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Soi-même comme un autre Paul Ricoeur Cap.5 L'identité personnelle et l'identité narrative Caps. anteriores: análise semântica e pragmática do soi (1 e 2); análise da ação e das relações entre ação e agente (3 e 4) Lacuna dos caps. anteriores: dimensão temporal do soi e da ação Identidade Pessoal: só pode se articular na dimensão temporal da existência humana teoria narrativa, não na perspectiva das suas relações com o tempo humano (Temps et Récit) mas na de sua contribuição à constituição de si

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Cap.5 L'identité personnelle et l'identité narrative

Caps. anteriores: análise semântica e pragmática do soi (1 e 2); análise da ação e das relações entre ação e agente (3 e 4)

Lacuna dos caps. anteriores: dimensão temporal do soi e da ação

Identidade Pessoal: só pode se articular na dimensão temporal da existência humana ⇒ teoria narrativa, não na perspectiva das suas relações com o tempo humano (Temps et Récit) mas na de sua contribuição à constituição de si

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Cap.5 L'identité personnelle et l'identité narrative

Distinção ipseité e mêmeté: pressuposta, mas não tratada tematicamente na literatura anglo-americana sobre identidade pessoal; só no enquadre da teoria narrativa que a dialética concreta entre estes termos atinge seu pleno desenvolvimento

Identidade narrativa: noção introduzida em Temps et Récit III, correspondendo à integração do relato histórico e de ficção

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Cap.5 L'identité personnelle et l'identité narrative

A compreensão de si é uma interpretação A interpretação de si, por sua vez, encontra na

narrativa, entre outros signos e símbolos, uma mediação privilegiada privilegiada

A narrativa toma de empréstimo tanto da história quanto da ficção ⇒ história de vida como ficção histórica

A questão do entrecruzamento entre história e ficção na identidade narrativa desviava a atenção das dificuldades relacionadas à questão identidade enquanto tal ⇒ tema do presente estudo

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Cap.5 L'identité personnelle et l'identité narrative

ambição do estudo: demonstrar que a identidade narrativa dá conta das perplexidades e paradoxos da identidade pessoal

Teoria narrativa: papel de ligação entre o ponto de vista descritivo e o ponto de vista prescritivo

Não há narrativa eticamente neutra; literatura como laboratório de investigação ética

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Cap.5 L'identité personnelle et l'identité narrative

1. Le problème de l'identité personnelle

lugar privilegiado de confrontação dos dois usos principais do conceito de identidade:

- identidade como mêmeté (latim: idem; inglês: sameness; alemão: Gleichheit)

- identidade como ipseité (latim: ipse; inglês: selfhood; alemão: Selbstheit

distinção desconhecida, até porque ela só ganha projeção quando passam ao primeiro plano suas implicações temporais

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Cap.5 L'identité personnelle et l'identité narrative

É com a questão da permanência no tempo que a confrontação entre as duas versões da identidade se torna problemática

À primeira vista a questão da permanência no tempo se liga exclusivamente à identidade-idem; é sob esse aspecto que as teorias analíticas abordam a questão da identidade pessoal

Mêmeté: um conceito de relação e uma relação de relações

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Cap.5 L'identité personnelle et l'identité narrative

identidade numérica: unicidade (contrário de pluralidade); operação de identificação, entendida como reidentificação do mesmo: conhecer = reconhecer

identidade qualitativa: semelhança extrema; operação de substituição

estes dois componentes são irredutíveis um ao outro, mas não são estranhos entre si: a semelhança extrema entre diversas ocorrências no tempo pode ser um critério indireto para identidade numérica

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Cap.5 L'identité personnelle et l'identité narrative

É a fraqueza do critério de semelhança no caso de uma grande distância no tempo que sugere que recorramos a um outro critério, que decorre do terceiro componente da noção de identidade:

- continuidade ininterrupta entre o primeiro e o último estágio do desenvolvimento do que temos por um mesmo indivíduo

similitude + continuidade ininterrupta da mudança: princípio de permanência no tempo

permanência no tempo: transcendental da identidade numérica

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Cap.5 L'identité personnelle et l'identité narrative

Toda problemática da identidade pessoal vai girar em torno da busca de um invariante relacional, conferindo a ele a significação forte de permanência no tempo

Ipseité: uma forma de permanência no tempo se deixa ligar à questão qui? enquanto irredutível à toda questão quoi?; forma de permanência no tempo que responda à questão “qui suis-je?”

Dois modelos de permanência no tempo: caráter e palavra mantida; em ambos reconhecemos uma permanência de nós mesmos

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Cap.5 L'identité personnelle et l'identité narrative

O caráter exprime o recobrimento quase completo do idem e do ipse; a fidelidade a si mesmo na sustentação da palavra dada marca um afastamento extremo entre aqueles e atesta a irredutibilidade das duas problemáticas (idem e ipse) uma à outra

identidade narrativa: papel na constituição na identidade pessoal pela mediação entre o pólo do caráter, no qual idem e ipse tendem a coincidir, e o pólo da manutenção de si, no qual a ipseité se libera da mêmeté

[não desenvolve neste ponto do texto]

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Cap.5 L'identité personnelle et l'identité narrative

Caráter: conjunto de marcas distintivas que permitem reidentificar um indivíduo humano como sendo o mesmo; acumula a identidade numérica e qualitativa, a continuidade ininterrupta e a permanência no tempo ⇒ mêmeté da pessoa

Ricoeur abordou o tema do caráter em duas obras anteriores: Le Volontaire et l'Involontaire – perspectiva finita, não escolhida, de nosso acesso aos valores e do uso dos nossos poderes - e L'Homme faillible – maneira de existir segundo uma perspectiva finita afetando minha abertura ao mundo das coisas, das idéias, dos valores, das pessoas

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Cap.5 L'identité personnelle et l'identité narrative

Caracterologia [nota]: imutabilidade do caráter; retrato desenhado do exterior; caráter como destino

Caráter [nota]: é a mêmeté na mienneté No texto o caráter é abordado no contexto da

problemática da identidade; coloca em questão o seu caráter de imutabilidade, presente nos trabalhos anteriores

Caráter como disposição adquirida ⇒ dimensão temporal do caráter

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Cap.5 L'identité personnelle et l'identité narrative

Caráter: conjunto de disposições duráveis em quê reconhecemos uma pessoa ⇒ ponto limite onde a problemática do ipse se torna indiscernível da do idem

Dimensão temporal da disposição é o que coloca o caráter no caminho da narrativização da identidade pessoal

À noção de disposição se liga a de hábito, com a dupla valência da hábito sendo contraído e hábito já adquirido

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Cap.5 L'identité personnelle et l'identité narrative

O hábito dá uma história ao caráter; uma história na qual a sedimentação tende a recobrir e mesmo a abolir a inovação que a precedeu

É esta sedimentação que confere ao caráter o tipo de permanência no tempo que se caracteriza pelo recobrimento do ipse pelo idem

Mas este recobrimento não abole as diferenças: enquanto segunda natureza, o meu caráter sou eu, eu mesmo, ipse.

Mas este ipse se apresenta como idem

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Cap.5 L'identité personnelle et l'identité narrative

A noção de disposição também se liga ao conjunto das identificações adquiridas, pelas quais o outro entra na composição do mesmo

A identidade de uma pessoa ou comunidade é feita, em grande parte, das identificações à valores, ideais, normas, modelos, heróis, nos quais a pessoa/comunidade se reconhece

Por esta estabilidade tomada de empréstimo dos hábitos e identificações – das disposições – o caráter assegura ao mesmo tempo a identidade numérica, a identidade qualitativa, a continuidade sem interrupção na mudança e a permanência no tempo que definem a mêmeté

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Cap.5 L'identité personnelle et l'identité narrative

A identidade do caráter exprime uma certa adesão do « quê? » ao « quem? »

O caráter é o « quê » do « quem » Recobrimento do « quem? » pelo « quê? » Este recobrimento do ipse pelo idem não exige que

se abandone esta distinção: a dialética da inovação e da sedimentação, subjacente ao processo de identificação e aquisição de hábitos nos lembra que o caráter tem uma história

Isto torna compreensível porque o pólo estável do caráter pode se revestir de uma dimensão narrativa

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Cap.5 L'identité personnelle et l'identité narrative

Tarefa de uma reflexão sobre a identidade narrativa: fazer o balanço entre os traços imutáveis que esta deve à ancoragem da história de uma vida em um caráter e os que tendem a dissociar a identidade de si (ipse) da mêmeté do caráter

Ipséité du soi sem o suporte da mêmeté: outro modelo de permanência no tempo que não o do caráter → palavra mantida na fidelidade à palavra dada; manutenção de si que não se deixa inscrever na dimensão da generalidade, mas unicamente na do « quem? »

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Cap.5 L'identité personnelle et l'identité narrative

O cumprimento da promessa é um desafio ao tempo, à mudança: mesmo que o meu desejo mude, que as minhas opiniões mudem, eu mantenho o prometido

Aqui, ipséité e mêmeté deixam de coincidir Esta distinção entre a mêmeté do caráter e a

sustentação de si da promessa, dois modelos de permanência no tempo, abre um intervalo de sentido que será preenchido pela noção de identidade narrativa

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Cap.5 L'identité personnelle et l'identité narrative

2. Les paradoxes de l’identité personnelle exame de teorias da identidade pessoal que

ignoram tanto a distinção entre idem e ipse, quanto os recursos que oferece a narratividade para resolver os paradoxos da identidade pessoal

Sem o fio condutor da distinção idem/ipse e sem o socorro da mediação narrativa a questão da identidade pessoal se perde em dificuldades e paradoxos paralisantes, como se sabe desde Locke e Hume.

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Cap.5 L'identité personnelle et l'identité narrative

Locke: equação identidade pessoal e memória, pagando um preço de inconsistência na argumentação e inverossimilhança nas consequências

Identidade Pessoal: da reflexão instântanea, que concede a mêmeité consigo mesmo, à sua extensão do instante à duração → memória como expansão retrospectiva da reflexão → a ipseidade substitui silenciosamente a mêmeité

Critério de identidade: identidade psíquica, e não identidade corporal (como no caso dos objetos)

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Cap.5 L'identité personnelle et l'identité narrative

Série de aporias concernindo os limites, intermitências, falhas da memória; aporias ontológicas (o sujeito existe porque se recorda ou se recorda porque existe uma substância alma?); transplante de alma

Hume: identidade = mêmeté; graus de identidade; não inverte os critérios de atribuição de identidade quando passa dos objetos às pessoas; identidade ipse como uma ilusão (imaginação e crença)

Hume: procurava o que ele não podia encontrar – um soi que só fosse um même e pressupunha o soi que ele não procurava

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Cap.5 L'identité personnelle et l'identité narrative

Não é verdade que critério psicológico tenha mais afinidade pela ipséité e critério corporal pela mêmeité → caráter e mêmeité; corpo próprio e ipséité

Ipséité e mêmeité: critério, enquanto o que permite distinguir o falso do verdadeiro em uma disputa com pretensão de verdade, pode se aplicar à mêmeité, mas não à ipséité → atestação [esta questão será retomada no fim das reflexões sobre a identidade narrativa]

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Cap.5 L'identité personnelle et l'identité narrative

Debate com o livro Reasons and Persons, de Derek Parfit, cujas análises da identidade pessoal se desenrolam exclusivamente no plano da mêmeté, exlcuindo qualquer distinção mêmeté/ipséité e consequentemente qualquer dialética – narrativa ou outra – entre elas

Semelhança com Locke, pelo emprego de puzzling cases, e com Hume, pelo ceticismo

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Cap.5 L'identité personnelle et l'identité narrative

Ataque às crenças de base subjacentes ao manejodos critérios de identidade pessoal:

1) o que entendemos por identidade → existência separada de um núcleo de permanência

2) é sempre possível dar uma resposta determinada com relação a existência de uma tal permanência

3) a questão colocada é pertinente para que a pessoa possa reivindicar o estatuto de sujeito moral

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Cap.5 L'identité personnelle et l'identité narrative

A crença 1) é abordada pela oposição entre a tese reducionista, endossada por Parfit, às teses não reducionistas (como o dualismos metafísico)

Ele reformula a crença comum nos termos da tese reducionista, que diz que a identidade através do tempo se remete, sem restos, ao fato de um encadeamento entre eventos - no sentido de descrição impessoal, neutra - físicos ou psíquicos

Para esta tese uma pessoa nada mais é do que a existência de um cérebro e de um corpo e do que a ocorrência de eventos físicos e mentais conectados entre si

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O fenômeno central que esta tese reduz é a posse do corpo próprio e de seu vivido, elidindo a mienneté → por isso a pessoa aparece como um fato suplementar

É por ignorar a dicotomia idem/ipse que Parfit considera supérfluo o fenômeno da mienneté com relação à factualidade do evento

O que a tese reducionista reduz não é tanto a mienneté do vivido psíquico (experiência) mas a mienneté do corpo próprio

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Cap.5 L'identité personnelle et l'identité narrative

A impessoalidade do evento marca a neutralização do corpo próprio → a diferença entre a tese não reducionista e a reducionista não coincide com o dualismo ontológico mente/corpo, mas com pertencimento meu e descrição impessoal

Esta neutralização facilita a localização do discurso sobre o corpo no cérebro (que é destituído de todo estatuto fenomenológico)

A crença 2), subjacente à 1), é atacada com a ajuda de puzzling cases que demonstram a indecidibilidade da questão da identidade, logo, o seu caráter vazio

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Os puzzling cases são selecionados a partir da hipótese reducionista e versam sobre manipulações altamente tecnológicas sobre o cérebro, tomado como equivalente da pessoa, o que é plausível na ontologia dos eventos e na epistemologia da descrição impessoal dos encadeamentos portadores de identidade, que elimina a ipséité

Se a questão da identidade se reduz à mêmeté a indecidibilidade coloca a questão como vazia

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Parfit concede aos puzzling cases um papel tão eminente porque eles dissociam componentes que na vida cotidiana tomamos por indissociáveis e ligados de forma não contingente: o recobrimento entre a conexão psicológica e corporal, que pode ser descrita de forma impessoal, e a capacidade de se designar como o seu possuidor (senso de pertencimento)

Outro componente negligenciado nos puzzling cases: temporalidade, historicidade

Em vez de vazia, a questão da identidade pessoal pode ser uma questão sem resposta

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Cap.5 L'identité personnelle et l'identité narrative

A crença 3) – a importância atribuída à noção de identidade – é atacada ferozmente: identity is not what matters.

Renunciando a esta importância as crenças 1) e 2) também saem enfraquecidas

o contexto desta crítica da identidade pessoal é o da discussão das teses utilitaristas da self-interest theory

Mas a qual identidade Parfitt pede que se renuncie? Ele ataca a mêmeité pelo viés da ipseité sem se dar conta disso

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Cap.5 L'identité personnelle et l'identité narrative

A reflexão de Parfitt provoca uma crise interna da ipséité

Se a questão da identidade perdesse toda importância, a da identidade do outro também não se tornaria sem importância?