6
M DO CfiU FONSEÊ I.ACUA, FnCLC{) ([8Jl); Iemert gramáta general con relación a las uas l, Madrid, Imprenta de D, J, a, c , Jean de (2) h7971, L 'a de rler et d'rire cotemt la langue fran ç als ou (;raire pbilosophíqua at littéraire de cette langue, 2 voIs., Paris, Rémon t, ME, Jꝏo CrlHtomo do Couto e (,8I8), Gmátl/ka da }'''ugem port u sboa, úne& o Régia, . , SA(l Maf ia Helena Pessoa (25); s nguas lgu na ceú de Oiten, vols" V Rl, Universidade de Trás·os-Montes e Alto Douro, te utoramento lpoliꝏpda). THUR, Fran: (24) [1796], Tableau progs la sâee grammatfcale (Discou Umaire à 1ermes dejarnes Harri. Introduction et notes d'AlldréJoly, Limoges, L'r. TOE, Amadeu (1998), Gramática e ltnguttca, Faculdade Fjln�oa, Braga, Un iversidade Cat6la Portuguesa, Presença da literatura portuguesa no rdofranquismo e na transição espanhola: o caso das publicações periódicas Íula e Tunfo M,' ISA RODRÍGZ PDO G-Universade de Santiago de Compostela E S AOALHO ESTÁ GADO A. o PROJECTO �parcialmente subsidiado pela Junta da Galiza- "Portugal e o mlldo lusófono na literatura galega das últimas três décadas (POLULIGA), que reala o grupo de investigação GALABRA de Estudos Culturais Galego-luso-afro-brasileiIos�. No desenvolvimento dessas pesquisas concluiu-se I a detelminada altura e para efeitos comparativos e e complementç:ío, a necessidade de fazer o levantamento das presenças portu- guesas -paa além das galegas-- nas principais publicações espanholas da altura, tanto literárias como de informação geraL Procedeu-se, pOItanto, a e.; tabelecer um corpus que fou constimído por Ínla Ü946-), Peles de Son Armadâns Ü956-1979) e Camp dellpa (1972-1982), na primeira categofla, e por El emo (.951-), Destino Ú937-198(», Cuademos pa el Diálogo {r963-1978l, Trill1lfo ('962- 1982), Cambio 16 971-) e Posible (r975-1978), na segunda, Quero manifestar A divida com colegas investigadores de POLUIJGA, muíto parti- culn" ente c m R hn Samaim.

Presenca Da Literatura Portuguesa No Tardofranquismo e Na Transicao

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Page 1: Presenca Da Literatura Portuguesa No Tardofranquismo e Na Transicao

M.>\RIA DO CfiU FONSECA

I.ACUFVA, FranCL'JC{) ([8Jl); liIemerttos de gramática general con relación a las (etlguas les, Madrid, Imprenta de D, J, E"!'Í!l()Sa,

UvrzAc, Jean de (dh2) h7971, L 'ar! de parler et d'écrire correctement la langue françalse, ou (;ratnttlClire pbilosophíqua at littéraire de cette langue, 2 voIs., Paris, Rémont,

MELO, Jooo CrlHru;tomo do Couto e (,8I8), Gramátlca/t/osq/ka da }'''liuC/gem portuguiiza LIsboa, únpre&são Régia,

. ,

SANf()Sl Mafia Helena Pessoa (2005); As ideias linguísticas portI.lguaStl"í na centúria de Oitocentos, :1 vols" Vila Real, Universidade de Trás·os-Montes e Alto Douro, tese de doutoramento lpoliooplada).

THURoT, François: (2004) [1796], Tableau de:; progri}s de la sâence gra.mmatfcale (Discours préUfJ1maire à 11Iermes dejarnes Harris). Introduction et notes d'AlldréJoly, Limoges, L'Harmáttan.

TORRE'), Amadeu (1998), Gramática e ltnguisttca, Faculdade de Fjln�of1a, Braga, Un iversidade Cat6lica Portuguesa,

Presença da literatura portuguesa no

tardofranquismo e na transição

espanhola: o caso das publicações

periódicas Ínsula e Triunfo

M,' FELISA RODRÍGUEZ PRADO

GAIABRA-Universídade de Santiago de Compostela

ESTE TRAOALHO ESTÁ LIGADO A. o PROJECTO �parcialmente subsidiado pela Junta

da Galiza- "Portugal e o millldo lusófono na literatura galega das últimas

três décadas .. (POLULIGA), que realiza o grupo de investigação GALABRA

de Estudos Culturais Galego-luso-afro-brasileiIos�. No desenvolvimento dessas

pesquisas concluiu-seI a detelminada altura e para efeitos comparativos e ele

complement;\ç:ío, a necessidade de fazer o levantamento das presenças portu­

guesas -pa.ta além das galegas-- nas principais publicações espanholas da altura,

tanto literárias como de informação geraL Procedeu-se, pOItanto, a e..o;;tabelecer

um corpus que ficou constimído por Ínsula Ü946-), Papeles de Son Armadâns Ü956-1979) e Camp del'Alpa (1972-1982), na primeira categofla, e por El Ciemo (.951-), Destino Ú937-198(», Cuademos para el Diálogo {r963-1978l, Trill1lfo ('962-

1982), Cambio 16 (1971-) e Posible (r975-1978), na segunda,

Quero manifestar A minha divida com os colegas investigadores de POLUIJGA, muíto parti­culn" ente c m R hertn Samartim.

Admin
Texto escrito a máquina
Rodríguez Prado, Maria Felisa (2007): “Presença da literatura portuguesa no tardofranquismo e na transição espanhola: o caso das publicações periódicas Ínsula e Triunfo”. In Ángel Marcos de Dios [ed.], Aula Ibérica. Actas de los congresos de Évora y Salamanca. Salamanca: Ediciones Universidad de Salamanca; pp. 697-706.
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M.� FarSA RODRiGUEZ PRADO

Partindo desse elenco de periódicos e da observação dos materiais reemi<l'" 'à hora de definir este meu contributo revelou-se, por um lado, a imlpc)ssibili& de de trata1' a totalidade e, por outro lado, a escassa ou quase nula pnesenc, dentro das 1'efeJências a Portugal, dos aspectos linguf!;;[ico-literários que nos vocam neste encontro. Optei, então, por focalizar os dez anos que vão de até 1978 -período decisivo para a conformação da Espanha actual com a ração da ditadura franquista e o referendo constitucional-, tratar-se de uma franja temporal suficientemente ampla e susceptível de til' a detecção da (in)existência de uma mudança significativa no relac'iona,m"ntc cultural hispano-luso a raiz das transformações operadas na sequência Revolução dos Cravos portuguesa, de 1974.

A seguir, julguei oportuno centrar a análise apenas em duas publicações I uma das generalistas e outra uas literárias. A escolha recaiu, entre as primeiras, �

em Triunfo, tendo em conta o muito que a revista se significou nesse períod o decisivo da transformação espanhola, bem como o facto de ter sido maciça­mente Ilda e o de logo depois ter deixado de existir, e em Ínsula, entre segundas, uma espécie de jornal cultural especializado no âmbito das letras nesse sentido, bastante minoritário mas já de longo curso nos anos sessenta e: ainda vivo na actualidade,

CONTEXTIIAUZAÇÃO

O fim dos anos sessenta e a década de 70 são, no conjunto do Estado Espanhol e também em Portugal, um momento decisivo de transformações, pois perante a expectativa de desaparição das ditaduras assiste-se a um acúmulo que Even-Zohar denomina energia, produzindo-se uma «geração de (2002:48) que se traduz como tomada de posições e adopção de re,;pe,nsabill" dades dos diversos grupos, definindo novos projectos com as suas a1t,errlat:ivas:o'

O maior grau de liberalização económica capifalista e abertura nas relaçõe':i internacionais da Espanha, ao mesmo [empo que facilitava um rápido desen:':' volvimento, tinha gerado uma sociedade em dara contradição com o sistema politico, dando lugar a um desfasamento que, conforme se agudiza, acelera 6 desenho e a configuração de alternativas político-culhlrais ao regime fi'anquista.' Em palavras do jornalista e escritor Vázquez Momalbán, oe::> una Espana en la que ha tenido lugar un salto económico, han aparecido algunhas nuevas capas medias, con una voluntad de homologación de la que seda su base social y su base económica con las formas políticas y culturales� (Carda Rico, 2002:38).

Para se conseguir essa homologação será preciso aguardar até à transição, Jnesmo que a líberalização cultural do regime, datada de 1962 e confirmada com

PRESENÇA DA lITERATIJRA PORTUGUESA NO TARDOFRANQlJISMO E NA TRANSIÇÃO

a lei de imprensa de 1966, pareça ter aberto vias para desenvolver através da edição de livros e revistas projectos afastados da submissão à ditadura. Deste modo, assístíu-se ao surto de uma estratégia editorial baseada no "possibilismo», consistente, segundo definição de Francisco Umbral, em «pisar siempJe la raya de la libertad hasta que el poder diga bastan. Para além de outros, coincidem no uso desta estratégia tanto o editor-jornalista José Ángel Ezcurra com Triunfo como os editores de Insula -conforme constatam Fontes e Menéndez (2004: 96}--, tentando esticar até ao limite as liberdades de imprensa e expressão.

As ptmUCAçõES

Triu.nfo, que nasce como revista de cinema e espectáculos em 1946 em Valencia e em Fevereiro de 1961 muda para Madrid, é desde o ano seguinte um semanário de informação geral e opinião, vivendo sob os auspícios da com­panhia Movierecord até 1970, altura em que se produz a falência. A partir desse momento, sempre dirigida por um dos seus promotores originais, José Ángel Ezcurra, trabalha numa linha independente para dar voz ao progressismo espan-1101. Depois de se ter escindido em 1978, dando lugar à aparição do breve La Cal/e, o seu feche definitivo acontece em 1982. O papel de Triunfo na erosão do sistema dentro dele tem muito a ver com o que Ezcurra chama de «triunfo de las luces», com certeza relacionado com o amplo conteúdo cultural e ideológico da revista e com «el papel de órgano cómplice de la reconstrucción de la razón democrática de Espana después deI asalto a la razón perpetrado por las hordas franquistas en 1936» que Montalbán2, um elos seus mais destacados colaborado­res, lhe atribuiu. A revista é (re)collhecida como espaço aglutinador da opinião pública de esquerda, principalmente associada ao Partido Comunista de Espanha, com o qual a maior parte das suas figuras basilares mantém ligações. Várias vezes sancionada e sofrendo suspensões, destacava o seu compr01nisso com os temas políUcos e, de facto, a maior difusão dela coincide com os momentos de maior tram;cendência política, nomeadamente em 1968 e depois entre 1975 e 1977, tendo atingido o ponto mais alto em J976, com perto de 9°.000 exemplares (Cabello, 1999:114),

Os livros e a literatura são objecto de estudo e divulgação em Ínsula, surgi­da em 1946 como Revista bihliográfica de ciencias y letras3 da livraria do mesmo

2 É citado por Ezcurra na recente apL'e�entação de Triw?{o Digital, iniciativa que supõe a rea­pmição pública da revista qlle , 110 (Uzer do seu Fundamental animador, ,fue símbolo de la resisteucia intelectual aI franquismo •. A. publicação estâ disponibilizada em www.t.rill1l.fodigiLal.com.

, É uma hipóte.�e colocada por José Maria Martínez eachem -e cira(b por Javier Suso López na Semblanza de Enrique Omito (afrancesado, (rancó/llo. fikÍl1froPO) nn W\VW.ugl'.e�/-isllSO/Dublications/

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700 M."- FEUSA RODRÍGUEZ PIlADO

nome, especializada na importa��ão de livros estmngeiros e fundada três antes por Enrjque Canito Barrem, soh inspira��âo dos jornais literários que

davam na FrJn�-a e desmarcando-se das existentes na Espanha por se afastar quaisquer clirectrizes de partido. Canito, catedrático de liceu em francês, foi um dos que, como ele próprio afirmou, tendo ficado do lado vencido, �'V"" da guerra civil se viram obrigados a inidar uma nova vida. Passou de estar

to a iniciar o doutoramento a ser afaswdo da docência sob acusação

«excessiva honradez laica», de modo que construiu um projecto à volta do . e da ideia de Universitas: uma revista literária independente, de inegável importância enquanto JX>ssibilitadora do .. alargamento cultural» roto pela ditacht­ra. Baseando o seu labor na liberdade intelectual e no exercício do pensamento, mereceu a designação de .. ilha de tolerância» e de «casa da resistência cultural .. e trabalhou para afirmar a união da Espanha literária e intelectual, sem programa expresso mas visando a projecção das letras espanholas e do hispanismo, a conexão dos transterrados, a promoção de escritores novos, a recuperação da memória literária e a divulgação da actualidade e da modernidade. Tudo isto;

num contexto desfavorável, em que o jornalista ou escritor se acha atrapadó entre o uso do eufemismo ou a suspensão, em contraste com «la amplia liber-'

tad de critka de que disfruta el escritor en la Europa de occidente» (Ínsula! 335, Out. 1974, p.2).

PRESENÇA(S) PORTIlGUESA(S)

Trüm(o, que privilegia os conteúdos ligados a uma opção polítka de esquer, da, vai passando, no período delimitado, do exercido do «possibilismo» --que

Fontes e Menéndez (2004: 58) identificam como feito pela revista «extrayendo moralejas nacionales de Sllcesos internacionales»--- a entrar em confronto mais directo com o regime, sendo mais explícita e combativa. Nesse sentido, o rela­cionamento com os homológos da oposição portuguesa data dos anos sessenta, a partir da aparição na fronteira de Badajoz do cadáver de Humberto Delgado,

líder da esquerda que apresentara candidatura à presidência do país em r958; o episódio foi relembrado pelo durante anos secretário geral da redacção da revis­ta, Eduardo García Rico (2002:r59-160), que se deslocou até Lisboa e através de

jornalistas progressistas contactou com Mário Soares, na altura advogado da

viúva.

enrique%canito-2.pdf (Consulta r6.12.2006)- que a designação da revista como científica tenha sido um estratagema para enganar a censura, para, desta forma, apressarem o" trâmites e conerem menos liscos de exame ri oroso.

PRESENÇA DA UTERA'TURA PORTUGUESA NO TARDOFRANQlnSMO E NA lTIAN5JÇÃO 701

As referências portuguesas, que ultrapassam a centena de textos nesta publi­cação, concentram-se no ano da Revolução dos Cravos e no seguinte, pertencendo a prática totalidade das notícias ao âmbüo da política. Relaüvamente à literatura, é também 1974 o ano mais fértil, com pouco mais de uma dúzia de ocorrências, que, mesmo sem marcarem uma presença llluito abundante, praticamente duplica a soma de todas as anteriores e posteriores. Confrontando o político e o cultural, porém, detecta-se uma fortíssima decala­gem entre ambos temas no ano 1975, que sendo o de maior número de informações sobre Portugal, dedica atenção aos aspectos literários apenas numa entrevista do orrmipresente José Morueón ao dr:lmaturgo Santareno e o crítico teatral Carlos Porto. Isto apesar de chamadas de aten��ão como a que fazia Juan E. Zúniga em Julho de 1974 ao afirmar que "los últimos acontecimientos de portugal obligan -entre tantas apresuradas retlexiones- a una atenta considera­ción de las obras literarias aparecidas bajo el :lllterior Régimen, especialmente aquellas que tendían a reflejar las circunstancias del país».

O valor e a funçao orientadora da puhlica��ão for�un, de facto, imediatamen­te reconhecidos, conforme se depreende do elogio que merece em Ínsula (3fO, Selo 1972, p.2), onde se afirma que «desempena imerinamente C. .. ) un montón de cometidos que van desde la oriemación política a la religiosa» e a secção "Artes, letras, espectáculos» é caracterizada como sendo "seguramente la más inteligen­te, sólida y rigurosa dei país». Porque TrilJ:t!.fo oferecia ao leitor, entre Outl'3S coisas, "una crítica de livros hech.-l desde bien entendidos criterios progresistas, ensenanzas sobre teatro revolucionaria, el ideal de unas artes comprometidas con el cambio social» (PIata Parga, 1999:91).

Em Ínsula, reflectindo as correntes culturais do estrangeiro, predomina o talante liberal, aberto, europeu e a vontade de plasmar um fim de universalida­de que se consubstancia, por exemplo, nos números dedicados à apresentação e divulgaçào de diversas literaturas nacionais, COIllO a venezuelana ou a cuba­na. Apesar da especialização no terreno do hispanismo, o habitual número duplo de Julho e Agosto aparece, em 1971, consagrado a Portugal, num mono­gráfico sobre as .. Letras portuguesas» que Álvarez-Ude ü999:r6) afirma ter tido amplo eco entre os escritores espanhóis4, até ao ponto de que «influyó decisi­vamente en el futuro desarroUo que el conocimiento de las letras, y la cultura en general, de nuestro país vecino tuvo entre nuestros escritores». Do que nâo cabe dúvida é de que, conforme reconhecem gratos na segunda página, se esta­beleceu contacto em POltugal com a revista O tempo e ° moclo, primeiro

4- Nesse sentido, cita as traduções de Pessoa feitas por Ángcl Crespo e o resgate de autores lusi­tanos pouco conhecidos, eomo Antero de Quental da mão do romancista e tradutor Juan Eduardo Zúõi a.

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7°2 M,a FELISA RODRíGUEZ PRADO

associada à oposição católica progressista e mais tarde a movimentos de ma-esquerda, de que receberam materiais para o especial.

Antonio Gallego Morell refere Ínsula em qualidade de "rompeolas cultural d todos los docentes espanoles»5, isto é, como meio de contactar com as des literárias: criações ou reflexões críticas sobretudo em espanhol e -por causa da vocação hispanística e dos contactos franceses facilitados especialidade e a biografia do fundador e director6 -, mas também não mlra'v", em inglês. Estas, e nessa ordem, são as línguas predominantes nas obras' das nas grandes listagens de selecção de livros, nas quais pode observar-se 1968 e 1978 a presença -embora mais ocasional e desequilibrada- de mLmOre)s;,:: obras em alemâo e em italiano. Quanto ao português e relativamente ao to lusitano, cumpre destacar a escasseza de referências nessas selecções: na_, livros recebidos -com predomínio da narrativa e das traduções eVergílio Fe'fff:;r" e Fernando Namora), bem como das revistas- nem chegam à dúzia e na bibliografia estrangeira detectei assunto português em apenas meia dúzia obras, com a particularidade de que nenhuma delas focaliza a narrativa procede de Portugal, dado que tratam a poesia ou o teatro e se encontram em italiano -uma de Tabucchi e duas ela responsabilidade de Tavani-, mais em francês e uma outra em castelhano. À vista destes dados, desenha-se panorama de recepção da literatura lusa marcado pelo raquitismo dependência quer da tradução, quer do conhecimento forjado fora do �o"a,u peninsular.

Da obselvação da ingente quantidade de informação contida nas p"qllel1�S secções ou colaborações sem assinar não se th�m conclusões muito diferente", embora convenha assinalar duas particularidades. A primeira é que a metade oito mini-recensões detectadas em «Al C01Ter de (os libros» aparecem em 1976, não sâo obras literárias e referem questões políticas ligadas à aetu:ali,ja,je. revolucionária do país. A segunda diz respeito à secção de revistas, onde relativa frequência se dá conta da recepção ---que parece ser regular, na m"dida em que as censuras de um e outro lado da raia permite1TI- de Vé11íce, veíClllo fundamental de difusão do neorealismo, alguns de cujos trabalhos são pULblici, tados? De facto, obras e produtores ligados a este movimento literário co1bram

5 A designação enconrra-se citada no já referido trabalho de Suso López. 6 Carrito ocupou um leitorado de espanhol na Universidade de Toulouse, para onde foi em

tendo feito amizade com Suzanne Brau, sempre importante nexo com a vida intelectual francesa divulgadora de Ínsula na França.

7 A'isim, entre o posto em destaque no número de Véltice para Março-Abril de 1976 figura a dução para português da obra de Alfonso Sastre História de uma boneca abandonada ([,"ul'a,'

6- uI. -A o. J 76. . 36).

PRESENÇA DA LITERATUllA PORTUGUESA NO TARDOliRANQUISMO E NA TRANSIÇÃO 70J

protagonismo -não exclusivo, pois há também resenhas de estudos sobre o perí­odo clássico- no formato mais amplo da publicação, ao serem tratados elTI artigos tanto Cardoso Pires como Fernando Namora.

Pondo de parte, como excepção, o monográfico, no qual se produz o 'desembarque' de um bom número de especialistas lusitanos gmças aos citados como "nuestros amigos portugueses de la revista «O Tempo e o Modo»», quase todas as resenhas ou apresentações extensas detectadas estão assinadas por José Ares Montes, professor de Literatura Portuguesa da Universidade Complutense de Madrid falecido em 19958. Trata-se de um especialista no período barroco e no comparatismo luso-espanhol, cujo percurso parece presidido pela vontade de "coopel�r para a mútua compreensão» a Hm de mudar o quadro de ausência de diálogo entre ambas as literaturas determinado por «el recelo y menosprecio de los portugueses hacia lo espanol, la incomprensión y desdén de lo portugués por parte de los espanoles», conforme desenhava na introdução da tese douto­ral apresentada nessa mesma universidade e publicada como Góngora y la poesía p011uguesa dei siglo XVII (Madrid, Gredos, '956). O papel de ponte entre ambas línguas e culturas patenteia-se quando, na Ínsula consagrada a Portugal, se lhe presta homenagem como estimulador e participante no projecto, para além de como responsável pela versão castelhana dos estudos e textos literários incluídos. O seu desempenho como tradutor também ficou manifesto em Dos estudios sobre literatura p011uguesa (1978), obra editada pela Fundación Juan Marcb9 onde se reunem um trabalho do escritor e estudioso Mourão-Ferreira e a apresentação de Vergíllo Ferreira, a partir de uma série de conferências desen­hadas pela citada instituição no quadro das actividades culturais com que, em Novembro de 1977 -mais exactamente, nos dias 24 e 25-, se festejou em Madrid o 50° aniversário da aparição da PreserlçaIO. Quanto à preocupação comparatis­ta, manifesta na sua bibliografia, vem à superfície em muitos dos comentários que publica em Ínsula, por exemplo, apontando a influência de Rubén Dado

8 Foi homenageado com o anexo II da Revist�/ de Filologia Romártica (2001), dedicado a La nmnltiva portuguesa de los últimos cincu.erlta afias, cuja apresentação cont.inua preslcUda, neste século XXI, pelo tópico de se tratar de um rico património literario insuficientemente conhecido na Espanha.

9 É a primeira das actividades que a fundação apresenta, soh a epígrafe .Presencia de Portugal", na quarta página de LlI literatura y el tel/tro, um dos monográficos de balanço de meio século publi­cados em 2005. Outras salientadas, já fora do periodo em apreço, são a comemoração do quarto ceutenário do fdlecimento de Camões, em 1980, e as jornadas dedicadas a Pessoa, no ano seguinte. A participação de especialistas de ambos os palses é uma senha comum de todas elas, bem como a edição de livros ou c":atálogos e o facto de se contar com a colaboração de autoridades portugue­sas. O monográf1co pode cousultar-se em www.march.es/infonnacion/cincuenteuario/ pclf/Literaturao/o2050.pclf.

10 Julián Gállego, em "Hojas de otouo .. (Ínsula, 374-375, ]an. Fev. 1978, p. 33), dá conta das expo­sições do ciclo.

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M.a FELISA RODRíGUEZ PRADO

sohre Pessanha, O paralelismo existente, em termos de renovação do romance entre O delfim de Cardoso Pires e Tiempo de silencio de Martín Santos ou a ridade (1;] Castro de Ferreira sobre as obras do dominico Jerónimo B"rrnúdez:.,

De outra autoria são duas das análises da obra de Namora, uma de l)()rrdn:Ro Pérez-Minik, conhecido esctitor e crítico canário, na sua hahitual rubrica novela extranjera en Espaiía"u, e outra, anterior, de Ildefonso Manuel Gil encarcerado e represaliado na altura da gllerra civil que une a sua condição escritor à de pesquisador e docente universitário, já desde a década de qlJaren'>

ta atento ao acontecer literário luso ---('om a puhlicação de Ensayos sobre poesía portuguesa (r948), que será seguido de Media siglo de lírica portuguesa (,952)-, tendo sido um dos primeiros introdutores da obra de Fernando Pe.ssoa na Espanha e autor de uma tradução de Os Lusíadas de Camões vinda a llUne em 1955, ao mesmo tempo que a editora portuguesa Peninsular publicava a veTsã6" portuguesa do seu primeiro romance; conforme dados reunidos pela estu<lios,,;: Rosario HiriartI2, consta colaboração dele no portuense P01Tu,cale e no lisbc,et" Diário de Notícias, com o qual assinou em 1955 um contrato que p,errnaJne,eeti activo até 1962, quando Gil parte para os EEUU.

CONCLUSÕES

Os anos 60 e 70 sào um período de forte ascendente social de ideias e trinas progressistas e a vançadas, que respondem a correntes internacionais ditam a aberturLl a uma rica cultura política que também incluía valores e ticas (PIa ta Parga, 19'-)9:21). Em termos de imprensa, a última década da ditadurn, foi a do chamado «possibilismo», quer dizer, aproveitamento para a realização d� determinados fins ou ideais das possibilidades existentes em doutrinas, insti­tuições ou circunstâncias, embora não fossem afins a eles. Realça-se, assim, o

protagonismo da política -ficando relegados a temas secundários a economia, a sociedade ou a religião-, de modo que numa publicaçào informativa como

Tri:ur�fr) a presença das letras e dos produtores literários pOl1ugueses, em for­mato de artigo amplo, geralmente, se revela fortemente ligada -ou mesma·

" É [am bém o título da obra editada em 19n como informe sobre o romance de França, Inglaterra, AlerIL1nha, Áustria, Suíça, UR S S e Estados Uniuos, especialmente valorizada na -Nota de­lectura" que Rodríguez Padrón lhe dedica na própria insu.la (326, Jan. 1974, p. 6).

12 AB referências cstâo tiradas da parte fmal do [rabaUlo Uu poeta en el tiempo: Ildefonso-Manuel Gil, Zaragoza, Diputadón Províncial, 1981. Aí consta, também, a recepção da obra Hteráli:J uele no COlTeio do Minho bracaren.<;e --em 1946 e 1947, da pena de A. JacinlO Junior e em 1951 da ue Taborda de Vasconcclos-, em lrabalho de Anlómo Quadros datado de 1948 no Dián·o Popular de Lisboa e na revista Brotél'ia, em 1951, da mào de João Maica. Conforme Hiriart, em 1954 foi eleito Académico Correspondente do InsTituto Conimbricense, a proposta do poeta Campos de Figueiredo.

PRESENyA DA LITERATURA PORTIJG1JESA NO TARDOFRANQUISMO E NA TRANSIÇÃO

ditada- pela actualidade políUca: resulta uma notabilíssima concentração das referências no ano 1974, da Revolução dos Cravos; porém, a autoria é que é bas­tante plural; apesar dessa variedade de vozes, detecta-se uma unídade que deriva de um tratamento dos assuntos em que se muito se patenteia a dimensão ideológica.

No caso de Ínsula, no entanto, a definição como folha literária determina a falta de (maior) vivacidade na infoffilação e nos comentários de actualidade e a ausência de elementos para atender melhor a actualidade j01nalística -eram estes os defeitos que José Lllis G.'1no e Canito, respectivamente, apontavam em 1970, aquando do 25° aniversário da revista (Núftez, 1970:26). Detecta-se, pelo contrário, uma fortíssima concentraç�lO da autoria dos textos na mão do espe­cialista universitá1io José Ares Montes, combinando a abordagem da novidade literária -em língua original ou na recente versão castelhana- que permite reflec­tir a respeito do seu contexto sócio-histórico, com o comentário de manuais ou obras de crítica literária.

Em ambas as publicações encontram-se idênticas ou semelhantes conside­rações a respeito de figuras como Vergí1io Ferreira, Fernando Namora e José Cardoso Pires, produtores de uma literatura em que são salientados tanto aspec­tos técnicos inovadores como, de modo especial, a vontade de participaç·âo actuante sobre a situação política e social do país, na linha da arte útil e COIn­prOlnetiua e da visão do artista como peça decisiva na transformação da sociedade.

Usando de forma bastante comum o recurso à comparação de fenómenos e teInática, reiteram-se os votos para alargar o número de produtores e obras ver­tidas para castelhano, ao mesmo tempo que se in..,iste na qualidade -e sohretudo em Triunfo, também na quantidade- dos romancistas lusos e na falta de eco na Espanha, cuja explicaçào é apenas adüntada por Alonso de los IDos ao afirmar que aqui «las gentes dei ofido o los lectores están sólo atentos a ciertas 1iteraturas más "prestigiadas- y no siempre de mayor interés- (Triunfo, 588, 5 ]an. 1974, P.45)

Mesmo havendo consciência de que este nào é um caso isolado, manifesta­-se no estudado desconexão cultural entre os doi� países a um nivel dificilmen­te tolerável em vista não apenas da vizinhança geográfica ruas também dos aspectos ou problemáticas comuns.

llmuoGRAFlA

ÁLVAREZ-UDE, Carlos (1999), .E! significado de Ínsula en la literahlra espanola conrempo­rá nea», Tintero, 2 (Madrid 1999), pp. 13-20 (Também disponível em www,adE'sasoc.org/pdfs/agost099.pdf. Consultado 20.12.2006).

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706 M,a FELTSA RODRÍGurZ PRADO

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em Espanha. Uma Resposta aos Desafios

Decorrentes da Multiculturalidade

MARrA FERNANDA ANTUNES

Ex-Agregada de Educación de la Embajada POttuguesa en Madrid

«Educação Intercultural: educação qu.e se empenha na criação de um meio educacional no qual os estndantes de diversos grupos micro-culturais têm e.xperiência da igu.alda­de educacional» Cortesào e Pacheco, 1991

«A Língua é o arquivo da Cultura, sendo que a Língua divu.lga a Cultura e esta ú.ltima concretiza-se através da Língua" Agostinho da Silva, 1988

I. DIREITO À DIVERSIDADE CUlTIlRAt NA EUROPA COMUNITÁRIA

Q

UESTIONA-SE MUITAS VEZES O DlREITO à diversidade cultmal na Europa

Comull1tána PondeIa-se amda, multas vezes, sonIe as políticas que a

enformam, tendo em conta a construção de lffi1a Europa sem fronteIras, a livre circulação de pessoas e de ideias sem constrangimentos de qualquer tipo