feliz

  • Alcione Alvez 2

    O Remdio

    Ser Feliz! 2 edio

    Alcione Alvez

    2015

  • Produo Independente Diagramao, designer grfico, impresso e distribuio sob responsabilidade do autor.

    [email protected]

    __________________________________________________________

    Alvez, Alcione

    O Remdio Ser Feliz! / Alcione Alvez 2 edio - Ituporanga, SC: produo independente, 2014

    ISBN 978-85-62467-01-1

    1.Psicologia 2. Qualidade de vida 3. Relaes interpessoais 4. Felicidade 5.Autoconhecimento 6. Paz de esprito questes, exerccios, tcnicas.

    Todos os direitos reservados. Permitida a reproduo de trechos desde que citada a autoria

    ____________________________________________________________________________________________

  • Ao Universo, que por sua infinita sabedoria me levou realizao deste trabalho.

    Para Ana Maria, Bruno, Jnior e Joseane Pessoas que me ensinaram o significado

    do amor incondicional.

  • Contato com o autor: [email protected]

  • Indice

    PRIMEIRA PARTE

    Ser feliz: direito ou obrigao?, 7 Felicidade: um caminho sem volta, 19 Entendendo nossos hbitos, 29 Necessidade: a me da criatividade, 35 Tudo acontece para o bem, 41

    SEGUNDA PARTE

    Conhecendo os poderes , 51 O poder das expectativas, 53 O poder do medo, 63 O poder da autoestima, 75 O poder da culpa, 85 O poder do perdo, 89 O poder do sorriso, 97 O poder do amor, 101 O poder da mudana, 109

    TERCEIRA PARTE

    Viva! No evite a vida, 117

  • A vida um eco. Sorria e tudo

    fluir a seu favor

  • Primeira Parte

    Ser feliz:

    direito ou obrigao?

    So poucos os que vivem

    o presente: a maioria aguarda para viver mais tarde1.

    Outro dia ouvi algum dizer: "Voc tem a obrigao de ser feliz!". Prefiro encarar de outra forma. Percebo a vida como uma ddiva e

    sinto que o tempo passa muito rpido. Ao mesmo tempo, a felicidade algo extraordinrio demais para ser encarada como uma obrigao.

    Logo, prefiro dizer: "Voc tem o direito de ser feliz!". Colocar a felicidade como uma obrigao faz com que ela deixe

    de ter a leveza que lhe peculiar. A partir do momento em que tivermos a capacidade de perceber as coisas de uma maneira mais positiva e conseguirmos reagir com assertividade2 aos acontecimentos do nosso cotidiano, a felicidade ser, antes de qualquer coisa, uma consequncia de nosso estilo de vida.

    Importante tambm entender que felicidade no um estado pleno e constante de bem-estar. A vida uma coleo de momentos. Felicidade , antes de mais nada, a capacidade de fazer com que nos

    1 Jonathan Swift: escritor irlands.

    2 Assertividade: ser assertivo ter a capacidade de encontrar um ponto de equilbrio entre a

    passividade e a agressividade, no se conformando com o que faz mal, mas reagindo de maneira construtiva. estar presente em cada momento, de corpo e alma, dando vazo aos seus sentimentos, mas respeitando sempre o prximo (nota do autor).

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    aconteam mais momentos agradveis durante nossos dias, otimizando cada um desses acontecimentos.

    Ao mesmo tempo, felicidade tambm a capacidade de minimizar os efeitos negativos dos momentos que no acontecem como desejvamos, fazendo de cada um deles oportunidades para nos tornarmos pessoas melhores.

    Este livro no ensinar a ficar rico sem esforo e no lhe dar frmulas mgicas para eliminar os obstculos da vida. To pouco mostrar como usar foras misteriosas para resolver seus problemas.

    A proposta analisar nosso cotidiano tal qual o percebemos e propor maneiras alternativas para encarar a vida, com suas alegrias e tristezas, garantias e incertezas, permitindo que as emoes que cada acontecimento provoca nos faam sentir o prazer de estarmos vivos.

    Ns temos ao nosso alcance poderes muito fortes, que podem nos ajudar a mudar a maneira como reagimos aos fatos, fazendo de cada nova realidade um aprendizado. Tudo depende da maneira como enfrentamos as situaes.

    Podemos deixar de ser espectadores passivos do espetculo de nossas vidas. Temos a capacidade de nos transformarmos em pessoas proativas, com um maior controle sobre nossas emoes.

    Com certeza no podemos controlar todas as situaes, prever o futuro e fazer com que tudo acontea exatamente como planejamos. Se isso fosse possvel, penso que a vida perderia seu tempero.

    Podemos e devemos ser cautelosos e proativos em relao a alguns aspectos, mas h fatos que simplesmente acontecem e, por mais que

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    planejemos, nossas reaes nem sempre so as que gostaramos que fossem.

    Afinal, somos seres humanos. Possumos o livre arbtrio e isso que faz a vida ter sentido. O importante termos um preparo emocional que nos leve no a ter uma resposta pronta para cada situao, mas que nos permita possuir uma bagagem de condicionamentos, os quais possibilitem reagir de maneira mais positiva a cada momento de nossa existncia, sejam eles episdios fascinantes ou frustrantes.

    Fico analisando o que costuma acontecer na poca do Carnaval. A mdia e as pessoas que gostam muito dessa festa para extravasar energias e aes reprimidas, em funo do carter de permissividade que o evento insinua, querem nos impor a necessidade de estarmos alegres naqueles quatro ou cinco dias, como se fosse proibido estar feliz o restante do ano e s fosse permitido sentir-se vontade, para por pra fora nossos sentimentos de alegria, durante o Carnaval.

    No existe hora certa para ser feliz ou estar alegre. Podemos ser felizes a qualquer momento. No preciso esperar o Carnaval chegar para

    por pra fora minhas energias positivas, festejar para apaziguar as angustias ou comemorar vitrias. Ao mesmo tempo, no sou obrigado a estar feliz no Carnaval, embora tambm goste dessa festa.

    As lgrimas devem rolar no momento em que nosso corao se entristece. Caso contrrio, mant-las em nossos olhos prolongar nossa

    angstia e far de ns pessoas tristes por mais tempo. Ao mesmo tempo, a vitria deve ser comemorada no momento em que acontece, para que seu sabor seja mais intenso.

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    Querer ficar s algumas vezes, ou sofrer um pouco porque algo deu errado no mata ningum e importante para o nosso desenvolvimento emocional. O que no podemos nos deixar abater por tristezas profundas ou nos viciarmos em ser pessoas mal humoradas e carrancudas, achando que nada vale a pena.

    Tudo na vida depende do nosso ponto de vista, da maneira como encaramos as situaes e a forma como agimos para lidar com cada uma delas. Estarmos bem ou no depende em grande parte da maneira como nos sentimos frente a cada acontecimento.

    Por que ficamos nervosos e irritados quando o trnsito para? No seria mais produtivo ligar o rdio e ouvir msica calmamente enquanto no podemos seguir viagem, ou ler um livro para o qual no temos tempo de ler em casa? J que o atraso inevitvel, deixe pra l. Sem falar que muitas vezes nem estamos atrasados, mas nos irritamos mesmo assim.

    Por que todos se abalam com o atraso do nibus ou do avio e comeam a ter acessos de raiva em locais pblicos, gerando transtornos e confuso? Que tal ter sempre mo um livrinho de palavras cruzadas? Acalma e ajuda a desenvolver o raciocnio.

    O protesto necessrio sim, para evitar que abusos repetidos contra as pessoas aconteam sem impunidade. Mas devemos reclamar de maneira racional e correta, utilizando os canais disponveis para isso. No deixe que a irresponsabilidade de uma empresa area danifique suas artrias e encurte sua vida. Encare tudo de uma maneira mais positiva.

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    Essas e outras situaes que nos fazem sentir mal acabam acontecendo em nossas vidas cedo ou tarde. Podemos pensar positivo, e isso muito bom, ser otimistas, e isso timo! Mas mesmo tomando todos os cuidados para que certas coisas desagradveis no aconteam, algo acaba, s vezes, no saindo como espervamos.

    O que fazer? Chorar, espernear, esbravejar? Ou respirar fundo e tentar ver a situao sob outro ngulo?

    Muitos acontecimentos, no momento em que ocorrem, parecem

    ruins e insatisfatrios, nos fazendo sentir mal. Porm, mais tarde, revelam-se como males necessrios ou, depois do nervosismo, vemos como poderamos ter agido diferente, amenizando as consequncias. Poderamos at, quem sabe, termos dado boas risadas e esquecido o assunto, sem ficarmos aborrecidos.

    Certamente no somos robs, insensveis e previsveis. Algumas vezes o sangue ferve, o corao chora. Isso natural e temos que nos

    permitir sentir tais emoes. O que quero dizer que no podemos reagir o tempo todo da mesma maneira frente a situaes que nos incomodam ou nos deixam tristes.

    Precisamos parar, refletir e tentar reagir de maneira positiva diante dos fatos da vida, sejam eles bons ou ruins. Educar um pouco as emoes e tirar proveito de eventos que nos parecem desfavorveis far com que levemos a vida de uma maneira mais leve, menos complicada.

    Ter bom senso e perceber o que bom ou ruim para ns depende de um pouco de treino. Muitas vezes o senso comum nos leva a aceitar ou rejeitar certas coisas por motivos banais e infundados. Saiba filtrar os estmulos e influncias externas e aja de acordo com suas emoes e sua

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    conscincia. No se irrite com certa situao somente porque as outras

    pessoas costumam se irritar com ela.

    Cabe aqui citar a parbola dos paradigmas: Certa vez, um grupo de cientistas ps trs macacos em uma jaula

    e um cacho de bananas pendurado no topo da mesma. Cada vez que um dos macacos tentava pegar uma banana, os trs levavam choques eltricos. Essa sensao ficou to insuportvel para os macacos, que eles no se aventuraram mais a pegar uma banana.

    Certo dia, um dos macacos morreu e foi substitudo por outro. Quando o novo habitante da jaula avistou o cacho de bananas no alto, foi logo subindo para pegar uma, mas foi impedido pelos outros dois macacos, que lhe deram uma surra.

    Os cientistas no aplicaram mais choques nos macacos e assim eles foram morrendo e sendo substitudos, sucessivamente, at que nenhum dos trs primeiros estivesse mais presente.

    Mesmo assim, cada macaco novo que entrava e tentava pegar uma banana, levava uma surra dos outros. Um dia, um desses novatos perguntou aos dois veteranos porque eles bateram nele, quando tentou pegar uma banana e eles responderam:

    - No sabemos o porqu. S sabemos que sempre foi assim.

    No aceite as coisas prontas s porque lhe dizem que so boas e no as rejeite s porque lhe dizem que so ruins. No aja sempre da mesma maneira s porque voc tem medo de mudar. Tenha bom senso. Reflita sobre o que faz bem a voc ou o que lhe causa desconforto e

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    trabalhe para mudar isso. Se no for possvel mudar a situao, mude a maneira como voc reage a ela.

    Seria hipocrisia acreditar, porm, que a aparncia, ou seja, que o comportamento que os outros esperam de ns, no deva ser levado em considerao. A vida em sociedade exige que no batamos de frente com certos paradigmas.

    No entanto, podemos desenvolver um comportamento diplomtico e assertivo, que nos permita driblar certas situaes incmodas sem gerar conflitos. O que no podemos deixar que o culto aparncia sufoque nossa conscincia.

    Encarar as coisas buscando sempre revelar pontos favorveis ou maneiras de minimizar os efeitos negativos e desenvolver formas de reao controlada diante de fatos desfavorveis, melhora o nosso humor, nossa sade e prolonga nossa vida.

    Outro ponto crucial da busca da felicidade compreender que acontecimentos, em geral, sero bons ou ruins de acordo com as nossas expectativas. Se esperarmos demais da vida, sem aproveitar o que ela nos proporciona naturalmente, estaremos permanentemente lutando por algo a mais e no teremos tempo nem energia para nos concentrarmos e

    aproveitarmos os bons momentos que nos acontecem o tempo todo. Lute sim pelos seus sonhos. Jamais desista deles! Mas no deixe

    de aproveitar os prazeres da luta. Quem espera muito ansiosamente chegar ao seu destino, no aproveita as belas paisagens da caminhada.

    Respire fundo, olhe a sua volta. Vivemos em um universo de possibilidades. O impossvel s uma palavra motivadora, para

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    provar a ns mesmos que somos capazes de realizar tudo o que idealizamos.

    Podemos educar nossas emoes e buscar o que queremos, sem deixarmos de ser humanos. Tudo depende da maneira como nos conhecemos, de como encaramos a nossa existncia e do quanto acreditamos em nosso prprio potencial.

    Descartados os sensacionalismos das correntes e obras do pensamento positivo, o que defendo aqui que somos sim responsveis pela nossa felicidade.

    Temos dentro de ns poderes muito fortes. Esses poderes so formados por nossas emoes e nossas reaes. A maneira como nos sentimos em relao aos fatos e s pessoas e o modo como reagimos a cada acontecimento ou interao com os outros moldam nosso destino.

    Sentir-se bem atrai coisas boas, no s porque os autores famosos defendam, mas por uma consequncia lgica. Se tratarmos bem as pessoas seremos bem tratados. Se acreditamos que temos potencial, facilitaremos nossa luta diria. Se sorrirmos mais, receberemos mais sorrisos, inclusive o nosso diante do espelho, pois cara feia no atrai simpatia.

    Como j afirma o ditado popular, a vida como jogar bolas na parede: se jogarmos uma bola azul, ela voltar azul, se a jogarmos com fora, ela voltar com fora. Trata-se da lei da ao e reao.

    Acreditar que estamos bem com o que j somos ou possumos nos libera da carga negativa de pensar que estamos em desvantagem com relao aos outros.

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    Agradecer ao universo e s foras superiores por nos permitirem acordar todos os dias e construirmos nossa histria, o primeiro passo para que novas e melhores oportunidades se apresentem a ns.

    Esse livro tem a nobre inteno de mostrar a voc que existem poderes dentro da sua alma, do seu corao e do seu crebro que podem lhe proporcionar luz e felicidade e que temperamento e comportamento no so destino. Todos podemos melhorar nossos sentimentos, nossas emoes e automatizar reaes que nos sejam favorveis, sem precisar perder o verdadeiro sabor da vida, aquele gosto especial de sentir prazer em estar vivo, quando ficamos tristes, alegres, irritados, eufricos, seja l qual for a situao. O importante sentir, deixar a vida fluir e nos divertirmos com ela.

    Devemos ser proativos e evitar condicionamentos que nos sejam prejudiciais. Porm, no precisamos estar o tempo todo evitando a tristeza e os momentos no to agradveis. Quem faz isso evita a vida. Deixe que venham. Mas deixe, tambm, que nos ensinem a cada dia como reagir melhor com relao a esses acontecimentos. O importante

    estarmos prontos para interagir com os acontecimentos de uma maneira positiva.

    H sentimentos e emoes que prejudicam nossa sade, mas que s vezes nos atingem. A preocupao, quando excessiva, o ressentimento, a inveja, o dio, a vingana, so coisas negativas que nada agregam a nossa vida. Por isso, transforme a preocupao em esperana, o ressentimento em perdo, a inveja em cooperao, o dio em amor e a vingana em reconciliao. Isso s depende de voc. Transforme sua vida.

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    O imediatismo e o sentido de urgncia experimentados por nossa gerao, faz com que queiramos tudo "pra ontem". A fome pelo consumo e a supremacia do "ter" sobre o "ser" dominam a vida das massas. Nada nunca est completo, pois a cada dia surgem coisas novas.

    O desenvolvimento tecnolgico, to benfico para ns em muitos sentidos, tambm trouxe essa mudana em nosso estilo de vida. Tudo acontece muito rpido. Tudo muda com muita velocidade e a cada dia o ritmo aumenta.

    Esse padro comportamental tem sido o causador de inmeros males modernos como a depresso, o stress, a elevao dos ndices de consumo de drogas, legais e ilegais, e at o crescimento do nmero de suicdios, alm do aumento da violncia.

    Precisamos entrar nessa onda? No! Podemos ficar totalmente fora dela? Tambm no! No podemos viver o tempo todo em funo do futuro e do

    progresso, mas ambos so inevitveis e necessrios. Querer ficar alheio s mudanas no aconselhvel. No precisamos mudar para o Tibet para escarparmos do sofrimento da vida moderna. No entanto, no precisamos, tambm, nos deixar condicionar por essa neura imediatista, consumista e que coloca o "sucesso" pessoal acima de qualquer coisa. Lembre-se: o padro de sucesso o reflexo das expectativas.

    Para que consigamos viver em harmonia com o universo, com as

    pessoas que nos cercam e com ns mesmos, o objetivo das prximas pginas revelar a voc importantes poderes inerentes a sua existncia, mostrando os pontos positivos e negativos de cada um deles.

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    Voc conhecer tambm sugestes sobre maneiras de desenvolver um comportamento assertivo, que pode minimizar os efeitos de fatos desagradveis em sua vida e, em muitas situaes, faz-lo perceber que o que parecia um pesadelo pode ser transformado talvez no em um belo sonho, mas em uma agradvel realidade.

    Comearemos por algumas consideraes sobre a felicidade e sobre como os hbitos podem condicionar nossas reaes. Depois, vamos refletir sobre como a necessidade influencia sua criatividade e tentaremos entender como o ponto de vista e a maneira como reagimos aos fatos podem influenciar nosso bem-estar.

    Na sequncia, falaremos sobre os poderes que influenciam nossa vida e como podemos agir com relao a cada um deles, fazendo com que sejam ferramentas a nossa disposio, auxiliando-nos na agradvel jornada rumo a nos tornarmos pessoas melhores a cada dia, com alegria, com satisfao, com intensidade, com vida.

    Acredito que no exista frmula pronta e infalvel para a felicidade. No entanto, planejar a vida, sem fazer dela algo previsvel e sem opes; trabalhar, mas com prazer; encarar as agruras da vida, mas sem ser dominado por elas; buscar a realizao pessoal, sem utilizar as formas prontas que a sociedade nos impe, so algumas dicas que sugiro, para uma jornada feliz.

    A partir do momento em que conseguirmos aplicar o mximo possvel de ateno no presente, sentindo com intensidade cada emoo e cada sensao que a existncia nos proporciona, teremos mais energia e criatividade para viver profundamente os bons momentos que a vida nos traz.

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    O futuro deixar de ser to incerto, abrindo suas portas para que faamos dele nossa oportunidade de sermos pessoas cada vez mais desenvolvidas: emocional e espiritualmente.

    Ao mesmo tempo, o passado desempenhar em nossas vidas o papel que realmente pertence a ele: o de nos trazer boas lembranas e nos proporcionar aprendizado.

    Procure refletir, aps a leitura de cada captulo, como voc se sente a respeito do assunto abordado. Voc se identifica com o que acabou de ler? Leia novamente se no tiver certeza. Aplique as tcnicas e os conceitos sugeridos. Faa desse livro uma ferramenta para tornar seus dias mais leves e felizes.

    Espero que ao final de sua leitura voc possa ter agregado bons conhecimentos, que levem a desenvolver excelentes condicionamentos. Dessa forma, voc poder reagir de uma maneira mais assertiva perante a vida e ter atitudes mais proativas, fazendo com que tudo acontea da maneira mais prxima possvel do que voc espera.

  • Felicidade: um caminho sem volta!

    No existe um caminho para a felicidade. A felicidade o caminho3

    Ser feliz saber fazer com que os momentos agradveis sejam nossos companheiros. Penso que a infelicidade no existe, mas sim que ocorrem alguns momentos um pouco difceis em nossa vida, com os quais devemos aprender a interagir de maneira mais positiva.

    Sempre defendo que se, ao final do dia, pararmos para fazer um balano do que vivemos durante as ltimas 24 horas, teremos com certeza mais acontecimentos positivos do que negativos.

    O fato de estarmos vivos j constitui um ponto a ser considerado como positivo e importantssimo, afinal a vida que nos permite buscar a felicidade.

    Se estamos saudveis e em plenas condies de trabalhar, procurar crescimento, livre para nos relacionarmos com as pessoas, somos

    grandes sortudos. Doentes e privados de nossa liberdade, teremos maiores

    dificuldades em buscar a realizao de nossos sonhos, mas ser plenamente possvel se tivermos coragem e boa vontade. Como j est escrito no captulo anterior, impossvel s uma palavra motivadora, que nos impulsiona na busca de nossos sonhos.

    3 Mahatma Gandhi (1869 - 1948), do snscrito "grande alma", foi um dos idealizadores e fundadores do moderno estado indiano e um influente defensor do Satyagraha, princpio da no-agresso e forma no-violenta de protesto, como um meio de revoluo.

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    Temos motivos suficientes para acreditar que somos privilegiados por estarmos vivos e que todo o resto constitui o tempero da vida, ou o que faz ela ter sentido.

    Dificuldades, lutas, frustraes tambm podem ser transformadas em pontos positivos, se extrairmos delas as lies que nos oferecem a chance de tentar novamente, nos aperfeioando a cada dia.

    Temos que cultivar e fortalecer o bom hbito de buscar nas pessoas e acontecimentos os seus pontos positivos, suas qualidades, minimizando seus pontos negativos. Em geral julgamos as pessoas pela aparncia e quando conhecemos algum vamos logo elencando seus defeitos mais aparentes.

    Acredito na fora do pensamento positivo, mas sei que, mesmo que sejamos otimistas, s vezes acontecem fatos que no estavam nos nossos planos conscientes e que nos obrigam a partir para situaes que no desejvamos.

    O buscar constante nos faz crescer e as vitrias em batalhas mais difceis costumam ser as que tm mais sabor.

    Pensar que chegar um momento em que estaremos totalmente

    satisfeitos com o que somos, o que temos e o que fazemos uma utopia.

    J est provado que a satisfao de uma necessidade acaba criando uma nova expectativa. Somos seres movidos por desejos e sempre que alcanamos a realizao de um sonho, teremos outro projeto entrando em nosso corao e nossa mente. Temos que ter cuca fresca para

    entender essa dinmica e tirar proveito dela.

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    As pessoas mais bem sucedidas so aquelas que encontram em crises e situaes difceis oportunidades de crescimento e aperfeioamento. Encaram os caminhos inesperados que a vida apresenta com serenidade, observando o que acontece, percebendo os detalhes, aprendendo como tudo funciona e aplicando o que absorveu de maneira positiva, criando bons resultados.

    Mas a pressa, o medo de situaes novas e o hbito de pensar que tudo d errado na vida fazem uma grande maioria perder oportunidades de realizao e sucesso.

    Tudo depende de como encaramos as coisas. Temos o direito de sermos felizes apesar de tudo! O importante

    buscar a realizao dos sonhos, sem se deixar abater pelas dificuldades e tropeos que essa busca nos apresenta.

    Fique tranquilo! A preocupao traz o sofrimento por antecipao.

    S vlida quando se resume a uma maior concentrao de energia para solucionar questes difceis.

    Se voc tem certeza que algo indesejado vai acontecer daqui a uma semana, j fez tudo o que podia para evitar e realmente no h mais o que fazer, deixe para enfrentar as dificuldades depois que elas vierem. Se voc ficar mal-humorado, a espera de algo que ainda no aconteceu, ter menos fora para reagir aos fatos.

    Talvez a dificuldade que voc espera nem acontea ou, se acontecer, possvel que os resultados no sejam assim to desastrosos. Dessa forma, voc estar tranquilo para buscar solues para as questes que ocorrerem.

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    A proatividade e a busca de solues inteligentes em relao s questes difceis da vida so atitudes benficas, mas h momentos em que nos percebemos sobrecarregados, cansados e sem foras para resolver certas situaes. Outras vezes nos deparamos com fatos que parecem no ter soluo naquele momento.

    Muitas vezes vivenciamos alguns acontecimentos que nos

    estressam, nos tiram a capacidade de buscar solues e pem pensamentos fixos em nossas mentes. Respire fundo, avalie os fatos e decida se vale a pena ir em frente. Se no for, de uma guinada e seja feliz. Quando a vida nos fecha uma porta, ela nos abre uma janela.

    Chute o balde! Como diria Confcio4, o que no tem soluo, solucionado est!. Se no tem jeito, deixe pra l. A vida passa muito depressa para gastarmos velas com defuntos ruins. Porm, tome o cuidado para no se tornar aptico e pensar que nada tem soluo.

    O que estou tentando defender aqui o fato de que a felicidade depende de ns. Podemos ser felizes ou no. Tudo depende da importncia que damos a cada acontecimento da vida e de como encaramos cada um deles.

    H pessoas que desistem de viver e ficam a espera de uma morte feliz, passando a evitar a vida para no enfrentar as dificuldades. Devemos fazer a essas pessoas a seguinte proposta: d-me de presente os anos da sua vida que voc pensa que sero difceis e quer evitar e, ento, tenha sua to esperada morte tranquila, que eu fico vivo mais

    4 Confcio: pensador chins (551 a.C.)

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    alguns anos, alm dos que j me esto reservados, e enfrento suas dificuldades para voc (de uma maneira assertiva e positiva claro!).

    Carlos Drummond de Andrade escreveu: A cada dia que vivo, mais me conveno de que o desperdcio da vida est no amor que no damos, nas foras que no usamos, na prudncia egosta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos tambm a felicidade...5.

    Ser feliz no significa fugir da tristeza. A tristeza e a felicidade andam juntas. O que no podemos deixar que as dificuldades e frustraes nos derrubem. Se a queda for inevitvel, o que temos a fazer levantar e continuar!

    A busca por momentos agradveis ajuda na superao de frustraes e estados depressivos. Quem tem momentos alegres e descontrados com frequncia ter sempre maior facilidade em contornar situaes adversas.

    O sofrimento na dose certa nos ajuda a crescer e nos torna fortes. No precisamos procurar a tristeza, mas tambm no podemos fugir dela. Precisamos sentir as emoes que as frustraes nos causam, nos fortalecermos e aprender com elas.

    No entanto, temos que ser cautelosos em relao tristeza. Talvez

    voc fique chocado com o que vou dizer e me tome por louco, mas digo assim mesmo: a tristeza vicia!.

    Isso mesmo, h muitas pessoas viciadas em tristeza. Acostumaram-se a fazer queixas constantes, de pensar que a vida ingrata. Nem tm outro assunto. Para elas a sorte s existe para alguns

    5 ANDRADE, Carlos Drummond de: Viver no di. Poema atribudo ao autor.

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    poucos. Comeam a gostar da sensao que angstia causa e nos dias em que acordam sem aquele aperto incmodo no peito, do um jeito de criar situaes que o faam aparecer. Enchem a cabea de pensamentos negativos, preocupaes e outras inutilidades, os quais lhes tiram o tempo e a energia que precisam para criar projetos e solues que as faam crescer e sentirem-se bem.

    O pior que o mundo favorece o vcio da tristeza. Todos se interessam mais por acontecimentos infelizes da vida dos outros do que pelo sucesso que eles alcanaram. A negatividade est no noticirio, na novela, nos e-mails, no rosto das pessoas.

    A mora a questo. Se ser infeliz um vcio, a soluo buscar remdios para combater esse mal. E o remdio ser feliz!

    Combater a negatividade no tarefa fcil, pois, como j vimos, ela est presente em muitos lugares. Precisamos nos concentrar em fatos

    positivos e agir para que tudo acontea como gostaramos que fosse. Assim como um fumante, que acredita que pode parar de fumar

    quando quiser, sem problema, e no aceita ser criticado pelo seu vcio; assim como um alcolatra no assume essa condio e resiste ao tratamento; a pessoa infeliz tambm no assume seu vcio, rebate conselhos que podem ajud-la e acredita que sua felicidade depende dos outros.

    Por isso, faa uma reflexo sobre suas atitudes, sobre como voc encara a vida e d um diagnstico a si mesmo: voc tambm no viciado em tristeza?

    Se for, voc ter que iniciar um tratamento urgente.

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    Voc ser seu mdico, sua enfermeira e seu paciente ao mesmo tempo.

    Ter que desenvolver novos hbitos, mudar de atitude e de postura diante da vida, buscar conselhos com as pessoas as quais voc admira, pela maneira leve como vivem suas vidas, e resistir sensao de angstia, substituindo-a por sensaes de bem-estar.

    Voc dever se policiar e, sempre que os pensamentos negativos e as preocupaes invadirem sua mente e a dvida entrar em seu corao, dever buscar lembranas de momentos felizes ou pensar em coisas que agradam.

    A busca pela vida em grupo tambm um grande remdio. No se isole. Queira estar perto das pessoas, converse, sorria. Ficar sozinho de vez em quando bom para refletir, mas deve ser por pouco tempo, somente para organizar algumas ideias. Depois, v ao encontro das pessoas.

    Demonstre interesse pelas pessoas, tente ajud-las. Elogie pelo menos trs pessoas por dia. O interesse, a ajuda e o elogio sero retribudos e o fortalecero.

    Mantenha-se ocupado. O cio pode ser criativo, como defende Domenico de Masi6, mas se transforma oficina do diabo, se voc for viciado em tristeza. Tenha hobbies, pratique esportes (so excelentes contra a depresso e oxigenam o crebro), no fique parado. Crie projetos novos e v atrs dos resultados esperados.

    Arrisque-se mais, sem medo da derrota. Seja persistente. O rol dos fracassados possui muito mais nomes de pessoas que desistiram no meio

    6 Domenico de Masi: escritor italiano. Autor do livro O cio criativo.

  • Alcione Alvez 26

    do caminho do que das que realmente falharam. O verdadeiro valor de uma pessoa no est na quantidade de vitrias que conquistou, mas na maneira como se recuperou de suas derrotas.

    Busque fazer o que lhe d prazer e tente manter-se o mximo possvel fazendo isso.

    Quando as preocupaes e os pensamentos repetitivos comearem a invadir sua cabea, pare e pergunte-se:

    - So pensamentos teis para resolver as questes que me

    incomodam ou que me impedem de ter felicidade? - Esses pensamentos no esto ocupando o tempo que me

    serviria para encontrar solues e buscar alternativas teis para minha vida?

    Se no forem pensamentos teis e se estiverem desviando sua ateno para preocupaes desnecessrias, livre-se desses visitantes incmodos e ocupe-se com uma atividade agradvel, ou concentre-se em ideias novas para buscar o que voc precisa.

    Lembre-se sempre: foco nas solues, no nos problemas. A transformao ser gradual e poder ser lenta, como a cura de

    todo vcio. Voc poder ter recadas, isso normal. Mas o importante viver um dia de cada vez. Por isso voc ter que deixar o seu mdico e sua enfermeira em permanente viglia, orientando-os e trazendo-os de volta para ajudar no tratamento, sempre que voc comear a sentir-se fraco.

    O fundamental que depois de superar a tristeza, voc ver que a felicidade um caminho sem volta, pois assim como o fumante percebe

  • O Remdio Ser Feliz 27

    que sua qualidade de vida melhora quando deixa de fumar, assim como o alcolatra encara a vida de outra forma quando no bebe mais, as sensaes que a felicidade proporciona so muito mais agradveis do que as oferecidas pela angstia e a tristeza.

    A felicidade comea a fazer parte de nossas vidas a partir do momento em que percebemos que nossa existncia constitui-se de uma sucesso de momentos e que no temos poderes para mudar o que passou, to pouco prever os acontecimentos futuros. Por isso, cabe a ns fazer de cada momento presente um episdio especial. Simples, como a vida deve ser.

    A nossa existncia relativamente curta e se tornar ainda mais breve se desperdiarmos os bons momentos que nos so oferecidos, deixando que a tristeza e as preocupaes roubem nosso tempo.

    Lembre-se: apesar de o amanh representar sempre a esperana de momentos melhores, ele pode no chegar. Nossa maior chance de sermos felizes est no aqui, no agora!

    Temos que aproveitar a bagagem que os momentos passados nos proporcionam para aprender com a vida e utilizar o que aprendemos para maximizar o bem-estar no presente.

    Seja um adepto da felicidade. O sentimento de bem-estar que a alegria e o sorriso nos proporcionam permitem que o organismo libere substncias benficas em nosso corpo, fazendo com que as sensaes negativas originadas pela angstia e pelo estado depressivo se dissipem.

    O torpor experimentado por uma pessoa que passa da tristeza ao bem-estar muito agradvel, pois renova as energias e d o entusiasmo

  • Alcione Alvez 28

    necessrio para a execuo de quaisquer tarefas, impulsionando na direo de novas metas.

    A felicidade um caminho sem volta. Para quem a descobre, o cu o limite.

    Ser feliz reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os

    desafios, incompreenses e perodos de crise.

  • Entendendo nossos hbitos

    A gente no se liberta de um hbito atirando-o pela janela:

    preciso faz-lo descer a escada, degrau por degrau7.

    Desde pequenos somos levados a aprender certas coisas que, segundo quem nos ensina, so boas ou ruins para ns. Primeiro todos acham engraadinho quando nos sujamos com a comida. Mais tarde, isso se transforma num problema e passamos a ser repreendidos.

    Durante toda nossa vida vo acontecendo situaes em que somos elogiados ou criticados pelo modo como agimos ou deixamos de agir. Esses elogios e crticas nos provocam sensaes e sentimentos, que

    permitem avaliar se ser bom agir dessa forma outra vez ou no. Essa dinmica nos condiciona a dar certas respostas padronizadas a determinados estmulos em cada situao.

    Todos os dias ouvimos muitos "nos". Quando pequenos: "menino no suba no sof", "no diga palavres"; quando adultos: "no corra no trnsito", "no sonegue impostos". Tudo isso vai moldando o nosso comportamento e introduzindo em nosso crebro mensagens positivas e negativas. O crebro processa as recompensas e as penalidades sofridas em cada ato cometido e nos proporciona o aprendizado para que escolhamos a melhor reao.

    7 Mark Twain: pseudnimo de Samuel Longhorne Clemens, (30 de Novembro de 1835, Flrida,

    Missouri, EUA - 21 de Abril de 1910, Redding, Connecticut, EUA); Escritor e humorista norte-americano.

    ? ! ?

  • Alcione Alvez 30

    Vamos aprendendo e percebendo o que nos faz sentir bem, ou o que nos faz sofrer. As situaes vividas e aprendidas nos levam a desenvolver reaes diferentes para cada acontecimento. Com o tempo, a forma como reagimos acaba se transformando em hbito, ou seja, torna-se automtica.

    Sempre que estou ministrando cursos e quero explicar o que so hbitos ou condicionamentos, fao uma brincadeira: peo que um dos participantes v em busca de um copo d'gua pra mim. A pessoa educadamente levanta-se e comea a busca pela gua. Antes que saia da sala eu a chamo de volta e peo para que se sente. Ningum entende nada.

    Peo ento que essa pessoa fale sobre o que sentiu e pensou quando eu fiz o pedido. Geralmente falam que se preocuparam em descobrir onde iriam encontrar um copo ou a gua. Algumas se sentem privilegiadas, outras constrangidas e tudo mais.

    Pergunto, depois, se antes de se levantar ela pensou que teria que fazer os movimentos com as pernas para comear a andar, depois teria que levantar o brao para abrir a porta e assim por diante, at voltar com a gua. Todas respondem negativamente.

    Obviamente, essas aes j esto automatizadas em ns. No precisamos pensar em dar um comando a nossa boca para que ela emita um som. Isso j est aprendido, assimilado, internalizado. Basta escolhermos a palavra e ela ser dita. Acontece naturalmente, sem que precisemos pensar nos movimentos que nossos msculos tero que

    executar para que o som saia.

  • O Remdio Ser Feliz 31

    Assim so nossos hbitos. Fazemos ou deixamos de fazer alguma coisa tantas vezes, que no final j repetimos o ato sem nos darmos conta. Sempre gritamos com o motorista do carro que desprevenidamente cruzou a preferencial, sempre nos estressamos com o atraso do nibus, sempre ficamos aborrecidos porque no conseguimos algo. No pensamos mais. Apenas agimos como de costume.

    Os paradigmas com os quais nos deparamos todos os dias moldam nossos hbitos. Fazemos coisas apenas porque sempre foram feitas da forma como as conhecemos. Paradigmas so as lentes pelas quais enxergamos o mundo, moldadas pelos padres que construmos a partir das influncias externas, processadas juntamente com a percepo que possumos do ambiente em que estamos inseridos. Da mesma forma, o conjunto de nossos hbitos acaba construindo nossos prprios paradigmas pessoais.

    Os hbitos formam o nosso carter, pois definem o padro de reaes que teremos diante de cada acontecimento, seja ele bom ou ruim.

    possvel mudar? Com certeza, sim! Porm, no to fcil assim eliminar ou criar novos hbitos. A

    mudana exige a alterao de mecanismos internalizados e automatizados em ns. Precisamos de muita reflexo, concentrao e fora de vontade. Deixar de fumar, por exemplo, eis uma mudana de hbito que s acontece quando parte da vontade, da deciso e da mudana de atitude de quem fuma. Como ex-fumante, posso testemunhar como foi difcil abandonar esse vcio. Mas venci!

  • Alcione Alvez 32

    Nossos paradigmas (sentimentos, crenas, pensamentos) exercem grande influncia sobre o nosso comportamento. No entanto, nosso comportamento tambm influencia nosso pensamento.

    Quando nos concentramos em algo ou algum acabamos desenvolvendo sentimentos pelo objeto ou pela pessoa. Esses sentimentos moldaro nossas emoes e definiro nossas reaes. Para modificar alguma situao temos que nos comportar de maneira diferente. Para isso devemos comear a mudar nossos paradigmas, nossa maneira de ver o mundo e interagir com ele. Temos que criar nossas prprias lentes, para que a viso que temos da realidade no seja distorcida pela influncia das expectativas que criaram para ns. Precisamos investir tempo em ns mesmos para melhorarmos

    nossas atitudes frente vida. Grande parte das atitudes automticas que possumos podem ser alteradas a partir de algum treinamento. Tudo depende de nosso esforo.

    Desenvolver novos hbitos uma tarefa que exige vigilncia, ateno e persistncia. Temos que perceber em quais situaes agimos de maneiras que nos causam desconforto ou geram problemas, refletir e descobrir qual a forma mais adequada de respondermos a esses acontecimentos. Ento, temos que nos manter atentos para que, no

    momento em que ocorram, possamos reagir conscientemente da forma como planejamos. Muitas vezes no sabemos que bom para ns desenvolver algum hbito ou habilidade e no temos o preparo para isso. A partir do momento em que identificamos atitudes as quais pretendemos

  • O Remdio Ser Feliz 33

    desenvolver, comearemos a nos policiar para que, cada vez que uma situao ligada quela atitude ocorra, possamos agir da maneira como idealizamos.

    No comeo difcil, pois estaremos condicionados a agir da maneira anteriormente automatizada. Mas com o tempo vamos adquirindo a habilidade necessria.

    Aps algum tempo de policiamento e prtica da nova habilidade, estaremos respondendo automtica e inconscientemente quela antiga situao, da maneira como desejamos e no da maneira como havamos sido moldados para reagir. Fazendo isso repetidamente, acabaremos por desenvolver padres de condicionamento que nos levem a reagir automaticamente de maneira mais positiva, frente a qualquer fato da vida. Precisamos educar nossos sentimentos para que moldem nosso comportamento e devemos nos comportar de uma maneira que nos leve ao desejado condicionamento, frente s diferentes situaes do nosso cotidiano, para que tenhamos atitudes mais positivas e assertivas em nossas vidas.

  • Alcione Alvez 34

    Ser feliz deixar de ser vtima dos problemas e se tornar autor da prpria

    histria.

  • Necessidade: A me da criatividade

    A arte de viver consiste em tirarmos o maior bem do maior mal8

    Voc j ouviu falar que " na crise que se cresce"? O ser humano tem a mania de acreditar que "em time que est ganhando no se mexe" e deita-se em bero esplndido quando considera que tudo vai bem. Para de buscar novos conhecimentos, no se interessa por novas oportunidades, no quer mais saber de mudanas. Deixa o comodismo tomar conta. No quero dizer aqui que devamos viver sem descanso, trabalhando sempre para mudar nossa vida. s vezes preciso relaxar e curtir um pouco o que conquistamos. Porm, temos que ficar atentos

    para o fato de que o mundo contemporneo tornou-se muito dinmico e no podemos mais acreditar que o sucesso do passado e do presente vai garantir bons resultados no futuro. Temos que ressaltar, inclusive, que o futuro tem se tornado presente cada vez mais rpido. Longe de mim querer que o leitor mergulhe nessa neura moderna da urgncia e do imediatismo. O que quero dizer que imprevistos acontecem. As situaes mudam: quando pensamos que sabemos todas as respostas, percebemos que a vida mudou todas as perguntas. Por outro lado, buscar a mudana e o constante aperfeioamento pessoal em todas as reas faz bem, mesmo quando tudo parece perfeito,

    8 Machado de Assis: escritor brasileiro.

  • Alcione Alvez 36

    pois para quem descobre o caminho da felicidade, o cu o limite. No h nada que no possa ser melhorado. Penso ser importante narrar aqui a parbola do monge e a vaquinha. Ela conta que: certa vez um monge e seu aprendiz peregrinavam por uma regio, quando encontraram uma casa pequena e pobre, na qual moravam um homem, sua esposa e dois filhos. Eles mal tinham o que comer e viviam apenas do leite de uma vaquinha velha e magra que possuam. O jovem aprendiz ficou comovido vendo aquela situao e perguntou ao monge:

    - Mestre: como posso ajudar essa pobre famlia? O sbio monge respondeu: - Atrs da casinha h um precipcio. V l e jogue a vaquinha no

    precipcio.

    O jovem aprendiz no entendeu. Como poderia ajudar aquela famlia tirando dela a nica fonte de alimento que possuam? Relutou muito, mas como conhecia o monge e tinha certeza que ele era sbio, obedeceu ordem do velho e jogou a vaquinha no precipcio.

    Anos passaram e o jovem viveu angustiado, sem saber se havia ajudado aquela famlia ou tinha matado todos de fome.

    Certo dia, quando peregrinava pela mesma regio, voltou quele local para conferir e no avistou mais a velha casinha. Ao contrrio, o que ele viu foi uma casa bonita, na qual moravam o mesmo homem, sua esposa e seus filhos.

  • O Remdio Ser Feliz 37

    A famlia j no passava mais necessidade, possua dez vacas de leite e uma bela plantao, da qual tiravam seu sustento e ainda sobrava dinheiro para investir na propriedade. O jovem aproximou-se do dono da casa e disse:

    - H alguns anos passei por aqui. Havia um casebre velho e quem morava nele era uma famlia pobre. O que aconteceu? E o homem respondeu:

    - Pois bem. De fato, h alguns anos ramos pobres e tudo o que possuamos era um casebre e uma velha vaquinha, da qual tomvamos o leite.

    - Certo dia essa vaquinha caiu no precipcio continuou ele. Para que minha famlia no passasse fome tive que ir em busca de novas alternativas de sustento.

    - No incio foi difcil, mas com o tempo percebi que tinha jeito para os negcios. Juntei algum dinheiro trabalhando de empregado e comecei a comprar e vender vacas. Com o lucro dessas vendas constru uma vida melhor para a minha famlia e hoje quem toca a propriedade so meus filhos.

    O jovem aprendiz percebeu ento o que o velho monge percebera h anos atrs: aquela famlia tinha potencial para crescer, mas estava acomodada, pois havia se adaptado quela vida, de viver do leite de uma vaquinha. Ao jogar a vaquinha no precipcio, ele fez com que eles tivessem que ir em busca de sobrevivncia e acabaram encontrando prosperidade.

  • Alcione Alvez 38

    Muitas pessoas so tomadas de surpresa por imprevistos que acontecem na histria de todos. Estava tudo bem at que.... O conforto virou preocupao. A fartura se transformou em necessidade.

    Ento, como no estavam preparadas para a mudana, pois deixaram de exercitar suas mentes e a habilidade de buscar alternativas se atrofiou, passam a culpar Deus, o destino e as outras pessoas pelo infortnio que comeam a viver.

    Felizmente a maioria de ns possui a capacidade de construir o prprio destino e, quando o cenrio muda, buscamos foras para encarar a nova realidade. Quando a necessidade surge, comeamos a dar vazo a nossa criatividade e a capacidade de superao vem tona. Aps assimilarmos o golpe comeamos a buscar meios de "sacudir a poeira e dar a volta por cima".

    Alguns, porm, permitem que a nova situao tome conta de suas vidas, mergulham na depresso e deixam que o caminho de volta para a felicidade torne-se um pouco mais longo e sinuoso. Mas tudo tem remdio. Assim caminha a humanidade: em geral, primeiro temos que nos deparar com as questes, para depois buscarmos solues.

    Existem uns poucos privilegiados visionrios, que conseguem prever o futuro e inventar solues para situaes que sequer

    aconteceram, mas que um dia vo acontecer. Mas tambm h pessoas que, embora no consigam antecipar solues, conseguem superar um pouco mais fcil as situaes

    inesperadas.

  • O Remdio Ser Feliz 39

    Por qu?

    Em primeiro lugar porque elas possuem um jeito diferente de encarar a vida e no se deixam tomar pelo desespero. Segundo, porque elas tm sempre um plano B. Isso mesmo, um plano alternativo.

    O plano B pode no ser a soluo para cada nova situao que acontece, mas ele nos permitir agir e ganhar tempo, enquanto

    buscamos alternativas com mais tranquilidade. Voc est bem empregado ou possui uma atividade que lhe garante equilbrio financeiro? Esteja atento. Mantenha-se informado sobre as possibilidades de iniciar uma nova carreira quando julgar oportuno.

    Prepare-se, estude, informe-se sobre as vantagens e desvantagens de outras atividades profissionais e avalie a viabilidade de cada uma, de acordo com a realidade em que est inserido, respeitando sempre, claro, sua vocao e sua essncia.

    O dinamismo da economia mundial tem feito com que muitos negcios lucrativos se tornem deficitrios ou mesmo deixem de existir. O advento do DVD, por exemplo, fez com que centenas de casas de cinema fossem fechadas, assim como a pirataria e a TV por assinatura tm atrapalhado os negcios do setor de locao de filmes. Por outro lado, o que dificuldade para alguns pode transformar-se em oportunidade para outros. A falta de segurana e estrutura das grandes cidades, por exemplo, propiciou o crescimento das empresas de entrega de produtos a domiclio. Muita gente prefere pedir uma pizza, um DVD ou qualquer outra coisa em casa, para no correr o risco de ser assaltado na rua ou ter que rodar horas atrs de estacionamento.

  • Alcione Alvez 40

    Manter-se informado e estar atento s oportunidades de novos negcios pode propiciar crescimento e novas perspectivas, mesmo quando tudo est indo bem. O plano B pode facilitar a nossa vida. Tenha sempre um em mente. No permita que a necessidade seja a nica motivadora de seu crescimento e deixe sua criatividade tomar forma, mesmo quando o cu est azul.

    Se prestar ateno, voc ver que at mesmo as pessoas mais bem sucedidas continuam sempre em constante aprendizado. Se ainda esto aqui entre ns porque h algo que precisam aperfeioar, para

    tornarem-se pessoas mais humanas, dotadas de compaixo e compreenso, para que possam viver em paz.

    No espere sua vaquinha cair no precipcio para comear a buscar novas oportunidades. Procure antecipar-se as suas necessidades. No se adapte com o que no bom pra voc. No se acomode. Aperfeioe-se sempre e, se a situao estiver insuportvel, seja corajoso e jogue voc mesmo sua vaquinha no precipcio. V luta!

  • Tudo acontece para o bem

    Viver encarar um problema atrs do outro. O modo como voc

    o encara que faz a diferena9

    A maneira como enfrentamos as situaes

    A maneira como lidamos com as situaes faz diferena em nossa vida, influencia nos resultados das nossas aes e determina o grau de felicidade que cada um sente no dia-a-dia. Somos responsveis pelo que sentimos e o que sentimos depende da maneira como encaramos a vida. Nos estressamos diante de acontecimentos cotidianos que, se encarados de outro ponto de vista, poderiam constituir fatos cmicos, dos quais poderamos dar boas risadas, liberando endorfina10 em nosso organismo e nos sentindo bem, ao invs de liberarmos cortisol11 e passarmos o resto do dia carrancudos.

    Com o avano tecnolgico e a evoluo do conhecimento humano, a afirmativa men sana in corpore sano, pronunciada j h milhares de anos pode, hoje, ser comprovada. A tristeza, a raiva, o nervosismo, a ansiedade e o ressentimento fazem mal sade. Padres de

    9 Benjamin Franklin, cientista e estadista norte-americano.

    10 Endorfina um neurotransmissor. produzida em resposta atividade fsica, visando relaxar

    e dar prazer, despertando uma sensao de euforia e bem-estar. Durante o orgasmo essa substncia liberada na corrente sangunea, provocando uma intensa sensao de relaxamento no casal e alguns at adormecem aps a relao.

    11 Cortisol um hormnio corticosteride produzido pela glndula supra-renal que est

    envolvido na resposta ao estresse; ele aumenta a presso arterial e o acar do sangue, alm de suprimir o sistema imunolgico.

  • Alcione Alvez 42

    comportamento associados ao stress e ansiedade prejudicam o organismo.

    A mente e o corpo possuem uma relao direta. Perceba como nossas mos suam quando ficamos nervosos, como nosso rosto fica vermelho quando nos sentimos embaraados. As emoes agem sobre nosso sistema nervoso e alteram a maneira e a quantidade com que certos hormnios so liberados em nosso organismo, determinando nossas reaes em funo do que o nosso corpo est sentindo.

    A nossa resistncia a doenas, ou a fragilidade com que nos apresentamos frente a certos males, dependem da resposta do nosso organismo as nossas emoes. Ao nos sentirmos bem, levamos nossas glndulas a liberar substncias benficas, que nos trazem sade e longevidade.

    O mesmo acontece quando, ao contrrio, nos sentimos mal. Nosso organismo produz e libera em maior quantidade hormnios que nos levam a ficar fragilizados e com tendncia a desenvolver mais doenas, alm de acelerar o envelhecimento.

    Assim como alguns sintomas nos avisam sobre a possibilidade de doenas, o nosso comportamento tambm denuncia questes ligadas ao nvel de satisfao que estamos tendo com a vida. Tudo depende de como deixamos as emoes condicionarem nossas reaes.

    A boa notcia que podemos educar nossas emoes. Temos a capacidade de aprender a viver de uma maneira mais leve, dando vez felicidade. A tristeza faz mal sade e temos que buscar um remdio eficaz para combat-la. E o remdio ser feliz!

  • O Remdio Ser Feliz 43

    Uma mudana de atitude diante da vida pode fazer com que nos sintamos mais leves, tranquilos e bem-humorados. Est em nossas mos. No devemos levar a vida to a srio. Isso no significa ser irresponsvel e deixar tudo deriva, mas ter uma postura mais assertiva com relao s pessoas e frente aos fatos que

    nos ocorrem. O fundamental sabermos criar mecanismos que nos levem a ter reaes mais benficas, que levem a melhores resultados e no destruam nossa sade e paz interior.

    Questes ou problemas?

    Considero como passo principal para comearmos a mudar nossa atitude frente aos acontecimentos da vida, definirmos claramente a diferena entre questes e problemas. Constantemente ouvimos queixas das pessoas dizendo que enfrentam muitos problemas. Ao perguntarmos o que as aflige, ouviremos da maioria o mesmo rol de reclamaes: - falta de dinheiro; - amor no correspondido; - brigas na famlia; - insatisfao com o trabalho.

    Gostaria de fazer uma pergunta: tratam-se realmente de problemas?

  • Alcione Alvez 44

    Para descobrir, teremos que refletir sobre cada uma dessas queixas. Ento vejamos: - A falta de dinheiro s se tornar um problema quando a nossa sobrevivncia estiver ameaada por essa carncia financeira. Somente quando por falta de recursos financeiros no pudermos por comida na mesa ou pagar um tratamento de sade necessrio, poderemos afirmar que temos um problema. No mais, a prestao do financiamento do carro pode ser paga com alguns dias de atraso, o veculo poder ser vendido ou trocado por um mais barato. Aquela viagem dos sonhos pode ser adiada para quando estivermos mais estveis financeiramente. - Quanto ao amor no correspondido, at hoje no tive notcias de algum que, naturalmente, tenha morrido por causa disso. Lembre-se que quanto maior for sua autoestima, quanto mais bem-humorado voc estiver, mais sucesso voc ter em suas conquistas amorosas.

    - As brigas em famlia so como as disputas de questes entre pases: algum sempre precisa dar o primeiro passo e ceder um pouco, para que a paz acontea. Precisamos ser mais tolerantes. Deixar pra l.

    Perdoar. Como diria Shakespeare, ter ressentimento como tomar veneno e esperar que o outro morra.

    Costumamos levar pra casa nossas frustraes do dia-a-dia e descarregar nossa insatisfao nas pessoas mais prximas, as que amamos. Porm, isso no constitui um problema, pois a soluo est em nossas mos. Basta tratarmos as pessoas com mais carinho, gentileza e

    tolerncia.

  • O Remdio Ser Feliz 45

    - Se voc est insatisfeito com sua profisso, mude de emprego. Faa outra coisa. Chute o balde, v atrs de seus sonhos. Pode ser difcil? Pode. Mas depende de voc! Vivemos dentro de um universo de possibilidades, as quais podem estar ao nosso alcance assim que as percebermos, se tivermos boa vontade para agarr-las.

    O que estou tentando esclarecer aqui, comentando cada uma dessas reclamaes mais comuns das pessoas, demonstrar que no se tratam de problemas, mas de questes. So situaes cujas solues esto ao nosso alcance, bastando que tomemos algumas providncias ou que mudemos nossos hbitos, ou nossa postura diante da vida. Problema outra coisa! Ter um ente querido com uma doena grave um problema, pois, s vezes, por mais que cuidemos dele, por mais carinho, ateno e cuidados mdicos que lhe sejam dispensados, a sua recuperao no depende s de ns. Depende da eficcia do tratamento, do poder de recuperao de nosso ente querido e de uma vontade maior que nos governa.

    Mas j vi provas de que mesmo doenas graves podem ser curadas, com a ajuda de mudanas de atitude e de uma f maior na vida. Algumas outras situaes na vida tambm podem ser encaradas como problemas, mas podemos ter certeza que so poucas. Podemos citar: estar morando num pas que est em guerra ou que foi atingido por circunstncias naturais adversas, estar sendo ameaado por pessoas mal intencionadas, entre outras.

  • Alcione Alvez 46

    Porm, a maioria das situaes constituem simples questes, cuja soluo est em nossas mos e depende da maneira como enfrentamos cada caso e como agimos para solucion-los ou, simplesmente, esquec-los.

    Por isso, viva feliz. No transforme suas questes em problemas.

    Tudo acontece para o bem

    Diz a lenda que um rei e seu ministro estavam caando, quando o rei desprevenidamente decepou um de seus dedos com uma faca. Aps estancar o sangue e fazer ataduras em seu rei, o ministro lhe disse:

    - No vos preocupais, tudo acontece para o bem. O rei que j era austero, sentindo muita dor, ficou irritadssimo com o seu ministro e gritou com ele:

    - O que pensas?! Dizer ao teu rei que perder um dedo pode ser algo que veio para o bem! Desaparece da minha frente! Ests banido do meu reino!. O ministro obedeceu e seguiu por uma trilha mata adentro. Alguns minutos depois o rei foi cercado por uma tribo indgena que, vendo-o bem vestido e coberto por jias, resolveu que seria um grande presente aos deuses sacrific-lo, em uma fogueira de oferendas. Ele foi ento amarrado e levado para a aldeia. No momento em que os ndios iam atear fogo no rei, o pag percebeu que lhe faltava um dos dedos e ordenou que o sacrifcio fosse interrompido. Oferecer uma pessoa imperfeita, sem uma parte de seu corpo, seria uma desfeita para

  • O Remdio Ser Feliz 47

    com os deuses e mat-lo poderia ser uma atitude que traria azar para a tribo.

    O cacique desamarrou o rei e ordenou que ele fosse embora. Envergonhado por ter brigado com seu ministro, que afinal tinha razo no que disse, o rei seguiu mata adentro e encontrou-o deitado sob uma rvore, tranquilamente, observando os pssaros. O rei ento disse ao ministro:

    - Quero pedir-te desculpas. Fui injusto contigo. Contou sua histria ao ministro, que respondeu: - No vos preocupais majestade, tudo acontece para o bem.

    O rei enfureceu-se novamente e falou: - Mas como podes dizer isso. Eu fui injusto contigo, te expulsei de

    meu reino e ainda me dizes que tudo acontece para o bem?. - Pois no majestade! disse o ministro. Se eu estivesse com vossa majestade no momento em que fostes capturado, eles tambm teriam me levado. Como no me falta nenhum dedo, eles com certeza teriam me sacrificado no seu lugar!

    Essa lenda serve para nos mostrar que na vida tudo depende da maneira como encaramos os fatos e que nada acontece por acaso. Para muitos a chuva um incmodo, que nos faz perder um dia, enquanto outros sentam-se prximos janela, admiram o milagre da natureza e agradecem pela gua que cai, molha as plantas e permite que tenhamos o que comer e beber. Voc est tomando caf da manh, antes de ir para o trabalho, seu filho bate em seu brao e derrama o caf em sua camisa. Voc tem duas

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    opes: abraar e beijar seu filho, pedir calmamente que ele tome mais cuidado, trocar a camisa e ir trabalhar bem humorado. Mas tambm pode ficar irritado, brigar com seu filho e estragar o seu dia e o de sua famlia com seu mau humor.

    Dalai-Lama, em seu livro Uma tica para o novo milnio,

    afirma: "Olhando em torno, vejo que no somos apenas ns, refugiados tibetanos e os membros de outras comunidades expatriadas, que enfrentamos dificuldades. Em toda parte e em todas as sociedades as pessoas passam por sofrimentos e infortnios - at as que gozam de liberdade e prosperidade material. De fato, parece que uma grande poro do sofrimento que nos aflige na verdade criada por ns mesmos. Em princpio, portanto, somos ao menos capazes de evitar essa poro".12

    Como j foi dito, Viver como jogar bolas na parede. Se voc jogar uma bola azul, ela bater na parede e voltar azul para voc, no mudar de cor. Se voc jogar uma bola com fora na parede, ela retornar tambm com fora para voc. Da mesma forma, se voc viver semeando discrdia, colher discrdia. Se semear vingana, colher vingana.

    Encarar a vida com bom humor atrai coisas boas. Pensar positivo, ser altrusta, agir com assertividade e ser gentil com as pessoas constituem um estilo de vida que, se praticado com vontade, transformar-se- em hbito, trazendo para voc resultados positivos. A

    12 Dalai-Lama: Uma tica para o novo milnio. Rio de Janeiro, RJ. Sextante, 2006, p 7.

  • O Remdio Ser Feliz 49

    vida ser mais leve, a paz interior ser sua companheira e a ento, com certeza, tudo acontecer para o bem.

  • Alcione Alvez 50

  • SEGUNDA PARTE

    Conhecendo os poderes

    Defeitos no fazem mal, quando h vontade e poder de os corrigir13.

    A partir de agora voc saber quais so os poderes que influenciam nosso cotidiano. Todos temos sobre eles total e absoluta influncia. Tudo depende da maneira como encaramos a vida e como exercemos cada uma dessas foras, utilizando-as a nosso favor ou contra ns.

    So sentimentos e situaes inerentes a todo ser humano. Acompanham nossas vidas e podem trazer sucesso ou fracasso, fortuna ou misria, amor ou dio, sofrimento ou felicidade.

    Cabe a ns entender a dinmica de cada um desses poderes e descobrir como tirar proveito deles, otimizando o que podem fazer de bom por ns e neutralizando suas foras negativas. Somos responsveis por nossas opes.

    A vida uma sucesso de escolhas. Sempre que escolhemos alguma coisa estaremos renunciando a outra. O casamento sugere a renncia de algumas liberdades. Mandar seu filho estudar em outra cidade, em funo de melhores oportunidades para ele, far com que

    13 Machado de Assis: escritor brasileiro.

  • Alcione Alvez 52

    vocs passem menos tempo juntos. O trabalho requer a renncia ao tempo livre e assim por diante.

    A cada momento estamos exercendo nossas escolhas em busca de realizao pessoal e paz de esprito. Se erramos ou acertamos tudo consequncia da dinmica da vida. Quem sai na chuva pra se molhar.

    O importante que saibamos o que queremos e desenvolvamos condicionamentos que nos levem sempre escolha mais favorvel, de acordo com o que consideramos melhor para ns.

    Ter conhecimento sobre os poderes que influenciam nossa vida e entender como podemos agir para tirar deles o que pode nos trazer benefcios, a base para iniciarmos as mudanas necessrias em nossos hbitos, a fim de que consigamos nos tornar mais felizes a cada dia.

    Sombra ou luz, sorrisos ou lgrimas. Voc ser sempre o responsvel pelas suas escolhas e elas construiro o seu destino.

    Conhea esses poderes e faa deles eficazes ferramentas, que ajudem voc a se tornar uma pessoa cada vez melhor.

    Boa jornada!

  • O poder das expectativas

    No estou no mundo para corresponder s expectativas alheias.

    Minha vida pertence a mim. E isso igualmente verdadeiro

    para os demais seres humanos14.

    Ambio, planejamento, sonhos e objetivos so necessrios para que vivamos em constante desenvolvimento. Querer um bom emprego, uma vida tranquila e desfrutar de conforto constituem padres estipulados pelo meio em que vivemos.

    Certamente, esses modelos de bem-viver apresentam variaes, de acordo com a cultura e o poder econmico de cada comunidade. No entanto, sempre haver um market share, um alvo: algo que para alcanarmos necessitamos de esforos e renncias.

    Esses padres do origem a expectativas. A sociedade espera de ns um comportamento padronizado, que na sua essncia exige que sejamos bem sucedidos na vida. Isso nos leva a construir expectativas em relao a ns mesmos e aos que nos rodeiam.

    Acontece, porm, que grande parte dessas expectativas, geradas a partir do modelo de vida ideal, nem sempre coincidem com o estilo de vida que a nossa personalidade, a nossa essncia, cobra da gente. O modelo de sucesso atual exige que tenhamos um bom emprego, um casamento perfeito, uma casa exuberante, mesmo que o preo a pagar

    14 Desconheo o autor.

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    por tudo isso seja o stress, o mau humor constante, tomar antidepressivos todos os dias...

    Aos poucos, o padro de comportamento que a sociedade espera de ns acaba moldando as expectativas que projetamos para a nossa vida e acabamos esperando de ns mesmos os resultados, o sucesso, a vida do bem sucedido.

    Sofremos porque no conseguimos comprar um carro mais caro

    que o do vizinho, porque a promoo que espervamos no trabalho no chegou, porque no somos os primeiros em tudo o que fazemos.

    Precisamos de tudo isso? O mais grave que, alm de copiarmos as expectativas externas

    que nos pressionam, como sendo as nossas prprias expectativas, acabamos projetando sobre os outros comportamentos que julgamos que deveriam ter. Ficamos magoados quando as pessoas no agem como espervamos, sem parar para pensar se tal comportamento tem haver

    com a personalidade e as necessidades delas. Baseados no padro de resposta construdo em nossa mente, no permitimos que ningum saia da linha.

    Como diria Carlos Drummond de Andrade15: Definitivo, como tudo o que simples, nossa dor no advm das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e no cumpridas.

    No quero dizer aqui que tenhamos todos que abandonar o trabalho, deixar de estudar e no nos preocuparmos nem um pouquinho

    15 ANDRADE, Carlos Drummond de: Viver no di (poema atribudo ao escritor)

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    com que os outros pensam de ns, tornando-nos desleixados, insuportveis, com ideias vazias.

    O trabalho dignifica, sim, os homens e as mulheres. A leitura e os estudos nos proporcionam crescimento e, queiramos ou no, bons modos so fundamentais para que possamos nos relacionar com os outros.

    No entanto, se voc tem vocao para marceneiro, tem

    criatividade para transformar a madeira em obras de arte, no ser feliz se acabar se formando mdico. Uma pessoa que se pega, subitamente, fazendo versos, ser infeliz se for obrigada a estar todos os dias no tribunal, defendendo seus clientes, como advogado. Precisamos descobrir o que nos trar satisfao profissional e trabalhar duro, com certeza, para sermos bons no que fazemos.

    Buscar no trabalho apenas o resultado financeiro para satisfazer as expectativas que os outros construram a nosso respeito far com que

    estejamos, pelo menos oito horas por dia, insatisfeitos. Essa insatisfao far com que no aproveitemos os momentos livres aps o trabalho para desfrutar com os amigos, a famlia, a namorada, a esposa, pois estaremos exaustos e mal-humorados. O dinheiro uma consequncia do trabalho e no precisa ser muito, desde que seja bem aproveitado.

    Como diz o ditado popular: quem trabalha no que gosta, no trabalha! Feliz daquele camarada que descobriu que sua vocao era dar aulas e hoje diz orgulhoso: antes eu trabalhava... agora eu sou professor!.

  • Alcione Alvez 56

    Maslow16 classificou as necessidades do homem, colocando-as em uma pirmide, na qual a base formada pelas necessidades primeiras, aquelas sem as quais no sobrevivemos e, na sequncia, conforme as necessidades da base vo sendo satisfeitas, novas necessidades surgem, at atingirmos o topo da pirmide. Segundo Maslow, o ser humano estar sempre buscando atingir nveis maiores de realizao pessoal, profissional e econmica. A satisfao nunca ser completa.

    Maslow define um conjunto de cinco necessidades: necessidades fisiolgicas (bsicas), tais como a fome, a sede o

    sono, a excreo, o abrigo; necessidades de segurana, que vo da simples necessidade de

    sentir-se seguro dentro de uma casa a formas mais elaboradas de segurana, como um emprego estvel, um plano de sade ou um seguro de vida;

    necessidades sociais ou de amor, afeto, afeio e sentimentos tais como os de pertencer a um grupo ou fazer parte de um clube;

    necessidades de estima, que passam por duas vertentes: o reconhecimento das nossas capacidades pessoais e o reconhecimento dos outros face nossa capacidade de adequao s funes que desempenhamos;

    necessidades de auto-realizao, em que o indivduo procura tornar-se aquilo que ele pode ser.17.

    16 Abraham Maslow (1 de abril de 1908 8 de junho de 1970) psiclogo americano, conhecido

    pela proposta hierarquia das necessidades de Maslow. 17

    Fonte: Wikipdia, em 30/11/2007.

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    Precisamos considerar que existe uma diferena entre necessidade e desejo. Necessidade algo sem o qual no viveramos. Assim, temos a necessidade de respirar, comer, beber gua, ter abrigo, necessidades fisiolgicas e, em funo de um instinto natural da perpetuao da espcie, temos necessidades sexuais. Tudo mais constitui uma sequncia de possibilidades que nos so oferecidas em funo de nossa vida em sociedade: amor, ateno, reconhecimento, status e assim por diante. Tais exigncias desenvolvem no homem o desejo, que no mesmo ritmo das necessidades, torna-se cada vez mais complexo medida que os primeiros vo se realizando. Dessa forma, no queremos ter mais apenas um teto para dormir, mas uma casa bonita e sofisticada. A segurana passa a ter outro significado e passamos a querer morar em um condomnio fechado. Comeamos a querer conquistar vrias pessoas, ao invs de cultivar o amor do cnjuge e teremos sempre que ter o reconhecimento dos que nos cercam, para que nos sintamos bem.

    A sociedade de consumo se encarrega de nos impor a cada dia novos desejos, maquiados de necessidades. O telefone fixo virou celular. O celular aparece a cada dia com uma cara e uma funo nova, em forma de iphones. O computador se transformou em notebooks, tablets e outros aparatos. A antena parablica j no serve mais, pois agora temos a TV por assinatura.

    O tempo todo vemos pessoas receitando frmulas especiais para alcanarmos a felicidade. Logicamente, a maioria de ns busca ser mais feliz e sofrer menos. Ocorre que a felicidade que buscamos, hoje mais

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    do que nunca, est padronizada e depende de ostentaes fsicas, materiais e de poder, sobretudo econmico.

    A vida em sociedade nos leva a sentir a necessidade de aprovao e aceitao pelos outros membros do grupo. Para nos sentirmos aceitos, acabamos buscando sempre atingir as expectativas que as pessoas tm a nosso respeito. Buscamos o sucesso padronizado, a qualquer custo.

    Ter sucesso e ser reconhecido muito bom, quando obtemos tudo isso seguindo nossa essncia. Porm, o sucesso como obrigao, como forma de suprirmos nossas carncias e nossa insegurana, nos escraviza, fazendo com que necessitemos cada dia mais de aplausos. A frustrao acabar se tornando nossa companheira.

    Crie seu prprio modelo de sucesso. No se iluda com o padro que j existe. Experimente, reflita, descubra o que melhor pra voc e batalhe para conseguir.

    Sair por a dirigindo um carro popular, assobiando, em companhia da famlia, com varas de pescar amarradas no teto, um isopor no porta-malas cheio de galinha na farofa, pode no ser o modelo de sucesso que todos esperam de algum, mas com certeza pode ser a felicidade verdadeira para muita gente, que conseguiu no ser contaminada pela conscincia do bem sucedido.

    Com certeza, ao passar pelas pessoas na rua essa famlia ouvir

    muitos dizerem: pobre se contenta com pouca coisa. E precisamos de mais? Tudo depende de nossas expectativas.

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    Sofremos porque temos conscincia das coisas. Somos infelizes por concluirmos que no alcanamos o sucesso que todos esperam de ns. E esse sucesso, nos dias atuais e como em quase toda a histria, se traduz em fortuna, ostentao e status.

    "O que gera essa situao a retrica contempornea do crescimento econmico, que refora intensamente a tendncia das pessoas para a competitividade e a inveja. E com isso vm a percepo da necessidade de manter as aparncias - por si s uma importante fonte de problemas, tenses e infelicidade"18.

    Outro dia, lendo uma mensagem que recebi de um amigo por e-mail, com o ttulo Os Dez mandamentos para viver melhor, chamou-me ateno o quinto mandamento: Seja humilde, no esquea que estamos nessa vida s de passagem.

    O avano tecnolgico e a rapidez com que as mudanas vm acontecendo no mundo moderno alteraram muitos aspectos em nosso cotidiano. A expectativa de vida das pessoas maior a cada dia. As condies de sade, higiene e alimentao vo melhorando, os recursos mdicos e a medicina preventiva vm salvando cada vez mais vidas. Tudo isso faz com que vivamos mais.

    Mais e melhor?

    Dos casos que acompanhamos na imprensa sobre pessoas que passam dos cem anos de idade, a maioria pertence s classes economicamente menos privilegiadas. Algumas mal sabem ler ou escrever, sempre trabalharam duro e sequer imaginam o que significa a

    18 Dalai-Lama: Uma tica para o novo milnio. Rio de Janeiro, RJ. Sextante, 2006, p. 16.

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    palavra check up19. So pessoas que nunca se estressaram por pouca coisa, aceitaram vida como ela , souberam extrair dela sua essncia. Conseguiram moldar suas expectativas ao que a existncia lhes exibiu como vivel. Riem toa: so felizes

    Na busca incessante por metas e resultados, que nem sempre acontecem como queramos, deixamos de perceber as pequenas vitrias que obtemos no dia-a-dia e no comemoramos a alegria de coisas simples, como a de estar vivo, ter sade, poder ter passado momentos harmnicos com a famlia.

    O caldo engrossa ainda mais pelo fato de o ser humano ser este eterno insatisfeito. A cada conquista, a cada expectativa alcanada, traamos metas ainda maiores. Se antes o desejo era ter um carro do ano, no momento em que o conseguimos passamos a querer um carro do ano de um modelo mais luxuoso e, em seguida, um importado, um modelo esportivo. A escala de valores vai sendo alterada e comea a ser cada vez mais difcil chegar ao topo, ao modelo de sucesso que criamos.

    Essa situao nos faz lembrar do filme O sorriso de Monalisa20, com Julia Roberts, quando uma personagem diz: o horizonte apenas uma linha imaginria, que se afasta cada vez que nos aproximamos dela. Assim so nossas expectativas nos dias atuais. So o nosso horizonte: a linha imaginria que jamais alcanamos.

    Outra caracterstica do avano tecnolgico na vida moderna encontra-se nas alteraes que causou nas relaes sociais. A

    modernidade sem dvida nos trouxe muita liberdade, atravs de

    19 Rotina de exames e consultas mdicas para identificar possveis problemas de sade.

    20 O Sorriso de Monalisa. Columbia Pictures Corporation, 2003.

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    inventos que nos tornam independentes da ajuda de outras pessoas. O fato de as mquinas estarem fazendo o trabalho que antes era realizado por pessoas, faz com que consigamos nos virar sozinhos. A questo

    que isto tem tornado cada vez maior o individualismo: eu no preciso de voc e voc no precisa de mim, por isso eu fico na minha e voc fica na sua. Ningum mais se envolve.

    Voc j percebeu como tem se ampliado o nmero de pessoas que no conseguem mais caminhar nas ruas sem um fone de ouvidos? Isso se transformou na mais moderna forma de alienao que conhecemos. Antes as pessoas apenas no se olhavam quando passavam umas pelas outras. Agora, elas simplesmente no se percebem. Um no existe para o outro. Estamos nos individualizando ao extremo.

    Alm disso, o avano das cincias e a rapidez que impuseram s mudanas em geral, acabam influenciando o imediatismo. Ningum quer mais esperar para ter o que deseja ou realizar o que planejou. Tudo tem que ser agora, j. Quem no consegue fica para trs.

    Esse o poder das expectativas: nos tornar frustrados por no sermos o que os outros esperam de ns ou, do contrrio, somos infelizes por no vivermos da maneira como o nosso corao gostaria, apenas para agradar os outros.

    No entanto, no podemos transformar as expectativas no vilo da luta pela felicidade. Como foi citado no incio do texto, ela importante para que alcancemos o crescimento pessoal e profissional. O que faz

    dela um problema a maneira com que nos colocamos diante da vida, esperando sempre mais do que precisamos, por pura presso dos

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    padres dentro dos quais fomos criados, influenciados pela cultura do ter, sobreposta a do ser.

    No precisamos atingir todos os objetivos que ns mesmos e os outros traaram para ns. A felicidade no depende dos resultados que alcanamos, mas da maneira como lutamos para alcan-los.

    Ser feliz seguir o corao e acordar satisfeito por poder viver mais um dia. A vida uma constante descoberta. Trabalhar com competncia, ser generoso e descobrir o valor das pequenas coisas nos traz bem-estar e alegria.

    Drummond de Andrade, mais frente, no seu poema Viver no di, conclui: Como aliviar a dor do que no foi vivido? A resposta simples como um verso: Se iludindo menos e vivendo mais! ... A dor inevitvel. O sofrimento opcional.

    Espere da vida, apenas o que a vida pode lhe oferecer: o momento presente, o fato de estar vivo. Tudo mais depende de voc.

  • O poder do medo

    "A coragem no a ausncia do medo e sim a presena da f apesar do medo"21

    A autoconfiana fundamental para que consigamos uma existncia com paz, dignidade e tranquilidade. Ela nos permite encarar as situaes de frente e fazer o que precisa ser feito com segurana e competncia. Trata-se da pea chave para que comecemos a operar as mudanas necessrias nos nossos hbitos e estilo de vida, as quais nos permitiro sermos donos do nosso prprio destino. O inimigo nmero um da autoconfiana o medo. Todos sentimos medo. Esse sentimento, em algumas circunstncias, constitui um fator positivo, pois existe para evitar que nos envolvamos em situaes de perigo, como, por exemplo, entrarmos na jaula de um leo selvagem sem nenhuma proteo, ou atravessar a rua quando percebemos a aproximao de um veculo em alta velocidade.

    O medo existe para nos por limites, no que se refere a comportamentos e atitudes que possam por em risco nossa vida e nossa sade. Quem detm o poder costuma usar o medo como forma de coao, para que todos ajam de acordo com a vontade dos que governam. Dessa forma, o medo desencadeado em forma de ameaas: ou voc anda na

    21 BAKER, Mark W.: Jesus, o maior psiclogo que j existiu. Rio de Janeiro, RJ. Sextante,

    2005, p. 65

  • Alcione Alvez 64

    linha ou ser preso, ou voc paga os impostos ou ter problemas com o fisco, etc. O poder coercitivo do Estado baseia-se no medo. Tambm as organizaes criminosas fazem uso desse mecanismo, espalhando o terror para obter respeito. Ento, o medo de desaparecer de repente e ser encontrado morto em uma sarjeta faz com as pessoas respeitem os criminosos.

    No mbito familiar, desde cedo ouvimos frases do tipo: menino, no sobe no muro que voc vai cair e quebrar a perna, no brinca com fogo que voc vai se queimar, no pula no sof que te puxo a orelha. Essas frases repetidas diversas vezes vo incutindo em nosso subconsciente a noo do que devemos ou no fazer, seja para preservar nossa vida e nossa sade, seja para preservar as relaes com as outras pessoas.

    Alguns desses mecanismos restritivos que nossa mente cria em funo dessa situao so importantes e servem para nos livrar de situaes embaraosas. Outros ajudam a podar nossa criatividade e nos tornam pessoas sem iniciativa e excessivamente cautelosas, em alguns

    casos.

    O cuidado permanente que alguns pais exercem sobre seus filhos muitas vezes sufoca a criana, no deixa que ela desenvolva sua criatividade e no permite que descubra os limites de sua individualidade. A criana no pode brincar vontade sem a vigilncia da me, no pode correr na rua para no sujar a roupa, no pode brincar com tinta para no manchar o tapete. Restries demais impostas de

  • O Remdio Ser Feliz 65

    maneira autoritria abrem espao para o sentimento de medo e insegurana, o que poder provocar problemas na fase adulta. Deixem as crianas serem crianas. Isso muito importante.

    Procure impor limites saudveis, sem limitar tambm a criatividade e a espontaneidade. Eduque pelo exemplo, tendo o amor sempre como valor mais importante a ser cultivado. O amor desencadeia o respeito pelos outros e abre as portas para as aes espontneas de solidariedade. O ser humano, que se distingue dos demais seres vivos em funo de alguns fatores fsicos, tambm tem suas peculiaridades quanto aos aspectos psquicos, emocionais e sociais. Desenvolveu uma entidade chamada ego.

    Ego o centro da conscincia inferior (diferente do Eu que centro superior da conscincia). O Ego a soma total dos pensamentos, ideias, sentimentos, lembranas e percepes sensoriais. a parte mais superficial do indivduo, a qual, modificada e tornada consciente, tem por funes a comprovao da realidade e a aceitao, mediante seleo e controle, de parte dos desejos e exigncias procedentes dos impulsos que emanam do indivduo. A vida na sociedade moderna, na qual a competio por melhores condies econmicas e sociais torna-se cada vez mais acirrada, fez do ego um elemento malevel, subordinado as nossas expectativas, que so maiores a cada dia. Ele se transformou no elemento que nos dita o que bom ou ruim para ns.

    O pior que o ego no aceita ser contrariado, no quer ser ferido e, por isso, cada vez que no conseguimos a realizao de um desejo, projeta em ns suas frustraes, nos causando dor e sofrimento.

  • Alcione Alvez 66

    Dor emocional e sofrimento so sentimentos que ningum gosta

    de ter e, quando passamos por algumas situaes em que o ego ferido nos tortura, comeamos a desenvolver medos que j no tm somente a funo de nos preservar a vida ou a sade, mas existem sim para possibilitar que a condio social que alcanamos seja mantida ou ampliada.

    Todos gostamos de ascender socialmente. A queda, porm, algo doloroso, com reflexos desastrosos. A maioria torce pela queda dos outros e quando isso acontece ningum deixa barato. Dessa forma, passamos a desenvolver medos do tipo: o de no ser o melhor no esporte que praticamos, de no ser um sucesso em nossa profisso, de no ter mais dinheiro que nossos amigos e assim por diante. Temos que ser o nmero um, o melhor em tudo. Queremos ter razo sempre. O receio de ser contrariado ou humilhado frente aos nossos colegas de trabalho, amigos e familiares torna-se constante em nossas vidas. Isso comea a trazer de carona outra companheira constante e nociva, chamada preocupao.

    Ficamos pensando: ser que conseguirei ser promovido e ganhar mais dinheiro? Ser que conseguirei manter o status social que alcancei? Ser que meus filhos tero orgulho de mim?

    A funo da preocupao resolver uma questo, empregando a reflexo construtiva. Ela serve como elemento de vigilncia para detectar perigos potenciais. Isso tem sido essencial para a sobrevivncia

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    no curso da evoluo. A preocupao excessiva, porm, prejudica nossa concentrao e limita a criatividade. O ser humano, por ser racional e viver em sociedade, busca sempre aprimoramento e aperfeioamento pessoal. At a tudo bem. S que isso gerou tambm um comportamento que faz com que a cada necessidade satisfeita, surja uma nova necessidade, mais complexa que a anterior.

    Somos movidos pelo desafio constante e isso faz com que queiramos sempre mais. Tudo bem se esse "mais" acontecesse sempre em favor do bem da coletividade. Mas isso no acontece. O individualismo e a competitividade levam cada pessoa a "puxar a brasa sempre para a sua sardinha". Daniel Goleman, em seu livro "Inteligncia Emocional"22, explica

    que temos em ns um medo hereditrio, encravado em nosso DNA, que faz com que tenhamos reaes de defesa automticas. Segundo ele os nossos antepassados, moradores das cavernas, viviam em constante alerta, em funo das ameaas de ataques de animais selvagens. Esse estado de alerta desenvolveu neles reaes automticas de defesa, nas quais prima a agressividade, para contra-atacar as ameaas da natureza. Estavam defendendo suas vidas. Dessa forma, herdamos reaes automticas contra os perigos que nos cercam. Por exemplo, quando ouvimos um barulho noite, ficamos apreensivos com a possibilidade de ser um assaltante, mesmo que no seja.

    22 GOLEMAN, Daniel: Inteligncia Emocional. Rio de Janeiro, RJ. Editora Objetiva, 2001. p.

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