MARQUES et al_Dossie Metodos e Explicacoes da Politica

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    DOSSI: MTODOS E EXPLICAES DA POLTICA

    Para onde nos levam os caminhos recentes?

    Dossi organizado a partir de mesa redonda realizada no XXX Encontro da Anpocs, Caxamb, 2006.

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    Apresentao

    Eduardo Marques

    Pretendemos discutir os mtodos e as explicaes sobre a poltica, enfocando

    sobretudo abordagens recentes, como os mecanismos institucionais e relacionais, o lugar da

    histria e a contribuio da antropologia da poltica.

    A discusso sobre mtodo relativamente rara entre ns, visto que no temos tradio

    de pensar em nossas explicaes, nem tampouco nos modelos de anlise que so mobilizados

    por nossa produo cientfica. Na verdade, essa discusso muitas vezes substituda por

    falsas oposies entre elementos necessariamente complementares para a produo do

    conhecimento. Acredito que o problema tenha vrias origens, e embora conhea melhor o

    caso da cincia poltica parece-me que tambm atinge as demais disciplinas. Pretendo neste

    texto introdutrio estabelecer alguns pontos preliminares. No se trata de esgotar as questes

    destacadas, mas de diferenciar alguns elementos presentes nesse debate.

    Em primeiro lugar, o espao da discusso sobre mtodo , por vezes, ocupado entre

    ns por falsas dicotomias entre tcnicas ou entre teoria e anlise emprica. Com efeito, essa

    dicotomia ecoa oposies clssicas entre dedutivismo e testemunho das coisas na histria

    da cincia que o desenvolvimento do conhecimento e a sua anlise recente pelas cincias

    sociais superaram ou reintegraram (Latour, 2005). A maior parte do ensino de metodologia

    em nossos cursos, por exemplo, oscila entre a apresentao dos paradigmas tericos de uma

    determinada disciplina e o ensino das tcnicas de pesquisa ali presentes.

    No que diz respeito s tcnicas, alm disso, somos at mesmo mobilizados para nos

    posicionar em relao superioridade de certas tcnicas sobre outras, como, por exemplo, na

    falsa oposio entre quantitativo e qualitativo. Talvez este seja o equvoco mais grave que se

    pode incorrer na matria em pauta. Tcnicas de pesquisa devem ser apenas aplicadas de formacorreta (sob o ponto de vista de seus elementos tcnicos) e apropriada para um certo objeto e

    um conjunto de perguntas e objetivos de pesquisa. As polmicas abstratas e principistas sobre

    tcnicas ou sobre estratgias analticas so completamente desprovidas de sentido cientfico e

    servem apenas para ocultar conflitos de interesse e poder no interior da comunidade

    acadmica e de suas instituies. Por vezes representam at mesmo uma defesa em relao a

    desconhecimentos e incapacidades. O avano do conhecimento depende, diferentemente, da

    discusso de interpretaes e argumentos a respeito de fenmenos.

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    Apesar disso, verdade que enfrentamos um problema localizado no que diz respeito

    s tcnicas. A produo cientfica brasileira, em geral, e o ensino de cincias sociais, em

    particular, apresentam uma lacuna significativa no campo das tcnicas de pesquisa, sejam elas

    quantitativas ou qualitativas, sejam exploratrias ou analticas. O problema causado em

    parte por um crculo vicioso, visto que poucos entre ns foram formados (quando estudantes)

    para ensinar esse assunto, o que mantm as novas geraes de cientistas sociais pouco

    conhecedoras das principais ferramentas tcnicas existentes.

    Uma outra falsa oposio presente com alguma freqncia entre ns diz respeito s

    estratgias de pesquisa. Assim como no caso anterior, a realizao de investigaes mediante

    estudos de caso ou estudos de variveis com grande nmero de casos representa uma escolha

    importante entre estratgias de pesquisa, mas que deve apenas ser apropriada aos objetos

    estudados e s perguntas que o trabalho pretende responder. Como j fartamente discutido

    pela literatura internacional, as escolhas analticas representam decises com relao a

    nfases. A utilizao de uma estratgia baseada em um grande nmero de casos com poucas

    variveis (usualmente quantificadas) permite, na maior parte das vezes, uma capacidade de

    generalizao elevada, mas, por definio, leva o analista para longe dos detalhes e restringe o

    conjunto de elementos que podem ser estudados conjuntamente (Przeworski e Teune, 1970).

    Por outro lado, estudos baseados em casos esto muito mais interessados nos detalhes e tiram

    a sua capacidade de anlise do entrelaamento e da ordem dos fenmenos e das variveis

    (Ragin, 1987), em troca de uma maior dificuldade de generalizar. A generalizao e a

    compreenso dos detalhes e da variabilidade dos fenmenos somente podem ser alcanadas

    por meio da combinao dessas duas estratgias, tarefa que normalmente realizada com o

    trabalho cooperativo no interior da comunidade cientfica entre perspectivas diferentes.

    Embora essas vrias escolhas sejam importantes, a questo mais geral a que me referi

    anteriormente no se resume a elas, mas se encontra nas estruturas da explicao, ou no maior

    ou menor controle dos pesquisadores sobre seus prprios argumentos.O ponto de partida de todo o conhecimento em cincias sociais a idia de que

    possvel observar e interpretar as regularidades do mundo social, sem que isso signifique a

    abolio das variaes individuais. Isso pode parecer bvio, mas representa uma primeira

    distino com relao a perspectivas cticas que defendem a impossibilidade de construirmos

    explicaes em nossas cincias. Alm de assumirmos uma postura no ctica em relao ao

    conhecimento, entretanto, quase todos ns partimos de uma viso probabilstica dos

    fenmenos no mundo social (Przeworski e Teune, 1970), incluindo autores que no abordamos seus fenmenos quantitativamente. Probabilstico tem aqui um sentido ontolgico e

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    descreve o fato de que os fenmenos sociais sempre variaro de um caso para outro. Nesse

    sentido, o tipo de explicao que podemos produzir diferente de grande parte das produzidas

    nas cincias fsicas, em que a maioria dos fenmenos entendida como determinstica, sendo

    possvel prever o comportamento futuro dos fenmenos incorrendo-se apenas em erros de

    medida. Na verdade, esse tipo de explicao era amplamente hegemnico sob o paradigma da

    fsica newtoniana, mas hoje nem mesmo nas chamadas cincias duras a determinao faz

    mais parte das explicaes responsveis pelos mais importantes desenvolvimentos (Prigogine,

    1996). De qualquer forma, no caso dos fenmenos sociais, as variaes em relao ao previsto

    por um determinado modelo explicativo no se devem apenas aos erros de nossos

    instrumentos de medida, ou s complexas multicausalidades do mundo social (King,

    Keohane e Verba, 1994), mas variabilidade da ocorrncia dos fenmenos no mundo social

    (King, Keohane e Verba, 1994; Przeworski e Teune, 1970). Isso ocorre mesmo quando h

    acordo a respeito de explicaes, para alm das diferenas de perspectiva sociais e ticas que

    marcam o conhecimento na rea. Por todas essas razes, portanto, a construo de teorias de

    mdio alcance parece ser para ns a postura analtica mais parcimoniosa, ao menos como

    estratgia provisria de produo cumulativa do conhecimento em cincias sociais.

    A discusso detalhada desses pontos, entretanto, nos levaria para longe de nosso

    argumento. Para os objetivos deste debate, basta que estabeleamos que a produo do

    conhecimento possvel e que nossos fenmenos tem uma ontologia probabilstica,

    comportando variaes em torno dos casos. Dado isso, uma das grandes clivagens presentes

    no debate diz respeito ao estatuto e s estratgias de nossas explicaes. Esse ponto

    analisado por vrios autores de forma dispersa, e em Tilly (2001) de maneira mais explcita.

    Embora a classificao que esse autor prope apresente alguns problemas, bastante til

    como ponto de partida.

    Para Tilly, h basicamente quatro tipos de explicao, alm da perspectiva ctica (que

    representa, de fato, a recusa da possibilidade de explicaes). Em primeiro lugar, as leisgerais, em que o esforo recai sobre a construo de generalizaes amplas baseadas em

    informaes empricas de grande envergadura. Neste caso, a pesquisa organizada

    metodologicamente como uma grande coleo de informaes, controlando as variaes em

    torno do que seriam mdias estatsticas e apontando para as condies associadas ocorrncia

    de um determinado fenmeno. As informaes podem ser qualitativas ou quantitativas, mas,

    ao final, passam por alguma forma de quantificao. Quando as leis gerais centram a sua

    ateno na existncia de motivaes e cognies, Tilly as considera um segundo tipo deexplicao denominado explicao por propenses. Com grande freqncia, em ambos os

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    casos os estudos mobilizam o que Mahoney (2001) chama de anlise de correlao em um

    sentido lato.

    Um terceiro conjunto de explicaes de grande generalidade incluiria as sistmicas,

    segundo Tilly. Neste caso, as anlises compreendem a ocorrncia de um dado fenmeno a

    partir do lugar que ele ocupa em uma estrutura ou sistema com funcionamento

    preestabelecido pela teoria. O funcionamento dos fenmenos considerado automtico e

    autoregulado, sendo derivado de processos e eventos que ocorrem sem a necessidade direta de

    ao social ou atores.

    Por fim, um quarto e amplo conjunto de explicaes mobiliza mecanismos e

    processos, indicando elementos singulares como causas e recorrendo a analogias explicativas

    parciais e localizadas. Os elementos mobilizados aqui esto prximos da ao social e situam-

    se, portanto, em um nvel menos abstrato do que nos trs tipos de explicao anteriores.

    Mahoney ajuda a precisar ainda mais o argumento, ao definir que um mecanismo causal

    uma entidade no observada que, quando ativada, gera um resultado de interesse (2001, p.

    580). Essa definio parece-me bastante interessante, pois no apenas chama a ateno para a

    dimenso suficiente dos mecanismos (que os diferenciam de meras variveis intervenientes),

    mas principalmente destaca o fato de que os mecanismos causais so relaes postuladas que

    o pesquisador imagina que existam (Idem, p. 581). Isso de fundamental importncia, uma

    vez que remete ontologia dos mecanismos, indicando que eles no esto no mundo social,

    mas em nossas teorias. As explicaes por mecanismos, portanto, no intencionam descobrir a

    existncia de um dado elemento da sociedade, mas abrir a caixa-preta da causao de

    determinados fenmenos, levando a uma melhor compreenso das dinmicas sociais.

    Tilly descreve trs tipos de mecanismos: ambientais, cognitivos e relacionais. No

    primeiro caso, temos aes que se vinculam a caractersticas dos contextos que influenciam a

    vida social. Dentre esses, podemos incluir as instituies, destacadas pelo

    neoinstitucionalismo, e o espao ou o territrio, destacados pela geografia e os estudosurbanos e regionais. Os mecanismos cognitivos incluem as aes que se relacionam com as

    percepes e os estados mentais dos indivduos e grupos sociais, englobando as vrias

    explicaes derivadas da teoria da escolha racional e suas aparentes violaes, como o

    devaneio e a compensao. A maior parte dos elementos classificados por Elster (1998) como

    mecanismos pode ser includa nessa categoria. Por fim temos os chamados mecanismos

    relacionais, que, de alguma forma, mobilizam as relaes entre indivduos, grupos e

    organizaes, assim como os padres gerais formados por tais conjuntos de relaes,conformando redes sociais.

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    Parece-me que a classificao de Tilly confunde a ambio das explicaes (presente

    nos trs primeiros conjuntos de explicao) com a localizao do elemento causal (presente

    nos mecanismos). Assim, possvel que sustentemos que um determinado mecanismo de tal

    forma importante que ocorre sempre e, portanto, o fundamento de uma lei geral. Nesse

    sentido, as explicaes por mecanismos, apesar de se localizarem em nveis de abstrao

    inferior aos descritos pelo primeiro conjunto, podem almejar uma generalizao elevada. A

    fora de sua classificao, entretanto, diz respeito proposio dos tipos de mecanismos, o

    que me parece bastante importante para organizarmos as explicaes que temos produzido.

    Em nosso caso especfico, se articulamos essa classificao com o que afirmei

    anteriormente em relao s teorias de mdio alcance, parece-me que a postura mais

    parcimoniosa a adotar est em buscar os mecanismos e os processos de nvel intermedirio

    que explicam os fenmenos, em uma estratgia ao mesmo tempo provisria e cumulativa de

    produo do conhecimento. Os textos que compem este Dossi partem desse ponto de vista.

    Marta Arretche discute os principais elementos mobilizados em um tipo de explicao

    ambiental, de natureza institucional; Gilberto Hochman apresenta os principais elementos que

    as abordagens histricas comportam; em meu texto discuto os avanos trazidos recentemente

    pelo estudo dos mecanismos relacionais; por fim, Karina Kuchnir explora a abordagem da

    antropologia da poltica, problematizando nossas representaes sobre a poltica (dos

    pesquisadores e dos prprios atores polticos) e contribuindo para um melhor entendimento

    dos mecanismos cognitivos to caros a diversas tradies do estudo da poltica.

    BIBLIOGRAFIA (SUB 1)

    ELSTER, J. (1998), A plea for mechanisms, in P. Hedstrm e R. Swedberg (orgs.), Social

    mechanisms: an analytical approach to social theory, Cambridge, Cambridge

    University Press.KING, G.; KEOHANE, R. & VERBA, S. (1994), Designing social inquiry: scientific

    inference in qualitative research. Princeton, Princeton University Press.

    LATOUR, B. (2005),Jamais fomos modernos. So Paulo, Editora 34.

    MAHONEY, J. (2001), Beyond correlation analysis: recent innovations in theory and

    method. Sociological Forum, 16 (3).

    PRIGOGINE, I. (1996), O fim das certezas: tempo, caos e leis da natureza. So Paulo,

    Editora da Unesp.

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    PRZEWORSKI, A. &TEUNE, H. (1970), The logic of comparative social inquiry. Malabr, R.

    Krieger Pub. Company

    RAGIN, C. (1987), The comparative method: moving beyond qualitative and quantitative

    strategies. Berkeley, University of California Press.

    RAGIN, C. (2006), How to lure analytic social science out of the doldrums: some lessons

    form comparative research. International Sociology, 21 (5).

    TILLY, C. (2001), Mechanisms in political processes. Annual Review of Political Science,

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    A AGENDA INSTITUCIONAL

    Marta Arretche

    We seek not dogma, but disciplined thought.

    (KING, KEOHANE E VERBA, 1994, p. 7)

    A anlise do efeito das instituies polticas sobre o comportamento dos atores

    polticos ou sobre o contedo das decises polticas ganhou grande proeminncia nos estudos

    em cincia poltica realizados no Brasil. O postulado bsico de que as instituies importam

    foi incorporado agenda de pesquisa da cincia poltica brasileira, assim como parte

    expressiva do debate entre os cientistas polticos est voltada a responder pergunta de quais

    so as instituies mais adequadas para que tenhamos um sistema democrtico, representativo

    e estvel.

    De fato, o tema das instituies tem grande apelo tanto para os cientistas sociais

    motivados a produzir orientaes normativas e/ou recomendaes polticas como para aqueles

    motivados a produzir conhecimento cientfico. Como demonstraram Ferejohn e Pasquino, a

    longa histria da teoria poltica reveladora das estreitas conexes entre os projetos

    normativo e positivo, posto que:

    O terico interessado em persuadir uma audincia [...] [visa a] nos convencer de como a vida

    poltica deveria ser vivida, e tentando fazer isso nos trata como capazes de acompanh-lo na

    contemplao de como as instituies alternativas ou os sistemas normativos deveriam funcionar.

    [Ora], quem prescreve uma ao deve ser capaz de antecipar suas conseqncias relevantes [...].

    Para que uma teoria normativa seja atrativa, ela deve ser ao menos um pouco plausvel, assim

    como atrativa, luz da teoria positiva. Ela deve conseguir acertar (ao menos na maior parte das

    vezes), caso contrrio qual seria a atrao das prescries normativas que se apiam nela?(Ferejohn e Pasquino, 2001, p. 6).

    Em outras palavras, qualquer prescrio normativa sobre um estado desejvel de vida

    social deve ser capaz de demonstrar que as instituies propostas produziro efeitos

    compatveis ou prximos deste estado de coisas. Simetricamente, a justificativa para a

    mudana institucional est assentada sobre uma condenao dos efeitos produzidos pelas

    instituies presentes. Portanto, as relaes entre instituies e seus efeitos desejveis ou

    indesejveis devem estar assentadas sobre um conhecimento de natureza positiva. Em suma,

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    proposies normativas devem se apoiar em conhecimentos relativos s regularidades da vida

    social, campo da cincia social positiva. Obviamente, esta proposio vlida para qualquer

    nvel de abrangncia, desde propostas que envolvam amplas reformas polticas at

    recomendaes de mudana em polticas especficas.

    O apelo da agenda institucional tanto normativo como positivo assenta-se sobre o

    suposto de que o comportamento humano as preferncias e os valores dos indivduos no

    manufaturvel, ao passo que as instituies so um artefato humano, passvel de construo

    consciente. Nesse contexto, o que importa para a vida social so os comportamentos dos

    indivduos e no, suas preferncias. Logo, a contribuio desse programa de pesquisas

    consistiria na possibilidade de identificar o modo como as instituies afetam os

    comportamentos, de tal sorte que seja possvel influir na vida social propondo instituies

    polticas que criem incentivos favorveis aos comportamentos desejados.

    Tal conexo entre teorias normativas e positivas remete para questes relativas

    teoria do conhecimento e de metodologia. No campo da primeira, falar de uma cincia social

    positiva supe admitir que seu objetivo descobrir regularidades da vida social (King,

    Keohane, e Verba, 1994), negando a perspectiva que Tilly (2001) chamou de ctica, por

    postular que as aes polticas seriam totalmente indeterminadas e, portanto, imprevisveis.

    Na evoluo recente das cincias sociais, a negao das premissas dos paradigmas

    holsticos, assim como a refutao emprica de suas explicaes, implicou a aceitao do

    postulado de que a cincia social positiva no capaz de estabelecer leis gerais. Os

    argumentos de que os desejos e as aes humanos no podem ser totalmente determinados

    (Elster, 1994), de que eventos sociais so afetados por fatores no-sistemticos (King,

    Keohane e Verba, 1994), ou, ainda, de que um mesmo fenmeno geral pode ocorrer atravs

    de trajetrias distintas (Esping-Andersen, 1991; Bendix, 1996), todos eles conduziram

    ampla aceitao de que o objetivo da cincia poltica positiva pelo menos, em seu estgio

    atual produzir conhecimentos de natureza probabilstica isto , cuja capacidade depreviso estaria limitada alta probabilidade de termos B como resultado, caso sejamos

    capazes de identificar A (Pierson, 2004) e de portabilidade limitada, concentrados em

    teorias de mdio alcance (Merton, 1970) isto , orientados a explicar um conjunto restrito de

    fenmenos sociais.

    No plano metodolgico, o reconhecimento do carter probabilstico e de portabilidade

    limitada da cincia social positiva no torna menos necessrio o emprego de regras de

    inferncia lgica que deixem confiveis as concluses alcanadas (King, Keohane e Verba,1994). Ao contrrio, o fato mesmo da incerteza do conhecimento que torna absolutamente

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    necessrio o respeito a regras de inferncia que permitam estabelecer uma relao de

    causalidade entre um determinado fenmeno social ou poltico (B) e outro fenmeno que lhe

    d origem (A). Da a importncia da citao que inicia este artigo, uma vez que este talvez o

    maior desafio de nossas anlises em cincia poltica, qual seja, o de produzir pensamento

    disciplinado por regras de mtodo. Basicamente, a diferena entre uma especulao uma

    hiptese plausvel sobre a causa de um fenmeno e uma explicao causal (Elster, 1994)

    supe o respeito a regras bsicas que disciplinem o pensamento do analista, protegendo-o de

    suas prprias preferncias.1

    Para a agenda institucionalista como de resto para todos os programas de pesquisa

    orientados a produzir teorias de mdio alcance , isto implica que no so todos os

    fenmenos polticos que podem ser explicados por estas teorias, mas apenas aqueles cujas

    caractersticas se ajustem s suas premissas. O postulado de que as instituies importam,

    porque afetam as estratgias dos atores e o contedo das decises polticas, deu origem a um

    extenso programa de pesquisa que busca explicar tanto as relaes entre instituies,

    comportamentos e resultados as teoria institucionais como a origem das prprias

    instituies polticas as teorias das instituies (Diermeier e Krehbiel, 2003).

    A ampla difuso dos pressupostos das teorias institucionalistas causaria, entretanto,

    grande desservio causa da produo de conhecimento se esta se convertesse em um novo

    dogma, que oferecesse respostas fceis para fenmenos complexos. Em outras palavras,

    explicar um fenmeno poltico qualquer afirmando que as as instituies importam tornou-

    se quase uma trivialidade. Na verdade, a contribuio central est em identificar quais

    instituies de fato afetam comportamentos e decises, e como, isto , por meio de que

    processos e mecanismos.

    1 A definio de estratgias de pesquisa que construam proposies explicativas empiricamente

    falsificveis e internamente consistentes (King, Keohane e Verba, 1994) distinta da escolha das

    tcnicas de coleta de dados (Tilly, 2001). Na verdade, a excessiva concentrao das atenes na

    superioridade das tcnicas qualitativas ou quantitativas tem deslocado o ponto central da discusso. De

    fato, para obter resultados analticos confiveis, a deciso mais importante diz respeito estratgia de

    pesquisa. As tcnicas de coleta de dados so apenas uma conseqncia da estratgia de pesquisa, que,

    por sua vez, depende da pergunta a ser respondida. Tcnicas qualitativas ou quantitativas no so

    superiores em si mesmas, mas devem ser avaliadas por sua adequao pergunta a ser respondida, natureza dos dados e indicadores a serem construdos e qualidade da informao disponvel.

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    Um exemplo desse desafio a anlise das relaes entre a forma de Estado e o welfare

    state. Desenvolvimentos recentes no campo da anlise comparada contriburam para

    questionar a amplamente aceita premissa [...] de que o federalismo inimigo do crescimento

    do Estado de Bem-Estar em todos os pases e em todas as eras (Leibfried, Castles e Obinger,

    2005, p. 307). A anlise comparada de decises e resultados de polticas pblicas tem

    concludo que praticamente sem significado analtico a diviso binria entre estados

    federativos e unitrios (Filippov, Ordeshook, Shvetsova, 2004; Obinger, Leibfried e Castles,

    2005).

    Confrontados com concluses desse tipo, os cientistas sociais esto normalmente

    propensos a afirmar que o fenmeno em questo complexo. Esta, entretanto, no constitui

    uma soluo satisfatria, uma vez que nada mais do que uma confisso do insuficiente

    desenvolvimento da teoria existente, posto que quer dizer que no sabemos quais so as

    variveis que explicam o comportamento do fenmeno analisado (King, Keohane e Verba,

    1994). Alternativamente, poder-se-ia afirmar que esta uma evidncia de que as instituies

    no importam, uma vez que diferentes instituies no produzem diferenas relevantes nos

    resultados. A aceitao dessa resposta implicaria, evidentemente, o abandono da agenda

    institucionalista e a adoo de outro paradigma de investigao. Uma terceira alternativa seria

    admitir que no so estas as instituies que de fato importam, qual seja, os estudos empricos

    que admitiram a premissa da existncia de uma distino fundamental entre estados

    federativos e unitrios no estavam observando as instituies de fato relevantes para explicar

    a emergncia e o desenvolvimento das polticas de proteo social.

    Longe de significar um fracasso desse programa de pesquisa, isso na verdade indica

    sua maturao, na direo de excluir com base em slida investigao emprica variveis

    explicativas que no se mostraram relevantes. Assim, o avano desse programa exigiria

    examinar quais instituies polticas favorecem o desenvolvimento e a ampliao de polticas

    de proteo social abrangentes e inclusivas.Alm disso, o avano desse programa envolveria examinar como tais instituies

    polticas afetam as decises, problema este ainda mais difcil de ser enfrentado, pois implica

    abrir a caixa preta do processo decisrio e identificar os mecanismos postos em marcha

    (Elster, 1994) pelas instituies identificadas (Tilly, 2001). Examinar mecanismos

    institucionais distinto de examinar instituies, pois diferentes instituies podem por em

    marcha mecanismos institucionais similares. Por exemplo: a disperso ou a centralizao da

    autoridade poltica so mecanismos institucionais centrais na anlise do desempenho dosestados federativos. Tanto a facilidade para aprovar emendas constitucionais como a

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    concentrao de recursos tributrios na Unio favorecem a centralizao da autoridade

    poltica, na medida em que limitam a autonomia decisria dos governos locais. Embora sejam

    instituies distintas, pem em marcha um mecanismo institucional similar.

    No menos relevante nessa agenda de pesquisa a controvrsia relativa questo da

    seleo de casos para anlise. Muitos trabalhos no campo da escolha racional pretendem

    identificar leis gerais, parcimoniosas, com base na investigao de um grande nmero de

    casos. Na teoria do neoinstitucionalismo histrico, a prioridade dada aos efeitos derivados da

    combinao de variveis em contextos especficos e ao carter endgeno da formao das

    preferncias dos atores implicou que a grande maioria dos trabalhos desta corrente seja feita

    com base em comparaes de um pequeno nmero de casos. Tais divergncias de mtodo do

    a impresso de que as divergncias entre essas duas correntes esto centradas em tcnicas de

    pesquisa, quando, na verdade, se referem a tipos de explicao vlida (Tilly, 2001). Mais do

    que isto, difundiu-se a errnea proposio de que o mtodo dos neo-institucionalistas

    enfatizaria a singularidade dos casos.

    claro que para um analista interessado em fazer recomendaes para um

    determinado pas, o conhecimento de suas especificidades da maior relevncia. Entretanto,

    para a produo de conhecimento positivo, relativo s regularidades da vida social, os

    fenmenos singulares podem ser apenas expresso de eventos estocsticos (King, Keohane e

    Verba, 1994) e, portanto, sem relevncia. Por outro lado, um caso singular pode ter grande

    relevncia para a teoria social se suas caractersticas particulares desafiam o conhecimento

    terico existente. A relevncia do caso norte-americano em Weir et al. (1988) e Skocpol

    (1992) no est em descrever as particularidades da poltica social nos Estados Unidos, mas

    em explicitar que as diferenas dos resultados no desenho daquele sistema de proteo social

    poderiam ser atribudas a variveis ainda no examinadas pelas teorias existentes. No a

    singularidade do caso que motiva sua seleo, mas sua capacidade de trazer luz teoria

    existente. Portanto, o que interessava no era o que particular ao caso norte-americano, maso que geral e ainda no havia sido descoberto pelo conhecimento disponvel. Tratava-se,

    portanto, de converter nomes prprios em variveis (Przeworski e Teune, 1970).

    Em suma, entre os cientistas polticos envolvidos na agenda de pesquisa

    institucionalista, no h apenas divergncia quanto aos postulados bsicos facilmente

    acessveis em resenhas e artigos (Levi, 1997; Immergut, 1998; Hall e Taylor, 2003), mas

    tambm quanto aos mtodos a serem empregados para fazer inferncias sobre a regularidade

    da vida social (Lieberman, 2001; Levi, s.d.).

    12

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    13/33

    Contudo, no me parece produtivo empenhar-se na defesa da superioridade de

    qualquer uma de suas vertentes, particularmente a teoria das escolhas racionais e o

    neoinstitucionalismo histrico. Extensa e produtiva produo recente (Bates, 1998; Elster,

    2000; Skocpol, 2000; Mahoney e Rueschemeyer, 2003; Pierson, 2004) dedicou-se a enfrentar

    pontos de controvrsia entre as duas correntes, explicitando divergncias e produzindo

    algumas convergncias em torno de questes substantivas, tais como a formao das

    preferncias dos atores (se endgenas ou exgenas), as causas da mudana institucional (se

    endgenas ou exgenas), o postulado do equilbrio institucional, as disciplinas com as quais

    deve dialogar preferencialmente a cincia poltica (se a economia ou a sociologia) e a

    influncia do fator tempo no desenvolvimento institucional. A atitude intelectualmente mais

    produtiva neste caso seria enfrentar tais questes e argumentos especficos.

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    HISTRIA E POLTICAS

    Gilberto Hochman

    A histria importa? Essa uma pergunta cuja resposta de cientistas polticos, na trilha

    de economistas e socilogos da poltica, tem sido, nas ltimas duas dcadas, crescentemente

    incisiva e insistentemente positiva, ainda que longe de unnime. Tanto o substantivo

    histria, como o adjetivo histrico,passaram a freqentar mais o vocabulrio corrente da

    disciplina, ainda que se saiba que a histria esteve mais presente na formao e nos caminhos

    das cincias sociais (Abrams, 1982; Reis, 1998). no campo disciplinar da sociologia que

    esse dilogo tem sido mais constante e persistente, de onde derivam a expresso virada

    histrica das cincias sociais (McDonald, 1996), a constatao de que vivemos uma era de

    ouro da sociologia macro-histrica (Collins, 1999) ou estamos em uma segunda ou terceira

    onda da sociologia histrica (Adams et al., 2005). Parte dessa reflexo tem produzido fortes

    interseces com a anlise histrica comparada e com as anlises de polticas pblicas

    (Ashford, 1992; Mahoney e Rueschemeyer, 2003).

    Essa diferenciao entre histria, como disciplina e mtodo distintivo, e histrico,

    como atributo de processos e prticas que ocorrem no tempo e no espao, no apenas um

    recurso para ressaltar dimenses da articulao entre histria e poltica, mas indica diferentes

    compreenses sobre a histria. Para alm da distino weberiana entre singularidade e

    generalizao, que diferencia analiticamente a causalidade histrica da sociolgica, surgiu um

    vocabulrio que contaminou certos segmentos da cincia poltica: por exemplo, tempo,

    conjuntura, contexto, evento e seqncia.

    No Brasil, os estudos de polticas pblicas em perspectiva histrica obtiveram amplo

    acolhimento multidisciplinar e grande audincia. Os embates travados com o behaviorismo e

    as perspectivas no-histricas de anlise, to cruciais para a virada histrica no mundoanglo-saxo, no foram muito influentes nas cincias sociais brasileiras. Desse modo, os

    campos da cincia poltica, da economia, da histria e da sociologia produziram importantes

    estudos sobre as origens, o desenvolvimento, as continuidades e as mudanas de polticas

    pblicas especficas, , em particular no perodo republicano. A gnese e o desenvolvimento

    A Elisa Pereira Reis, que me introduziu no tema das relaes entre cincias sociais e histria, e a

    Simone Kropf, que me ensinou a conviver, mais tranqilamente, com as inmeras intersees da vidae da academia.

    16

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    das polticas sociais de proteo ao trabalhador e das polticas econmicas voltadas para a

    industrializao foram temas privilegiados nas anlises histricas das polticas estatais.

    At a dcada de 1980, a nfase foi desvelar polticas estatais especficas em sua

    dimenso nacional, com poucos empreendimentos comparativos ou de incorporao dos entes

    subnacionais. Tratava-se de compreender a natureza do Estado brasileiro, seu vis autoritrio

    e centralizador, a modernizao econmica e a desigualdade, e refletir sobre as possibilidades

    de construo de uma ordem democrtica. Esse conjunto extenso de trabalhos transitou entre

    uma narrativa organizada pela teoria e a pesquisa histrica, esta muitas vezes criticada pelos

    historiadores. Assim, os processos histricos seriam cenrios e contedos de um argumento

    terico e formal que os organizaria e os interpretaria. Nesse sentido, o singular e o contextual,

    que caracterizam a explicao histrica, foram bases para generalizaes e teorizaes. Neste

    dilogo frtil entre poltica e histria, nem sempre explcito ou pacfico, houve

    reconhecimento mtuo os cientistas sociais adotaram categorias como periodizao e

    contextualizao em seus estudos, e os historiadores, por sua vez, passaram a utilizar

    categorias analticas e interpretativas das cincias sociais.

    A redemocratizao do pas trouxe novos temas e problemas de investigao para as

    cincias sociais, e novos arsenais tericos e metodolgicos adentraram o campo. Novas

    agendas e problemas de pesquisa e o processo natural de disciplinarizao certamente tornou

    o dilogo entre a histria e a cincia poltica mais complexo em relao quele estabelecido

    em dcadas anteriores. preciso reconhecer que, no campo especfico da cincia poltica, a

    questo por que a histria importa? (Pierson e Skocpol, 1999) ganhou um sentido particular

    quando os cientistas polticos perceberam a importncia da anlise das instituies, e,

    portanto, a perspectiva histrico-comparada passou a ser fundamental. Desse modo, a histria

    tem exercido atrao para os que enveredam na investigao de processos e escolhas que se

    deram no passado, mesmo prximo, e que influenciam o presente. Por outro lado, o setor de

    histria poltica passou a enfrentar dilemas do tempo presente, isto , entendeu que eranecessria uma interpretao histrica para os eventos do presente, mas tinha que manter, ao

    mesmo tempo,as caractersticas distintivas e constitutivas da rea. Alm disso, os

    historiadores adentraram tambm o terreno da cincia poltica, tratando de temas como

    eleies, partidos, opinio pblica e aes governamentais a partir de suas circunscries

    temporais e espaciais (Rmond, 2003). Mas, nesse processo, como sugere Sewell (2005), os

    historiadores no tm participado ativamente da discusso com as cincias sociais.

    A adeso sentena a histria importa constatvel pelo nmero crescente detrabalhos publicados no Brasil e no exterior que comportam temas afins. Porm, a idia de

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    voltar para trs e olhar (Pierson, 2004, p. 47) no completamente nova, nem to simples

    como poderia parecer em princpio, mas polmica dentro do prprio neoinstitucionalismo

    (Hall e Taylor, 2003; Pierson, 2004); e talvez no desfrute de prestgio em certas

    comunidades acadmicas que associam a histria a mtodos qualitativos, com baixa

    capacidade de formalizao e reduzida capacidade de comparao.

    Avanos e problemas so assinalados pela literatura que tem buscado refletir sobre o

    tema e empreender anlises historicamente orientadas de polticas. Parte considervel desses

    avanos advm do crescimento e da visibilidade das anlises comparadas e contextualizadas.

    Esses estudos abordam um nmero determinado de casos para delinear similitudes e

    divergncias e identificar causalidades nos processos histricos, tais como democratizao,

    efeitos de polticas sociais e conformao dos modernos Estados nacionais (Mahoney e

    Rueschemeyer, 2003). Tambm vm produzindo impulsos positivos no campo dos mtodos

    histrico-comparativos. Os avanos e as novas proposies podem ser observados na

    produo da vertente histrica do novo institucionalismo que se articula, mas no se

    confunde, com as anlises histricas comparadas (Steinmo et al., 1992; Mahoney e

    Rueschemeyer, 2003). O desafio dessa vertente procurar explicar processos e resultados

    polticos a partir de variveis institucionais, ou melhor, considera as instituies regras do

    jogo ou limites estruturantes da ao e da interao humana. Aqui, histrico refere-se viso

    de que as instituies so produtos de lutas polticas e processos temporais concretos, o que

    remete ao conceito de dependncia de trajetria. Escolhas so feitas em determinadas

    conjunturas e restringem as chances de trajetrias alternativas em poltica e polticas, processo

    esse que varia em contextos diferentes, potencialmente comparveis. Enfim, existiria uma

    causalidade social dependente da trajetria percorrida observada no tempo, na histria

    (Mahoney, 2001).

    Todos se reconhecem vinculados ao movimento que levou a essa virada histrica das

    cincias sociais e, na rea especfica da cincia poltica, os estudiosos tm trabalhado proficuamente com conceitos e processos correlatos na explanao de processos polticos.

    Alguns autores desejam dar seguimento e aprofundar o debate em torno desse tema, outros

    preferem no reforar o vnculo entre as cincias sociais e a histria. Nessas diferentes

    perspectivas, h de se levar em conta que o exame de processos temporais no apenas uma

    mudana metodolgica, ou aprimoramento tcnico, mas tambm uma mudana terica

    (Skocpol e Pierson, 2002; Pierson, 2004; Thelen, 2004). Ou seja, a construo de teorias de

    continuidade e mudana pressupe o poder causal de conexes temporais entre eventos. Issorequer conceitos que reconheam a diversidade dos padres dessas conexes. Contudo, talvez

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    ainda estejamos nos marcos tradicionais. Skocpol, por exemplo, em meados dos anos de

    1980, lembrava que os clssicos, no seu esforo de compreender os processos de mudana e

    as estruturas sociais da Europa moderna, se preocuparam em explicar seqncias particulares

    de eventos histricos buscando a chave para entender as mudanas cruciais e os contrastes na

    formao do mundo moderno (Skocpol, 1985, p. 2)

    Alguns autores entendem a histria como uma trajetria ou uma ordem particular de

    eventos que produz resultados. mais interessantes analiticamente quanto mais se auto-

    reforam e ou se reforam positivamente. Essa noo de histria associada anlise de

    trajetrias incorre no risco de se criar generalizaes simplistas como, por exemplo, o

    passado influencia o presente e se enclausurar na busca de causas remotas. H trabalhos

    que naturalizam a idia de dependncia de trajetria, alm de um uso bastante lato desse

    conceito, como identificam Mahoney (2000) e Pierson (2004). Este autor sublinha que a

    histria importa nos processos de retroalimentao positiva, nos quais a seqncia

    fundamental, e que preciso identificar no apenas os eventos, mas a ordem temporal em que

    eles ocorrem, alm de estar atento possibilidade de comparar cursos de eventos diferentes.

    Um ltimo comentrio sobre obstculos para se investigar os aspectos temporais no

    entendimento de seus resultados em termos de poltica e polticas. Feitas as ressalvas

    anteriores, parece que a histria como disciplina e arsenal metodolgico no tem sido

    acionada quando proclamam seu papel na anlise de polticas. A dependncia de trajetria e

    as dinmicas de auto-reforo, os efeitos de bloqueio e os processos de retroalimentao

    positiva, entre outros, ao fornecerem um instrumental para analistas de polticas pblicas

    eximiu-os (mas nem todos) do dilogo sistemtico com a histria. Desse modo, eles iriam

    alm da descrio ou da simples narrativa. A histria poderia se tornar simplesmente fonte e

    arsenal emprico.

    Se histria narrativa no tempo, pensar historicamente indissocivel do tempo

    cronolgico, que, por sua vez, no apenas seqncia temporal de eventos. Na narrativahistrica os eventos se relacionam entre si e no so facilmente organizveis e realocveis.

    Aqui a distino disciplinar, sem dilogo, produz um fosso. Vale lembrar que h cada vez

    mais estudos histricos de qualidade sobre polticas e aes do Estado fora da moldura da

    cincia poltica. A pergunta seria como, desprovidos da histria, podemos acessar o

    histrico? O caminho, creio, refletir sobre os instrumentos que do acesso ao contexto,

    contingncia e aos eventos na organizao de uma seqncia temporal, o que nos permitiria

    identificar mecanismos sociais importantes.

    19

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    OS MECANISMOS RELACIONAIS

    Eduardo Marques

    Em um sentido abstrato, a discusso sobre mecanismos relacionais confunde-se com a

    prpria anlise da poltica, visto que o poder tem uma natureza intrinsecamente relacional.

    Entretanto, a maior parte das linhas de anlise da poltica historicamente buscou elementos

    explicativos localizados em duas escalas opostas de abstrao de um lado, nas estruturas e

    nos sistemas sociais e, do outro, nos indivduos e nos processos de deciso individual ,

    mesmo que pensadas estrategicamente. Apesar disso, a maioria dessas anlises incluiu e levou

    em conta as relaes, embora de maneira contextual e metafrica.

    A partir dos anos de 1970, entretanto, desenvolveu-se um programa de pesquisas

    focado no nvel intermedirio e concentrado na anlise dos padres de relaes de indivduos

    e entidades que cercam as situaes sociais a sociologia relacional. Esses padres de relao

    estariam presentes em praticamente todas as situaes sociais, sendo muito difcil estudar

    fenmenos sociais sem consider-los, como no caso dos fenmenos econmicos, por exemplo

    (Granovetter, 1985). Concretamente, essa anlise reproduz, por meio de representaes

    grficas e matemticas, os contextos relacionais dos mais variados tipos, onde se inserem os

    atores sociais. Nas anlises desse tipo, pessoas, grupos, organizaes e entidades so

    representadas como ns, e as relaes, como vnculos de vrios tipos. Os vnculos podem ser

    materiais e imateriais, apresentar contedos mltiplos e usualmente so pensados como em

    constante transformao. Na verdade, tais anlises tentam sempre reproduzir dedutivamente

    por meio das redes certas estruturas relacionais de mdio alcance, construindo um nvel

    analtico intermedirio entre estrutura e ao social. A tarefa similar estabelecida com o

    espao, pelos socilogos urbanos marxistas nos anos de 1970, ou com as instituies, pelos

    neoinstitucionalistas nos anos de 1980.As redes podem ser entendidas, basicamente, de trs formas. Seguindo diversas

    tradies das cincias sociais, podemos consider-las apenas de maneira metafrica ou de

    forma descritiva e ensastica. So definidas tambm como prescrio normativa para uma

    determinada situao, como em estudos em administrao de empresas, por exemplo. Por fim,

    so consideradas um conjunto de ferramentas analticas para o estudo de situaes sociais

    especficas por meio da anlise das conexes sociais nelas presentes. Concentro-me neste

    texto nessa ltima acepo, pois acredito que os avanos na rea advm da utilizao dasredes como mtodo de investigao a anlise de redes sociais , uma vez . Os ganhos

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    analticos do uso do mtodo advm do fato de que os padres de relao de diversas situaes

    sociais apresentam complexidade to elevada que no podem ser analisados satisfatoriamente

    por meio de narrativas que explorem metaforicamente as redes. Em fenmenos com baixa

    complexidade, evidentemente, o uso de metforas pode permanecer como a melhor estratgia,

    e a anlise de redes talvez apenas adicione novos aspectos tcnicos e conceituais

    desnecessariamente.

    Como a cincia poltica enfoca centralmente o poder poltico (institucionalizado ou

    no), e como este apresenta uma natureza relacional intrnseca, o estudo das redes sociais

    pode ajudar bastante. As anlises envolvem, por exemplo, o estudo da influncia dos padres

    de relacionamento em mobilizaes coletivas, seja em trabalhos de corte mais tradicional

    (Gould, 1991), seja em trabalhos mais contemporneos centrados nas dimenses discursivas

    da ao poltica (Mische e White, 1998). De forma similar, a literatura investigou as

    influncias das redes no comportamento eleitoral (Niuwbeerta e Flap, 2000) e na estruturao

    dos partidos polticos (Hedstrom et. al., 2000). Os estudos sobre as elites polticas tambm

    representam um importante campo para a anlise das redes, seja do ponto de vista das

    relaes internas elite poltica (Gill-Mendieta e Schmidt, 1996) e elite econmica (Minz e

    Schwartz, 1981; Kadushin, 1995), seja comparando elites polticas e econmicas (Laumann et

    al., 1992). Um outro conjunto de trabalhos investiga os padres de relao no interior do

    Estado, envolvendo burocracias, agncias estatais e polticas pblicas (Marques, 2000, 2003)

    e investigando especificamente a produo de polticas (Knoke, 2003; Laumann e Knoke,

    1987). Como a anlise de redes permite a realizao de estudos detalhados sem o

    preestabelecimento das fronteiras entre Estado e sociedade, representa tambm uma

    importante ferramenta tanto para o estudo de lobby (Heinz et al., 1997) e de novas

    institucionalidades de governana (Schneideret al., 2003), como para a anlise das relaes

    entre pblico e privado no entorno do Estado (Marques, 2000, 2003).

    A anlise de redes sociais parte do pressuposto de que as relaes sociais constituem aunidade bsica da sociedade, ao invs dos atributos dos indivduos. Nesse sentido, o mundo

    social seria formado ontologicamente por padres de relao de vrios tipos e intensidades em

    constante transformao. Nas primeiras snteses tericas sobre essa questo, atributos

    individuais e relaes sociais eram vistos, de uma forma reducionista, como elementos em

    oposio (Emirbayer, 1997). Atualmente, eles so pensados em associao, visto que, em

    muitas situaes sociais, entidades com atributos comuns tm maior probabilidade de

    estabelecer relaes por causa da presena de mecanismos de homofilia (Kadushin, 2004). Ao

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    mesmo tempo, as relaes ajudam a construir atributos de vrios tipos, sendo muitas vezes

    difcil estabelecer uma direo causal nica.

    Embora os autores enfatizem questes diferentes, possvel reconhecer ao menos trs

    tipos de anlise. O primeiro investiga os efeitos das posies dos atores e entidades sobre os

    fenmenos polticos. Essas posies podem potencialmente: a) : alterar os resultados; b)

    influenciar as aes, estratgias, alianas e oposies e c) influir inclusive sobre as propenses

    cognitivas dos atores (inclusive as suas preferncias). O segundo tipo de uso analtico das

    redes foca nos efeitos da estrutura da rede sobre os fenmenos existentes em uma dada

    situao. Nesse caso, analisam-se a conformao geral de densidades e grupos, e os padres

    de contigidade, conectividade e distncia presentes na rede social. Por fim, o terceiro grupo

    discute os efeitos de modelos diferentes de estrutura sobre tipos de fenmenos. A nfase,

    nesse caso, est na comparao entre estruturas de vrias redes de um mesmo tipo. De fato,

    essas trs estratgias foram empreendidas a partir da dcada de 1970, em um caminho de

    crescente generalizao explicativa.

    Como qualquer estrutura, as redes costumam ser duradouras. Isso porque, embora elas

    se transformem continuamente com a construo ou o rompimento de vnculos, a parcela em

    transformao tende a ser relativamente pequena comparada ao conjunto dos vnculos. Alm

    disso, estudos recentes sugerem a existncia de elementos associados ao comportamento

    matemtico das redes (Watts, 1999), os quais lhes garantiriam sua continuidade, mesmo em

    contextos de mudanas intensas de vnculos. A combinao desses elementos faz com que as

    redes apresentem, a um s tempo, dependncia da trajetria, sobretudo em relao estrutura,

    e tendncias constantes de mudana, principalmente em termos localizados.

    Embora a complexidade tcnica do tema no seja muito grande, esse tipo de anlise

    envolve escolhas que determinam os resultados dos estudos.

    A primeira escolha analtica fundamental diz respeito ao tipo de rede a ser estudada.

    Em todos os casos, as redes podem ser conceituadas para reproduzir os padres de relaocentrados em um ou mais indivduos ou em contextos mais amplos, que modelam o tecido

    relacional de uma determinada situao social (as chamadas redes totais). A escolha de redes

    pessoais ou amplas depende das preocupaes analticas da investigao.

    A segunda escolha refere-se aos elementos que compem as redes indivduos,

    famlias, grupos, organizaes etc. Esses agrupamentos institucionais e grupais, por sua vez,

    conectam-se muitas vezes por meio dos indivduos que os constituem. As entidades nas redes,

    portanto, esto sempre submetidas a uma natureza dual entre indivduos e grupos e

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    organizaes (Breiger e Mohr, 2004) e, novamente, a questo se associa intrinsecamente aos

    pressupostos analticos envolvidos.

    Por outro lado, os vnculos considerados na anlise podem envolver elementos

    materiais, como dinheiro e mercadoria, e imateriais, como informaes, afetos e idias. Eles

    podem incluir, virtualmente, qualquer coisa, embora a considerao de certos tipos de vnculo

    possa trazer dificuldades com relao operacionalizao da pesquisa e mesmo

    confiabilidade das informaes obtidas no campo.

    A essa dimenso se soma outra ligada intensidade dos vnculos. Desde que

    Granovetter (1973) demonstrou a importncia fundamental dos vnculos fracos para a difuso

    de informaes associadas a emprego, os autores vm discutindo essa questo, e hoje h um

    consenso de que ambos os vnculos devem ser considerados, mas em relao a fenmenos

    distintos. Os fracos geralmente se fazem presentes na veiculao de informaes e na

    construo de coordenao poltica. Os fortes, em contrapartida, so importantes quando se

    trata de fenmenos de coeso, comando e relaes mais verticalizadas. Mas ambos no so

    excludentes, podendo ser considerados inclusive na anlise de uma mesma situao, como

    mostraram Carroll e Fennema (2002).

    As redes tambm podem incluir vnculos formais e informais. Na verdade, uma das

    potencialidades trazidas pela anlise de redes diz respeito exatamente possibilidade de

    considerarmos esses dois tipos de vnculos de forma conjunta e sistemtica. Embora nem toda

    a literatura trabalhe dessa forma, a incorporao de vnculos informais e no intencionais vem

    enriquecendo o estudo sobre elites econmicas (Kadushin, 1995) e sobre atores estatais e no

    estatais na produo de polticas pblicas (Marques, 2003). Especificamente a este respeito, a

    incorporao de vnculos informais e no intencionais (construdos ao longo da formao das

    comunidades de polticas) parece ser um caminho promissor para o estudo do Estado de

    forma mais prxima da realidade emprica (Marques, 2006).

    A sociologia relacional tambm no tem pressupostos fortes com relao racionalidade dos atores, sendo inclusive possvel integr-la com perspectivas da escolha

    racional e ferramentas da teoria dos jogos. A anlise de redes apenas incompatvel com a

    adoo de princpios estritos de individualismo metodolgico. Na verdade, a ela apenas indica

    como funciona um dos settings em que os indivduos esto inseridos, sendo compatvel com

    vrios pressupostos de racionalidade. As prprias redes, entretanto, parecem ser o produto de

    uma conjugao entre ao orientada a fins, acaso, e herana dos padres de vnculo

    anteriores. Como os atores individualmente no tm controle sobre a estrutura das redes esobre as posies dos demais atores, mesmo que hajam racionalmente para construir e

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    desmontar vnculos (e provavelmente o fazem), conseguiro influenciar apenas uma parte

    muito pequena do tecido relacional em que se inserem. Parodiando Marx, possvel dizer que

    os indivduos fazem as redes, mas no as fazem como querem.

    Todas as dimenses destacadas sugerem que a anlise de redes envolve um grau

    elevado de escolha da parte do analista no que diz respeito conceituao dos elementos

    relacionais presentes nas situaes estudadas. Essa caracterstica no trs em si nada de

    problemtico, desde que as escolhas sejam apropriadas s perguntas formuladas e se

    desdobrem em estratgias e instrumentos de pesquisa tambm apropriados. Dado o grau de

    detalhe envolvido, entretanto, a anlise de redes trabalha sempre com estudos de caso. Como

    j destacado na apresentao deste dossi, no uso dessa estratgia de pesquisa, a generalizao

    dos resultados obtida com as comparaes, variando os elementos presentes e investigando

    detalhadamente a combinao dos fatores causais em cada conjunto de casos. Assim, apenas a

    realizao de muitos estudos comparativos de redes em situaes sociais distintas pode, no

    mdio prazo, sugerir quais os tipos de influncias que elas provocam, dadas as circunstncias

    e os processos presentes. Embora ainda estejamos longe desse momento, avanamos

    consideravelmente nas ltimas trs dcadas na compreenso das caractersticas, do

    funcionamento e das conseqncias das redes sociais.

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    contexto, como a coletneaAfrican political systems (Fortes e Evans-Pritchard, [1940] 1961)

    e a monografia Os Nuer (Evans-Pritchard, [1940] 1978). Essa abordagem, por sua vez,

    tambm gerou crticas. A definio de poder teria se tornado to ampla que poderia ser

    encontrada em qualquer situao social, englobando literalmente todos os temas da disciplina

    (Vincent, 2002). Mas nessa fase que se consolidou institucionalmente o campo de uma

    antropologia poltica (Easton, 1959). fundamental ressalvar que, embora dialogando entre

    si com mais ou menos freqncia, esses antroplogos no produziram em absoluto

    abordagens homogneas da poltica. Se numa primeira etapa foi dada maior nfase aos

    aspectos de coeso e equilbrio social, medida que avanamos no tempo, observamos uma

    maior preocupao com as transformaes sociais, discutindo as relaes de poder no tempo e

    no espao, a partir de temticas relacionadas a conflitos, rituais, mitos, identidades, status,

    representaes e prticas.

    A partir da dcada de 1950, principalmente depois do clssico Sistemas polticos da

    Alta Birmnia, de Edmund Leach ([1954] 1996), desenvolve-se uma nova fase no campo da

    antropologia poltica, com o afastamento do cnone tradicional e a pulverizao de problemas

    tericos e temas de pesquisa, cujo alcance foge ao mbito deste texto. Entretanto, h um certo

    consenso de que esses novos campos so fruto sobretudo do enfrentamento dos desafios

    impostos por uma conjuntura mundial na qual convivem foras polticas e culturais em

    diversos nveis como comunismo, capitalismo, colonialismo e movimentos sociais de diversos

    tipos. Entre estes, a rea dos estudos feministas e dos movimentos anticolonialistas ganhou

    destaque por sua importante contribuio para a reflexo em torno do poder (Vincent, 2002).

    No contexto brasileiro, desenvolveu-se, na dcada de 1990, um conjunto de trabalhos

    autodenominados antropologia da poltica, que tiveram sua institucionalizao mais

    importante no Ncleo de Antropologia da Poltica (NuAP), sediado no Museu Nacional da

    UFRJ, mas envolvendo grupos em outras universidades federais, como as de Braslia, Cear e

    Rio Grande do Sul, entre outras. O objetivo do NuAP, como definiu Peirano (1998), era partirda suposio bsica de que a categoria poltica sempre etnogrfica. Ao investigar a

    poltica legitimada pelos padres ocidentais modernos, deslegitimando pretenses

    essencialistas, sociocntricas e conformistas, revela-se que a prpria percepo da poltica

    como uma esfera social parte de outras esferas produto dessa ideologia moderna. No caso

    brasileiro, alerta Peirano, o antroplogo enfrentaria uma combinao complexa de

    universalismo cientfico e ideologia nacional de moldes holistas.

    Isso tem sido observado em muitos estudos empricos, desde o clssico Coronelismo,enxada e voto (Leal, 1948) at as recentes etnografias e coletneas publicadas no mbito do

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    NuAP (Palmeira e Goldman, 1996; Barreira e Palmeira, 1998; Heredia, Teixeira e Barreira,

    2002; Palmeira e Barreira, 2006). A poltica entendida, aqui, principalmente como um meio

    de acesso aos recursos pblicos, no qual o poltico atua como mediador entre comunidades

    locais e diversos nveis de poder. Esse fluxo de trocas regulado pelas obrigaes de dar,

    receber e retribuir, o que o antroplogo Marcel Mauss ([1924] 1974) chamou de lgica da

    ddiva, e cujo princpio fundamental est no comprometimento social daqueles que trocam

    para alm das coisas trocadas.

    As pessoas que participam dessas redes, seja como eleitores, seja como polticos,

    nunca concordariam com os acadmicos que consideram suas aes um mero clientelismo.

    Do ponto de vista nativo, os polticos no esto privatizando bens pblicos (para usar

    uma definio clssica de clientelismo); ao contrrio, os polticos esto dando acesso a bens e

    servios pblicos a pessoas que no os teriam de outra forma. Nesse contexto, a palavra

    pblico no significa recursos que pertencem a todos, mas recursos monopolizados pelas

    elites polticas e econmicas. Ou seja, pessoas ordinrias de estratos inferiores da

    sociedade no participariam dessa definio de pblico. Por isso mesmo, o acesso s

    fontes pblicas de bens e servios precisa ser intermediado pelo poltico e visto como um

    bem extraordinrio, que no tem preo.

    No entanto, essa rede no se constitui apenas pelo acesso e intermediao de recursos

    pblicos. A distribuio de bens e servios em locais de atendimento, como centros de

    assistncia social ou escritrios polticos, prtica corrente. Para manter esse tipo de servio,

    o poltico precisa manter fortes laos com empresrios ou grupos economicamente

    favorecidos que lhe forneam dinheiro ou mercadorias demandados pela comunidade. Essa

    ajuda externa retribuda, por sua vez, na forma de alvars, licenas, anistia de multas e

    outros benefcios diversos. Pode tambm, sem dvida, em certos casos, caracterizar-se como

    corrupo pura e simples.

    Como se coloca, ento, a antropologia da poltica ante a questo da democracia? Senos basearmos nos seus princpios conceituais, relaes de troca do tipo acima mencionadas

    so um grande desservio. Entretanto, como intelectuais, temos que evitar que nosso desejo

    de melhorar a qualidade da democracia interfira na forma como coletamos e interpretamos os

    dados de pesquisa. Seno, ficaremos perpetuamente rotulando as pessoas em vez de tentar

    compreend-las. Seguindo a proposta de Peirano (1998), esses mesmos rtulos operam

    segundo lgicas de poder da academia ou at lgicas de poder mais amplas. Assim, o mesmo

    fenmeno classificado como mquina poltica, nos Estados Unidos, torna-se clientelismo,na Amrica Latina, ou servios aos eleitores, no Reino Unido (Posada-Carb, 2005).

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    Categorias como mandonismo, coronelismo, clientelismo, entre outras, trazem

    embutidas a idia de que as nossas prticas polticas so imperfeitas, atrasadas ou inferiores.

    Trata-se de classificaes que tomam por base o princpio de que as sociedades modernas

    devem estar comprometidas com os princpios democrticos universais inspirados nas

    experincias europia e norte-americana. Desse ponto de vista, o clientelismo ser sempre

    visto como sintoma de nosso estgio de subdesenvolvimento e, portanto, um problema para

    a modernizao da poltica.

    Seguindo em outra direo, podemos tomar o clientelismo como expresso de

    valores culturais que privilegiam as relaes sociais entre pessoas, por oposio s relaes

    entre indivduos, no sentido que Roberto Da Matta (1979) emprestou ao termo. Isto , trata-se

    de trocas e relaes sociais que envolvem noes como honra, gratido e dvida moral. Em

    muitos casos, isso ajuda tambm a perceber que as relaes de troca empiricamente

    observadas no se constituem numa esfera poltica parte, muito menos so a principal

    fonte de recursos da populao. Tanto assim que muitos dos bens doados por polticos so

    itens aparentemente suprfluos, como perucas, camisas para times de futebol, brinquedos,

    latas de tinta etc.

    Para a antropologia, preciso investigar tais trocas dentro do contexto etnogrfico em

    que ocorrem, buscando a compreenso das relaes sociais envolvidas. Em muitos casos, essa

    compreenso fundamental para percebermos que a poltica opera com valores da sociedade

    mais abrangente, tradicionalmente associados a outras esferas da vida social, como famlia e

    religio, mas considerados ilegtimos quando operados na esfera poltica. Isso no quer dizer,

    obviamente, que se queira justificar nem defender essas prticas cumpre, antes de tudo,

    compreend-las.

    Onde ficaria, ento, a responsabilidade e a contribuio da antropologia para com os

    princpios da democracia representativa e o aperfeioamento das suas instituies?

    Como afirmou Abls (1997), a antropologia no tem como objetivo criticar as prticas polticas, mas entender a maneira pela qual as relaes de poder emergem numa

    situao determinada, adquirindo significado para os atores sociais. Parte sempre do

    pressuposto de que a democracia um modelo terico, e que, portanto, no existe de forma

    pura. Questionar conceitos como clientelismo deixar de tomar esse modelo como ponto de

    partida; no considerar universais termos como, por exemplo, individualismo,

    representao e domnio pblico; , finalmente, perceber que o universalismo um valor

    inspirado no paradigma da modernizao, na crena de que a imparcialidade e a objetividade

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    devem prevalecer sobre as emoes e a subjetividade (como as que esto presentes nas

    relaes baseadas na honra e na ddiva).

    A abordagem antropolgica privilegia tcnicas de pesquisa qualitativas, voltadas para

    a realizao de trabalho de campo com observao participante e entrevistas em profundidade,

    freqentemente produzindo estudos de casos. No entanto, o antroplogo no ignora que as

    prticas e as representaes observadas esto inseridas numa sociedade maior, num sistema

    poltico formal, com instituies de larga escala. Nesse esforo, a antropologia de um modo

    geral oscila entre sua fidelidade ao particular e a necessidade de produzir generalizaes

    (Lewellen, 1992). Por isso, fundamental que se estabelea um dilogo com outras

    disciplinas, como a histria, a cincia poltica, a sociologia, a lingstica e a comunicao. a

    partir de abordagens multi e interdisciplinares e da adoo de uma perspectiva comparativa

    que se pode chegar a compreender no s as representaes e as prticas da poltica num

    grupo especfico, mas tambm as relaes desse material etnogrfico com a sociedade mais

    ampla.

    A antropologia pode contribuir nesse debate porque sua principal tarefa estudar no

    o que a poltica deve ser, mas o que ela para um determinado grupo, em um contexto

    histrico e social especfico. Compreender, do ponto de vista do nativo, prticas muitas

    vezes diferentes daquelas que idealizamos pode gerar incmodo, intelectual ou cvico, mas

    um incmodo necessrio, pois, como disse Geertz, se quisssemos verdades caseiras,

    deveramos ter ficado em casa (2001, p. 67).

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