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44 vogue.pt INVOGUE HISTÓRIA FOTOGRAFIA: DAVID REDFERN/REDFERNS; GETTY IMAGES; D.R. CORTESIA DE DAN HALTER E WHATIFTHEWORLD. Nigéria e o boom do petróleo Nos anos 70, enquanto a Nigéria prosperava em pleno boom do petróleo, os países da África Ocidental mergulhavam numa economia fraca e em falta de trabalho. Um dos países mais afetados era o Gana. A consequência foi óbvia: uma enorme emigração por parte dos ganeses para a Nigéria. Como tudo o que é bom acaba depressa, pouco mais de uma década depois, a Nigéria entra em crise. Falta de trabalho, os bens e serviços essenciais tornaram-se insuportavelmente caros. Devido a esta escassez, o povo nigeriano e a grande população imigrante residente no país entra em conflito. É então que o governo nigeriano decide atuar. Os ganeses são expulsos da Nigéria Em 1983, a República Federal da Nigéria emite uma ordem de expulsão de todos os imigrantes ilegais do país. Havia cerca de 2 milhões de imigrantes ilegais, sendo que a grande maioria era ganesa. Uma saída desesperada em massa acabou por originar uma das mais mal interpretadas tendências de Moda. Com pouco tempo para se organizarem, os ganeses usaram o que tinham: sacos de plástico grandes, com um padrão tartan de riscas vermelhas e azuis, os mesmos que usavam no dia a dia para transportar mercadorias e bens. Mais tarde foram apelidados de Ghana must go bags, símbolo dos momentos difíceis passados pelos ganeses. A Europa e o mundo ocidental utilizam-nos como sacos multiutilitários, levados para transportar a roupa para lavandaria ou em viagens. Nos E.U.A., são apelidados de Chinatown totes e, na Europa, de laundry bags. Muitos artistas já utilizaram este objeto para criar peças e corpos de trabalho. Um exemplo é o de Dan Halter. Pheobe Philo, baseando-se também no mesmo saco, cria looks para a coleção de inverno da Céline. Um look total de um tweed plastificado, não porque fosse realmente vinil ou PVC, mas pela silhueta e a modelagem, que faziam a metamorfose perfeita do saco para as peças. Marc Jacobs recria o icónico saco na coleção de verão de 2007 da Louis Vuitton. O tartan tradicional dos sacos transforma-se imediatamente numa carteira de luxo com o carimbo mágico da marca. Na Europa, chamam-lhes laundry bags. Nos E.U.A., são apelidados de Chinatown totes. A maioria não faz ideia é que, dentro destes sacos, cabe tanto de política, história e (um pouco de) Moda, quanto de roupa suja. Por Cláudia Barros. The Ghana must go bag 70s 1983 2013 2016 Saiba onde comprar estas carteiras, aqui. A Balenciaga continua a usar esta peça statement nas suas coleções, tornando-se num ícone de estilo nos dias de hoje. 2017 Quando a casa de Cristóbal Balenciaga muda de gerência e Demna Gvasalia passa a diretor criativo, este traz com ele os famosos sacos. Desta vez, o reflexo estava nas proporções e na construção das carteiras, de tamanho gigante, com riscas exageradas e com cores garridas. 2007 BALENCIAGA OUT./INV. 2016 BALENCIAGA OUT./INV. 2017 CÉLINE OUT./INV. 2013 LOUIS VUITTON PRI./VER. 2007 Patterns of Migration 1, Dan Halter, 2015, na Galeria Whatiftheworld.

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Nigéria e o boom do petróleoNos anos 70, enquanto a Nigéria prosperava em pleno boom do petróleo, os países da África Ocidental mergulhavam numa economia fraca e em falta de trabalho. Um dos países mais afetados era o Gana. A consequência foi óbvia: uma enorme emigração por parte dos ganeses para a Nigéria. Como tudo o que é bom acaba depressa, pouco mais de uma década depois, a Nigéria entra em crise. Falta de trabalho, os bens e serviços essenciais tornaram-se insuportavelmente caros. Devido a esta escassez, o povo nigeriano e a grande população imigrante residente no país entra em conflito. É então que o governo nigeriano decide atuar.

Os ganeses são expulsos da NigériaEm 1983, a República Federal da Nigéria emite uma ordem de expulsão de todos os imigrantes ilegais do país. Havia cerca de 2 milhões de imigrantes ilegais, sendo que a grande maioria era ganesa. Uma saída desesperada em massa acabou por originar uma das mais mal interpretadas tendências de Moda. Com pouco tempo para se organizarem, os ganeses usaram o que tinham: sacos de plástico grandes, com um padrão tartan de riscas vermelhas e azuis, os mesmos que usavam no dia a dia para transportar mercadorias e bens. Mais tarde foram apelidados de Ghana must go bags, símbolo dos momentos difíceis passados pelos ganeses. A Europa e o mundo ocidental utilizam-nos como sacos multiutilitários, levados para transportar a roupa para lavandaria ou em viagens. Nos E.U.A., são apelidados de Chinatown totes e, na Europa, de laundry bags. Muitos artistas já utilizaram este objeto para criar peças e corpos de trabalho. Um exemplo é o de Dan Halter.

Pheobe Philo, baseando-se também no mesmo saco, cria looks para a coleção de inverno da

Céline. Um look total de um tweed plastificado, não porque fosse realmente vinil ou PVC,

mas pela silhueta e a modelagem, que faziam a metamorfose perfeita do saco para as peças.

Marc Jacobs recria o icónico saco na coleção de verão de 2007

da Louis Vuitton. O tartan tradicional dos sacos transforma-se imediatamente

numa carteira de luxo com o carimbo mágico da marca.

Na Europa, chamam-lhes laundry bags. Nos E.U.A., são apelidados de Chinatown totes. A maioria não faz ideiaé que, dentro destes sacos, cabe tanto de política, história e (um pouco de) Moda, quanto de roupa suja. Por Cláudia Barros.

The Ghana must go bag

70s

1983

2013

2016

Saiba onde comprar estas carteiras, aqui.

A Balenciaga continua a usar esta peça statement

nas suas coleções, tornando-se num ícone

de estilo nos dias de hoje.

2017

Quando a casa de Cristóbal Balenciaga muda de gerência e Demna Gvasalia passa a diretor criativo, este traz com ele os famosos sacos. Desta vez, o reflexo estava nas proporções e na construção das carteiras, de tamanho gigante, com riscas exageradas e com cores garridas.

2007

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Patterns of Migration 1, Dan Halter, 2015, na Galeria Whatiftheworld.