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(outras) Cartas de Atenas corntextos originais o livro do professor Heliodório Sampaio é uma grande contribuição à revisão crítica e historiográfica da arquitetura moderna. Dois pontos centrais são levantados nesse estudo: por um lado, os mitos da história da arquitetura moderna internacional e, em particular, a mitológica "Carta de Atenas"; e, por outro lado, como esses mitos chegam ao Brasil e são, por sua vez, recebidos, traduzidos e interpre- tados, com atenção especial a um caso específico: a recepção-interpretação da "Carta" em Salvador. Tentar questionar essas idéias que se tornaram mitos e, principalmente, entender a circulação dessas idéias entre nós é o indiscutível mérito da publicação. O estudo faz parte de uma investigação mais ampla, dentro da linha de pesquisa História da Cidade e do Urbanismo, desenvolvida no PPG-AUI FAUFBA, e divide-se em duas partes principais: a primeira abrange a apresentação e a introdução, além de dois capítulos que tecem breves considerações sobre os CIAMs e seus postulados, e, em seguida, sobre as outras Cartas de Atenas; a segunda parte inclui uma bibliografia e os anexos. Nesses últimos, são publi- cadas, na íntegra, as Conclusões do IV Congresso Internacional do CIRPAC sobre a cidade funcional, traduzi das da revista AC-GATEPAC n° 12 (Barcelona, 1933) pelaProfl Maria Eunice Victal e Castro, e a Carta de Atenas (Urbanismo dos CIAMs), uma tradução do texto Town Planning Chart do livro Can our cities survive? (New York,1942) de José Luis Sert, elaborada e comentada pelo Prof. Admar Guimarães em 1955, para o Diretório Acadêmico da Escola de Belas Artes da Universidade da Bahia, onde funcionava o curso de Arquitetura. Dentro dessa perspectiva his- toriográfica, vários autores vêm questionando a pretensa "doutrina" do movimento moderno em arquitetura e urbanismo, desde sua crise, ao final dos CIAMs (Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna). A "Carta de Atenas" - resultado do debate do CIAM IV, a bordo do Patris 11,que navegou entre Marselha e Atenas em 1933 - tomou-se o principal ícone dessa doutrina moderna em urbanismo e já vem sendo alvo, mesmo que indireto e não tão explícito como no livro em questão, de alguns trabalhos. Um dos mais influentes e populares, o livro de Kenneth Frampton - publicado em 1980, Modern Architecture a critical history, quebra o mito do "discurso e

CIRPAC AC-GATEPA

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(outras) Cartas de Atenas corntextosoriginais

o livro do professor HeliodórioSampaio é uma grande contribuiçãoà revisão crítica e historiográfica daarquitetura moderna. Dois pontoscentrais são levantados nesse estudo:por um lado, os mitos da história daarquitetura moderna internacional e, emparticular, a mitológica "Carta deAtenas"; e, por outro lado, como essesmitos chegam ao Brasil e são, por suavez, recebidos, traduzidos e interpre-tados, com atenção especial a um casoespecífico: a recepção-interpretação da"Carta" em Salvador. Tentar questionaressas idéias que se tornaram mitos e,principalmente, entender a circulaçãodessas idéias entre nós é o indiscutívelmérito da publicação.

O estudo faz parte de umainvestigação mais ampla, dentro da linhade pesquisa História da Cidade e doUrbanismo, desenvolvida no PPG-AUIFAUFBA, e divide-se em duas partes

principais: a primeira abrange aapresentação e a introdução, além dedois capítulos que tecem brevesconsiderações sobre os CIAMs e seuspostulados, e, em seguida, sobre asoutras Cartas de Atenas; a segundaparte inclui uma bibliografia e osanexos. Nesses últimos, são publi-cadas, na íntegra, as Conclusões doIV Congresso Internacional doCIRPAC sobre a cidade funcional,traduzi das da revista AC-GATEPAC n°12 (Barcelona, 1933) pelaProfl MariaEunice Victal e Castro, e a Carta deAtenas (Urbanismo dos CIAMs), umatradução do texto Town PlanningChart do livro Can our cities survive?(New York,1942) de José Luis Sert,elaborada e comentada pelo Prof.Admar Guimarães em 1955, para oDiretório Acadêmico da Escola deBelas Artes da Universidade da Bahia,onde funcionava o curso deArquitetura.

Dentro dessa perspectiva his-toriográfica, vários autores vêmquestionando a pretensa "doutrina" domovimento moderno em arquitetura eurbanismo, desde sua crise, ao final dosCIAMs (Congressos Internacionais deArquitetura Moderna). A "Carta deAtenas" - resultado do debate doCIAM IV, a bordo do Patris 11, quenavegou entre Marselha e Atenas em1933 - tomou-se o principal ícone dessadoutrina moderna em urbanismo e jávem sendo alvo, mesmo que indireto enão tão explícito como no livro emquestão, de alguns trabalhos. Um dosmais influentes e populares, o livro deKenneth Frampton - publicado em1980, Modern Architecture a criticalhistory, quebra o mito do "discurso e

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pensamento único" dos CIAMs, que éa base da idéia de doutrina e da própriavisão da Carta como ponto doutrinário,mostrando três fases claras dedominação distintas dentro domovimento: Fase 1 - dominação dalíngua alemã, do Neues Bauen, vai doCIAM I de La Sarraz, Fundação dosCIAMs em 1928 ao CIAM III deBruxelas, Loteamento Racional em1930; Fase 2 - dominação da línguafrancesa, de Le Corbusier, vai doCIAM IV de Atenas (Patris II),Cidade Funcional de 1933 ao CIAMVII de Bergamo, «Grille » CIAM em1949; e a Fase 3 - dominação da línguainglesa, do Team X, do CIAM VIII deHoddesdon, O coração da cidade em1951, ao derradeiro CIAM' 59 deOtterlo, o fim oficial dos CIAMs em1959.

Um livro mais recente, The CiamDiscourse on Urbanism, 1928-1960, de Eric Mumford (2000), comprefácio de Kenneth Frampton,aprofunda a questão, detalhando aomáximo os acontecimentos de cada umdos CIAMs e de suas reuniõespreparatórias. Várias questões queficaram em suspenso por muito tempoencontraram respostas em fontesseguras e ainda em muitas ilustraçõesda época. A recepção das idéias dosCIAMs no EUA é um dos pontosfortes desse livro, principalmente aomostrar como se deu a publicação daversão "para os americanos" da"Carta", que seria o livro do catalão,então exilado nos EUA, José Luis Sert,Can our cities survive? An ABe ofurban problems, their analyses, theirsolutions: based on the proposalformulated by ClAMo A comparaçãocom a "Carta" propriamente di ta - LaCharte d'Athenes, publicada por LeCorbusier em 1943, mesmo sem a suaassinatura, na França ainda ocupadapelos nazistas - é inevitável. Assimcomo as comparações entre essas eas ditas "Constatações ou conclusõesIV CIAM", publicadas em 1933

mesmo, por diferentes periódicos devários países (Suíça, Grécia, Espanha,Itália, Holandaetc) e em várias línguas.É interessante notar como o professorHeliodório Sampaio traz à tona, de queforma essas diferentes versõeschegaram ao Brasil e, em particular, àBahia, muitas vezes como sendo aúnica e verdadeira "Carta de Atenas",o que causou, sem dúvida, confusão eestranhamento, principalmente para osalunos e professores de urbanismo.

Todas as ditas "Carta de Atenas"se referem, de fato, às discussõesacerca da Cidade Funcional, trava-das durante o CIAM IV em 1933. Ostextos possuem algumas diferenças,que indicam posturas mais ou menosdoutrinárias, como bem demonstra(outras) Cartas de Atenas. Infeliz-mente, o livro não é ilustrado, o que seexplica pela tradução do texto de Sert,elaborada e comentada pelo professorAdmar Guimarâes em 1955, publicadana íntegra nos anexos, também nãotrazer as ilustrações do livro original.Entretanto, o livro Can our citiessurvive?, ao contrário de La Charted'Athenes publicada por Le Corbusier,é inteiramente ilustrado com fotografiasdas cidades norte-americanas nadécada de 1940, que já antecipam, deuma certa forma, os princípiospropostos pela "Carta". Vistas hoje,essas fotografias podem até indicar oanúncio do esgotamento das idéiasurbanas modernas e o início do fim dopróprio movimento e dos CIAMs.Também é interessante ressaltar quefoi através de fotografias que a críticaà "Carta" se fez mais contundente, dedentro do próprio ClAM, em particularpelo Team X (organizadores do CIAMX) e por dois de seus representantes,o casal inglês Alison e Peter Smithson.No projeto emblemático UrbanReidentification, exposto no CIAMIX em Aix en Provence, os inglesesatacaram a separação de funções da"Carta" e propuseram a sua substitui-ção por uma hierarquia de associações

humanas e uma nova reidentificaçãourbana. Pela primeira vez, no CIAM,apareceram, de forma explícita,fotografias de pessoas reais (no lugardo Modulor corbusiano ideal), no caso,habitantes de slums de Londres,fotografados por Nigel Henderson,colega do casal Smithson no Thelndependent Group. Os Smithsonscostumavam dizer que na "Carta deAtenas", "o que faltava erao homem".

Esses debates internos nos mos-tram a complexidade e a riqueza dopensamento moderno, o que foi de fatoreduzido por alguns historiadores eprofessores a uma única e homogêneadoutrina moderna. Ébem verdade que,num primeiro momento pós-CIAMs,faltou aos autores um distanciamentocrítico desses debates, até mesmo peloenvolvimento direto desses primeiroscomentadores. Uma boa parte daprimeira crítica ao movimento modernoem arquitetura e urbanismo se utilizoudessa redução ou generalização, queficou conhecida como "modernismo"(moderno tardio, caráter pejorativoimplícito) e teve como maiores símbo-los os enormes conjuntos habitacionais"modernistas" construídos no pós-guerra nas grandes cidades do mundointeiro. Se essa simplificação extremado movimento moderno teve suasrazões também históricas, hoje, maisde quarenta anos após o fim oficial domovimento, fica mais difícil de semanter esse tipo de limitação, de semanter os mesmos mitos. O trabalhodo professor Heliodório Sampaio abreum caminho a ser seguido, pois, semdúvida, um entendimento melhor domoderno é determinante para oposterior entendimento do que se diz"pós-moderno" (etimologicamente:após o moderno). Todo o debateposterior ao movimento modernonasce de sua crítica e, em urbanismo,da crítica aos princípios das "Cartas deAtenas". Portanto, para que possamosentender essa crítica, faz-se necessáriocompreender com profundidade o

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contexto desses debates, seus perso-nagens e suas diferentes versões. Odebate ocorrido nesse período é umponto nevrálgico na história da teoriaarquitetônica e urbana do século XX-além de ser o resultado de discussõesbem anteriores -, e é também a basede toda a discussão posterior: seja dasutopias irônicas ou revolucionárias dosanos 60; da reação dita "pós-moderna",que ocorreu logo em seguida; ou aindado retomo de alguns temas modernosno dito "neo-modernismo" contempo-râneo. Um trabalho sério sobre o "pós-moderno", ou até mesmo sobre odebate contemporâneo "neo-moderno", só poderá ser feito apósesse tipo de revisão histórica crítica.

O livro (outras) Cartas de Atenascom textos originais pode servir comoum exemplo desse tipo de pesquisahistoriográfica, que ainda precisa serdesenvolvida no país. Esse tipo detrabalho, além de ser de fundamentalimportância para os estudantes, deveser incentivado pelos professores(principalmente nos nossos programasde pós-graduação), para que possamos,finalmente, entender melhor acirculação dessas idéias internacionaisno Brasil, buscando compreendercomo elas aqui chegaram, e aindacomo foram interpretadas, traduzi dase também difundidas entre nós. Váriosvelhos mitos da história da arquiteturamoderna ainda estão bem presentesentre nós e precisariam, com uma certaurgência, ser derrubados, até mesmopara que possamos criar outros novos.

Paola Berenstein JacquesProf" da Faculdade deArquitetura da UFBA

Título: (outros) Cartas de Atenas com textosoriginaisAutor: Antônio Heliodório Lima SampaioSalvador: Quarteto editora/PPG-AUFAUFBA,2001

Estética da Ginga. A arquitetura dasfavelas através da obra de HélioOiticica

Uma nova forma de ver e sentir aarquitetura das favelas é o que PaolaBerenstein Jacques presenteia-nos nolivro Estética da Ginga. A arquiteturadas favelas através da obra deHélio Oiticica, utilizando a expressãodo artista como tradução da estética eda cultura da favela carioca.

Argumentando que o espaço dasfavelas, principalmente as de morro, émuito difícil de ser apreendido formal-mente, pois é a temporalidade quemarca a diferença na construção desua estrutura espaço-temporal, a autoradesconfia das intervenções formalistasnas favelas, nas quais a busca dauniformidade em relação ao tecidourbano da cidade seria uma imposiçãoautoritária. Seu objetivo, declaradoapós os três capítulos que constituemo livro - mas já sentido no percurso daleitura -, é preservar o espaço-

movimento das faveias, cuja apreensãoa autora vai desvendando, didática epoeticamente, no decorrer do texto.

Já na apresentação, Jacques diz aque veio. Seu trabalho não parte deuma preocupação teórica, mas da valo-rização de uma experiência pessoalprovocada por dois encontros: oprimeiro com as favelas do Rio deJaneiro, ainda estudante de Arquitetura,e o segundo com a obra de HélioOiticica,já em Paris, anos mais tarde,quando lhe pareceu inevitável "umquestionamento crítico diante daengenhosidade e complexidade doespaço das favelas". Assim, o modoinformal de introduzir o leitor no textovai desembocar na forma envolventecom que a autora, em cada capítulo,desenvolve suas opiniões-vivência, aexperiência-transformação de Oiticicaa partir da descoberta de outra formade sociedade na favela de Mangueira,para então aplicar, aí sim, alguns dosconceitos teóricos explorados nopensamento filosófico contemporâneo:o Fragmento, o Labirinto e o Rizoma.Considerados, em geral, de difícilcompreensão para quem não está jáfamiliarizado com os mesmos, suautilização pela autora é precisa emrelação ao objeto e à intençãointelectual. Utilizando rica referênciabibliográfica e documentaçãofotográfica esclarecedora da obra deOiticica, Jacques vai atraindo o leitorpara uma experiência de apreensãocrescente e acrescida do tempofragmentário, do espaço labiríntico edo processo de territorializaçãorizomático.

O capítulo "Fragmento" trata daarquitetura do acaso, da coleta ereciclagem aleatória do materialempregado na construção do abrigo dofavelado. Caracterizado por umareconstrução sem fim, sua temporali-dade de construir, sempre incompleta,aproxima-se da experiência dabricolagem - cuja poesia vemjustamente da incompletude - e do

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vestuário, ou vestimenta que abriga ohomem, recriada nos Parangolés deHélio Oiticica. Ultrapassando o statusde objeto, os Parangolés implicam umprograma, "umprocesso complexo debusca da ambiência das favelas(samba, sociedade e arquitetura)que não expressa a forma, mas omovimento fragmentário desseprocesso". Renunciando à linearidadetemporal, a autora favorece, na suainterpretação, o tempo da diferença, otempo do momento, do acontecimento.Acontecimento, repetição, diftérance,alteridade, são conceitos apropriadospara contrapor à produção dosarquitetos, que espacializam otempo", com a dos favelados que"temporalizam o espaço". Se oprojeto dos arquitetos é repetição, é arepetição da diferença, noção deFragmento, que se aplica à favela,levando a autora a explorar a segundafigura conceitual na sua reflexãoteórica: o Labirinto.

Para os que amam o labirinto,presente tanto nos discursos sobre asfavelas quanto no Grande Labirintoaspirado por Oiticica, a retomadaalegórica, pela autora, do mito dolabirinto grego, "fixo e acabado", emcontraposição à "complexidade eincompletude"do labirinto das favelas,vai desvendar uma experiência espacialúnica, possibilitada por esse último: subirou descer uma favela, suas "quebradas"e meandros levam a um caminhardiferente, imposto pelo percurso dasvielas, cujo ritmo, movimentos e gestoscorporais constituem a ginga.

Do mito do labirinto à realidadedas favelas e aos Penetráveis de HélioOiticica, a relação se faz através dosmovimentos do corpo, da dança, dosamba, da improvisação, "quandotempo e espaço se casam emdefinitivo" .

Do Parangolé, abrigo para o corpo- o barraco -, Oiticica vai representar,finalmente, em Tropicália, o morrointeiro, onde o artista vai experimentar

o "descondicionamento social". Odeslumbramento contagiante com aarte-experimento-movimento dacriação de Oiticica, causado emJacques, vem então acompanhado daerudição do texto, das referênciasbibliográficas corretas, na exploraçãoda dúvida sob o título "A Idéia deLabirinto" (e da incerteza que lhe éintrínseca). Das experiências daperambulação surre alista e do flâneurbenjaminiano à deriva dos situacio-nistas, Jacques chega à repetição dosdiferentes caminhos, seguindo Deleuze,"para quem o labirinto não é mais ocaminho onde a pessoa se perde: éo caminho que retoma". Da explosãoda lógica fragmentária do estadolabiríntico só temos a lamentar (quemama o labirinto) o fim do capítulo -embora a promessa da introdução aomovimento complexo dos processos deterritorialização prometa, no terceirocapítulo, outra figura conceitualinstigante: o Rizoma.

Se os abrigos e os caminhos dasfavelas são temas mais facilmenteassociados a questões formais, ocrescimento das favelas, definidor deseu territorial ização é, definiti vamente,um processo, é o próprio movimento, ogerminar, o ímpeto que caracteriza oRizoma.

Partindo do pensamento aindadicotômico da contraposição entre aestrutura do pensamento em árvore ea lógica da semi-treliça estabelecidapor Christopher Alexander paradiferenciar as cidades artificiais(projetadas) das cidades naturais(vemaculares), a autora argumenta queas favelas ainda são mais complexas,já que estão sempre a se desenvolver,a crescer numa mescla de espaciali-dade e temporal idade.

No acompanhamento da arte-expressão e do pensamento de HélioOiticica, descobre-se, pela mão deJacques, o "artista-filósofo" que cria,além de seres de sensação, os conceitosque alimentam a sua produção artística:

supra sensorial, "nova" objetividade,crelazer. São produções que nascem ecrescem nelas mesmas e em outras eque têm em comum "a idéia decomunidade ligada à liberdade doindivíduo",lugares de multiplicidade decomportamentos, inspirados em suaexperiência em Mangueira e queresultaram em propostas instigantes, aexemplo de Éden.

A multiplicidade é a base do con-ceito de Rizoma desenvolvido por G.Deleuze e F. Guattari, em oposição aopensamento de árvore (arborescente)e do arbusto (semi-treliça) que sãomodelos formais. Jacques enumera eexplica os princípios rizomáticos dosautores de "Mille Plateaux": rede emprocesso de territorialização, aberta amúltiplas conexões, rompendo-se ereconstituindo-se sempre em umprocesso de territorialização e desterri-torialização, o Rizoma, através de suaslinhas de fuga (com suas entradas esaídas múltiplas), "processa" uma cartaque é a repetição da diferença. Suaquestão principal é o movimento e otransbordamento, cuja parte visível é o"mato" que escapa do projeto, quecresce onde não se espera, onde seinstaura a surpresa. É assim o processoespaço-temporal das favelas, ondeapenas intervenções mínimas, sugereJacques, seguindo seus fluxos naturaisespontâneos, respeitariam seu caráterrizomático, fragmentário, e labiríntico.

Anefe AraújoProf" da Faculdade deArquitetura da UFBA

Título: Estética da Ginga. A arquitetura dasfavelas através da obro de Hélio OiticicaAutor: Paola Berenstein JacquesRio de Janeiro: Casa da Palavra/PPG-AUFAUFBA, 2003

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o clássico, o poético e o erótico eoutros ensaios.

Como em Ensaio Sobre a RazãoCompositiva, lançado há oito anosatrás, este novo livro de Mahfuz dedica-se a "qualificar a prática projetual pormeio da reflexão sobre o seu exercício",como ele mesmo diz na Introdução aosdezessete estudos aqui recolhidos eoriginalmente apresentados e publicadosentre 1983 e 200 I, em diversas revistase eventos. Naquele livro anterior,Mahfuz sistematizou sua visão doprocesso criativo do arquiteto eobjetivou procedimentos metodológicoscapazes de pautarem a concepção daspartes e do todo da edificação, bemcomo suas articulações recíprocas. OClássico, o Poético e o Erótico eOutros Ensaios ainda trata dasquestões acerca da criação e dametodologia do projeto, embora de formamais restrita e aplicada. Menossistemático do ponto de vista doarcabouço teórico, uma vez que esse jáse encontra lançado no Ensaio sobre

a razão compositiva, o novo livro dessearquiteto e professor do Departamentode Arquitetura da UFRGS trata detemas mais específicos em que refletee avalia a produção desses últimos anose as questões principais acerca dacriação e do ensino de arquitetura. Éuma coletânea de críticas onde évaloroso o esforço do autor em dotarnossa disciplina e campo deconhecimento de conceitos eprocedimentos próprios, não importadosde outros domínios do saber. Com isso,estabelece-se uma linguagem para aarquitetura, passível de sercompartilhada e objetivamentetransmissível, fundando um solo comumdentro do qual podemos nos mover etrocar experiências, o que não é possívelquando assentamos as bases do ensinoe da produção arquitetônica em critériosexclusivos, subjetivos e submetidos aoconceito de talento e originalidade.Mahfuz, portanto, filia-se à tradição emque a arquitetura é pensada como tendoleis próprias, passíveis de seremtraduzi das numa linguagem objetiva etransmissível a um público deprofissionais e estudantes capazes decompreendê-Ias e articulá-Ias narealização do projeto e da crítica. Essa"desmistificação da arquitetura" é omaior mérito que podemos apontar naobra que agora se divulga nos Cadernosde Arquitetura Ritter dos Reis.

Na primeira parte do livro, Mahfuzestabelece as margens em quetranscorrem os processos deaprendizagem e de produção do nossomeio ambiente construído, entre atradição e a invenção, entre o arquétipoe o contingente, entre o universal e ocontexto, entre o permanente e ovariável. Destacaria o primeiro dessespontos. 'Tradição" e "invenção" foramseparadas no modernismo. O pós-modernismo tentou articulá-Ias, masfaltou-lhe maior rigor crítico eprofundidade histórica para dar contados seus aspectos mais profundos eultrapassar o mero formalismo.Recentemente, J.Rykwert, em Origins,

Convention~ and Tradition, investigoucomo esses dois pólos entrelaçam-sepermanentemente na história da arte eda arquitetura, concluindo por verificarque obras e meios aparentementeinéditos - como os desenhos dearquitetura no Renascimento, afotografia da arquitetura no século XIXe, acrescentaríamos, o computador hoje- carregam consigo modos de ver eoperar herdados da tradição disciplinar.Simetricamente, o trabalho sobre asfontes e procedimentos do passado,quando interpretados e explorados deforma apurada, geram questões esoluções novas e originais aos problemasde nosso tempo, talvez melhor do quese atentássemos exclusivamente aocontemporâneo ou às mensagens dasmusas e da fantasia. "Nada provém donada", alerta-nos Mahfuz. Nessasmargens entre o novo e a tradição, apedagogia e a criação da arquitetura sedefinem, para ele, como a interpretaçãoarticulada do conhecimento existentedentro de situações novas e específicas.Essa interpretação modula-se segundoquatro métodos ("inovativo, normativo,tipológico e mimético") e trêsparâmetros ("poli funcionalidade,autonomia e contextualismo"), queservem tanto para discutir a pertinênciade conceitos operativos, como os decaráter e composição, quanto paraavaliar a articulação da teoria, dahistória e da crítica de arquitetura coma prática de projeto.

Introduzida e desenvolvida essabase conceitual, a segunda parte do livrodiscute as arquiteturas moderna e pós-moderna e, especialmente, a relevânciae as condições de produção que elasadquiriram em nosso meio. O que aí estáem jogo é, sobretudo, a tentativa de oarquiteto compreender a sua históriapessoal e o sentido de seu trabalhodiante do "caos do mundocontemporâneo" e da "arquiteturaconsumida na fogueira das vaidades",como se intitula o artigo que a conclui.Considerando que, a partir dainauguração de Brasília, decaíram os

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valores que haviam notabilizad6 nossaarquitetura modernista, Mahfuz sepergunta onde residia a qualidade denossa produção entre as décadas de1930 e 1960, a razão pela qual taisvalores foram abandonados de forma"tão decidida e repentina" (p.99) e emque ponto a crítica pós-modernaapresenta limites e possibilidades úteisà nossa produção atual. Novasinterpretações do procedimentomodernista - por exemplo, sobre asrelações entre forma e função, sobre oedifício e o entorno e sobre a plástica ea técnica - vêm à luz e se retoma otópico trabalhado na primeira parte,sobre a articulação entre a tradição e ainovação. Mas o autor se arrisca a dizerque "o principal fator determinante doabandono da arquitetura moderna noBrasil foi o desconhecimento do quesignificava essa arquitetura, quais eramseus verdadeiros valores e ( ... ] adificuldade histórica que os arquitetossempre tiveram em considerar aarquitetura como produção intelectual"(p.l0 I).Serve-nos essa passagem parailustrar como a coletânea de Mahfuz,apesar dereunir uma produção dispersaem várias publicações e ao longo dedezoito anos, aqui se concentra naquestão principal de sua atividade comoarquiteto, professor e pesquisador:rearticular a teoria e a prática, pois éjustamente a "lamentável" separaçãoentre elas o que "explica parcialmentea baixa qualidade da produçãoarquitetônica contemporânea"(Introdução, p.ll).

Na terceira e última parte, faz-se acrítica de algumas obras de Niemeyer,Lina Bo Bardi, Flávio Kiefer e GustavoPenna, dentre outros. Indo além dadescrição, Mahfuz procura encontrar aslinguagens, os métodos, as concepçõesde arquitetura e as estratégiasfundamentais desenvolvidas nosprojetos desses edifícios. Seu propósitomaior é mostrar como os produtosgerados não emanam de uma instânciaacessível a poucos, não são fruto do"gênio", guiado apenas pela inspiração

das musas, e não se constituem comocriações absolutamente originais, feitassobre a tabula rasa da história e docontexto. Ao contrário, eles surgem dainterpretação da tradição e dascondições concretas existentes, dadisciplina e da clareza de intenções comque se visa a tarefa da arquitetura, dapesquisa árdua e lapidada com o tempo,com a experiência, com o sabertransmitido e com os contextos sociaise físicos em que as obras se inserem.Identificando os principais parâmetrosatravés dos quais aqueles autoresconduzem seus projetos, Mahfuz osexplicita, alia teoria e prática e lança aarquitetura para além de suas valênciaspragmáticas, considerando-a tanto comoarte quanto como modo deconhecimento de si e do mundo. Esseconhecimento a arquitetura ajuda atransformar continuamente, como se lêno artigo de 1984, talvez o mais antigodos aqui recolhidos.

Cumpre-se, assim, o propósito e omaior valor desse volume dos Cadernosde Arquitetura Ritter dos Reis: prover,para o estudante, um repertório epromover uma reflexão crítico-filosóficaque se contrapõe à pedagogia do gênioe da originalidade, e conferir ao arquiteto"um nível de competência suficientepara atender às exigências individuais ecoletivas da sociedade", como diz seuautor. Assim fazendo, promove-se umaarquitetura acessível, compreensível etransmissível a todos nós. Para essaarquitetura dirigem-se as reflexões queMahfuz publicou em seus artigos e queessa coletânea reúne e disponibiliza, nacerteza de ainda serem atuais e úteis atodos nós.

Carlos Antônio Leite BrandãoProf" do Faculdade de Arquitetura

e Urbanismo do UFMG

Título: O clássico, o poético e o erótico eoutros ensaios.(Cadernos de Arquitetura Ritter dos Reis, v. 4)Autor: MAHFUZ, Edson da Cunha.Porto Alegre: Ritter dos Reis, 2001 .

Qualquer leitor desavisado e quenão conheça a trajetória intelectual deSilvia Arango certamente sequer irásuspeitar do conteúdo desse pequenolivro, vendo apenas seu título.Professora de história e teoria daarquitetura e da arte do Curso de Pós-graduação da Faculdade de Artes daUniversidade Nacional de Colômbia, aautora reúne uma longa lista de artigose premiações por seus estudos sobre aarquitetura colombiana moderna e, nosúltimos anos, por suas pesquisascomparativas sobre a arquitetura e ourbanismo no século XX, em diferentespaíses da América Latina.

História de un itinerario é, emgrande parte, resultado dos estudoscomparativos da autora, iniciados demodo mais regular a partir de 1995,com uma bolsa da Fundação Getty. Otexto ora publicado foi originalmenteescrito como tese para concurso deProfessor Titular da autora, e talveztenha sido por essa razão que o livro

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ganhou esse seu título, que remete,primeiramente, à idéia de um balanço.Entretanto, já na leitura do prefácio, nosdamos conta de que o balanço querealiza Silvia Arango em seus escritosestá longe de ser pessoal.

O foco da análise da autora são osprojetos iniciais e os anos mais férteisda concepção e construção das"cidades universitárias" da Universi-dade Nacional de Colombia (1936-1946) e da Universidade de Venezuela(1943-1958), culminando com aexperiência das Escolas de Arte (1959-1965), criada em Havana após arevolução cubana. O texto expõe,assim, em linguagem precisa eextremamente fluida, a história dessastrês realizações político-arquitetõnicasque, ao longo do século XX, foramempreendidas na América Latina, emdiferentes momentos e contextos.Partilhando de um mesmo entusiasmoe da firme convicção de que construíamum mundo melhor, seus arquitetos -marcadamente, Leopoldo Rother parao Plano da Cidade Universitária deBogotá; Carlos Raúl Villanueva para oPlano da Cidade universitária deCaracas e Ricardo Porro para asEscolas de Artes de Havana -parecem confirmar, em seus projetos,a tese defendida pela autora de que aAmérica Latina viveu, em meados doséculo XX, como se a cada dez anos omundo começasse de novo, segundo oespírito de um D. Quixote moderno, aquem se pode até tolher as forças, masnão o entusiasmo.

Na verdade, História de unitinerario se dedica, assim, à análisede três experiências latino-americanasque, de diferentes modos, articularamas bases de um país "novo" àdisseminação do conhecimentoadquirido, ao fomento à pesquisa e àexperimentação. Mostra, assim, apotência do projeto cultural de trêscapitais latino-americanas emdiferentes conjunturas políticas, mas,também os avatares que atravessaram

..seus sonhos em fazer da educação oprincípio da liberdade, da consciênciae da cidadania.

Projeto educativo e projeto políticoaqui se confundem. São trinta anos dearquitetura moderna e de urbanismoque vamos acompanhando com seuideário de justiça social através doacesso à informação, de reformas, derevoluções, de fé sem amarras notalento individual do arquiteto e doartista. Trinta anos que nos revelam opróprio motor das pesquisas da autora:a relação entre política e arquiteturana modernidade. E, no caso daAmérica Latina, essa é uma relaçãomarcada por descontinuidades.

Realista em relação às utopiasmodernas, Silvia Arango vai mostrandoos sucessos dessas experiências, mastambém seus limites: os embates deseus autores com as circunstânciashistóricas; os ajustes em seus sonhosoriginais; a perseverança na defesa dassuas propostas estéticas; as humilha-ções; as críticas preconceituosas exenófobas; as conjugações e osdesencontros entre a vontade políticae a vontade artística; os impasses. E, acada página, não conseguimosesquecer a advertência inicial da autoraem relação à sua própria tarefa:"Contar nossa história é uma maneiraeficaz de evitar que se repita." Mas oque exatamente a autora deseja evitar?

De fato, para um leitor brasileirovagamente instruído sobre os avataresda idéia de Universidade no Brasilentre as décadas de 1920 e 60 e dopapel de educadores como AnísioTeixeira e Darcy Ribeiro, é quaseimpossível não traçar paralelos entre ahistória local e as iniciativas descritaspela autora. Um a um vão sendolembrados os debates e os planos paraa criação da Cidade Universitária daUniversidade do Brasil, desde a décadaAgache, passando por Piacentini, LeCorbusier e Lucio Costa, até que oprojeto e o programa ganhassemmaterial idade pelas mãos da equipe

dirigi da por Jorge Moreira, no pós-guerra. Por outro lado, como esquecera violência no fechamento daUniversidade do Distrito Federal, ou aluta pela criação da USP, ambas nadécada de 30, ou a positiva multiplica-ção das Universidades Federais nadécada de 40? Por fim, como nãocomparar a UNB e o sonho dauniversidade de Brasília com o quevamos lendo, seja sobre Villanueva ousobre as Escolas de Artes cubanas? Énesse suceder de lembranças e denexos que a perspectiva comparativaadotada por Silvia Arango, emboraaparentemente tratando de iniciativastão distantes, vai ficando cada vez maispróxima, ao longo das páginas.

Mas o que desejamos que não serepita? Certamente os insucessos, asincoerências, as desinteligências, aausência de espírito público, adeturpação do sentido mesmo de"uni versidade", de "educação", de"conhecimento", no plano conceitual eprojetual, que vimos em diferentestempos da história local, mas também,por vezes, nos exemplos estrangeiroscitados.

Entretanto o balanço do itineráriodessa idéia é também positivo. A autoranos mostra inúmeras realizações que,seja no plano das idéias, seja no planoestético, seria desejável que serepetissem.

A Cidade Universitária de Bogotá,por exemplo, foi um sonho pioneiro naAmérica Latina, em termos tanto danova magnitude que passam a ganharas construções e instalações para oensino superior quanto sua arquitetura.O campus da Uni versidad Nacional deColombia seria o primeiro dessaimportância a ser construído naAmérica Latina, fruto de um governoliberal, comparável, no caso brasileiro,em suas preocupações com aeducação, com a administração PedroErnesto, que teve em AnísioTeixeira.um dos seus mais ardorososdefensores.

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· .Como não celebrar, assim, as

realizações, por exemplo, do campusda UNC em Bogotá e as massasbrancas de alguns dos edifíciosconcebidos por Leopoldo Rother, emcontraste com a silhueta verde dosAndes; o seu pleno domínio da escalaconstrutiva e do programa; o seumodelo transversal e interdisciplinar deuniversidade; a deliberada relação queestabeleceu entre as áreas edificadase jardins, gramados, parques e praças.Realizações que desejaríamos tambémque se multiplicassem, quandopensamos na "assombrosa" AulaMagna de Carlos Raúl Villanueva e naPraça Coberta que lhe dá acesso, eseguimos imaginando, um a um, o ritmodos cinco movimentos a que se refereo arquiteto, quando foi concebendo,como uma convulsão, cada parte desseedifício, integrada à contribuição derenomados artistas, começando porCalder. A Aula Magna da Universi-dade Central de Venezuela é, hoje,Patrimônio da humanidade, graças auma fusão de vontades políticas eartísticas que seria desejável preservartanto quanto a própria construção.

Já se vê, assim, como o pequenolivro, de descoberta em descoberta, vaifixando a atenção do leitor, revelandosua densidade. Na verdade, dosentimento de estarmos diante de umtema próximo dos que conhecemos,passamos à certeza de sua atualidade,quando a autora analisa a experiênciadas Escolas de Arte criadas na Havanarevolucionária, e seguramente o menosconhecido dos três exemplos anali-sados. Talvez, pela própria radicalidadedo caso cubano, as relações entreprojeto político e projeto educacionaltornam-se, nessa parte do livro, aindamais claras. O relato da experiênciada concepção e construção dessasescolas experimentais, sob todos ospontos de vista, sob a direção doarquiteto cubano Ricardo Porro, chamaa atenção para uma obra que, pelosdebates que suscitou sobre a própriaautonomia do artista no contextorevolucionário, careceria de ser melhorconhecida. Afirmando que as Escolasrepresentam uma tomada de cons-ciência de seu país após a revolução,Porro, descreve o conjunto de formassinuosas e abóbadas construídas

artesanalmente como dotado de "umaparticular sensualidade... umasensibilidade mestiça, reconhecendo,assim, uma influência negra vinda daÁfrica ( ... ) a negação de Tanatos e aafirmação de Eros. ( ... )" Mas SilviaArango, mais uma vez, mostra as .circunstâncias que acabaram fazendodeixar inacabado e abandonadotambém esse sonho, levando-nos aconsiderar que, de certo modo, pelasmais diversas razões, em diferentescontextos da América Latina, houve,após um excepcional ciclo de experi-mentação, uma agonia da qual apenascomeçamos, os latino-americanos, anos dar conta culturalmente. Constata-mos, assim, que o título desse livro,tal vez pela própria natureza dasquestões que tematiza, só pudesse sermesmo "História de un itinerario", ousimplesmente: "Nuestra América"

Margareth da Silva PereiraFaculdade de Arquitetura e

Urbanismo da UFRJ

Título: História de un itinerarioAutor: Silvia ArangoBogotá: Universidade Nacional de Colombia/Facultad de Artes, 2002